A Pior Nevasca escrita por SraPotter


Capítulo 2
Risto


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal. Tudo bem?
Queria agradecer a Dama do Caos, que está acompanhando e fez um comentário lindo que me deixou cheia de inspiração. Obrigada, linda!
Bem, aproveitem o capítulo!
Boa Leitura!



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Quando as aulas do primeiro tempo terminaram, fomos liberados para o refeitório. Um sino sempre indicava os horários. Ele era terrivelmente alto, e fazia meus tímpanos vibrarem. Dava de escutá-lo do outro lado da cidade, se duvidar.

Winterwood não era muito grande, e tínhamos apenas duas escolas na cidade. Uma ficava no meu bairro e a outra ficava no centro da cidade, que não era tão longe do meu bairro também. Elas tinham o mesmo nome, e eram idênticas.

O dinheiro que tínhamos era bancado pelo governo. Mas, o dinheiro que já era pouco, ficou ainda menos. Como eu disse, mamãe sempre o gastava naquelas bebidas estúpidas. Odeio bares, odeio cervejas, odeio qualquer tipo de líquido ou lugar que contenha álcool.

No refeitório, eu não lanchava. Não tinha dinheiro para isso. Comprar lanches na espelunca que chamavam de lanchonete estava fora de questão. Eu, na verdade, precisava arrumar um emprego rápido. O dinheiro acabaria logo.

Sentei-me na mesa, esperando que o sino tocasse logo. Quando ele tocou, levantei de um salto, encaminhando-me logo para a sala. Eu tinha pegado uma cadeira que ficava bem do lado da janela.

A paisagem era absolutamente branca. O céu estava branco, a rua estava branca... parecia que estávamos presos num globo de neve gigante.

Logo, os outros alunos entraram, sempre me encarando. Porém, um me surpreendeu. Ele passou direto por mim sem me olhar, como as outras pessoas faziam antes do assassinato. E eu também não o tinha visto no primeiro tempo.

Ele tinha cabelos loiros, só que eram meio cinzas. Os olhos eram azuis. Parecia tão branco quanto a neve lá fora. Era alto e magro.

Sentou-se na minha frente. Estranhei aquilo. Geralmente, as pessoas sempre deixavam uma cadeira de distância, como se eu tivesse alguma doença contagiosa e nojenta.

Após a entrada dos alunos, o professor de História chegou. Provavelmente, daria uma aula sobre a história de Winterwood, que desde que foi criada sempre teve neve 10 meses no ano, dando apenas 2 de puro verão. Falávamos finlandês, porém algumas pessoas ainda usavam o sueco. Na II Guerra Mundial, foi atingida por bombardeamentos quase diariamente.

Enquanto o professor explicava e escrevia no quadro negro, eu tentava acompanhá-lo. Meu lápis acidentalmente caiu, fazendo com que eu me abaixasse imediatamente para pegá-lo. Mas ele já havia sido pego.

Havia sido pego pelo garoto que sentou na minha frente.

Ele me entregou o lápis e sussurrou:

– Preste mais atenção da próxima, ok? Eu me chamo Risto e você?

Encarei Risto por alguns segundos, até responder:

– Hã... Eu me chamo Mackenzie. Mas, como é grande demais, as pessoas geralmente me chamam de Maki.

– Prazer, Maki. – disse ele, virando para frente de novo.

Decidi ignorar Risto o resto das aulas inteiras. Finalmente, meio dia e meia, fomos liberados para irmos para nossas casas. Fui quase a primeira a sair, quando ouvi:

– Tchau, Maki! A gente se vê!

Franzi o cenho. Eu correria, se meus músculos ajudassem. Porém, eu mal conseguia andar naquele frio horroroso. Então, apressei-me a andar um pouco mais depressa, lutando comigo mesma.

Ao chegar em casa, falei:

– Mãe? Mãe!

Provavelmente no bar, para variar. Joguei a mochila com força no chão, passando a mão nos cabelos para me acalmar. Respire fundo, respire fundo, pensei.

Fiz o almoço, só para mim, já que mamãe não almoçaria em casa, pelo visto. Depois, peguei algum trocado da bolsa, vestindo o grosso casaco de novo, porque eu iria ao mercado.

O mercado ficava bem em frente a nossa casa, de modo que eu não precisava caminhar muito. Peguei o pão e o leite, dois produtos de limpeza, e dei para a garota do caixa contabilizar. Depois eu paguei pelos produtos e encaminhei-me para casa.

Fiquei sentada no sofá, remoendo lembranças.

Papai adorava música. Adorava, simplesmente adorava. Quando foi meu primeiro dia de aula, ele foi a pessoa que me buscou e levou. Fazia isso todo dia. Um tempo depois, ele se convenceu de que eu já podia ir sozinha, mas que ficaria atento para ver se eu sabia o caminho direito. Lembro dele me acenando da calçada, com grossos casacos e toucas.

Lágrimas ameaçaram cair. A saudade que eu sentia me torturava todos os segundos. Segurei-as firmemente, e fui comer.

Logo depois fui para o quarto, ver os vídeos que tinha baixado. Alguns eu tinha visto tantas vezes que já sabia até qual era a próxima piada. E dessa vez esses vídeos não tinham mais graça nenhuma.

Anoiteceu, e mamãe ainda não tinha voltado para casa. Decidi procurá-la no bar.

Como eu disse, o bar ficava na esquina. Na verdade, tudo em Winterwood era próximo. O “cinema” ficava do outro lado da rua. A casa do prefeito ficava colada ao cinema. E o bar era tão terrivelmente próximo que me dava ânsias.

Ao chegar lá, vi mamãe logo. Ela estava com um sorriso bêbado no rosto, e estava estirada numa cadeira, com uma garrafa de Vodka nas mãos. Estava muito descabelada também, e estava com um pano fino, que usava como roupa. Enquanto todos estavam completamente empacotados, mamãe corria risco de pegar alguma doença, ficar resfriada. Aquilo só fazia eu odiá-la mais ainda.

A cadeira que ela estava era bem na calçada (o bar era aberto).

Senti vontade de me esconder naquela hora. Senti vontade de fingir que ela era uma desconhecida. Senti vontade de correr, correr e nunca mais voltar.

Mas eu não podia. Não podia de jeito nenhum deixá-la morrer congelada, embora merecesse.

Peguei-a da cadeira pelas axilas, forçando-a se levantar. Depois, um problema de apavorou. Eu era magricela, conseguia contar facilmente as costelas. Não dava conta dela, que era maior e pesava mais. Não dava conta de uma adulta de 35 anos nem aqui nem na China.

– Ei, Maki...!

Congelei. Era Risto me chamando.

Aquela foi a hora em que tive vontade de me esconder num buraco fundo e grande.

Ele se aproximou e chamou, mais baixinho:

– Maki? O que faz ajudando essa bêbada?

Tive vontade de socá-lo.

– Essa “bêbada” é minha mãe, idiota.

Ele arregalou aqueles olhos azuis.

– Ela? Sua mãe?

– É.

– Deixa eu te ajudar, então.

– Eu não preciso de ajuda.

– Não é o que está parecendo.

Mamãe havia sentado de novo enquanto eu discutia com Risto.

– Ah, tudo bem, vamos. – falei impaciente.

Peguei mamãe pelo braço esquerdo, enquanto ele pegou o direito. Coloquei o braço da mamãe envolta do meu pescoço e ele repetiu minha ação.

– Esse é seu namorado, querida? – perguntou mamãe, lançando um bafo horrível bem no meu rosto. – Ah, cuidado garoto. Essa menina é uma saf...

– Cala a boca! – berrei, já morta de raiva e vergonha. – Cala! A boca!

Mamãe se calou. Risto estremeceu de susto.

Andamos até chegar em casa. Pusemos mamãe no sofá e eu me virei para Risto, cheia de vergonha.

– Hum... Obrigada. Você não precisava ter feito isso. – falei, metendo as mãos nos bolsos do casaco.

– Não, tudo bem. Desculpa eu ter chamado sua mãe de bêbada, tá? Eu não queria, de verdade. – disse ele. – Tchau, Maki. A gente se vê amanhã.

– Tchau. – acenei e fechei a porta.

Risto parecia ser uma boa pessoa, afinal de contas. Argh, que pensamentos idiotas, pensei.

Levantei e peguei mamãe, levando-a até o banheiro para dar-lhe banho. Agora, definitivamente, eu a odiava.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, de verdade. Comentem!