Sábado havia finalmente chegado para Glen. Dormira mal por ansiedade. Queria estar perto de Zach. Mal podia esperar até às sete. Continuava a desenhar o rôsto de Zach. As paredes estavam cobertas de desenhos Até tinha enquadrado um em especial. Num porta-retrato de cristal. Zach estava em tôda parte. Principalmente no coraçãozinho de Glen. O queria. Queria Zach só p’rá êle. Queria de tôdas as maneiras, agradá-lo profundamente.

Zach, por outro lado, sabia das suas qualidades exteriores. Era bonito, isso ninguém negava. Um côrpo desejado por todos e todas. Sabia como convencer e se aproximar. Mas, por algum motivo, estava com um pressentimento ruim. Uma espécie de mêdo. Mêdo do que pudesse dar errado. Tinha dois encontros. Tinha marcado com Emily, e logo em seguida, com Glen. Grace estava estranha. Parecia que sabia de tudo. Mas se soubesse, já tinha feito alguma coisa. O jeito era esperar.

Grace deu as últimas instruções para Emily. Esta última levaria o gravador numa pequena bôlsa. Ela colocaria a bôlsa em cima da mêsa com o gravador ligado. Perguntaria as intenções de Zach em relação à Glen. Mas é claro que Zach perguntaria o porquê daquela pergunta. Emily jogaria charme p’rá cima dêle e, com certêza, êle diria. E assim, Grace mostraria a gravação para Glen, que ficaria sabendo de tôda verdade. Grace mal conhecia Glen. E a reação que Glen tivesse, poderia ser qualquer uma. Mas melhor assim, antes que a maldade fôsse feita.

O tempo passou. Já eram 16h e 45 min. Zach havia acabado de sair de casa para seu primeiro encontro. Ao chegar, o relógio da lanchonete marcava 17h. Emily estava sentada numa mesa no canto. Zach se dirigiu até lá. Sentou-se e disse:

- Você está linda.

- Ah, obrigada. Você está ótimo também. Anda malhando?

- Claro. Você sabe. Levantando peso e tudo mais. – respondeu Zach mostrando-lhe os músculos.

Emily olhou para outra direção. Precisava se concentrar no que tinha que fazer. Por isso, foi direto ao assunto:

- Zach, posso saber por que você está com o Glen? Vocês estão saindo?

- Não! Eu gosto de garotas.

- Mas você pode gostar de garotas E do Glen.

- Não, não tem nada a ver.

- Então por que você passa todo o tempo com êle? – Emily perguntou colocando a bôlsa por cima da mêsa.

- Por que quer saber?

- Ah, me diz, Zach. Ou você não confia em mim?

Emily cruzou as pernas de um modo sensual que tirou a atenção de Zach.

- Claro que confio. Olha se quer mêsmo saber. Eu nem gosto dêle. Faz tudo parte de uma aposta que eu e os garotos fizemos.

- Aposta?

- É. Eu tenho que pedir dois mil dólares p’rá êle. E como vamos eu e êle no cinema, eu invento alguma história, ou desculpa... Mas tenho que conseguir o dinheiro. Se eu conseguir, eu ganho uma coleção de revistas da... Da...

- Da o quê?

- Da Playboy.

- Mas e depois? Como vai fazer?

- Depois? Como depois? Nunca tive nada que ver com êsse idiota. Nunca significou nada p’rá mim. Mas isso é segredo.

Nessa hora, o celular de Emily tocou. Era Grace:

- O que foi? Quem é? – pergunta Zach.

- Oh, nada. É minha mãe. Ela precisa de mim. Desculpe não poder ficar mais.

- Não tem que pedir desculpas. Pode ir.

Ao sair, Emily foi direto para a casa de Grace. Zach ficou por lá. Tomou um café e depois saiu.

Quando Emily chegou, entrou no quarto de Grace e mostrou a fita. Grace já suspeitava. Quando Glen chegasse, diria tôda verdade.

Por falar no Glen, êle estava com sua roupa nova, dentro do carro a caminho da residência dos Clark. Sem suspeitar no que estaria para acontecer.

Quando Grace terminou de ouvir a fita, Emily disse com aquela cara de idiota:

- Não acho que o Zach seria capaz disso. Êle é bonito demais para tal coisa. E gosta de garotas.

Grace mordeu o lábio inferior e começou a falar com Emily:

- Emily querida. Eu quero que você passe por esta porta, vá até o shopping mais próximo, entre na loja mais cara, escolha qualquer coisa que queira, independente do prêço, e coloque na minha conta. Depois, eu não quero que volte a falar comigo. Isso mesmo. Não quero mais saber de você. Por isso peço para que aceite a minha oferta, porque sei que você merece pelo trabalho e não retorne mais aqui.

- Mas eu...

- Não fale Emily. Apenas vá.

Emily saiu enfurecida. Encontrou com Diane no corredor:

- Oi Emily, como foi... – Diane notou que Emily passou sem olhar na cara dela e terminou a pergunta. – o... Dia?

Entrou em casa e viu Grace sentada no sofá:

- Filha, acabei de encontrar a Emily no corredor e ela estava com uma cara não muito bôa. Vocês brigaram?

- Não foi nada, mamãe

- Sabe do seu irmão?

Diane terminou a pergunta e a porta da frente abriu. Zach entrou e disse:

- Oi mãe. Vou sair com um amigo. Se êle chegar, me avisa. Vou tomar banho.

Zach saiu da sala e foi para seu quarto. Grace se levantou e disse à sua mãe:

- Mãe, descobri o que Zach queria com o Glen.

- Glen? Quem é Glen?

- O aluno nôvo, mais rico que nós.

- Ah, sei, sei. E o que o Zach queria?

- O Zach quer... – Grace não terminou, pois ouviu o som da campainha. – Só um minuto, mãe.

Grace abriu a porta. E estava lá, em pé, Glen Andrews:

- Por favor, o Zach está?

- Está sim. Está no banho. Mas de qualquer modo, entre.

- Com licença.

Glen entrou meio inibido. Diane fez questão de cumprimentá-lo:

- Eu sou a drª. Clark, mas pode me chamar de Diane.

- Obrigado, senhora. Eu me chamo Glen.

- Ótimo, já se apresentaram. Agora eu preciso falar com o Glen. – Grace gritou e pegou o gravador.

- Grace! Isso são modos?

- Mãe, essa pode ser a última vêz que peço alguma coisa p’rá você. Portanto, cale-se.

Diane não pôde retrucar. Grace sentou-se junto de Glen ao sofá:

- Glen, isso pode soar cruel e estranho p’rá você. Mas você precisa saber o tipo de pessôa que Zach é.

- O que quer dizer? Como assim? – pergunta Glen confuso.

- Escute essa gravação, e ela lhe dirá tudo.

Grace apertou o play e a fita rodou. Glen ouviu palavra por palavra. “Eu nem gosto dêle”, “ Faz tudo parte de uma aposta”, Eu tenho que pedir dois mil dólares”, “Nunca tive nada que ver com êsse idiota”, “Nunca significou nada p’rá mim”. Isso soava nos ouvidos de Glen, enquanto seus olhos vertiam lágrimas de dôr. Dôr e angústia. Quando a fita parou, Grace disse:

- Glen, eu sinto muito.

- Quem imaginaria. Meu próprio filho. – Diane disse abraçando Glen.

- Por que eu? O que eu fiz p’rá êle? – Glen perguntava com o coração em mil pedaços. – Se me dão licença, eu quero ficar sòzinho.

- Claro. – Diane concordou levando-o até a porta.

- Obrigado Grace. Por ter me aberto os olhos. – agradeceu Glen saindo do apartamento.

Quando chegou lá em baixo, Victor perguntou:

- O que foi? Você está bem?

- Victor, me leve p’rá casa, por favor. – Respondeu Glen com os olhos vermelhos.

Zach foi até a sala onde estavam Grace e sua mãe e perguntou:

- Eu ouvi a porta. Quem era?

- Era o Glen. Mas já foi embora. – respondeu sua mãe, tentando não perder a cabêça.

- Mas êle não disse nada?

- Não se preocupe. Êle deixou um recado p’rá você. – Diane respondeu levando sua mão direita à face esquerda de Zach, dando-lhe um tapa que o fez cair ao chão. – Como pôde! Como pôde magoá-lo desta forma? Um menino que não tem nada com isso, e você o faz sofrer. Eu não os criei assim! Isso me envergonha de uma forma que nem sei o que faço com você! Mas que fique claro que não vai ficar assim. Agora vá para o seu quarto até que eu pense num castigo.

Zach levantou e fez o que sua mãe o havia mandado. Uma furtiva lágrima desceu de seu rôsto. A lágrima que revelava que chegou a sentir alguma coisa pelo rapaz. Mesmo que negasse todos êsses sentimentos, nunca se tem certeza, até que provasse. E aí está. Esta lágrima ficará sempre na lembrança. Zach sabia que Glen poderia nunca mais querer olhá-lo nos olhos novamente. Mas tinha que inverter a situação antes que fôsse tarde. Mêsmo parecendo ser tarde agora.

Glen chegou a casa. Subiu as escadas e se fechou no quarto. Começou a rasgar todos os desenhos daquêle que julgava uma bôa pessôa. O chão estava coberto de pedaços d papel. Glen tomou o porta-retrato nas mãos e disse:

- Você me magoou. E por isso eu não te quero ver nunca mais!

Glen jogou o objeto de cristal na parêde e êste se quebrou em pequenos pedaços e que depois se juntaram com o papel rasgado. Glen caiu ajoelhado ao chão. Mentiras. Tantas mentiras ouviu daquêles lábios que desejava tanto beijar. Quando isso ia acabar? Por que isso não poderia ser só um pesadêlo? Sabia que não era. E que teria que reerguer-se.