Você está sem sorte

E sem o motivo que tinha para importar-se

O trânsito está parado

E você não está indo a lugar algum

Já está de noite. Emma não volta logo. Ela saiu daqui a horas. Será que aconteceu alguma coisa? Estou tentando terminar de ler meu livro, mas está impossível. A criatura não sai da minha cabeça. Sei que ela já é maior de idade, assim como eu, tem sua própria vida. Mas eu tenho o direito de ficar preocupada, não é?

Quer saber? Ao invés de ficar aqui, toda preocupada e sem fazer nada, vou sair e procurar a Emma. Sei que ela vai me odiar mais ainda por isso, mas eu não estou nem aí. Livrinho, meu querido. Levanto-me rapidamente, coloco o livro delicadamente em cima da cômoda, pego meu casaco e saio. Pelo que conheço Emma, deve estar em um barzinho por aí. Apesar de não sermos amigas, sei muita coisa sobre ela que ela nem imagina.

Ando pelos corredores, atraindo alguns olhares de quem passava por ali. Já era quase uma da manhã e eu estava saindo para algum lugar. Ainda mais eu que fico no quarto trancada com meus livros e só saio escondido para ver Emma às vezes. De qualquer maneira, não ligo para ninguém. Emma é mais importante nesse momento. Finalmente saio de Harvard. Ando pelas ruas, procurando os bares que Emma costuma frequentar quando está irritada. Droga. Está nevando e eu estou apenas com uma simples calça jeans, sapatilhas, uma camisa rosa e uma blusa, que nesse momento parecia fininha. Meus cabelos estão soltos, protegendo um pouco meu pescoço. Enfio o cabelo dentro da blusa, para que quando o vento bater ele não voe e deixe meu pescoço descoberto. Minhas mãos estão enfiadas no bolso, e eu tento de todas as maneiras me encolher para amenizar o frio. Merda. Queria estar em casa, embaixo das cobertas com Emma aquecendo meus pés, que no momento estão implorando por algumas meias. Para a felicidade deles, chego em um dos bares que Emma frequenta. Todos me olham. É estranho uma mulher estar ali naquela hora da madrugada. Passeio os olhos por lá. Puta merda. Emma não está aqui. Vou até o balcão. Quem sabe ela veio e já foi embora? O garoto que até agora servia bebidas, vem até mim.

–Vai querer o que, gata? Tem uma bebida nova que está enlouquecendo todas. Inclusive uma loira bonitona que passou aqui à algumas horas atrás.

–Loira bonitona?

–É. Ela estava irritada pra caramba. Aceitou a bebida e tomou várias doses. Saiu daqui loucona, falando que ia pegar uma tal de Regina. Ia foder a Regina.

O que ele acabou de dizer? Essa loira só pode ser a Emma. Mas por que eu tenho tanta certeza? Pare de se fingir de boba, Regina. Você acha que é a Emma porque ele disse que ela queria pegar uma tal de Regina. Mas podem existir várias loiras que queiram pegar uma Regina. Mas é muito coincidência. Okay, isso é estranho, mas eu estou totalmente feliz em saber disso.

–Por acaso essa loira disse o nome dela?

–É claro. Ela estava completamente bêbada. O nome dela era Emma.

–Emma? Emma? Vo-você tem certeza?

–É claro que eu tenho certeza. Depois de ela dizer que ia foder a Regina, comer ela, experimentar cada parte do corpo dela. Como você quer que eu esqueça quem é ela?

–Você tem certeza que é uma loira alta, bonita, com os braços fortes e se chama Emma?

–Moça, você está bem?

–E-eu... a-acho que sim.

Por que eu estou gaguejando? É claro que é a Emma. Você sabe que é. Por que fica perguntando o óbvio?

–Então por que fica perguntando... Ah, eu acho que entendi. Você é a Regina, certo?

É, moço. Eu sou a Regina. E depois que você diz o que a Emma falou, eu estou louca para ir pra casa, retirar minha roupa, tomar um banho com ela e depois ter uma noite de loucuras. Quero dizer isso, mas eu só consigo balançar a cabeça afirmativamente.

–Ah, sim. Acho que você não veio beber e sim procurar por ela, certo?

Afirmo com a cabeça novamente. Estou parecendo uma idiota.

–Eu pareço um bobo, né? Você aqui falando da loira o tempo todo, querendo saber onde ela tá, e eu aqui pensando que você era louca. Sabia que...

–Você poderia só me falar onde ela está, por favor? Estou morrendo de frio e quero voltar para a faculdade.

–Ela é sua namorada?

Lanço um olhar impaciente, esperando que ele entenda. Que bom que sim.

–Ah, okay. Ela saiu daqui à poucos minutos. Disse que estava indo se foder.

Putz. Que vergonha. Que situação Emma me deixou, em?! Vou embora logo. Pelo que ele disse, ela deve ter voltado pra faculdade. Agradeço o homem e saio dali o mais rápido possível. Devo estar vermelha como um tomate.

Voltando para a faculdade, sinto um pouco de medo, pois tudo esta escuro. Mas nada se compara ao frio que sinto. Estou congelando. Meus pés doem, pois parecem congelados. Meus dentes doem, de tanto aperta-los. Tudo em mim dóis por conta do frio. Mas eu amo o inverno com todo meu coração.

Sabe aquela sensação de estar sendo seguido? Pois é. É isso que eu sinto agora. Alguém me vigia, eu sei. O problema é: Eu não consigo andar mais rápido, pois meu corpo parece congelar aos poucos. Me sinto como a Anna, de Frozen. Quando Elsa congela seu coração, Anna vai se tornando gelo aos poucos. Pois é. Nesse momento eu estou assim. Ouço passos. Aquilo me assusta. Quando passo perto de um beco, alguém me puxa para lá. Me assusto, mas não consigo gritar. Não sei se é pelo frio ou se é pelo medo, pois os dois são muito fortes agora. Tento ver quem é, mas nenhuma luz colabora. Acabo enxergando. Aquilo me deixa muito aliviada. Não, infelizmente não é quem eu pensei que fosse. Implorei com todas as forças por pensamento para que fosse Emma, mas era só minha amiga Belle.

–O que faz aqui, garota? Vai congelar com essa roupa.

–Belle, sua vadia. Quase me matou de susto.

Minha voz saia fraca. Minhas pernas tremem. Não consigo ficar de pé. Acabo me apoiando na mesma.

–Meu Deus, Regina. O que é isso? Você precisa urgentemente de um banho quente.

Ela me arrasta para fora do beco e me arrasta para a faculdade novamente. Mas eu paro. Meu coração acaba de dizer que Emma não está lá. Preciso encontra-la, mesmo que esteja caindo de frio.

–O que está fazendo, Regina? Vamos logo!

–Eu não posso ir agora. Vá indo. Eu te encontro daqui alguns minutinhos. Eu juro que eu já estou indo.

–Promete que não vai demorar?

–Prometo.

Belle me solta e eu quase caio, mas consigo me segurar na parede. Belle vai até mim novamente.

–Acho melhor...

–Vá, Belle, vá. Eu vou ficar bem.

Ela vai embora. Eu olho em volta. Onde está você, Emma? Vou andando pelas ruas. Preciso encontrar Emma, agora. Se não eu vou morrer aqui mesmo. Olho para um outro bar. Acho que ela não está lá. Mesmo assim, eu vou lá. Preciso de algo quente. Com passos curtos, sigo até o local e abro a porta. Ando até o balcão me apoiando nas mesas. Algumas pessoas olham preocupadas, mas eu não me importo. Só preciso de algo quente. Sento-me no banquinho e desabo na mesinha. Quando acho que vou cair, sinto uma mão em minha cintura. Olho para o lado assustada, mas agradecida. Não acredito. Emma.

–Eu te achei. Finalmente.

–Estava me procurando?

–Claro. Você saiu de tarde e não tinha voltado ainda.

–Você me irritou. Agora me diz, o que te fez pensar que eu estava aqui?

–Não pensei que estava aqui. Só queria algo para me esquentar.

Ela retira uma de suas blusas.

–Toma. Coloque a minha e vamos. Tenho que te tirar daqui.

Coloco a blusa e me sinto um pouco melhor. Me levanto e Emma envolve os braços em volta de mim. Até que para uma pessoa que me odeia dizer que ia me foder, ela está sóbria. Voltamos para a faculdade. Quando chegamos em nosso quarto, ela me coloca sentada em minha cama. Okay. Isso me assusta, mas me excita. Vai até o aquecedor e o liga. Depois de alguns minutinhos, o quarto está bem quentinho. Ela se senta ao meu lado. Sua proximidade é perigosa.

–Vamos tomar banho?

–Você está bêbada.

–Eu não estou bêbada.

–Mas o carinha do bar disse...

–Você foi no bar?

–Fui te procurar.

–Como sabia que eu estava lá?

Pensei no que responder. Não posso dizer que eu fico observando ela para todo lugar que ela vai. Tenho que pensar alguma coisa, rápido.

–Deixe pra lá. Eu não estou bêbada. Aquele cara que está. Eu bebi um gole daquela bebida e achei horrível. Todas as outras que eu pedi, joguei fora.

Agora eu fiquei triste. Significa que ela não quer me foder. O QUE É ISSO, REGINA? Você não é assim. Deixe esses pensamentos pra lá.

–O que foi? Parece triste.

–Não é nada. Vou tomar banho.

–Posso ir também?

–Comigo?

–É. Algum problema? Nunca tomou banho com uma mulher antes, certo?

–Na verdade, não.

Ela sorri. Me puxa pela mão até o banheiro e vai retirando a roupa. Eu a observo. Seu corpo é perfeito. Tem curvas e é musculoso. Magra, musculosa e com curvas. Essa é a mulher dos sonhos, certo? Eu sou só uma magrela.

–Tira a roupa. Ou quer que eu tire?

Fico paralisada. Não quero ficar sem roupa perto dela. Ela é um puta mulherão. É humilhante ficar nua perto de uma mulher tão perfeita. Ela cansa de esperar. Se aproxima de mim e tira cada peça de roupa minha.

–Que corpo bonito você tem.

–E-eu?

–É você.

Ai, Deus. Como você é idiota. Deixe de gaguejar. Seja uma mulher durona, vai.

–Apesar de eu me achar uma magrela, obrigada. Você também é bonita.

Ela sorri. Agora eu estou morrendo de vergonha. Ela me vira de costas e desabotoa meu sutiã. Suas mãos tocam delicadamente minhas costas. Solto um gemido sem querer. Droga, que vergonha.

–Quer que eu tire sua calcinha também?

–Deixa que eu...

Ela não me deixa terminar. Se abaixa e tira minha calcinha também. Passa alguns segundos me observando e se levanta.

–Agora eu vou tirar minhas roupas íntimas. Abra o chuveiro e coloque no morno. Acho que se colocar no quente, não vamos aguentar.

–Está frio. Acho que colocar no quente é melhor.

–Você não entende ironias mesmo, não é?

Como assim, você não... Ah, Deus. Agora eu entendi. Como eu sou burra. Mas ela não pensaria isso. Oh, Deus.

–Eu entendi.

Ela sorriu. Entrei no box e coloquei no morno. Liguei o chuveiro e deixei a água cair sobre minhas costas. Alguns segundos aproveitando aquela sensação maravilhosa, vejo Emma entrar e fechar o box. Ela se aproxima de mim e cola nossos corpos. Uh, agora sim eu sei que a água está quente.

–Vire para eu ensaboar suas costas.

Obedeço. Ela pega o sabonete e desliza sobre minha pele. Como um simples toque conhecido pode te deixar louca assim? Sou tão acostumada a me ensaboar, mas ela fazendo isso, com tanta delicadeza, me leva ao céu.

–Pronto, querida. Agora é só você se virar e eu termino o serviço.

Obedeço novamente. Ao me virar, nossas faces estão muito próximas. Ela sorri e se aproxima de minha boca.

–Sei o que você quer, pequena. Da pra perceber qual o seu desejo. Mas vai ter de esperar. Temos que terminar o banho.

Novamente, sinto minhas bochechas queimarem. Tenho certeza que estão vermelhas, como anteriormente no bar. Ela sorri novamente. Parece perceber o que sinto. Resolve provocar mais um pouco. Passeia o sabonete pelos meus ombros, depois vai descendo para meus seios. Passa o sabonete em toda a área e depois massageia. Demora ali, parecendo aproveitar o momento. Solto um suspiro. Ela gosta do que ouve. Desce para minha barriga e faz o mesmo que fez nos seios: primeiro passa o sabonete delicadamente e depois massageia. Faz o mesmo nas pernas. Quando chega na minha intimidade, sinto um calor enorme. Acho que ainda não estou preparada pra isso. Dou um passo para trás e ela me olha.

–Você não quer isso?

–Eu não sei...

–Termine seu banho. Depois eu tomo o meu.

Ela sai do box. Droga. Mais uma vez eu estraguei tudo. Já cansei de tudo isso. Vou terminar essa merda de banho logo e vou dormir. Ensaboo minha intimidade e me enxáguo. Desligo o chuveiro e saio do banheiro. No quarto, Emma espera que eu saia para entrar e terminar seu banho. Assim ela faz. Quando sai, pego meu pijama e o coloco. É uma calça rosa e uma blusa manga longa branca com a foto da Minnie. Penteio meu cabelo e deito embaixo das cobertas. Tento dormir, mas é impossível. Quando Emma sai do banheiro, finjo dormir. Quero só ver o quanto ela vai me xingar. Mas o que ela fala é completamente diferente do que eu pensava.

–Ah, Regina. Se você soubesse o quanto eu te queria agora.

Eu também te quero, Emma. Te quero muito. Mas infelizmente eu não estou preparada. Durmo feliz, por saber que Emma também me deseja.

Acordo por volta das 13:00. Hoje é domingo, então não teremos nenhuma aula, graças à Deus. Olho para o lado e Emma não está. Levanto-me e tomo um banho. Depois coloco uma calça jeans preta e uma camisa rosa. Pego botas pretas de salto e um grande casaco preto. Seco meus cabelos e os deixo solto. Saio para dar uma volta pela cidade, pois o dia está lindo. O céu está com um pouquinho de sol e a cidade está branca. Há neve por toda parte. Bate um vento gelado em meu rosto e eu me sinto feliz. Há um trânsito imenso na cidade, pois é domingo e o pessoal sai para almoçar fora. Andando por aí, acabo vendo o carro de Emma. Vejo o quanto está irritada por estar presa no trânsito. Acaba não aguentando e estacionando o carro, justamente onde eu estava. Quando me vê, abre a janela e olha para mim, com cara de poucos amigos.

–Está me seguindo?

–Não. Estou apenas dando uma caminhada, como faço todo domingo. Está indo para algum lugar?

–Não, por quê?

Penso na noite anterior. No desejo que ambas sentimos, mas não aproveitamos. O modo como ela falava comigo ontem. Tudo tão maravilhoso. Isso me faz pensar o quanto eu fui idiota por não ter aproveitado o que ela me propôs lá. Agora sinto que estou pronta.

–Ainda lembra de tudo ontem?

–Claro que lembro, senhorita Mills.

–É um lindo dia. Não o deixe escapar. Toque-me, leve-me para aquele outro lugar. Ensine-me, eu sei que não sou um caso perdido.

Ela sorriu e pediu para que eu entrasse no carro. Voltamos para a faculdade.