– É melhor descansar. Partiremos pela manhã. – Disse Miguel.

– Para onde? – Perguntei confusa.

– Para os Estados Unidos. Para a base da inteligência secreta do governo. Você é a testemunha e prova real que temos deste projeto do CADMUS.

– Não. Eu não posso ir com você. Agora que eu sei de tudo isso eu quero descobrir quem sou e como me envolvi nisso. Eu preciso de respostas. – Eu disse determinada.

– E você terá, mas precisa vir comigo. Lá você estará a salvo e poderemos obter mais respostas sem nos expormos e nem a você. – Miguel disse se levantando da cadeira e ficando frente a frente comigo.

– Tarde de mais, você já se expôs por minha causa. Agora eles sabem que há espiões dentro da organização. Eu não posso simplesmente me sentar e esperar. Talvez eu não tenha tanto tempo assim. – Disse olhando para ele.

– Não é só por isso. Eu tenho receio do que você possa estar disposta a fazer. Você não quer somente respostas, você quer vingança. Quer acabar com a organização pelo que fizeram com você. Eu não sou idiota, eu posso ver em seus olhos. – Miguel disse olhando em meus olhos.

Fiquei em silencio apenas o encarando por alguns segundos.

– E se fosse você? Ficaria sentado sem fazer nada, apenas esperando respostas? – Perguntei sem tirar meus olhos dos seus.

Miguel ficou em silencio por alguns segundos me olhando com uma expressão de que estava pensando.

– Não... – Ele disse se afastando um pouco. – Mas então, qual é seu grande plano? Vai destruir mais de 10 bases e central da organização sozinha?

– Sim, vou acabar com esse projeto e com essa organização, mas não agora. Por hora eu preciso reunir o máximo de informação possível sobre o CADMUS para poder dar o próximo passo.

Miguel olhava para mim como se eu estivesse louca, mas de repente sua expressão mudou.

– Então talvez possamos nos ajudar. Ambos precisamos de respostas e provas e agora que sabem que estavam sendo espionados de dentro, por hora a inteligência do governo terá que suspender a missão. Assim dispersarão as suspeitas. Já devem ter tirado o restante dos agentes infiltrados das outras bases.

Fiquei aliviada por Miguel compreender minhas intenções. Ele seria de grande ajuda.

– Obrigada.

– Não me agradeça ainda, isso não será nada fácil. – Miguel disse um pouco preocupado.

– Eu sei que não, mas estou disposta a ir até o fim com isso.

Olhei para a mesa onde estavam os computadores e me ocorreu uma ideia.

– Você tem informações ou uma base de dados sobre o projeto X-5 e a organização nos seus notebooks? – Perguntei indo até a mesa dos aparelhos.

– As informações contidas na base de dados dos computadores são as mesmas que lhe contei, são informações vagas e superficiais. – Miguel disse me seguindo.

– Não há um meio de invadir o sistema deles e roubar informações a partir da própria base de dados deles?

– Não, eu já tentei. Não é tão simples assim... A organização possui a proteção contra invasões de rede mais avançada, ou seja, nenhum computador normal pode passar pela barreira de sistema deles. A base de dados deles só pode ser acessada a partir da base central ou de uma das sub bases.

– Entendo... – Disse pensativa. – Qual é a base mais próxima daqui tirando a B.G?

– Vamos ver... – Miguel disse se sentando em frente a um dos notebooks enquanto pesquisava em sua base de dados. – A base que tenho em registro mais próxima daqui fica no Tibet.

– Uau... Bom, já temos um destino. Mas a questão é: como chegar lá. – Disse apoiando a mão na cadeira.

– Isso não será problema. – Miguel disse com um leve sorriso irônico no rosto.

Então me toquei que ele provavelmente já havia um transporte ou iria arranjar um.

– E quando partimos?

– Amanhã pela manhã. Você sabe o que iremos enfrentar quando chegarmos lá, mesmo nos infiltrando com o máximo de descrição possível correremos risco de sermos descobertos. Acha que está preparada para confronto? – Miguel perguntou um pouco preocupado olhando para mim.

– Se esqueceu que sou a aberração do projeto deles? Veremos do que sou capaz... – Disse com um sorriso no canto do rosto.

– Então nesse caso... – Miguel disse se levantando e indo em direção à mesa de armas e pegando uma pistola e a esticando para mim. – Sabe realmente usar?

Fui em sua direção e peguei a pistola de sua mão.

– Isso vamos descobrir agora. – Disse destravando a arma. – A lata, joga ela.

Miguel pegou uma lata vazia que estava em cima da mesa e jogou para o alto. Eu rapidamente mirei e disparei acertando em cheio a lata.

– Bela pontaria. Onde aprendeu a atirar tão bem? – Miguel perguntou surpreso.

Suspirei sorrindo enquanto devolvia a arma de volta para a mesa.

– Eu não faço a menor ideia. Eu apenas sei.

– Bom, acho que se defender não será um problema para você. – Miguel ironizou.

Apenas sorri para ele.

– Você deve estar com fome. Quer comer alguma coisa? – Miguel perguntou.

– Na verdade eu estou... Já que deve fazer um longo tempo que não como nada. – Ironizei a situação enquanto ele sorria por causa da ironia.

Miguel pegou algumas sobras de comida que havia e duas garrafas de água e serviu outra mesa que do outro lado daquela grande sala. Nos sentamos de frente um para o outro para comermos e depois de alguns poucos minutos de silencio resolvi perguntar algo que estava curiosa.

– Você é espanhol? Não tem cara de espanhol, tirando alguns leves traços. – Disse enquanto tomava um gole de água.

– Por causa do nome? – Ele perguntou sorrindo levemente.

Assenti com a cabeça enquanto mastigava a comida.

– Minha mãe era espanhola, meu pai americano. Nasci nos Estados Unidos.

– E o que te levou a escolher ser um soldado espião do governo americano? – perguntei curiosa.

Miguel suspirou sorrindo irônico com minha pergunta.

– Tradição de família. Todos os homens da família serviram ao exercito ou coisa do tipo. – Miguel disse após comer um pedaço de pão.

– Entendo... É muito corajoso, afinal não é todo mundo que opta por arriscar a vida todos os dias pelo país. – Eu afirmei e Miguel sorriu para mim.

Miguel olhou para minha mão que havia sido ferida pelos cacos de vidro que estava apoiada sobre a mesa e pegou-a calmamente passando o polegar sobre as cicatrizes.

– Incrível como sua capacidade de cura é rápida. Esses tipos de ferimentos levariam mais de duas semanas para cicatrizar.

– É disso que eu tenho medo... Eu não sei até que ponto o Vírus X-5 pode ser benéfico para mim. Além do mais, eu não me sinto normal... Eu não sei explicar, mas sinto como se tivesse algo dentro de mim. Algo que eu não possa controlar... – Disse com uma expressão preocupada enquanto Miguel prestava atenção sério.

– Não se preocupe, vamos dar um jeito de acabar com tudo isso e você voltar ao normal. – Ele disse ainda segurando minha mão.

– A propósito, obrigada por me salvar e pelos curativos.

– Não precisa agradecer. – Ele disse sorrindo de canto.

– Acho que é um pouco tarde para isso. – Sorri de canto também.

Não demorou muito para terminarmos de comer.

– É melhor ir descansar, amanhã será um longo dia. – Miguel disse enquanto limpava a mesa.

– Não só amanhã... A partir de amanhã todos meus dias serão longos. – Respondi enquanto ajudava ele e em seguida fui em direção ao quarto em que havia acordado para tentar dormir.

Horas depois, durante a madrugada...

Miguel ouviu barulhos baixos vindo da grande sala em que estavam antes e foi verificar. Entrou na sala armado, pois não sabia o que poderia ser e me viu no escuro, sentada pesquisando em um de seus notebooks, então veio em minha direção. Ele estava com a mesma regata, mas com uma calça de moletom e descalço. Eu estava com a mesma calça, com uma camiseta masculina que peguei no quarto das roupas e descalça.

– Não consegue dormir? – Perguntou ele enquanto guardava a arma na calça.

– Depois de todas essas revelações quem é que conseguiria dormir?

Miguel apoiou uma mão na mesa e outra na cadeira para ver o que eu estava pesquisando.

– Mesmo com tudo o que me contou, eu queria saber mais sobre os líderes e diretores do CADMUS. Me disse antes que Amanda Waller é a líder do CADMUS e que em cada uma ou mais sub bases há um diretor que as comanda. Essa é ela? – Perguntei abrindo uma foto de Waller na internet em uma notícia sobre o governo.

Miguel confirmou fazendo um sinal com a cabeça.

– E esse ao lado dela? Quem é?

– Esse é Dominic Lynch, um dos grandes colaboradores da organização e já financiou muitos projetos da organização e do próprio governo americano. Suspeitamos que ele seja diretor de uma ou mais bases, mas não temos provas que comprovem isso.

Cliquei em um vídeo que havia de uma entrevista não muito recente de Lynch para a imprensa sobre alguma coisa que envolvia o governo. Quando ele começou a falar rapidamente me veio à mente a voz do homem que falou comigo dentro da base. Eu não iria esquecer aquela voz tão facilmente, só podia ser ele. Eu fiquei sem reação por alguns segundos e Miguel percebeu.

– Você está bem? O que foi?

– Esse homem... Foi ele... Foi a voz dele que eu ouvi pelos auto falantes da base antes de desmaiar. Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.

– Então isso realmente sugere que ele é diretor de uma ou mais bases do CADMUS e uma delas é provavelmente a que você estava sendo mantida. Isso não é uma prova, mas confirma nossas suspeitas. – Ele disse puxando outra cadeira se sentando em frente ao outro notebook ao meu lado. – Vou informar agora mesmo sobre isso para a base da inteligência, assim passarão a redobrar a vigilância sobre Lynch.

Depois de mais ou menos uma hora e meia que estávamos ali na frente dos computadores pesquisando e conversando, Miguel decidiu se retirar para descansar o resto da madrugada já que parecia estar exausto. Eu pelo contrário não tinha um pingo de sono.

– Pelo jeito você não vai dormir mesmo hoje. – Ele disse se levantando da cadeira.

– Sem chance. Hoje eu não conseguiria dormir por mais que eu quisesse. – Respondi ainda pesquisando.

– Então nos vemos amanhã cedo. Boa noite. – Miguel disse enquanto ia em direção aos quartos e eu por um instante parei o que estava fazendo no notebook e o fiquei observando, então voltei as minhas pesquisas.