Projeto Eligio. escrita por P B Souza


Capítulo 7
Capítulo 7.




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Cidade I-1 – 23h39min 15/04/2631

As árvores mortas gemeram balançando de um lado para o outro quando duas sombras passaram por elas em saltos combinados com uma corrida exasperada.

Então as sombras pararam de correr fincando os pés no chão.

Anur e Salazar se jogaram contra a terra e deslizaram para trás se escondendo atrás dos troncos acinzentados e rachados das velhas arvores da floresta dos Dez Pontos. Um facho de luz disforme passou por eles lentamente.

– Salazar? – Anur perguntou colado a árvore respirando com força.

Salazar ouvia como ninguém. Apurou seus sentidos virando a cabeça um pouco para a esquerda olhando para a muralha na frente deles, jogou os cabelos, fios grossos e sujos, para trás da orelha.

– Você ouviu isso? – Um dos guardas disse, sua voz embotada por medo e insegurança, era notável que aquele homem não estava apto para a função a qual desempenhava.

– Um coelho. – O outro guarda disse, Salazar pode vê-los virando o holofote para outro lado apontando a luz para o norte.

Salazar apontou para o outro lado rumo ao Sul, ele e Anur começaram a andar abaixados tentando fazer silêncio.

– Como vamos pular a muralha?

A floresta dos dez pontos era uma construção formidável de defesa a Rochandelly, existia a muralha interna que circundava Rochandelly e então a muralha externa que circundava os limites da floresta, dez estradas ligavam Rochandelly as outras cidades, cada uma das dez era uma linha reta que passava por cada um dos dez templos dos Eligios. Anur e Salazar se encontravam no meio de duas dessas estradas longe dos portões, mas não dos olhos dos homens de sentinelas dispostos por toda a muralha vinte e quatro horas por dia.

– Você tem certeza que o Derik ou o Alanor estão aqui?

– De novo isso? – Salazar perguntou de tocaia olhando para a muralha. – Já falei, o Derik está aqui, o Alanor eu não sei mas o Derik está.

– Esse tal sinal nunca funcionou comigo. – Anur resmungou, não para Salazar em específico mas sim como uma criança fazendo birra para chamar a atenção.

– Você saiu da incubadora em três meses, foi o primeiro. O prazo mínimo era de cinco meses...

– Não precisa ficar me lembrando disso. – Anur repreendeu Salazar com rispidez como se aquilo o magoasse. – Foi uma semana a menos que você.

– Mas meus genes favoreceram o processo de mutação do soro. – Salazar respondeu engrossando a voz deixando o tom de amizade de lado e adotando uma postura mais íntegra. – E eu não estava bêbado.

– Foi um copo. Não pensei que pudesse atrapalhar tanto assim.

Salazar olhou para Anur com compaixão se lembrando dos problemas que tinham passado.

– Você podia ter perdido muita coisa! Por sorte sobreviveu.

Os dois continuaram de tocaia.

Salazar olhou para Anur sem virar a cabeça para o amigo, para o irmão. Tinha sido difícil, Anur sempre foi um soldado complicado mas um ótimo mercenário, por isso foi escolhido para o Projeto Eligio, isso e sua genética, claro. O Projeto Eligio foi a fagulha de luz no túnel das trevas que Centinel criava a cada dia, era esperado milagres depois do Projeto. Mas para isso acontecer cobaias deveriam ser testadas.

A genética perfeita era a única coisa que importava para os cientistas, o general porem queria homens e mulheres com capacidade física para poupar treinamento e tempo. Então a busca por cobaias foi reduzida ao exército apenas, dentre todos os quatro exércitos do norte do leste do oeste e do sul mais de setenta mil homens e mulheres foram testados, pouco mais de cem tinha a estrutura corporal e treinamento necessário para passar na primeira etapa, a segunda etapa era ministrada pelos cientistas e descartou mais da metade dos escolhidos pelo general, ficaram exatas dezoito cobaias.

Os testes seguintes foram psicológicos e médicos, exames e mais exames até que os geneticistas concordassem terem as cobaias perfeitas, esse processo levou quase dois anos e Centinel estava cada vez mais poderoso, os onze que sobraram estavam prontos para o procedimento. Um último teste foi imposto aos escolhidos, no dia em que seriam incubados Centinel bombardeou Longdep, Salazar ainda se lembrava de como foi fugir da cidade deixando seu irmão de sangue para trás... Depois daquilo sobraram dez cobaias.

Foi dito a Salazar que ele possuía a melhor genética entre os outros nove, que o tempo de incubação dele provavelmente seria inferior. Salazar estava feliz com isso, era exatamente o que ele queria, sair logo daquela máquina e enfrentar Centinel, faze-lo pagar por ter tirado a vida de seu irmão.

– Salazar? Tá me ouvindo?

Salazar olhou para Anur arregalando os olhos tentando se lembrar do que ele tinha dito.

– Vou repetir! – Anur apontou para o solo, mais a frente onde não tinha mais arvores rente a muralha estava dois soldados ao lado de um dos ascensores externos. – Podemos derrubar aqueles dois, pegar o elevador e subir, pulamos para dentro da cidade e desaparecemos.

– Pode fazer isso. – Salazar olhou para Anur e sorriu como se tivesse outro plano. – Eu vou chamar a atenção deles.

– Como? – Perguntou como se não tivesse entendido.

Mas Salazar deu um salto se inclinando avançando feito bala com os pés batendo contra o chão e então sumindo pelas árvores mortas em uma corrida desesperada.

– Muito bom Salazar. – Anur reclamou vendo que os dois guardas no chão olhavam para o local onde ele estava.

– Coelho de novo? – Um dos guardas perguntou.

Anur olhou para cima, aqueles guardas... Eram os de lá de cima, desceram pelo ascensor.

Anur então flexionou os joelhos conforme os dois homens se aproximavam, fechou o punho e correu, sete passos em um segundo e o soco atingiu o maxilar do guarda a sua direita, o homem girou no ar caindo no chão enquanto sua metralhadora voava de suas mãos, Anur agarrou a arma se virando para o outro guarda que olhou assustado, Anur podia ver o suor começar a brotar na testa do homem.

– Não podem usar armas... – O guarda disse em uma tentativa desesperada de manter-se vivo.

– Traidores da própria causa! – Anur disse, então soltou a arma e em um passo à frente agarrou o guarda e girou 180° graus jogando-o contra a muralha, o homem bateu contra a rocha solida e deslizou desacordado ou morto até o chão, Anur não se importava.

Então ouviu um apito, uma sirene alta, ao mesmo tempo quatro torres de vigias a frente na direção que Salazar havia ido uma luz intensa surgiu subindo no céu nublado. Salazar voltava correndo rente as árvores mortas com galhos fantasmagóricos e secos.

– Deu certo, eles estão indo pro portão, vamos passar.

– Vamos sim. – Anur disse olhando para cima, Salazar saltou primeiro subindo até o meio da muralha, então se agarrou na superfície lisa e antes de deslizar novamente deu mais um impulso subindo de novo caindo em cima da muralha. Anur repetiu a operação.

Quando os dois estavam no topo da muralha eles podiam ver de um lado as cidades pequenas e numeradas, do outro um deserto de árvores mortas que um dia tinha sido um belo jardim e então uma cidade rodeada pelo cemitério da natureza.

Anur se virou para as cidades números a sua frente e respirou fundo algumas vezes.

– Conseguimos entrar. – O topo da muralha estava tranquilo, a maioria dos guardas correu para a invasão que logo notariam a falsidade então eles deveriam sair dali logo. – Agora é só achar o Derik.

Salazar abriu um sorriso como o de uma criança feliz, a ideia de se juntar a seus irmãos o deixava contente como nenhum outro pensamento fazia.

– Acho que sei onde encontrar ele. – Salazar apontou para o chão, mais ao lado no decorrer do corredor do topo da muralha tinha uma mesa com cartas de baralho e um jornal, ele pegou o jornal e mostrou para Anur. – Jornal do dia treze, reunião do Rei Nillas com os outros três, Eligio confrontado na frente da igreja em I-8, forças policiais perdem batalha histórica, verdade ou relatos falsos?

– Jornal sensacionalista. – Anur respondeu Salazar após a breve leitura.

– Para mim já é o bastante.


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