Meu Melhor Amigo escrita por Marcos Vinícius


Capítulo 5
Cinco — Preto e azul ou branco e dourado?


Notas iniciais do capítulo

Que a minha escola tira bastante do meu tempo isso todo mundo que acompanha a fanfic e percebe a demora na postagem dos capítulos já sabe. Se dependesse de mim, eu ficaria o dia inteiro na frente do computador escrevendo pra vocês. Mas ás vezes a inspiração vem em momentos e lugares completamente inesperáveis (escola, banheiro, diretoria, Acapulco...). Uma hora ou outra me encontro rabiscando alguma fala ou algum parágrafo na última folha do caderno. Quem vê de longe pensa: "Wow! Que garoto inteligente e estudioso. Fazendo as anotações sobre a aula" Calma aí criança, que eu nem sequer gosto de matemática.



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Matt

— M-matt? — Uma voz tímida e feminina me tira daquele curto espaço de tempo hipnótico. Viro o rosto por cima do ombro esquerdo e por uma porta eu vejo uma sapatilha verde surgindo, logo em seguida um belo vestido floral, e mais por cima, um colar prateado com um pingente vermelho.

— Oi, Luiza! — Ela me olhou no rosto, logo desviou o olhar. Não pude deixar de notar por onde ela saíra. Luiza saiu por um pequeno portão laranja que pelo que percebi levava até dentro daquela grande loja de flores. Foram apenas dois segundos, mas nunca tive tantas perguntas na ponta da língua. — O que é isso? — Eu apontei com o queixo, eu não podia soltar meu casaco, ainda chovia. Luiza da um passo para trás e olha por onde ela mesma havia surgido.

— Ah, isso? — Riu — É uma pequena loja que enfim eu e minha mãe conseguimos inaugurar aqui no bairro. Ainda tá no começo, por isso a pintura um pouco velha. Iremos reformar tudo logo. — Ela olhava para o local com certo orgulho — E olá, Matt.

— Que isso, tá ótima. Ta ótima pra quem ainda acabou de ser inaugurada como você disse. — Sorri — Que bom que saíram daquela barraca, digo, eu gostava claro, mas eu sei que vocês queriam muito mais que aquilo. — Eu sacudia os pés incansavelmente afim de secá-los, e Luiza não deixara de notar isto.

— N-ossa, o que aconteceu com você? — Ela cobre a boca com um punho.

— Nada de mais, só acabei que tomei um banho enquanto vinha da escola. Rá! — Eu continuava a me secar. Minha jaqueta jeans azul já estava molhada por completo, mas ainda sim eu prosseguia. Eu me sentia tão feio.

— Q-quer que eu pegue...

— Não, não precisa — Antes que ela terminasse a fala eu recuso balançando uma das mãos —, eu até já estou de saída. — Luiza parou o olhar sobre meus joelhos. A chuva já havia parado deixando somente o solo tão molhado quanto meus cabelos. Uma gota desceu belas minhas bochechas e mesmo sendo um pouco nojento bebi-a. Estava gelada.

— Tem certeza? Não vai incomodar de jeito nenhum... — Luiza era uma graça. Tirou com a mão pedaços de seu cabelo e pôs delicadamente atrás da orelha — Eu ia até o antigo depósito pegar alguns últimos arranjos e a tesoura grossa da mamãe, mas se você quiser...

— Está indo pra número 12? — Interrompi, a chuva me deixou bastante exaltado. Luiza respondeu com o rosto que sim.

— Tudo bem se te acompanhar até em casa? — Roendo a unha nervosamente, ela gaguejava. Luiza era muito na dela. Tímida. Misteriosa. Luiza se comunicava de uma forma como se qualquer um fosse um monstro pronto para atacá-la. Mas com direito claro; uma vez uns moleques do Colégio Costa Oeste jogaram-na uma pilha de ovos podres. Não era aniversário dela.

— Claro, eu adoraria. — Dei meu melhor sorriso começando a andar e a chamando com a mão. O asfalto cinza da rua continuava molhado, porém mesmo que por mágica eu queria que já estivesse seco. Por quê? Meus sapatos de borracha faziam um barulho constrangedor quando eu pisava sobre o solo, algo como o transbordar da água. Eu podia sentir rios saindo de dentro deles.

— E-então... como você está? — Luiza pouco me olhava nos olhos. Pra ela o lixo pelo chão e os prédios azuis e altos da rua eram mais emocionantes de se observar do que meus lindos olhos. Como alguém pode não gostar e se recusar de olhar para meus olhos? Eles são claros, suaves e castanhos. Bem, é ao menos o que Felipe me fala ás vezes.

— Estou!

— Ah sim. — Ela acena com a cabeça. Eu fazia perguntas de como conseguiram o local da floricultura além de perguntar também como seu irmão caçula, o Nic, e a sua mãe estavam. Ela me respondia calmamente, sem demora, e, embora eu não estivesse tão interessado em saber da família de Luíza, eu só queria conversar um pouco. Aquela conversa um pouco tediosa era boa. Ela fazia-me esquecer do que acontecera nessa manhã.

Enquanto ajeitava a posição do cabelo, vi que a suavidade da sua pele labial parecia um pouco trêmula, estava ela tentando me contar algo?

— Onde... — Ela engole o seco — está aquele seu amigo? — Luiza me fita rápido, mas logo depois volta a olhar para baixo de um jeito tão fofo. Luiza procurava algo para olhar a cada instante, isso era engraçado, mas eu queria está com ela agora em um deserto do Egito Antigo. Ela não teria algo pra se concentrar. Pra onde ela olharia? Isso mesmo, meus olhos. Queria que alguém hoje me olhasse no rosto e não para celulares, pés e, como estranhamente Luiza fazia, os meus joelhos. — P-percebi que ele não está com você.

— Nós brigamos. — Fui direto. Suspirei. Eu olhava para ela pelo reflexo de uma poça de água que logo ficaria pra trás.

— Sinto muito. — Luiza falava rápido às vezes, o que demonstrava que estava no ápice de seu nervosismo — O que aconteceu, digo, por que discutiram?

— Bem... — Indeciso, hesitei. Eu não conhecia Luiza direito, e não podia contar detalhes da minha vida pessoal para uma desconhecida, mesmo que eu a visse todos os dias — A gente...

— T-tudo bem se não estiver a fim de me falar... e-eu entendo. — Percebendo que eu estava desafinando a fala, ela tenta deixar para lá. Nunca troquei uma palavra com Luiza além de “Bom dia”, estava na hora de mudar isso; ela parece ser uma garota interessante e confiável. Não há motivos de não contar. E aquela situação toda estava me deixando completamente sufocado.

Desenrolando a história sem pressa, eu contava para ela fazendo movimentos com os braços, encenando cada pedaço desta. Disse desde o começo do semestre no primeiro dia de aula. Contei absolutamente tudo. Não deixei faltar nada. Uma hora ou outra eu “voltava no tempo” e dizia de momentos bons que eu passara com ele, como no seu aniversário de 6 anos, quando Felipe sorriu pra mim pela primeira vez. Senti-me até um pouco melhor dividindo aquilo com Luiza. Seus olhos ficavam fixos em meu rosto, estava atenciosa — e também bem vermelha — prestando a mais atenção possível em cada palavra que saía pela minha boca.

— Então foi isso... um colega disse que ele havia ido embora, e até agora não tenho informações nenhuma de onde ele deva estar — Conclui.

— Puxa... — Ela coloca a mão sobre a boca — é uma situação bem complicada...

— Sim — concordei — eu estaria mais calmo se soubesse que ele estaria em casa, porém...

— Os pais dele. — Luiza completa, já sabendo de toda história. Notei que sua gagueira estava sumindo aos poucos.

— Enfim, estou preocupado com ele... — Dei uma pequena pausa para chutar uma lata que havia no caminho — A cabeça dele está um pouco confusa, há muitas coisas acontecendo, e ele coitado, não consegue lidar com todas de uma vez. — Me concentrei nos meus sapatos.

Não disse mais nada. Silenciamos-nos. Um vento forte bateu sobre nossas costas e os cabelos morenos e lisos de Luiza voaram junto com seu vestido, no qual com a mão impedira de que mostrasse mais do que devia. Seu vestido era azul, com belos adereços pretos. Esfreguei com os punhos os olhos, pois eu jurava que o que vi anteriormente era branco e dourado. Luiza passava o dedo mindinho sobre as bochechas tirando as mechas salientes que o cobrira. Ela nunca esteve tão adorável como agora.

— E é por isso que você é amigo dele. Você o ajuda na escola, em casa, em jogos, você sempre tá colocando-o pra cima, Matt. Você é a melhor pessoa que alguém poderia ter. — Cansado de seu cabelo, ela o sopra para cima e seguidamente sorri para mim. Seu sorriso foi como um abraço.

— É você tem razão. — Sorri, retribuindo. — Certo, eu me expressei mal na escola. Vou me esforçar... irei ser o melhor amigo que ele poderia ter. — Parafraseei-a, usando as mesmas palavras.

— Você nem precisa se preocupar com isso. — Ela gargalhou olhando para cima, e consequentemente, acompanhei. Luiza era mesmo um anjo. Fiquei feliz por ter parado embaixo de sua varanda. Se não fosse pelas suas palavras eu continuaria me sentindo péssimo. Eu continuaria repetindo pra mim o quando eu era idiota. Eu jamais teria esquecido que continuava com a roupa de baixo molhada.

Sua timidez não deixou rir por muito tempo, e ficou apenas com um belo sorriso em sua face.

— Você gosta mesmo dele, hein?! — pergunta Luiza, substituindo seu rosto brilhante e alegre por uma expressão escura e triste. O que seu coraçãozinho estava sentindo naquele momento? Luiza conseguia ser tão delicada. Indefesa.

— Luiza! — Após eu ter aberto a boca para lhe responder, uma voz grossa e zangada interrompe nosso diálogo. A voz vinha de dentro de um carro preto que se aproximavam de nós dois. Meus olhos saltaram e Luiza levantou a cabeça rapidamente com o susto. Era seu pai. — Entra agora aqui!

— E-estou i-indo. — Ela toca em meu ombro e dá um sorrisinho de desculpas.

O papo com Luiza estava perfeito, eu não conseguia conversar com uma garota desse jeito desde a quarta série. Ela parecia interessada no que eu dizia — ou talvez em mim? Ela era superatenciosa. Embora tímida, era bastante engraçada, e o que eu mais precisava naquele momento de aflição era rir um pouco.

Ela abriu a porta do carro e antes de entrar sorriu novamente para mim. Já dentro dele, o vidro sobia devagar, e quando quase fechado completamente, eu a vi sussurrando algo. Com leitura labial pude entender. “Até qualquer dia” foi o que ela disse.

O pneu do carro fez um barulho e deu uma pequena derrapada. Logo os vi já longe, sumindo na enorme ladeira que eu e Luiza descemos minutos antes. Luiza tinha um cachorro chamado Spooky, seu irmão já tinha começado os estudos e sua mãe estava superfeliz. Hoje posso dizer que não só conheci-a melhor como também degustei de algo novo. Por um instante sua presença se confundira com a do Felipe. Eu conseguia sentir a mesma coisa estranha quando estava com ele. Algo como o bambear das pernas, não sei.


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Notas finais do capítulo

Pessoal!! Como muitos sabem, este conto também está sendo postado no outro famoso site de fanfic, o Spirit como também na rede social americana Whattpad. Não a denunciem por plágio, já que, sendo escrita pelo mesmo autor (em contas diferentes), não infringe quaisquer regras. Você que ainda não deixou um comentário... Sabe que o site permite isso, não sabe? Faça um autor feliz. Não deixem de comentar e favoritar para serem avisados de quando haverá próximos capítulos