Tiptoes escrita por Luisa MN


Capítulo 2
O Quebra-Nozes


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Após dois meses do início das aulas os professores concordaram em fazer uma apresentação, como abertura do ano de 2017: O Quebra-Nozes.

O período de teste foi de 1 semana, mas pareceu uma eternidade até recebermos os papéis. Além do próprio papel, cada pessoa deveria decorar um de substituição e um em grupo.

O cartaz é pendurado na parede: o primeiro ano faria os flocos de neve, o segundo ano (minha turma) faria as flores. E os papéis de destaque seriam distribuídos entre os alunos durante as aulas. Obviamente, fiquei muito curiosa. Sabia que os papéis de mais destaque seriam do terceiro ano, mas talvez o papel do substituto poderia ser dado ao segundo ano.

Na segunda-feira todos estavam inquietos na aula, querendo receber a notícia. Sem mais paciência com os murmúrios, a professora anunciou:

— Os papéis foram muito bem estudados. Distribuímos da maneira que achamos mais apropriada para cada aluno. Não quero ouvir reclamações. Os papéis só poderão ser trocados pelos professores durante os ensaios se acharmos conveniente. Então, como já podem imaginar os papéis de maior destaque, como Clara e o Quebra-Nozes serão produzidos pelo terceiro ano. Porém, os substitutos serão vocês.

Após uma lista de nomes chegou a minha vez:

— Katie Swan vai ser a substituta da Fada Açucarada.

Meu queixo caiu. Fada Açucarada? Ela faz solos e pas de deux! Fiquei com um sorriso estampado no rosto durante todo o dia, deixando as minhas bochechas dormentes.

Acabada a lista dos substitutos a professora começa a falar dos nossos próprios papéis. Não prestei muita atenção, não sabendo ao final quem era quem, até ouvir meu nome.

— Katie Swan vai interpretar o Café Árabe.

Café? Combinou comigo, vivo a base de cafeína, principalmente nos dias longos de ensaio e nas apresentações.

A professora distribuiu folhas com grades de horários para os ensaios particulares e de grupo, junto nos deu um DVD com a coreografia de cada personagem respectivamente. Eu já achava o meu dia corrido, mas o pior ainda estava por vir…

Em época de espetáculo, aulas de hip hop, danças folclóricas, artes circenses e contemporâneo eram canceladas e substituídas por horas de ensaio. Acho uma pena, pois amo artes circenses e contemporâneo. Ficar na ponta do pé cansa! Gosto de subir em tecidos e trabalhar outras partes da arte da dança. Pretendo ser uma bailarina completa, sabendo todas as modalidades apresentadas na academia. Embora isso não signifique que gosto de certas aulas, como danças folclóricas. Nunca gostei de história, não quero saber quem veio antes de mim, quero viver o presente e traçar o futuro.

Passei horas vendo o DVD repetitivamente. Avaliei cada braço, cada perna, cada músculo que se mexia. O resultado foi noites em claro, à base de café. Quando cheguei para o meu primeiro ensaio me senti pronta. Afinal, já sabia quase tudo de cor.

Era o primeiro espetáculo do ano, mas isso não significava que não teria que ser grande e perfeito. Vários professores, produtores e diretores são convidados para a estreia. Apresentamos cada peça por cerca de 2 ou 3 dias. Os ingressos se esgotaram facilmente e a pressão sobre os alunos estava grande.

Meu primeiro ensaio foi o Árabe. A dança não era muito desafiadora. Eu era basicamente levantada e levada de um lado ao outro pelos meninos. Divertido! Gostei da coreografia. A entrada não me agradou muito pois entraria sentada na mão de um homem, é difícil de explicar.

Acredito que a professora tenha ficado satisfeita com o resultado. “Tem muitos erros para corrigir, mas no mais, acho que todos fizeram um bom trabalho” foi o que ela disse, concordo.

Era vez de ensaiar as Flores. Esse sim foi um ensaio cansativo. Começou as 8 da manhã e acabou as 6 da tarde, com pausa para almoço e lanche. Quando voltei para o meu quarto estava acabada. Não tinha mais energia para nem mais um salto, pirueta ou arabesque.

No outro dia era a vez da Fada Açucarada. Portanto, passei as últimas horas do dia, vendo o DVD da coreografia e anotando tudo.

Não achava que cansaria tanto. Pela cara da bailarina no DVD a dança parecia fácil. Mas só parecia. Tive pena do homem que teve que me levantar mais de 100 vezes… Pirueta tripla, arabesque, attitude, sissone… E olha que eu ainda nem tinha ensaiado o solo!

Domingo finalmente chegou! Único dia da semana que não temos aula e podemos dormir até tarde. Com o calor, passei o dia na praia. Uma das coisas boas de morar na Austrália é poder ir na praia, quase todos os dias. Fui de manhã bem cedo, fiz yôga que me ajuda a relaxar; tomei banho de sol; almocei no restaurante do píer; li meu livro na rede; coloquei o tecido de dança aérea que é alugado na academia numa árvore e treinei pelo resto da tarde. Quando o sol não tava mais forte tomei um bom banho de mar. Vi o pôr do sol, lanchei e voltei renovada para a academia. Esses dias são como uma recarga de energia.

Estava pronta para segunda-feira. Ensaios e mais ensaios tomaram conta da minha vida. Ensaiava Árabe, Fada Açucarada e Flores um atrás do outro. Tinha 2 dias focados em técnica e 4 nos ensaios, por semana.

A pressão começou a aumentar conforme o dia chegava. Os figurinos ficaram prontos e à nossa espera. No solo de árabe eu vestia uma calça bufante de cor nude, um top nude com bordados vermelhos e uma coroa dourada com um pequeno lenço. No da fada açucarada eu usava um tutu prata com uma malha branca bordada com pedrarias pratas. Por fim, na das flores, eu usava uma malha com detalhes bordados e uma saia de tule que cobria os joelhos.

O grande dia chegou! E o agito começou desde cedo. Fomos para a Opera House de manhã e começamos os preparativos. Antes do almoço o palco estava sendo usado para os últimos ensaios; após o almoço o palco era fechado para a arrumação de toda a decoração, iluminação e som. Enquanto isso, os bailarinos ficavam no camarim, se aprontando.

Uma das partes que eu mais gosto é preparar a maquiagem e o cabelo. Pelos anos de experiência já faço tudo sozinha. Tomo um banho e lavo o cabelo, com ele molhado faço um rabo bem apertado e encho de gel, enrolo o cabelo e prendo num coque quase acima da cabeça. Preparo bem a minha pele, realço a boca e os olhos, reforço as sobrancelhas e coloco cílios postiços.

A minha primeira dança é das Flores, portanto visto o figurino e espero pronta no camarim. Nenhum bailarino deve subir ao palco desaquecido. Então, coloco minha sapatilha de ponta e começo a me movimentar. Pliê, getê, adágio.... Parece que o tempo não passa. O espetáculo começa às 20:30 h, eram 19:30 h e já estava quase tudo pronto. 20:00 h... Dou a minha última volta, tomo meu último café e me reúno com o resto dos alunos no palco para o pequeno ritual de sempre: “muita merda para todo mundo!”.

A apresentação começa e termina num piscar de olhos. Enquanto danço sinto cada movimento e parece que em cada salto eu estou voando. Porém, quando estou no camarim me trocando o tempo também voa! A princípio achei que tinha tempo de sobra para as trocas, mas na hora pareceu apenas 1 minuto.

Pelo que eu vi da apresentação, diria que foi a nossa melhor performance. Após o espetáculo permaneci no teatro para os agradecimentos e elogios. Me arrumei e saí para jantar com alguns amigos. Voltando para casa já estava exausta e nem cafeína podia me sustentar. Tomei meu banho e deitei na cama com dor nos músculos. Lembrei-me de todo o esforço e dedicação e cheguei à conclusão que tudo valeu a pena.

Acordei no domingo com dor e vontade de permanecer na cama durante o resto do dia. Fiz cupcakes, escolhi alguns filmes e mergulhei em cada história. Passei o dia nessa moleza, sabendo que no dia seguinte teria que voltar à rotina normal.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!