Já não seria fácil aguentar Sarafine, agora tenho que aguentar uma Sirena. Ridley com certeza, não é pior que Tara, isso eu tenho que admitir. E se Sarafine estiver usando um exército de Sirenas? Tara com certeza, deve ser a primeira.

Já se passou um mês e não consigo esquecer aquela vadia da Tara Boldman. E quem era Ruth Boldman? Ela ainda estaria viva todo esse tempo? Não tínhamos como saber.

Estava no meu dormitório, sentado na cama, lendo Relíquias, um livro que peguei na biblioteca do campus. Interessante por sinal. Mas eu não estava conseguindo me concentrar naquele livro, mas sim, em Lena e Ridley. Quando algo caiu na cozinha do dormitório, mas eu estava sozinho. Todos os meus amigos estavam numa festinha no ginásio. Desci as escadas e fui conferir. Lá estava Ridley, consultando o relógio, furiosa.

— Ethan Lawson Wate. Onde estão seus amigos para lhe acordar?

— Perdão, Ridley... E eu não estava dormindo, e não estou atrasado, ninguém me avisou de nada.

— Deveras. Vamos tentar achar o esconderijo de Sarafine. Eu, você e Lena.

— Mas, eu não posso fazer nada a respeito, entendam! — retruquei surpreso — Sou um Mortal, não Conjurador.

— Isso não importa. Como dizem os Mortais, 'não precisamos ter poderes para mudar as coisas'.

— Hã... — pensei — então, tá, ué.

— Vamos. Segure no meu braço, anda.

— Ridley, eu...

— Não quero usar meus poderes de Sirena em você.

Fui até ela, segurei o braço dela, e junto aparecemos em outro local, devia ser a parte de frente da faculdade. Lá estava Lena, sentada em dois tijolos (duros, por sinal).

— Até que enfim... Então, vamos andando?

— Andando? — disse soltando o braço de Ridley — Por que não nos teletransportamos?

— Cale a boca, Ethan. Vamos andando e pronto.

Andamos até quase o fim da cidade de Gatlin. Tudo estava calmo, só se ouvia os bem-te-vis cantando, o bater de asas das pombas ali por perto. Mas, algo mais estava se debatendo na parede gramada. Eu, Lena e Ridley olhamos assustados.

De repente, saiu um espírito, o espírito de Macon Ravenwood, o falecido tio de Lena.

— Lena? Ridley? Ethan? O que fazem aqui?

— Estamos procurando o esconderijo de Sarafine.

— Ela morreu, Lena. Você a matou, prendeu seu espírito numa parrei...

— Ela retornou da morte, tio Macon. Não seja burro.

— Se eu fosse vocês, em primeiro, não levaria um Mortal. — fiz uma careta desgostosa — E em segundo, não iria.

— Macon, que absurdo. — retrucou Ridley — Nós vamos, e não fale de Ethan como se fosse um Mortal indesejado. Você não pode nos impedir, está morto, não sabe? Você não é um espectro, não pode nos tocar, nem Conjurar. É só um espírito.

— Escute o que digo, Ridley. Sou mais do que um espírito. Moro aqui, e qualquer Conjurador que vejo fazendo atividades suspeitas, imediatamente interrogo.

— Não sabe do que está falando. — disse Ridley, atravessando Ravenwood — Vamos.

Seguimos caminho reto, já anoitecia. Lena nos ofereceu abrigo na Mansão Ravenwood. Não parecia tão suspeita, já que Macon havia morrido. Entramos. Lena chamou por sua tia Delphine.

— Lena? Ridley? Um Mortal? Lena, vá pra sua cama, agora. E tire esses trastes daqui.

— Não somos trastes, mamãe. Ainda sou sua filha, veja lá como fala comigo.

— Cale a boca, menina insolente. Lena, acho que não fará mais faculdade.

— Eu vou fazer sim, só cabulei esse dia de aula e um dia há um mês atrás.

— Não vai mesmo. Vou destruir a faculdade de Summerville.

— Não... não pode fazer, sra. Delphine.

— E um Mortal como você vai me impedir? — disse, desaparecendo e aparecendo, provavelmente na faculdade.

— Ela está alterada! — exclamou Lena — Não está com o juízo perfeito.

— Tenho certeza de que não. Sarafine está agindo no corpo dela.

O clima pesou. Isso não era boa coisa. Tínhamos que de, qualquer forma impedir Delphine de fazer isso, ou Sarafine está agindo em seu corpo. O que ela diria se soubesse? Não se sabe. Não realmente.

Teletransportamos para a faculdade, e vimos Delphine cutucando o queixo, pensando, e erguendo as mãos, destruiu o dormitório em que eu e meus amigos dormiam. Eles agora, estavam no céu ou no inferno. Mortos. Não me decepcionei muito, eles eram chatos mesmo. E pulando da varanda quebrada, lá estavam Al, Ned, Tony e Roger fugindo absurdamente rápido, nem percebendo que estavam de pijama.

— Hipócritas. — disse Delphine com desgosto — Agora, vamos destruir esse aqui.

Delphine ergueu as mãos e paralisou. Petrificou. Só percebi agora que Lena a petrificou. Estava caminhando em direção a Delphine.

— Saia, Sarafine. — disse com rispidez — E não volte a atacar minha família, sua bruaca.

Algo preto saiu do corpo de Delphine e falou soando ecos.

— Filha, que bom te ver. Então, foi Invocada para as Trevas ou para a Luz?

— E isso importa? Patética, você.

— Sua atitude está sendo infantil agora, Lena. — disse Sarafine, séria — Logo, logo sua mãe terá um corpo só dela! Depois vamos morar juntas, matar várias pessoas usando nosso po...

— Chega, Sarafine. Você possuiu pessoas, muitas delas inocentes. A Sra. Lincoln foi uma delas.

— 'Não use palavras que não compreende', foi o mesmo que disse pra mim, no seu aniversário de dezesseis anos. E repito isso, só que pra você, minha Conjuradora bonitinha!

— Sabe, Sarafine... Você é tão idiota, você acha mesmo que eu me considero sua filha? Nem aqui, nem na Austrália, sua bruxa.

— Sempre será, querendo ou não.

— Você está certa, admito. Mas não sou igual a você. Você é descendente de Genevieve, não eu.

Genevieve. Ouvir isso da Lena, depois de quatro anos foi um milagre. Ela queria esquecer tudo isso.

— ...você sempre será o que é, Lena.

— EU NÃO SOU DAS TREVAS, SUA VACA! — Lena enforcou apenas com o movimento das mãos o espírito de Sarafine. — VÁ EMBORA, OU EU ACABO COM SUA RAÇA!

A massa preta saiu disparada em direção ao outro lado da cidade. Eu e Ridley ficamos orgulhosos só de vermos Lena botar medo em Sarafine, mas sabíamos que Sarafine não desistiria tão facilmente.