Eu danço desde os 3 anos, está no meu sangue: minha mãe era bailarina. Infelizmente ela morreu muito jovem, num acidente de carro, quando eu tinha 8 anos. O seu maior legado foi o amor pelo ballet.

Um dia ela me viu cantarolar e dançar pela sala e isso a fez perceber que eu poderia e deveria virar uma bailarina como ela e seguir seu o caminho. Assim, cada vez que eu danço sinto como se estivesse mais perto dela, como se ela estivesse me vendo lá de cima, orgulhosa.

O meu sonho é ser a primeira solista da academia, viajar pelo mundo em turnês, conhecer bailarinos famosos e desfrutar de cada prazer da dança. E para conquistar o mundo, tem que se começar por baixo. Cada aula, cada correção pode ser mais um passo para o meu objetivo, portanto aprendi a aproveitar cada momento da minha vida.

O melhor jeito, quase o único jeito, de virar um bailarino famoso e bem-sucedido é entrar em uma academia, lá tu vai ter toda a preparação necessária para sair para o mundo, ou, se for bom o suficiente, representar a academia em competições e apresentações. Para entrarmos já temos que estar com o ensino médio concluído e passar por uma série de audições. Temos que fazer exames médicos, aulas, apresentar solos, coreografias em grupo e dependendo do lugar, discursos mostrando porque merecemos ficar na academia. A pressão é grande, é muita gente para pouca vaga. Depois de cumprirmos os testes ficamos duas semanas esperando pelo resultado. Nas primeiras vezes eu fiquei muito nervosa para receber uma resposta, mal comia ou dormia. Mas, com o tempo, aprendi a relaxar. Trocar de escola se tornou comum para mim, afinal, todas as vezes que eu me mudava meu pai me dizia que era permanente, então eu procurava uma escola para me inscrever.

Pode parecer até legal se mudar várias vezes para lugares distantes e totalmente desconhecidos, porque afinal, tem suas vantagens, eu nunca cansei de um lugar e tive a oportunidade de aprender diferentes tipos de danças e métodos de ensino; mas eu nunca consegui dar continuidade para minha carreira. Pretendia mudar isso quando fui para a Austrália, não estaria mais dependente do meu pai então poderia me fixar e começar de uma vez por todas o meu caminho.

Fiz minha audição, esperei duas semanas e a resposta veio: eu fui aceita! Pulei de alegria ao ler a carta e logo fui arrumar minhas coisas. Fiz minhas malas e empacotei todos os meus pertences, não pretendia voltar àquela casa. Ah! Esqueci de falar, mas antes de ir para a academia, estava morando em Londres, com meu pai, ele foi transferido para a Austrália e eu fui com ele, a fim de não ter muita distância entre nós.

Um dia depois já estava indo para a academia, arrumar meu quarto e me organizar para começar o ano. O quarto era pequeno, tinha duas camas de solteiro, uma cômoda e um armário, as paredes eram brancas e havia apenas uma janela, que dava vista para o cais. Como vocês já devem imaginar, eu dividia-o com uma outra aluna, seu nome era Ashley, mas eu a chamava de Ash. Ficamos amigas logo que nos conhecemos, ela também era nova na cidade (Sydney) e também não conhecia a academia, portanto no primeiro dia tudo o que fizemos foi passear, ver as salas, os corredores e tentar decorar as aulas que teríamos. Acabamos conhecendo os nossos colegas, a maioria era simpático, alguns eram competitivos e tu sabe como são os guris quando veem uma (no nosso caso duas) gurias novas, assovios, tapas no ombro um do outro, enfim…

No outro dia, enquanto observávamos o quanto o quarto era sem graça, resolvemos fazer uma transformação: saímos pela cidade em busca de quadros que representassem tudo o que nós mais gostamos. Ao final do dia nosso quarto estava a nossa cara.

                                                Passado um mês

Eu posso dizer que a rotina da academia é baseada em: correr, correr e correr. Tenho aulas de ballet, contemporâneo, hip hop, danças folclóricas e artes circenses. As aulas começam as 8:00 h, temos o almoço das 12:00 h às 14:00 h, aulas até as 15:00 h, das 16:00 h às 18:00 h e dependendo das 19:00 h às 20:30 h. Ah! Tirando as aulas particulares marcadas aleatoriamente.

Mas, por incrível que pareça, eu ainda tenho vida fora da academia. Gosto de sair para fazer compras e me arrumar, afinal, me considero muito feminina, não saio do quarto sem maquiagem e roupas como:

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Tirando quando estou estressada, que daí não tem nada melhor que um bom moletom!

Porém, o meu gosto pela moda não pode atuar muito nas aulas de dança. Malha, meia-calça, polaina, saia ou short de lã.... É o regulamento!

Normalmente passo minhas horas livres estudando e ensaiando. Ou, de vez em quando, cozinhando. Esse é o meu hobby. Faço bolos, tortas, mousses, cupcakes… Depois de fazer os doces distribuo entre todos porque não é exatamente a dieta que deveria seguir. Na verdade, não sigo dieta, meu corpo sempre foi esguio e forte então nunca tive dificuldade com abdominais, flexões, saltos ou mortais. Mesmo sendo feminina e delicada, é melhor não subestimar a minha força!