“Você só me dá dor de cabeça!”

“Por que não é igual ao seu irmão?”

Ao canto uma menininha de 6, 7 anos chorava desolada, se sentindo sozinha e com um misto de sentimentos muito intensos para tão pouca idade.

Wulcan apertava os olhos como se querendo expulsar esses pensamentos de sua cabeça, era como se sentisse muita dor ao ver tais cenas tão nítidas como no primeiro dia.

— Ai!

— Calma Wulcan, você está conseguindo lidar bem.

— Professor, eu acho que isso não vai adiantar. Me sinto mal a cada sessão, é mesmo necessário? – Ela não estava nem um pouco confortável com tudo aquilo, ainda que confiasse em Charles, não conseguia evitar o que sentia.

— É necessário para seu adiantamento. Por vezes não se consegue ir em frente, se não voltar ao que houve lá atrás.

Ela suspirou fundo. Há dois meses havia chegado a mansão e começado a estudar em Bayville, assim como a treinar com seus poderes e nesse período fazia sessões com o Professor algumas vezes na semana para lidar melhor com suas emoções e assim dominar melhor todo o poder que tinha dentro de si. Lembrava-se de quando ele a chamou em seu escritório para conversar.

FLASHBACK

— Mandou me chamar, Professor?

— Sim, Wulcan. Entre, por favor.

— Eu fiz algo errado? Foi algo nos treinos? A escola está indo bem e...

— Calma, Wulcan, você não fez nada de errado – Charles pôde notar que ela tinha sérias tendências a ansiedade. – É que gostaria de conversar com você sobre seu treino. Ficamos muito impressionados com sua astúcia e desempenho, todavia creio que poderíamos refinar mais ainda seus poderes se você aliasse isso com o controle de suas emoções.

— Não estou entendendo...

— Notamos que seus poderes são muito intensos e podem ter um forte fator emocional, em uma discussão concluímos que você poderia ter muito mais controle sobre eles se suas emoções também estivessem focadas. Poderia canalizar muito mais e fazer muito mais do que imagina.

— Tem algo de errado comigo e com meus poderes? – Charles notou que ela parecia confusa e ao mesmo tempo querendo saber o que havia, porém ele sentia que não poderia revelar o verdadeiro sentido de tudo aquilo, poderia deixa-la aflita e com sérios problemas.

— Não há nada de errado como já falei. É apenas um trabalho que acreditamos ser muito útil em um caso como o seu. Uma mutante com bipoderes, que passou tanto tempo reprimindo-os e escondendo, temerosa, um trabalho envolvendo suas mente e emoções poderá ser de grande valia para seu crescimento.

— Vai doer?

— Não, mas devo dizer que a mente é como uma cômoda com múltiplas gavetas com vários compartimentos, podemos abrir um destes e não saber o que iremos encontrar, todavia, é muito mais fácil acharmos entendermos com o que estamos lidando se enfrentarmos, você não acha?

— De fato, Professor. Bem, confio no senhor. Se o senhor achar que será bom para mim, então prometo me esforçar.

— Começaremos o mais rápido possível.

FIM FLASHBACK

Entretanto, Wulcan nunca imaginou que aquelas sessões fossem ser do jeito que foram. A cada vez que o Professor entrava em sua mente não era tão indolor quanto ele fizera parecer que seria. Era como um corte de papel entre os dedos e multiplicar isso por um milhão, a dor não era propriamente física mas a repercussão era perto disso, na sua mente caixas de pandora eram abertas e sentimentos e lembranças que ela fez questão de deixar enterrados no passado vinham a tona. Muito disso relacionado a sua mãe e ao sentimento que ela desenvolveu de não ser boa o bastante. As constantes comparações com seu irmão Diggory, a sensação de rejeição e solidão e posteriormente o medo ao descobrir seus poderes e isso tudo se agravar. Encarar tudo isso de frente, sem filtro algum era muito duro. Nos primeiros dias ela chorava inconscientemente, além desses sentimentos, ela lidava com a vergonha de não controla-los bem, nem podia esconder porque o Professor via tudo que se passava em sua cabeça. O trabalho ali consistia em ele abrir essas gavetas, ela enfrentar essas lembranças e as emoções que geravam e ele intercedia caso necessário. Todavia, por mais sessões que tivesse feito, o avanço ainda tinha sido pouco.

— Você está progredindo, Wulcan.

— Não sei se estou melhorando tanto assim, Professor. Ainda é difícil pra mim, achava que tinha superado tudo isso mas não tranquei tão bem como deveria.

— Esse é o erro. Você não tem que trancar, uma vez que algo se tranque, há possibilidade de que o lacre se rompa. Você precisa combater e eliminar para sempre, lidar com isso. Não desaparecerá, obviamente, porém não mais atingirá ou terá qualquer repercussão em você.

— Eu sempre tive uma relação difícil com minha família. Minha mãe me rejeitava de algum modo, meu irmão apaziguava mas ele também sabia que era o filho favorito e não podia mudar isso, e eu sempre só. Comecei a ter dificuldade de pedir ajuda ás pessoas e fico ansiosa de pensar que tenho algo importante pra fazer e acabar falhando, pois só pude contar comigo o tempo inteiro. – Charles percebeu que ela estava prestes a chorar, sentiu uma onda atingi-lo, como se os poderes dela estivessem em ebulição, por mais que não os estivesse manifestando no momento.

— Wulcan, acalme-se. Este trabalho que estamos fazendo vai ajudar você a superar isso. E a aceitar melhor o fato de que por mais que em sua casa não se sentisse acolhida, aqui na mansão o é, tem amigos e pessoas que também são como você, todos eles também tem seus medos e receios, e souberam como lidar com isso. Quando dominar melhor suas emoções, saberá dominar seus poderes com muito mais controle, serão refinados, você verá. Agora, terminamos por hoje, pode ir.

— Obrigada, Professor. Confesso que por mais que eu queira logo os resultados, só de estar aqui e fazer essas sessões me sinto melhor emocionalmente. No fim, ao menos está sendo bom pra mim dividir esses sentimentos com alguém.

— A tendência será sua melhora.

Wulcan saiu da sala e Charles ficou pensativo. Ela alcançara algum progresso, ao contrário do que imaginava, todavia era preciso mais. Ao sondar a mente da menina, ele pôde ver inúmeros sentimentos e espectros de raiva, revolta, decepção, até sentimentos mais sombrios como depressão e pesar. Sem dúvida ela havia sofrido muito e esse misto de sensações poderia ser um problema grave se combinado com fogo e flora selvagem.

FLASHBACK

— Logan, você tinha razão. Wulcan tem seus poderes fortemente relacionados com suas emoções. E considerando o teor dos poderes dela, pode ser perigoso.

— Eu sabia, Charles! O que eu disse a você?

— Sim, poderia ter sido uma coincidência. Todavia Kurt veio conversar comigo e percebi que não era apenas um reflexo.

— O que? O duende? O que ele tem a ver com isso?

— Kurt saiu com Wulcan hoje e notou uma manifestação inconsciente dos poderes dela em um momento digamos de exaltação. Ele ficou preocupado, pois no treino viu como os poderes dela são e imaginou que poderia haver uma situação nada favorável, então veio conversar comigo.

— O duende parece estar mais próximo dela... enfim, o que pensa em fazer Charles?

— Vamos começar um trabalho com ela. Preciso sondar sua mente e quais emoções estão mais afloradas, quais podem ser um perigo e quais podem ser trabalhadas para que haja um direcionamento, uma canalização no uso mais consciente de seus poderes.

— Eu dou apoio, Charles. Essa menina parece ter passado poucas e boas, eu noto nela uma vontade de mostrar sua capacidade, tem uma certa revolta nela que não consigo entender.

— Se houver algo, vamos descobrir. E o mais importante: corrigir.

FIM DO FLASHBACK

Charles lembrando disso percebeu eu estava fazendo o certo. Wulcan era sua responsabilidade tal como todos os outros alunos e era seu dever orientá-la da melhor forma.

Wulcan saiu da sessão com o Professor esgotada. Rever todas aquelas cenas não era fácil. Há muito ela tinha enterrado aquele passado, tentado não mais lembrar de velhas raivas e ressentimentos. Considerava que sua vida de verdade havia começado no momento em que entrou na mansão. Todo o ressentimento, decepção e solidão que sentira em sua antiga casa, ela só queria esquecer e deixar pra lá. Todavia, após ter começado as sessões com Charles, pôde perceber que por mais que tentasse esquecer, por vezes do nada tudo voltava e ela sentia aquelas emoções tal como no primeiro momento, ficava remoendo tudo e se sentia péssima. Talvez fosse preciso uma ajuda maior afinal. Estava tão distraída que nem reparou que passou por Kitty, que a chamou e ela nem ouviu, entrou no quarto de cabeça baixa. Todavia ao ouvir um som de “bunf” e ver Kurt passar pela porta de seu quarto sem perceber que ela estava lá dentro, resolveu falar com ele sobre possibilidade de fazer dupla mais uma vez.

— O que houve, Kitty?

— É a Wulcan, eu chamei ela e ela nem ouviu. Parecia alheia. Acho que acabou de sair de uma daquelas sessões com o Professor, ela parecia exausta.

— Acha que está adiantando?

— Não sei, ela não tem falado muito sobre isso...

— Se eu não tivesse falado com o Professor sobre os poderes dela... – Kurt pensou alto.

— O que disse, Kurt? Por que não me contou nada? – Ele bem se virou e se deparou com Wulcan o encarando, com um misto de surpresa e decepção.Reviwe