Memórias tendem apenas a desaparecer. Talvez essa seja a verdade e eu esteja apenas preso no que aconteceu no ano que passou, eu não posso mudar nada e esse é o problema. As lembranças sempre são doloridas, porém, acompanhadas pela culpa elas se tornam insuportáveis.

Às vezes eu sou assombrado pelo inferno de um sentimento passado, de bem mais do que um ano atrás. Antes de conhecer Annanda, meu coração já havia sido partido. Porém, naquela época eu ainda acreditava que poderia ser louco como um coelho. Eu queria que parte de minhas memórias desaparecessem, mas isso nunca vai acontecer.

O tempo nunca pode quebrar seu coração, até porque são as pessoas que o fazem. Mas o tempo lhe tira parte da dor e faz com que você siga em frente. Todas as memórias que fazemos nunca mudarão e eu sei disso. Algumas coisas nunca mudam.

E agora eu relembro uma noite que o tempo esqueceu.

Eu era inocente com relação ao que eu fazia, eu não esperava ser magoado por ninguém. Era 2009. E eu estou falando sobre Ryan Ross, que foi quem acabou fazendo com que eu me sentisse péssimo. Porque eu o amava, e agora eu percebo que talvez ele nunca tenha me amado.

Sempre houve uma dúvida acerca da minha relação com o Ryan; ela foi real, pelo menos para mim. Porém, tudo acabou, assim como todas as histórias que eu tenho a contar. Ross foi péssimo para mim, portanto, eu não gosto de falar sobre ele e odeio que toquem no assunto. Mas eu não posso fugir das minhas lembranças.

Desde que começamos a compor o Pretty Odd era perceptível que nós não estávamos mais tão contentes com o nosso trabalho. Após o lançamento do álbum, mesmo com as críticas negativas nos sufocando por conta da mudança de estilo musical, Jon e Ryan queriam continuar compondo músicas que mantinham o tom calmo utilizado em nosso segundo álbum de estúdio. Entretanto, eu e Spencer não compartilhávamos a mesma ideia que os outros dois.

As brigas começaram a se tornar frequentes e eu e Ryan mal nos falávamos, o que fez com que eu me sentisse um lixo. A qualidade das nossas músicas ao vivo foi decaindo conforme os desentendimentos da banda iam ocorrendo. Mesmo com tudo isso, eu nunca imaginei receber a notícia da saída de Jon e Ryan do Panic! At The Disco. Porra, aquele era o nosso sonho!

E eu recebi essa bomba disfarçada de presente numa noite que tinha tudo para marcar nosso retorno ao auge do prazer de ter uma banda. Posterior a um show no qual Ross e Walker deram seu melhor e fizeram com que o Panic! voltasse a ser uma banda para mim, Ryan me chamou para dar uma volta e disse que precisava conversar seriamente comigo. Eu estava extasiado com o show maravilhoso que havíamos feito, aquilo parecia marcar um retorno aos velhos tempos. Nada pode me abalar hoje. Mas eu nunca estive tão enganado.

O fato de Ryan estar ali comigo naquela noite fez com que eu me sentisse seguro enquanto caminhávamos pelas ruas movimentadas de Las Vegas, nossa terra natal. Estava sendo uma madrugada agitada; várias pessoas nos pararam para tirar fotos. Eu me sentia o dono do mundo, me sentia tão bem quanto no dia em que nosso álbum foi conhecido pelas pessoas e, como num passe de mágica, várias pessoas sabiam quem eu era.

Porém, Ross não parecia tão animado quanto eu. Sua expressão era fria com um leve toque de pesar. Naquela noite, eu admirei cada traço de seu rosto e esperei ansioso pelo que ele tinha a me dizer. Seus olhos encontraram os meus e minha alegria desapareceu, alguma coisa estava errada.

— Ryan, o que foi? – Meu coração começou a bater forte e eu tive certeza de que as notícias não seriam boas. De repente, eu sabia que iria desmoronar.

— Brendon, me beije.

— O quê? – Indaguei, confuso.

Ele bufou e me puxou com força. Nossos lábios se encontraram e eu percebi as lágrimas escorrendo pelo rosto do Ryan. Que diabos está acontecendo aqui? Minha confusão era tamanha que eu empurrei-o para longe, visivelmente irritado.

— Você pode por favor me explicar que caralhos está acontecendo com você, Ross? – Eu gritei, olhando a nossa volta. Nós estávamos sozinhos, eu não fazia ideia de que lugar era aquele.

— Eu e o Jon estamos saindo da banda, Brendon. – Ouvir aquilo fez com que minha expressão raivosa fosse substituída por um olhar carregado de tristeza e decepção.

— Você só pode estar brincando.

— Desculpe-me, mas era inevitável. – Ryan olhou para os próprios pés e limpou as lágrimas. Aqueles olhos escuros nunca pareceram tão vazios. – Eu estou saindo da sua vida e espero que você e o Spencer consigam seguir em frente, o Panic! não existe mais.

— Mas...

— Eu sei, era o nosso sonho. Na verdade, passou apenas a ser o seu sonho. Boa sorte com a vida real, Urie. – Ross virou as costas para mim e respirou fundo. Eu estava completamente destruído por dentro, sentia que poderia desabar a qualquer momento. – Sabe, eu acho que você merece um adeus mais apropriado.

Quando ele virou para mim novamente, eu sabia o que ia acontecer. Eu deixei aquele último beijo acontecer, lembrei de tudo o que eu passei com o Ryan e permiti que minhas lágrimas se libertassem. Eu queria que o Ross fosse pra puta que pariu, mas eu também queria ter uma última lembrança, um último beijo, um que eu soubesse que seria o último.

Ryan estava certo; ele estava saindo da minha vida. O Panic! era o meu sonho e não o dele. E aquele foi, realmente, nosso último beijo. Ele despedaçou meu coração e fez com que eu me tornasse um tanto quanto frio. Eu só tinha o Spencer agora, meu melhor amigo. Mas em pelo menos um ponto, Ryan Ross estava errado.

A minha banda ainda existe.