Três. escrita por jubssanz


Capítulo 50
49. Descoberta.


Notas iniciais do capítulo

Sweethearts, primeiramente, eu queria pedir desculpas a vocês por cobrar reviews sendo que eu não estava nem mesmo os respondendo. Pensei muito a respeito disso e percebi que eu preciso sim, ser mais participativa. Como prova do meu arrependimento (e do meu amor por vocês) cá estou eu, uma louca apaixonada por futebol, ignorando um jogo importantíssimo do meu time para escrever esse capítulo para vocês.
Desculpem por qualquer coisa. Espero que gostem, boa leitura!



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Mais de um mês. Exatos 42 dias haviam se passado. Nos três primeiros, eu havia derramado incansáveis lágrimas. Cada passo que eu dava dentro daquela bendita casa me fazia lembrar de Travis. Ao entrar na cozinha, eu o imaginava no balcão, preparando sua sagrada tigela de cereal. Ao entrar no banheiro “dos jovens”, como Marise gostava de chamar, eu já esperava encontrar a camiseta usada e alguma toalha de Travis jogadas pelo canto. Deveria ser um alívio, mas era simplesmente trágico caminhar pela casa e não ter que juntar os pares de tênis que ele deixava jogados. Era estranho não sentir seu perfume em minhas roupas ou em meu travesseiro, e até hoje, não sei descrever o quão desolador era o fato de não ouvir mais sua risada contagiante. Aquela casa havia se tornado vazia. Silenciosa. Fria. Sem graça. E meu coração se apertava mais a cada minuto em que eu percebia que Travis não fazia nada para mudar aquilo.

Depois de muitos conselhos de Dona Sophie e pressão de Rebecca, eu venci meu orgulho e liguei para o celular de Travis. Louis me atendeu. Disse que o irmão estava no banho. Tentei algumas horas mais tarde. O telefone tocou até cair na caixa postal. E assim eu levava a vida. Eu não ligava mais para Travis e me obrigava a não pensar nele. A mudança de casa fez com que eu superasse aquilo – em partes e apenas nos primeiros dias. Depois de ajudar Rebecca e Marise a acomodarem tudo na... Nossa casa, minha vida havia voltado à total rotina. Eu ia para a escola porque o tinha que fazer, eu ia para o trabalho porque o tinha que fazer. Me sentava todos os dias à mesa de jantar com os Carter apenas porque sentia que tinha a obrigação de fazer aquilo. Fazia cara de paisagem e segurava o choro cada vez que Miles se descuidava e deixava escapar o nome do irmão em minha frente. Eu sabia que Travis ligava para ele. Sabia, porque todos os dias, eu esperava no fim do corredor, esperando que Miles desligasse o telefone e viesse me dar algum recado de Travis. Mas isso não acontecera. Em 42 dias.

Faltavam apenas três meses para o fim do ano, para minha formatura do ensino médio, três meses que eu pudesse me livrar daquela prisão chamada escola. E eu estava feliz? Não. Porque eu só conseguia pensar em todos os planos que eu e Travis havíamos feito com o comitê de organização do baile de formatura, obrigados por Miles.

Miles estava cada vez mais afeminado e feliz com Mark. Este agora era praticamente morador da casa, assim como Peter, o que sempre levava a mesma discussão.

“Vocês podem ficar,” Ferdinand dizia para Peter e Mark. “Desde que durmam no quarto dos garotos.”

“Mas isso é injusto!” Rebecca reclamava. “Mark não pode dormir no quarto dos garotos, porque ele tecnicamente não é um garoto. E sem contar o fato de que ele estará dormindo no quarto do namorado dele!”. Eu apenas ria e contava tudo à minha mãe por telefone.

E por falar em dona Sophie... Minha mãe apenas me enrolava. Estávamos praticamente no fim do ano e ela ainda morava com meus avôs. Eu apenas não insista para que ela se mudasse logo para Canby porque sabia do medo – racional – que ela tinha de encontrar meu pai e sua nova namorada pelo meio da rua.

— Você está pronta? – Rebecca indagou, entrando em nosso novo quarto.

— Nunca estarei suficientemente pronta para isso – respondi, dando de ombros.

— Vamos lá, Rora, não vai ser tão difícil. – ela pegou minha mão. – Você só tem que sorrir para seu pai e fazer uma cara simpática para o bebê. Você sabe que isso será importante para seu pai!

— É justamente esse o ponto, Becky! Não quero simplesmente fazer uma coisa para agradar os outros – rebati e Rebecca recuou no mesmo instante. – Todos querem que eu vá encontrar meu pai e sua namoradinha destruidora de lares, mas ninguém se importa com o que eu penso. Ninguém sabe o quanto isso é ruim para mim.

— Rora, não seja egoísta. Eu sei que o que aconteceu com seus pais foi algo terrível, mas essa criança não tem culpa de nada!

— Tem razão, Becky. A criança não tem culpa. Mas a mãe dela tem. Se ela não tivesse aparecido, meus pais ainda estariam casados. Não teríamos vindo para Canby. Nada disso teria acontecido – esbravejei, erguendo os braços.

— Nada disso teria acontecido? – Rebecca indagou, me encarando. Parecia chocada. – Aurora, eu não teria acontecido! Nós não seríamos amigas! É isso que você está dizendo? Que se arrepende por ter me conhecido?

Encarei Rebecca, chocada, sem acreditar no que estava vendo. Em menos de três segundos, Rebecca estava... Chorando. Lágrimas escorriam livremente por sua face e eu não sabia o que fazer.

— Porque diabos você está chorando, Rebecca? – indaguei, sem acreditar.

— Você não quer ser minha amiga! – ela respondeu, fungando. – Nunca quis! Acaba de admitir que só me usou e...

— Cale a boca! – gritei, dando-lhe um leve tapa no rosto.

— O que foi isso? – Rebecca indagou, olhando ora para minha mão ora para meu rosto.

— Eu é que te pergunto o que foi isso, Becky! Que ataque foi esse?

— Desculpe, amiga. Eu só ando meio sentimental esses dias – Rebecca resmungou, fungando. Aquela criatura loira apenas me encarou com os olhos brilhantes e jogou os braços em meu pescoço.

— Percebi... – resmunguei, dando-lhe leves tapinhas nas costas.

— Rora?

— Sim?

— Será que nós podemos comer alguma coisa? Não precisamos ir ao hospital ver... a criança, se você não quiser.

— Você quer comer, Becky? – questionei, afastando-me dela para encarar seu rosto. – Mas nós acabamos de almoçar!

— Eu sei. – ela respondeu, dando de ombros. – Mas eu continuo com fome – completou, passando as duas mãos pela barriga.

— Certo. – resmunguei a contragosto. – Já vou descer. Só vou pegar minha bolsa, te encontro lá embaixo.

Rebecca sorriu e me deu um beijo estalado na bochecha. Eu terminei de prender meu cabelo e fui procurar minha bolsa, respirando fundo. Eu estava deprimida, com saudade de Travis e com raiva de meu pai. Simplesmente não queria ser uma hipócrita que sai de casa sorrindo para as pessoas quando se está destruída por dentro. E para completar todo o meu desequilíbrio emocional, eu estava enfrentando meu lindo, florido e amável período menstrual. Tudo que eu precisava, reunido em um dia só. Para meu dia melhorar, eu só precisava encontrar Claire na rua.

Joguei minha bolsa por sob o ombro e estava prestes a sair do quarto quando lembrei de algo importante. Voltei-me para o banheiro da suíte que eu e Rebecca dividíamos e me abaixei em frente ao armário. Procurei por todas as caixas de maquiagem de Rebecca, temendo não encontrar os absorventes ali. Só naquele momento percebi o quanto era ruim não ter Dona Sophie por perto quando se existiam as emergências por falta de absorvente. Para meu total alívio – e mantimento de toda minha integridade mental –, finalmente achei a bendita caixinha dos absorventes íntimos. A abri, apressada, prevendo que logo Rebecca voltaria, reclamando que estava com fome. No entanto, quando dirigi a mão até a caixinha, algo me deteve. Ela estava cheia. Cheia demais. Não fora eu quem completara a caixa com absorventes novos no mês anterior? Rebecca sempre se queixava aos quatro ventos por ter um fluxo menstrual muito forte e gastar pelo menos dois pacotes de absorvente em um mês. Então... Porque é que eu tinha uma caixinha completamente cheia em minhas mãos?

Não poderia ser. Não. Rebecca era... tão pequena. Tão Rebecca. E ela não havia demonstrado nenhuma diferença. Quer dizer, eu teria notado. Marise teria notado. Ela estava um pouco sentimental demais e comia por duas Rebeccas, só isso.

— Rora, você caiu no vaso? – a voz de Rebecca soou vinda do quarto. Pensei em esconder a caixa, mas minha melhor amiga apareceu no banheiro antes que eu pudesse sequer respirar. Ela olhou da caixa para meu rosto, parecendo prestes a cair em lágrimas novamente.

— Você... – foi tudo o que consegui dizer.

— Eu ia te contar. – Rebecca respondeu, repousando as duas mãos sobre sua barriga.

Talvez Travis tenha escutado, mesmo da Flórida, o barulho que a caixinha de madeira produzira ao cair de minhas mãos e bater no chão.


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