A Colheita de Sangue escrita por Amber Dotto


Capítulo 4
Capítulo 4 - Entre Dois Mundos


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo, as dualidades estabelecidas trarão profundidade a história.
Espero que vocês gostem!



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Jericó - Arkansas

Os olhos de John Winchester abriram lentamente, revelando um misto de exaustão e determinação. A luz enfraquecida da lâmpada incandescente iluminava a mesa diante dele, onde papéis amarelados se espalhavam desordenadamente. Uma xícara de café já esfriava ao seu lado, testemunhando as horas de dedicação à busca de respostas.

Cochilando, John esfregou as têmporas, tentando aliviar a dor latejante em sua cabeça. Ele estava chegando ao limite de suas forças, uma condição que atribuía a uma mistura de noites sem dormir e ao hábito de afogar suas preocupações em álcool. Mas John era um homem teimoso, e a ideia de mudar seu estilo de vida não passava por sua mente.

Um suspiro escapou de seus lábios enquanto ele reorganizava cuidadosamente suas notas. O velho diário, que datava de sete décadas, estava entre os documentos sobre a mesa. Conseguir esse registro fora uma tarefa árdua, mas o que John esperava encontrar poderia ser a chave para rastrear o demônio que havia despedaçado sua família.

À medida que mergulhava na leitura, as anotações sobrenaturais começavam a se transformar diante de seus olhos. As palavras pareciam dançar, ecoando um conhecimento ancestral. John esfregou os olhos, tentando afastar a fadiga que se apossava dele.

O relógio na parede indicava que a biblioteca estava prestes a fechar. A fome e a sede começavam a se manifestar, mas John não queria esperar até o dia seguinte para continuar sua pesquisa. Ele ansiava não apenas por exorcizar, mas por erradicar o demônio de uma vez por todas.

Decidido, ele se levantou e caminhou até o balcão de atendimento, onde uma arquivista de semblante cansado estava concentrada em seus próprios afazeres.

— Eu queria te perguntar antes, mas o tempo voou. Você sabe se há outros documentos sobre esse tema?

A arquivista, intrigada com a curiosidade de John, respondeu:

— Material assustador, não é? Eu adoro essas coisas, mas o governo não vê com bons olhos.

— Uma pena. — Disse John, tentando mascarar sua verdadeira intenção. — Sou escritor, estou pesquisando para o meu próximo livro.

— Um escritor de livros assustadores? Interessante! — A arquivista sorriu. — Nós temos uma caixa de documentos sobre esse assunto. Ficou para trás quando o chefe do departamento doou os outros. Eu resolvi guardá-la.

Em pouco tempo, a arquivista retornou com a caixa, revelando uma segunda parte do diário. John folheou as páginas ansiosamente, mas não encontrou informações sobre o demônio do olho amarelo.

— Droga. — Murmurou ele, expressando sua frustração.

Uma sombra passou por cima dele, e a arquivista colocou outra caixa ao seu lado.

— Este material nunca fez parte do catálogo da biblioteca. Foi esquecido por alguém. Como ninguém entrou em contato com o dono, ficou no depósito. Talvez sirva de inspiração para o seu livro.

John examinou o conteúdo e encontrou um envelope vermelho sépia. Ao abri-lo, deparou-se com uma carta e uma fotografia. A mulher na imagem tinha um olhar resistente, mas seus olhos revelavam dor. A carta estava manchada de sangue. O estômago de John se apertou quando começou a ler.

 

"Eu sempre soube que você ia encontrar essa carta, porque eu já vi isso. Assim como eu tenho visto que por acaso ninguém mais está feliz, mas você continua tentando fazer justiça. Você e sua família sofreram, e sofrerão mais ainda se você não me ouvir. Você ama alguém como eu amei.

Eu vi sua esposa queimar, vi o sangue escorrendo de sua barriga até sua mão. Vi o sangue escorrer na mão de seu filho mais novo.

Esta criança tem os mesmos poderes que eu tenho: O poder de prever o futuro, mas, ao contrário do meu, seus poderes estão contaminados pelo mal.

Ele o recebeu para um fim específico e sujo, quando era apenas um bebezinho e ele irá se perder se você não for forte. Ele será perdido se você não der o seu melhor para salvar o seu filho mais velho.

A perda de seu mais novo será a morte do mais velho. A morte do mais velho será a perda do caçula.

Eu sei, eu vejo isso e me dói não poder impedir.

O tempo vem tão rapidamente para você como para mim. A salvação que você, tanto quer para seus filhos e para as outras pessoas que ainda vão se envolver nesta história, vai depender da minha para terminar esta carta, e sua força para fazer o que é certo.

Um sem o outro, uma criança vai queimar no inferno e outra vai governar o inferno na terra. Espere, você vai saber quando é a hora certa para terminar a sua luta.

Se você for forte, seus filhos vão continuar a lutar depois de sua morte. Se você for egoísta, tudo estará perdido."

 

John torceu os papéis, empurrando a mesa com raiva. Ele se recusou a acreditar no que estava escrito, mas o destino macabro delineado naquelas palavras o atingiu como uma faca.

Ao observar novamente o envelope, John notou que a carta fora endereçada a ele: "Aos cuidados de John Winchester".

Antes que pudesse reagir, uma voz rouca e familiar ecoou pela sala.

— Então, agora você sabe dos meus planos, John. Eu me diverti assistindo você ler essa carta.

Azazel, o demônio do olho amarelo, surgiu das sombras com um sorriso diabólico. 

— Suas expressões eram fantásticas. E houve quem me dissesse para ter cuidado com você. Falou Azazel em um tom de deboche. Sua família é patética. Sam é a vítima perfeita: O filho rebelde que não aceita os conselhos do pai. E o Dean está indo para o mesmo caminho. Você sabia que ele tem pensado em abandonar os seus ensinamentos? Soube que ele conheceu uma garota...

— Seu maldito! Você levou tudo de mim. Minha esposa, minha paz, minha família. Por anos, eu procurei por você, por respostas, por vingança — disse John, com voz firme e cheia de raiva.

Azazel, com um sorriso diabólico e olhos amarelos brilhantes se aproximou de John.

— Seu ódio é delicioso. Eu sempre estive por perto, John, observando cada passo seu e de seus filhos. — Azazel caminhou em círculos, como se dançasse com as sombras. — Não sabe o quanto me diverti vendo você caçar e se debater na escuridão.

 John respirou fundo, controlando a fúria que fervia dentro dele.

— O que você quer? Por que a minha família? — John exigiu uma resposta, seus olhos focados no demônio à sua frente.

— Eu não quero nada, John. Eu apenas sigo o script. As regras são estabelecidas por forças muito além do nosso entendimento. Seu sangue, seus filhos, são peças em um jogo muito maior. E agora, chegou a hora dos rapazes desempenharem seus papéis nesta grande trama. 

John empunhou sua faca com firmeza, pronto para atacar.

— Eu não vou deixar você tocar nos meus filhos. 

Azazel riu como se estivesse se deliciando com o desespero do caçador.

— A tragédia se desenrolará, e você não poderá fazer nada para impedir. O céu tem um plano, mas Lúcifer vive e está sedento por um Winchester. — Respondeu-lhe Azazel.

— Você vai pagar por tudo o que fez.

Azazel apenas riu novamente, e antes que desaparecesse nas sombras o respondeu.

— Eu já paguei, John. Você, seus filhos, todos pagarão. Esteja pronto, pois o jogo está apenas começando.

 O destino de seus filhos estava nas mãos do demônio, e John sabia que teria que enfrentar desafios ainda mais piores para protegê-los do destino cruel que se desenhava diante deles. 

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Cotton Ride

Isobel e Philip estavam a sós na cozinha enquanto Dean estava confortavelmente instalado no sofá da sala, entretido com um canal de lutas. 

Phil, curioso e, ao mesmo tempo, cuidadoso, aproximou-se da porta da cozinha para espiar Dean, conferindo se ele ainda estava sentado. Ao perceber que Dean estava absorto em um combate, o jovem desviou o olhar de volta para Isobel, que estava recostada no balcão, mexendo casualmente em sua celular.

Phillip, com um olhar inquisitivo, decidiu quebrar o silêncio.

— E aí, Bel, o que você tem achado do Dean?

Isobel olhou para a sala onde Dean assistia TV antes de responder.

— Acho que ele é um cara interessante. Temos nos dado bem.

Phillip, com um sorriso malicioso, deu uma olhada na direção de Dean.

— Mais do que bem, pelo que parece. Vocês aparentam estar confortáveis juntos.

— O que quer dizer?

— Não sei. Vocês parecem bem mais do que amigos.

— Não exagere. Dean é só um amigo.

— Só amigo? Eu não olho para meus amigos como ele te olha, sabia?

— Para com isso. Vamos mudar de assunto, me diz, como foi o seu dia?

Nice try, Bel. Mas sério, o que está havendo entre vocês?

— Não há nada rolando, Phil. Nada! Nos conhecemos há alguns dias. Não tem muito o que dizer.

Phillip levantou as sobrancelhas.

— Sério mesmo?

Ela não podia negar a química entre eles. Seu coração disparava e seu corpo parecia derreter todas as vezes que ele se aproximava... ela realmente estava atraída por ele. "Mas era apenas atração, certo?!"

— Sério mesmo. 

Isobel sentiu novamente seu coração acelerar quando a campainha tocou, interrompendo sua conversa com Philip. Com passos rápidos, ela correu para atender a porta, receosa quanto à reação dos convidados ao vislumbrar Dean na sala.  Ao abrir, seus olhos se encontraram com o rosto de seu irmão Graham e sua esposa Sarah.

 Graham, sempre de bom humor, não deixou de notar o desconhecido rapaz.

— Olha! Não nos contaram que teríamos um novo convidado.

— Ah... — Isobel hesitou por um momento. — Esse é Dean. Dean, esses são meu irmão, Graham, e sua esposa, Sarah.

Isobel lançou um olhar rápido para Dean, que, com um sorriso cativante disse:

— Aparentemente eu sou a surpresa da noite, é isso?!

Graham e Sarah trocaram olhares intrigados com a presença inesperada de Dean. A atmosfera, outrora carregada, parecia relaxar um pouco diante da descontração dos recém-chegados.

— Para o jantar desta noite, eu trouxe um merlot incrível. Safra dos anos 80. Espero que gostem. — Disse Graham. Ele se virou para Dean e prosseguiu

— Sou chef de cozinha, dono do A Pastella. Sempre penso nas combinaçôes entre as refeições e o que iremos beber. Uma comida bem feita e um vinho armonizando é capaz de mudar até embates entre chefes de estado.  E você, o que faz Dean?

Dean, sem hesitar, mentiu.

— Sou Agente federal, estou na cidade investigando os assassinatos.

Graham, interessado, indagou sobre as investigações, perguntando se havia suspeitos. Sarah o repreendeu-o gentilmente.

— Graham, este não é o momento para falarmos sobre isso. Estamos aqui para esquecer os problemas e aproveitar a vida com os amigos.

Sarah, então, questionou a Phillip sobre a ausência de Max, seu namorado. Phil explicou que Max precisou trabalhar, cobrindo um plantão de outra residente, lamentando sobre o quanto era estressante a vida de um médico.

Dean, retornou ao assunto anterior e elogiou o restaurante de Graham.

— Já estive em seu restaurante. As pessoas devem amar aquele lugar. A comida é realmente excelente.

Antes que a conversa pudesse continuar, uma nova batida na porta anunciou novos convidados. Era Olivia, acompanhada de Aaron, que traziam consigo uma nova surpresa, desta vez indesejada: Mattew, o ex-noivo de Isobel.

 Mattew, ao avistar Dean e Isobel juntos novamente, mostrou-se irritado e não hesitou em provocá-los. Fez questão de relembrar o tempo em que todos eram amigos, apontando Dean como o único intruso naquele círculo.

— Não vejo razão para a existência de um clima ruim entre nós. Sempre fomos próximos, Bel. — Disse Mattew, olhando diretamente para Dean e em seguida para Isobel.

— Eu não o convidei, nem olhem para mim com essa cara. — Murmurou Olivia.

 — Gosto do seu atrevimento, meu caro. — Falou Dean ao se aproximar de Mattew. Mas, você sabe que no momento a vantagem é toda minha, não sabe?

Isobel, sentindo-se desconfortável com a situação, pensou em ir embora, mas Dean a convenceu a ficar. Ele a lembrou do dia em que se conheceram, e sobre o que ele havia dito a ela sobre não permitir que as pessosas estragassem sua noite. Encorajou-a a ser ela mesma e não deixar seu ex  noivo arruinar o jantar.

O restante da noite se desenrolou entre as ironias de Matthew, criando momentos desconfortáveis para os presentes. No entanto, Dean experimentou um vislumbre da vida normal. Sentiu o calor de amizades genuínas, algo que lhe era estranho até então. Sua mente, usualmente focada no dever de caçador, ficou confusa entre a vida que conhecera e a possibilidade de uma normalidade.

Após o jantar, Dean se ofereceu para levar Isobel em casa. No caminho, ela expressou o quanto apreciava sua companhia, deixando claro o quanto havia gostado de estar novamente com ele. Ao chegarem à porta da casa da jovem, Dean deu dois passos para trás. O brilho nos olhos dela o encantava. O rapaz não pode se conter e a beijou. Contudo, antes que as coisas pudessem avançar, a jovem interrompeu suavemente o momento.

— Gosto muito de estar passando esse tempo contigo, Dean. Mas acho que é melhor ir devagar.

 Ela se despediu beijando-o novamente, e entrando em casa com um sorriso largo. Dean por sua vez tentava encontrar o equilíbrio entre os dois mundos, o sobrenatural e o cotidiano, criando uma dualidade que o intrigava profundamente.

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Sioux Falls 

John havia largado tudo após o encontro aterrorizante com Azazel. As palavras do demônio de olho amarelo ecoavam em sua mente. Durante o trajeto, o velho caçador sentia que cada quilômetro percorrido parecia demorar uma eternidade. 

Ao chegar em Sioux Falls, cidade onde Bobby residia, John esperava encontrar Dean ou informações sobre a localização de seu filho mais velho. Bobby, ao abrir a porta, arqueou uma sobrancelha expressando surpresa e ao mesmo tempo reprovação.

— Bobby, preciso da sua ajuda. Recebi uma carta, e tem Azazel, e... a profecia..." —  Começou John, mal conseguindo conter a ansiedade em sua voz.

Bobby, sério, acenou com a cabeça para que ele entrasse.

— Você parece uma bagunça, John. O que está acontecendo? Dean estava preocupado com o seu desaparecimento.

John contou sobre sua busca por Azazel, sobre a profecia, sobre seus medos e preocupações com os garotos. Ele reconheceu que em muitos momentos, não fora o melhor pai, mas insistiu que fez o que podia nas circunstâncias difíceis que enfrentou após a morte de Mary.

Bobby escutou atentamente, coçando a barba. Quando John terminou, o velho caçador suspirou.

— Você sabe que não vai ser fácil, não sabe? Dean e Sammy têm suas próprias vidas agora.

A preocupação de Bobby era evidente. Ele continuou, advertindo sobre a resistência de Sam, que estava distante e isolado da família há alguns anos. Além disso, Bobby mencionou uma possível inclinação de Dean para abandonar a vida de caçador e buscar uma existência normal.

John o interrompeu com um olhar sério.

— Não podemos permitir que eles levem uma vida normal agora, Bobby. Não há tempo para isso. Você não pode controlar o que está por vir, eu não posso controlar o que está por vir. 

Bobby assentiu, compreendendo a gravidade da situação.

— Você quer que eu vá falar com Dean, enquanto você vai atrás de Sam?

— Sim, por favor! Eu sei que é um pedido grande, mas não podemos permitir que os garotos vivam uma ilusão. A verdade está lá fora, e eles precisam saber.

— Irei hoje mesmo para Cotton Ride. Mas, lembre-se, não tenho controle sobre as escolhas dele.

John olhou fixamente para Bobby.

— Se você não o trouxer, eu mesmo irei atrás de vocês. Acho que você não compreendeu a gravidade da situação.

— Tudo bem John... E quanto a você, tome cuidado em Stanford.

John se levantou, pronto para partir.

— Não se preocupe comigo, Bobby. Eu sei me cuidar.

Com um aperto de mãos, os dois homens se prepararam para enfrentar os desafios que os aguardavam, cada um com a missão urgente de proteger os Winchester de um destino sombrio.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham amado deste capítulo!
Se estiverem gostando, deixem seus comentários e favoritem a história. Agradeço antecipadamente por qualquer correção ortográfica que possam fornecer.
Sejam bem-vindos para se envolverem na trama e compartilharem suas teorias.
Aguardo ansiosamente pelo feedback de vocês!
Abraços e beijos



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