A verdade é que isso sempre vai acabar. Ela foi embora há tanto tempo que eu nem me lembro como ela se sentia quando estávamos juntos, por isso eu costumo dizer que ela é um mistério. Mas eu não quero pensar sobre isso agora; nessa sinfonia zumbindo em minha cabeça.

Não é intrigante quando a luz de nossas vidas começa a sumir? Eu só tenho falado de romances e tragédias, e não é apenas disso que essa história se trata. Os anos poderiam ter apagado a minha amizade com o Spencer, principalmente levando em conta tudo pelo que tivemos que passar com os fantasmas de 2009. Mas ele está do meu lado o tempo todo, me auxiliando na minha fraca esperança de reencontrar Annanda. E esse ponto da história não pode deixar de ser contado.

Porque se você quer começar uma briga, é melhor dar o primeiro soco.

Deitado em minha cama, pensando na loucura que minha vida havia aderido, comecei a refletir sobre o fato de nunca ter comentado nada sobre Annanda com ninguém, nem mesmo com Spencer.

Desci as escadas e fui até a cozinha. Abri a geladeira, peguei o que havia restado da pizza da noite anterior e coloquei-a para esquentar. Me dirigi à sala e meus olhos encontraram o violão. Sentei-me no sofá com o instrumento e comecei a refletir sobre o que tocar. Toque uma música sua. Eu lembrei de um projeto no qual eu estava trabalhando após o primeiro álbum de estúdio, uma música que não fazia o perfil do Pretty Odd e ficou parada, portanto sem utilização.

A música tinha alguma coisa haver com uma Mona Lisa e era bem animada. O único problema é que eu só havia escrito algumas partes, dentre elas um refrão que eu ainda não havia decidido se era definitivo ou não. Mas isso não importava, eu queria tocá-la, pretendia trazê-la como proposta para o novo álbum que eu estava planejando com o Spencer.

Woah, Mona Lisa

Você está garantida para governar esta cidade

As notas rápidas que eu compus com 20 anos agora tinham vida, era como se eu estivesse me preparando para uma balada digna da Mona Lisa do Da Vinci.

O som vindo da cozinha deixava claro que minha pizza estava pronta. Adeus Mona Lisa. Caminhei até a cozinha e me servi de uma farta fatia de pizza, logo percebendo que eu não havia feito café. Eu nunca esqueço do café. Desde a saída do Jon e do Ryan, eu tomo café da manhã solitário e acabo sentindo muita falta das viagens de turnê do A Fever You Can’t Sweat Out. Aquelas piadas idiotas e cafés da manhã em lugares que eu nunca havia sonhado em visitar eram incríveis, principalmente porque eu estava com os meus amigos. Nunca vai ser como antigamente, mas eu ainda tenho o Spencer e ele é incrível.

Com meu café pronto, olhei para o meu prato e sorri. A “pizza do dia seguinte” deveria ser nomeada como a oitava maravilha do mundo. Após terminar minha refeição, decidi marcar um almoço com o Spencer. Eu não queria passar a tarde inteira sozinho e desejava muito dividir os últimos acontecimentos que envolviam Annanda com o meu melhor amigo.

No horário marcado, saí de casa e me dirigi ao local no qual eu e Spencer havíamos decidido nos encontrar. Logo na entrada do estabelecimento, avistei o rosto inconfundível que não fazia ideia da confusão na qual eu me encontrava. Abri um sorriso sincero e calmo que foi recepcionado prontamente por Spencer, que logo o  retribuiu, levantando-se.

— Olá, Urie. Ouvindo muito Sinatra? – Cumprimentou-me, me abraçando calorosamente.

— Com certeza, além de uma variedade de músicas novas que não fazem o menor sentido. Como vai, meu campeão? – Respondi-lhe, sentando-me e avaliando a porção de fritas que Spencer havia pedido. Ah, eu te amo até a morte.

— Um dia após o outro, estou ficando maluco com essa rotina parada. Sinto falta de nossas turnês e dos seus gritos finos insuportáveis. – Spencer atacou as batatas e aderiu uma expressão séria – Você tem estado muito distante e eu sinto que é sobre isso que nós vamos conversar hoje, estou certo?

— É assustador o quanto você me conhece. – Suspirei, era hora de lhe contar tudo. – Então, isso tudo tem inicio com uma garota incrível e eu não sei nem por onde começar.

— Brendon, você sabe muito bem por onde começar.

Eu lhe contei tudo. Desde o dia que eu a conheci até a manhã daquele dia em questão. A cada palavra dita era como se eu tirasse um fardo que há tempos habitava minhas costas, e Spencer ouvia tudo apreensivo. Quando eu terminei minha narrativa, meus olhos pousaram nas fritas à minha frente e eu percebi que estava morrendo de fome.

— Pare de olhar pra essas batatas e come logo, isso tá me dando uma agonia gigantesca. – Spencer chamou um garçom e pediu para que o mesmo trouxesse nossa refeição. – O que você vai fazer com relação a essa moça, a Annanda?

— Eu não sei, Spencer. Eu nunca me senti assim com relação a ninguém. Ela é sensacional, mas muito confusa. Eu estou apaixonada por um mistério sem resolução. – Comecei a comer algumas batatas, esperando por um conselho ou até mesmo alguma piada.

— Você a ama, cara. Essa Jackson parece ser bem suspeita, mas você é louco. O que eu posso dizer? – Seus olhos saíram de mim e foram para um ponto além, me virei pra seguir seu olhar e me deparei com dois pratos fartos vindo em nossa direção. – Essa história toda me deixou faminto.

— Nem me fale.

— E então, quando eu vou conhecer a moça que roubou seu coração? – Indagou Spencer, abrindo um sorriso largo ao receber seu prato.

— O quê? Ah, cara. Você pode ir comigo até aquela boate maluca aonde eu tenho certeza que ela foi. Assim você me ajuda a não cometer mais erros. – Peguei meu prato e meu estomago roncou. Finalmente, comida.

Spencer mordiscou um pedaço do bife que havia em seu prato e tomou um gole de sua bebida, em seguida olhando para mim.

— Brendon Urie, você comete erros o tempo todo.