Mais cedo...

   Minha cabeça doía. Não conseguia focar meus pensamentos em nada. Muitas vozes. Muito barulho. Muitos pensamentos. Por favor, façam isso parar! Tentei dizer, mas minha garganta também não era mais minha. Então um barulho se fez mais presente. Um choro de uma criança se destacou dentre todas as outras vozes.

   Parecia um sonho. O quarto era simples, parecia ser um quarto de casal por causa da cama. Ao lado dela um pequeno berço, com detalhes em rosa e lilás. O choro vinha de dentro dele. Não havia mais ninguém ali, apenas eu e aquele bebê. Aproximei-me do berço, observando o bebê deitado ali, se remexendo inquieto, pedindo por atenção. Era uma menina. Uma linda menina de cabelos loiros. Parecia ter pouco mais de três meses. Um pouco gorduchinha, uma pequena fofura.

  Tentei pega-la no colo, mas quando minhas mãos tentaram se firmar em seu pequeno corpinho, eu não consegui pega-la. O que estava acontecendo? Levantei minhas mãos diante dos meus olhos, elas estavam transparentes. Era como se eu não estivesse ali. Apesar disso, a pequena bebê parecia me ver, porque quando me notou ela parou de chorar.

— Você pode me ver? – perguntei e em resposta ela balbuciou algumas coisa em sua língua de bebê. Foi quando abriu os olhos, mostrando um lindo tom de azul. Um azul que eu conhecia muito bem, pois o via todas as vezes que olhava para meu irmão ou me olhava no espelho. – Não... Não. -  Não poderia ser! Aquela criança era minha ou era filha de James. Olhei para a foto em cima da mesa de cabeceira ao lado da cama e lá estava, o que poderia confirmar meus pensamentos. Tudo fazia sentido, os enjoos dela, o sono excessivo e a falta de apetite. Olhei de novo para a bebê no berço, que me encarava com um sorriso sapeca nos lábios. Morena dos olhos azuis. Respirei fundo e sai daquele quarto a procura de meu irmão, mas quando passei pela porta, eu estava na enfermaria da Torre. Me sentei bruscamente, sentindo alguém colocar as mãos em meus ombros.

— Sophie, respire.

— Camille... – murmurei, sentindo a garganta seca.

— Eu estou aqui amiga, respire! – falou de novo e eu tentei controlar a minha respiração. Acalma-la.

— Água... – falei e senti a cama ficar mais leve para depois voltar a afundar no mesmo ponto. Ela colocou o copo de água em minhas mãos e eu bebi tudo rapidamente. 

— Você esta melhor? Esta suando frio. – falou enquanto colocava a mão em minha testa. Eu já enxergava melhor. Conseguia vê-la na minha frente, vestindo uma roupa de moletom. – Vou chamar a Dr. Cho. – falou, se levantando. Segurei seu braço. – O que foi?

— Jarvis pode chama-la. Fique um pouco comigo! – falei e ela assentiu.

— Jarvis, chame a Cho e diga que Soph acordou, por favor? – Camille pediu, se sentando novamente na maca.

— Agora mesmo senhorita Barton.

 Passei a mão pelo pescoço e sentia o colar que Drake me deu noite passada. Olhei para meu corpo e eu ainda usava o vestido da noite passada. Oh não, a festa.

 – Por favor, não me diga que eu estraguei a noite de todo mundo.

— Não voltamos por obrigação Soph. Voltamos por preocupação. Quando Drake nos contou o que aconteceu, não conseguiríamos mais ficar naquela festa. – falou, colocando a mão em meu ombro.

— Oh não. – falei, passando a mão pelos meus olhos. – Drake deve estar me odiando.

— Ele ficou extremamente preocupado com você. Não quis te deixar nem por um segundo. Foi difícil faze-lo ir descansar um pouco. – Camille falou. – Sabemos o quanto a noite passada era importante para você. Sinto muito que tenha acabado assim amiga. – Pegou minha mão, apertando-a firme, enquanto colocava em seu colo. Distrai-me de toda aquela situação quando olhei para a sua barriga e me lembrei do que vi. O bebê. Senti uma energia diferente vinda de Camille. Uma energia tão pura e tranquila, era quase como se eu pudesse ver a energia emanando dela ate mim.  Não poderia ser aquilo ainda. – Soph, o que foi? O que você viu? – desviei meu olhar de sua barriga para seus olhos. Mas antes que eu pudesse responder, Dr. Cho entrou acompanhada do resto do pessoal.

— Soph. – James falou, enquanto vinha me abraçar. Abraçou-me tão apertado que eu tive que pedir para ele me soltar, às vezes Jay não sabe medir sua força. – Desculpe. – Pediu, envergonhado. Ao olhar para ele lembrei-me automaticamente do bebê.

— Meu amor. – Drake veio e me beijou desesperadamente. – Eu achei que fosse perder você! – falou colando sua testa na minha.

— Desculpe. – murmurei. Desviei meus olhos dos seus, olhando para Jade e Peter atrás dele, que sorriram para mim. – Desculpe gente, eu não queria assustar ninguém. Eu não queria estragar a noite de ninguém... – falei sentindo a voz embargar. – Me desculpem.

— Hey, você não tem culpa de nada. Você não obrigou ninguém a voltar por você! Voltar foi uma escolha nossa, ta? – Jade falou e eu assenti.

— Ninguém esta te culpando de nada Sophie. Fique tranquila! – Peter falou e eu sorri. – Ate porque aquela festa não teria graça nenhuma sem você!

— Obrigada gente. – falei, sorrindo, agradecida.

— Mas, afinal de contas, o que aconteceu? – Peter perguntou.

— Acho que ela poderá explicar tudo depois de alguns exames. – Dr. Cho falou e todos entenderam que aquela era uma indireta para darem o fora dali. James e Drake ficaram meio receosos, mas, quando os garanti que estava bem, eles acabaram saindo. – Então querida, o que aconteceu? – expliquei tudo a ela, desde as dores de cabeça, as vozes e o desmaio. Escondendo a parte do bebê.  Ela me pediu para fazer mais alguns exames, mas, quando reclamei que estava com fome e cansada, Helen me liberou.

  Desci as escadas devagar, me apoiando no corrimão. Ainda estava meio desnorteada com tudo o que estava acontecendo, mas, no momento, só queria tirar aquela roupa e comer alguma coisa.  Eles me esperavam, sentados no sofá, pareciam muito preocupados. James estava sentado, com a cabeça nas mãos. Camille estava em pé atrás dele. Drake estava em pé perto da varanda. Peter e Jade estavam sentados lado, no sofá oposto ao de James.

— Gente, não é como se eu tivesse morrendo. Pelo amor de Deus. -  falei.

— Amor... – Drake falou, enquanto vinha em minha direção.

— Ta tudo bem gente, de verdade. – falei. – Eu só preciso tirar essa roupa e tomar um banho. – Drake me abraçou.

— Quer usar o meu quarto? – perguntou e eu assenti. – Vou pedir pra cozinheira fazer alguma coisa pra você comer. Ta? Todos nós precisamos comer. – ele falou e vi o resto do pessoal assentir. Me afastei dele e abracei James.

— Vai ficar tudo bem. – falou e eu assenti.

— Queria pedir uma coisa. – falei.

— Qualquer coisa. – Jade falou.

— Tentem controlar o que vocês pensam perto de mim, pelo menos por enquanto. Ate eu conseguir controlar isso. – falei. – Não quero ver o que tem por trás da cabeça desses meninos. – tentei descontrair e eles sorriram.

— Tudo bem. – Peter falou.

— Obrigada. – falei enquanto caminhava pelo corredor ate o quarto de Drake. O quarto dele era o que se poderia esperar. Era todo tecnológico, um computador de ultima geração na branca de vidro, um grande armário no lado, na parede contrária a porta estava à cama e ao lado da porta uma grande televisão. Luzes escondidas pelos cantos iluminando todo o quarto, ativadas por voz. Entre a bancada e o armário estava a porta do banheiro. 

   Algumas peças decoravam o quarto dele, assim como livros, tanto didáticos como literários. Me sentei na cama dele, observando a foto que ele mantinha em sua cabeceira – tínhamos tirado ela a alguns meses, num parque de diversões, antes de toda essa confusão começar. Meus olhos embaçaram, mas, como minha tia disse uma vez, se chorar resolvesse problemas, todos choraríamos todos os dias, dia todo. Respirei fundo enquanto me levantava em direção a minha bolsa.  Tirei tudo o que precisava e levei ate o banheiro, onde tomei uma ducha, esperando que a água levasse embora todos os meus problemas.