Três. escrita por jubssanz


Capítulo 52
52. Visitante


Notas iniciais do capítulo

Oi! Gente, eu tô tipo... RADIANTE! ahahaha vocês me surpreendem cada vez mais! Da mesma forma que aconteceu com o Miles, eu achei que o filhinho da Becky seria só mais uma personagem na história, não imaginei que seria assim tão bem recebido... Por isso, to encantada! Obrigada a todas vocês por serem ótimas leitoras e me acolherem E acolherem minhas ideias loucas E me deixarem sonhar um pouquinho. Vocês são incríveis!
Espero que gostem, beijossss



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— Oi. – o rapaz murmurou, sentando-se na cadeira à minha frente, agora não mais vazia.

— Olá – respondi, arqueando a sobrancelha.

— Tudo bem? – ele indagou e eu o observei. Era magro, com o queixo quadrado. Possuía cabelos encaracolados, dourados, e olhos da mesma cor. Usava um longo casaco preto e um cachecol vermelho enrolado no pescoço. Era elegante, mas um pouco exagerado para a noite (não muito quente) de Canby.

— Estou bem sim, e você? – respondi, sorrindo. Ele fez o mesmo.

— Também. E estou bastante curioso.

— Com...?

— O que uma garota bonita como você faz sozinha em uma cafeteria a essa hora da noite?

O encarei por alguns segundos, sem saber bem o que responder. O que ele gostaria de saber? Que eu não podia estar com meu melhor amigo porque ele estava com o namorado? Que eu não poderia estar com minha melhor amiga porque ela estava contando aos pais que estava grávida? Que eu não poderia estar com minha mãe porque ela morava em outra cidade para fugir de meu pai? Que eu não poderia estar com meu... Ex-namorado porque ele havia se mudado para a Flórida simplesmente para agradar o irmão problemático e a mãe manipuladora?

— Fugindo um pouco de casa – respondi simplesmente, dando de ombros.

— Entendo. – o garoto sorriu levemente. – Problemas com os pais?

— Não com os meus, na verdade. – respondi.

— Gostaria de me explicar isso enquanto tomamos um café? – ele indagou, arqueando a sobrancelha.

— E porque não? – murmurei, mais para mim do que para o garoto. – Aliás, sou Aurora. – apresentei-me, estendendo a mão.

— Muito prazer, Aurora. – respondeu, segurando firmemente minha mão. – Sou Luke.

Depois de inventar algumas histórias e modificar as verdadeiras, Luke e eu estávamos no quarto copo de café. A conversa era fácil e agradável. Ele me contara que era inglês, e estava apenas visitando a cidade. Era de Cambridge. Isso explicava o sotaque carregado e as roupas acompanhadas de acessórios elegantes. Eu fui obrigada a modificar boa parte das minhas histórias, e isso me fez parar por alguns segundos e pensar no que minha vida havia se tornado. Eu não tinha nada para falar de mim, Aurora. Eu poderia falar da minha amizade com Rebecca e Miles, poderia falar dos problemas de meus pais, poderia falar sobre o fanatismo de minha irmã caçula pela Pequena Sereia. Poderia também falar sobre meu relacionamento com Travis. O quanto ele me encantava, me fazia sentir completa e o quanto havia me decepcionado ao provar que não era capaz de decidir a própria vida pensando apenas em si. Não que eu fosse egoísta, mas, em alguns casos, precisamos ser. Quando o egoísmo de outras pessoas afeta nossas vidas, precisamos pôr nosso próprio egoísmo em prática. Poderia falar do quanto Louis havia me decepcionado e se mostrado uma pessoa terrível. Poderia falar também sobre o quão bonito era o fato de Marise e Ferdinand terem me aceitado em sua casa tão de repente e me tratarem tão bem, como a própria filha. Poderia mencionar que, no fundo, estava ansiosa para conhecer meu irmãozinho recém-nascido, mas que não queria o fazer porque sentia como se isso me fizesse trair a confiança de minha mãe, e também faria meu pai pensar que eu estava consentindo com suas atitudes. Não poderia deixar de mencionar o quão maravilhosa era minha amiga Claire. Era incrível pensar no que minha vida havia se tornado. E pensar que tudo, todas as pessoas, todas as complicações, todas as alegrias, tudo levava àquela bendita cidade. E àqueles três benditos garotos.

— Ei, Bela Adormecida, você ainda está aí? – Luke indagou, balançando a mãe em minha frente.

— Do que foi que você me chamou? – indaguei, incrédula.

— Bela Adormecida? – ele questionou, desentendido. – Você sabe... A princesa?

— Ah, sim, sei sim. – respondi, sentindo-me um tanto quanto... ridícula.

— Então, faz quanto tempo? – Luke indagou.

— Desculpe, quanto tempo... O que?

— Faz quanto tempo que você está tão apaixonada assim? – riu-se, provavelmente vendo minha expressão. – Você sabe... Você é distraída, começa a falar e se retrai, como se tivesse medo de citar algum nome, têm os olhos brilhantes... Então, quanto tempo?

— Oh. – murmurei, o encarando. – Nem eu mesma sei. Eu nem mesmo sei o que dizer.

— Ih, esse amor não está indo bem?

— Olhe, Luke, será que podemos, por favor, não tocar nesse assunto? – perguntei, incomodada. Luke me encarou intensamente, o que me incomodou ainda mais. Desviei o olhar, e ele pareceu perceber.

— Desculpe, Aurora. De verdade. Não queria ser inconveniente. Enfim, percebo que estou te incomodando. – disse, levantando-se.

— Não, Luke, espere! – pedi. Não queria ter agido daquela forma. – Eu é que devo me desculpar. Você não tem culpa nenhuma disso. Será que podemos... Recomeçar? – indaguei, apontando para a mesa.

— Na verdade... – Luke coçou a cabeça. – Eu simplesmente não aguento mais tomar café. Será que não podemos dar um tempo por aí e depois sairmos para jantar?

Meu pensamento voou para Travis no mesmo instante. E foi exatamente isso que me fez aceitar o convite. Eu precisava “superá-lo”, mesmo que não quisesse. Simplesmente porque eu tinha medo de que ele já tivesse feito o mesmo comigo.

— É claro... – eu ia respondendo, mas meu celular tocou no mesmo instante. – Com licença, preciso atender. – murmurei.

Ele assentiu, sorrindo, e sinalizou para me avisar que iria pagar a conta.

— Alô? – murmurei para o aparelho, afastando-me de Luke.

Oi, amiga! – Rebecca exclamou, feliz, do outro lado da linha.

— Que animação é essa? – indaguei, ansiosa. – Como foi a conversa?

Melhor do que eu poderia imaginar! – respondeu no mesmo instante. Eu quase podia enxergar Rebecca dando pulinhos dentro do quarto. – Rora, onde você está?

— Estou em uma cafeteria, por quê?

Amiga, não queria estragar seus planos, mas... Será que você poderia vir para casa? Mamãe está fazendo o jantar e eu tenho uma surpresinha para você.

— É claro, Becky, estou indo agora mesmo. – respondi, e, sem querer, olhei para Luke. – Hum... Rebecca? Será que eu poderia levar um amigo?

Amigo? – pude ouvir a desconfiança em sua voz.

— Sim, apenas amigo. – respondi, rindo.

Bom, é claro que pode. Você sabe que sempre cabe mais um na casa dos Carter’s. Só não demore, por favor.

Agradeci e desliguei o telefone, ponderando. Deveria mesmo convidar Luke? Eu sabia que Mark e Miles não se agradariam, mas, ora...

— Vamos? – Luke murmurou, chegando por trás de mim sem que eu o visse.

— Bom, na verdade... – murmurei, respirando fundo. Mas quando vi sua expressão animada, não consegui “desconvidá-lo”. – Não sei onde você pretendia me levar, mas será que você se importaria de mudar o local do jantar?

— É claro que não! – Luke exclamou, parecendo sinceramente feliz. – Para onde vamos?

— Para minha casa.

— Você tem certeza de que sua família não vai se importar? – Luke questionou pela milésima vez, enquanto chegávamos em frente ao gramado da casa dos Carter. (Aliás, qual é o problema de Marise com gramados enormes e difíceis de atravessar?).

— Já falei que não! – exclamei. Luke era legal, mas estava começando a me irritar. Como é que ele podia ser tão feliz sendo que as pessoas à sua volta estavam com o coração partido?

Assim que abri a porta da frente, ouvi o berro de histérico de Miles.

— A AURORA CHEGOU! – berrou. Em seguida, ouvi passos rápidos vindos da cozinha. Sem pronunciar uma única palavra, veio até mim, colocando as mãos sob meus ombros.

— Sente-se e não abra sua boca por nada. – murmurou, me encarando intensamente. Virou-se para Luke. – Oi, amigo. Você pode se sentar ali no canto. – apontou para a poltrona no canto (mais distante da sala). Eu ri, vendo a expressão curiosa de Luke para ele. Sentei-me no sofá, em silêncio, com medo de questionar alguma coisa e apanhar de Miles. Eu podia ver Mark, Peter e Rebecca, encostados na parede. Rebecca estava com os olhos vermelhos. Peter sorria largamente e Mark dava pulinhos constates.

— Que diabos... – comecei a dizer, mas Rebecca me calou rapidamente.

— Silêncio. – ralhou, caminhando até mim. – Deixe-me fazer isso de uma vez, antes que eu tenha um ataque. Venha – ela murmurou, olhando para Peter. Este, por sua vez, assentiu e caminhou até ela, parando em minha frente. Eu apenas ria, observando toda a frescura da cena.

— Aurora – Rebecca pronunciou meu nome pausadamente e respirou fundo. – Eu nunca, em toda a minha vida, imaginei que poderia arranjar uma amiga de forma tão inusitada assim. E nunca imaginei também que eu e essa amiga poderíamos ter uma sintonia tão intensa e verdadeira. Nunca imaginei que, mais que uma amiga, eu poderia encontrar uma irmã.

Ela me encarou e eu apenas sorri, já sentindo meus olhos marejados.

— Nunca imaginei também – Rebecca continuou – que eu completaria meu grupinho de amigos perfeitos com os primos que eu sempre esnobara. E pensar que, hoje em dia, toda a amizade que eu tenho com Miles e Travis se deve a você, Aurora. Você nos aproximou. Você também fez meus pais perceberem que eles não lidavam da forma certa comigo, em certos pontos. Enfim, você mudou muita coisa nessa casa. Você me ensinou a ser uma pessoa melhor e uma amiga verdadeira. Você defendeu Miles e mesmo sem saber, você fez com que ele sentisse a necessidade de mostrar ao mundo quem ele era. Você ensinou a Travis o que é ser feliz sem se importar com o que as pessoas ao redor vão pensar. Você também nos ensinou que nem a pior das situações pode nos derrubar. – Rebecca respirou fundo. As lágrimas corriam livremente por seu rosto, e eu me sentia feliz por não ser a única chorando. Os olhos de Peter também brilhavam. – Eu descobri que a verdadeira amizade existe, sim. Graças a vocês. – ela olhou para mim, Miles e Mark. – Eu ainda não sei se vou ter um garotinho ou uma linda menina, mas sei que, meu filho precisa crescer perto de vocês. Meu filho precisa do carinho de vocês, assim como eu preciso. – Rebecca olhou para Peter, como se o encorajasse.

— Caras, vocês me acolheram como ninguém nunca havia feito antes. – o garoto murmurou, olhando para Mark e Miles. – Me sinto em casa com vocês e sou realmente agradecido por isso. E é por este motivo que... Eu quero que vocês sejam padrinhos do meu filho.

Miles praticamente uivou, pulando no pescoço do namorado, fazendo com que até Luke gargalhasse. Os dois correram até Peter e envolveram o garoto num abraço tão eufórico que acabaram o jogando no chão, e por pouco não levaram Rebecca junto. Esta, por sua vez, me encarou, sorrindo.

— E é claro que você não ficaria de fora dessa. – ela secou uma lágrima solitária, enquanto eu me levantava. – Aurora, minha amiga. Minha irmã. Eu quero que você seja madrinha dessa criança. E espero que seja tão presente na vida dela quanto é na minha.

Eu não sabia o que falar, só conseguia alternar minha emoção entre sorrisos e soluços. Abracei Rebecca, afagando seu cabelo.

— Eu não sei o que dizer. Espero expressar minha gratidão dando todo o carinho do mundo a esse anjinho – murmurei, passando a mão por sua barriga.

Então, aconteceu.

— Cheguei tarde demais para a cerimônia ou ainda posso ocupar meu lugar de padrinho?

Eu ouvi a voz, mas eu não poderia ter ouvido. Eu não conseguia acreditar. Eu queria acreditar, mas não conseguia. Fechei meus olhos, sentindo minhas mãos tremerem. Meu coração acelerou, e eu senti como se cada terminação nervosa respondesse ao estímulo que aquela voz causava em mim. Virei a cabeça lentamente, ainda de olhos fechados. Mas eu não precisei os abrir. Eu sabia que ele estava ali. Até mesmo o ar havia mudado. Eu podia ouvir o riso baixo de Rebecca, e podia apostar que... Os três mosqueteiros haviam prendido a respiração.

— Oi. – eu murmurei num fio de voz, finalmente abrindo os olhos. Vê-lo soava como ver o sol depois de quarenta dias de escuridão. Foi naquele momento que eu soube que o amava.


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