No dia seguinte, fui pegar o trem de Hogwarts – dessa vez, sozinha.

Olhei para os bruxinhos que entravam pela primeira vez, dando adeus aos pais. Os mais velhos, que se empurravam e riam, e vi, no meio, o trio de ouro.

Eu os evitava desde aquele dia no Beco Diagonal – em parte por orgulho e em parte pela efetivação. Assim que pensei na minha mais nova marca no braço, senti um arrepio e puxei minhas longas mangas um pouco mais pra baixo.

Também vi Draco, procurando alguém na multidão. Eu sabia que esse alguém era eu, mas também o estava evitando, depois de toda aquela história de Narcisa. Não conseguia mais olhar para o seu rosto sem pensar em quanto ele era...

...DROGA, eu não devia pensar essas coisas.

Balancei a cabeça e peguei minha mala, subindo os degraus, ao mesmo tempo em que o apito soou.

Andei por algum tempo pelo Expresso de Hogwarts, que já se movia. Não havia nenhum vagão vazio como eu queria, mas continuei procurando até ser subitamente puxada para o armário de carregamento. Uma mão cobria a minha boca para que eu não gritasse, e eu a arranhei com todas as minhas forças, cega pelo escuro.

– Aí! – ouvi uma voz familiar reclamar e me virei. Peguei minha varinha no bolso e sussurrei um “lumos”.

– D-Draco? – disse, sentindo meu rosto corar – Oh. Oi, eu...e-eu não te vi.

– Essa é a sua melhor desculpa por fugir de mim? – ele deu um sorriso magoado.

– Eu não estou fugindo! – menti, me sentindo desconfortável com a nossa proximidade – Eu só...

– Não precisa fugir de mim como se eu tivesse lepra, Louise. – ele resmungou, pegando a minha mão. Quando eu a puxei de volta, ele só segurou com mais força – Viu? Eu não queimei sua mão.

– Eu sei, mas...

– Você acha que eu vou te estuprar ou o quê?

Não respondi, ainda mais desconfortável. Ele suspirou e soltou a minha mão. O silêncio se prolongou ainda mais, e ele hesitou antes de falar algo:

– Desculpe. Mas eu não posso simplesmente me distanciar de você assim.

– E você acha que eu queria isso? – balancei a cabeça – Mas que droga, Draco. Falar comigo e me puxar para armários não vai ajudar em nada.

Ele balançou a cabeça.

– Eu sei.

Ficamos em silêncio novamente, e eu podia sentir seu coração batendo, sua respiração quente – assim como aquele dia no beco. Pensei em quanto eu queria nunca ter descoberto meu passado - o que era irônico, já que era o meu único desejo em dois anos. Dois malditos anos querendo saber de onde vinha, quem era a minha família...só pra depois querer voltar no tempo e desejar que nunca tivesse acontecido.

– Mas que merda... – sussurrei, rindo e chorando ao mesmo tempo. Eu olhei para o chão, mas ele percebeu do mesmo jeito.

– Não chora.

– Eu não estou. – respondi.

– Por favor, não...

Eu senti a dor em sua voz e, confusa, olhei pra cima.

E então ele encostou seus lábios nos meus.

Eu queria me afastar – eu juro. Eu precisava me afastar, aquilo não era nada certo. O que eu estava pensando? O que ele estava pensando? Aquilo era tão...

...errado!

“Talvez seja por isso que você não se afasta” uma voz no fundo da minha cabeça disse “Você sempre teve uma quedinha pelo errado mesmo”.

Pensei em todas as vezes em que eu tinha feito coisas erradas – em casa, em Hogwarts, quando eu me aliei à Você-Sabe-Quem, quando matei Sirius, quando tirei a memória de Harry...naquele dia, em que ganhei minha marca! Por que eu deveria ser diferente agora? Por que eu deveria fazer a coisa certa?

“Foda-se”, disse a mim mesma, concordando com a pequena voz “Eu sempre fui um fruto podre mesmo”

Então, ele se afastou.

– Me desculpe... – ele começou – Eu não...

– Não se desculpe... – me aproximei de novo – Só me beije.

– Mas...

– Agora.

Ele hesitou, vendo o desespero nos meus olhos. Ele sabia que eu precisava dele. E eu sabia que ele precisava de mim – éramos duas partes da mesma metade agora.

– Como quiser. – ele disse.

Então eu entrelacei minhas mãos em seu cabelo e fechei os olhos, me deixando levar pelo momento.

Merlin nos salve. Estamos perdidos.