Jovens do Novo Mundo escrita por VicKWicK


Capítulo 1
O dia da Declaração de Oslo


Notas iniciais do capítulo

Talvez empaque na história, sla acho que é só um surto momentâneo que me deu vontade de reviver essa história depois de uns anos kkkkkkk



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Uma vez li em um livro de história a seguinte citação, a qual referia-se ao período da Guerra Fria: “Guerra improvável, paz impossível”. Hoje, 200 anos depois, lutamos para viver sobre os escombros de uma guerra que, ao longo do tempo, passou de improvável para inevitável. Quanto à paz, já não posso afirmar com certeza. Depois do confronto que devastou grande parte do globo, a humanidade passou a abominar conflitos armados e se dedicar com afinco à arte da diplomacia. No entanto, não é preciso de armas para haver conflitos e mesmo a ausência deles não me parece ser, necessariamente, sinônimo de paz. Mas estamos tentando. A cada novo dia, as pessoas saem de suas casas e trabalham, e estudam e vivem como se boa parte do território não estivesse coberto de crateras e nossa terra não estivesse envenenada pela radiação. As pessoas tem tentado reconstruir suas vidas, torna-las normais de novo. Para os mais jovens, que nasceram nesse mundo pós-guerra, é mais fácil, porém aqueles que viveram o “antes” sabem que somos apenas uma sombra do que já fomos. Eu olho para os livros de história, para as gravuras e penso que gostaria de me lembrar de um mundo em que as pessoas não monitorassem os níveis de radiação como quem acompanha a cotação do dólar, em que os prados fossem longos e verdejantes e a natureza uma fonte de potencial e vida sem fins. Contudo, penso que, se tivesse vivido o “antes”, mesmo com suas infinitas imperfeições, o “depois” nunca me bastaria.  Posso soar pessimista, mas o otimismo e a esperança nunca foram meu forte e penso que, em um mundo como o nosso, podem ser perigosos, pois levam à desilusão.

Peço desculpas aos que vieram procurar por minhas crônicas e reflexões inofensivas do dia a dia, hoje eu precisava dividir minha inquietude com vocês. O dia da Declaração de Oslo é um feriado feito para comemorarmos o fim da Grande Guerra e o início da paz. Mas os fogos e as bandeiras deixam um gosto amargo na minha boca, sinto como se não estivéssemos fazendo o bastante, como se logo fôssemos esquecer o que é a destruição e cair novamente no ciclo infinito que é a história. Será que estamos fadados a repetir os mesmos erros até o fim da humanidade, ou, ainda pior, será que ficaremos presos para sempre nesse eterno pós-guerra, contentados com nossas meias-vidas? Espero que não, almejo por grandes mudanças e verdadeira paz, porém não me deixo ter muitas esperanças, como já disse, ela pode ser perigosa.

Ademais, desejo a todos um feriado agradável, aproveitem com moderação!

Anne postou a nova publicação em sua página e fechou Notebook, a fim de se arrumar para almoçar com sua família. Não é como se eles se importassem tanto com o motivo do feriado, algumas pessoas enfeitavam suas casas com bandeiras da Organização Global pela Paz, OGP para os íntimos, e participavam de desfiles. Sua família não estava muito aí para isso, mas eles não se conformavam em perder sequer uma oportunidade de fazer um churrasco. Apesar do clima alegre na casa, eles a deixavam quieta nessa data, sabiam que o feriado a incomodava, principalmente o que acontecia depois dele.

Ela tentou se livrar daqueles pensamentos, mas sua mente ia, inevitavelmente, acabar se voltando para o evento de segunda. Depois da Declaração de Oslo, a OGP se tornou um órgão central na política internacional, desenvolvendo ações e projetos que visavam à reestruturação das nações. Um desses projetos foi o Jovens do Novo Mundo, no qual jovens entre 14 e 18 anos são selecionados para estudar em uma base da OGP para, futuramente, assumirem cargos importantes na organização e no governo de seus países. Não parece algo que interessaria tantos adolescentes, até porque esses serão afastados de suas casas e de uma juventude normal, mas a OGP é muito “generosa” com seus participantes e muitos tentam entrar para ajudar suas famílias, já que a maior parte da população ainda vive em condições precárias. A entrevista é a primeira fase e ocorre dentro das escolas. Enquanto as aulas transcorrem normalmente, alguns representantes da OGP de cada cidade convocam alguns estudantes para entrevistas, conforme seu histórico escolar e recomendação de professores. Se seja lá que o estudante disser agradar os aplicadores ele passa para a “segunda fase”, já recebendo uma bonificação em dinheiro.

Apesar dos atrativos financeiros, Anne nunca quis nada disso e só de pensar em ser na possibilidade de ser entrevistada suas mãos tremem. Ela não precisava do dinheiro, os pais não eram ricos, mas a carreira de enfermeira da mãe e de professor de música do pai os garantia uma boa vida e possibilitava a ela se dedicar aos estudos e buscar uma pós-graduação, o que é muito mais do que a maioria das pessoas tinha. Então ela fazia o que podia para fugir do programa e, apesar das ótimas notas e da recomendação de professores, ela havia conseguido nos últimos 3 anos. Agora com 17 e no último ano do Ensino Médio, ela sabia que só precisava passar por mais uma seleção, já que eles raramente selecionavam alunos que estavam formados, mesmo que ainda estivessem na faixa determinada.

Ela se concentrou em tomar banho e se vestir, indo para o quintal determinada a passar um bom tempo com seus pais e sua irmã mais nova, Júlia, que tinha apenas 8 anos e ainda dormia com um ursinho de pelúcia chamado Tom. Eles passaram a tarde no quintal e depois assistiram a alguns filmes e, quando ela foi dormir naquele domingo a noite, a segunda-feira parecia muito distante.


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