A Rainha Dourada. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 5
Conjecturas.


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Como estão?
Gostaria de me desculpar pela demora a lhes entregar este aqui: não pude contar com a colaboração da internet.
Ademais, quis editá-lo seguindo algumas sugestões dadas nos comentários. Agradeço muito todo o carinho.



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– Estérela, o que pensa que tem feito?!

Com passos apressados, um ancião tão miúdo de tamanho quanto os anões se aproximou do grupo. Os cabelos compridos no mesmo tom de dourado da moça balançavam de um lado para o outro, complementando a fisionomia furiosa.

– Midgard, meu pai. - cumprimentou alegremente, levantando-se. Sua altura competia por três ou quatro palmos.

– Por onde andou, logo ao crepúsculo? - indagou diretamente para ela, sem notar a plateia curiosa que se formava ao lado.

– Tão altivo e espirituoso! - soltou uma gargalhada melodiosa, deixando-o desconfortável ao acariciar-lhe a cabeleira. - Sempre a cuidar de mim, fiel e protetor.

A expressão zangada desfez-se imediatamente.

– Eu fiquei preocupado, deixei tudo às avessas para ir atrás de ti, andei até a fronteira mas você não estava lá.

– Oh não, não dessa vez. - acrescentou. - Pai, permita-me apresentar-lhe à companhia de Thorin Oakenshield. - A carência em mencionar outros títulos do líder soou como uma trombeta para Gandalf.

O velho decorreu o foco para a lateral da mesa, encontrando dezesseis pares de olhos curiosos sobre si. Thorin ergueu-se, prestando em seguida uma cordial reverência.

– O que é você? - perguntou com espanto, em análise.

Bifur repreendeu o diálogo com um olhar enfadonho, enquanto Bálin impunha em negativo com a cabeça.

Nós– respondeu gravemente o senhor da Montanha Solitária. - somos uma comitiva de anões, composta também por um hobbit, - apontou. - um mago, - o mais velho acenou com a testa franzida. - e recentemente uma elfa. - a forma como o pronunciou deixava claro qualquer tipo de insatisfação, mas não excluía a possibilidade.

– Esses gentis senhores me encontraram nas campinas e me auxiliaram no regresso para cá. - a voz de Ester adiantou-se ante a censura do pai. - Foram muito atenciosos frente a meu estado inepto; trouxe-os para cá afim de retribuir a gentileza.

Midgard fitou Thorin, a conservar-se inexpressivo.

– Oh, é verdade? Perdão, pois! Não quis parecer grosseiro... - liberou-se dele, dizendo em bom tom: - Sendo assim, esta noite estarão sob os cuidados da casa! A não ser que devam partir...?

Entreolharam-se todos em busca de uma resposta válida.

– Suponho que não. - Gandalf replicou, o cachimbo já aceso.

– Ótimo! Devo preparar o alojamento, então. - alargou o sorriso, virando-se para a filha e depositando um delicado beijo em suas mãos antes de retornar para a escadaria que levava à pensão.

Ester sentou-se novamente, arrumando a capa sobre os ombros, ligeiramente travessa, ao constatar que a maioria já arranjara-se com petiscos e bebidas.

– Asseguro total liberdade acerca das refeições, mesmo que sejam demasiadamente simplórias... - comentou. - E, também, do uso do bar...- sua última declaração inflamando Glóin de alegria, bebendo numa caneca cheia, esvaziando-a num átimo. Ao rodear a mesa, pousou a mão no ombro direito de Fíli significativamente, ocultando a demanda.

– Por que mentiu? - Bilbo parecia histérico. Estérela capturou seu tom, fitando-o por cima de sua cadeira.

– Achei sensato. Estas terras são repletas de povos das mais variadas raças, - explicou, oferecendo uma bandeja com pães. - o que nos traz uma diversidade imensurável de aprendizagens. Dessa forma, não atrairia comentários indiscretos.

O herdeiro de Erebor franziu o cenho.

– Acha que somos uma ferramenta que lhe incrementa sabedoria? - questionou altruísta.

– Não. Desde já esclareço que não me importa de onde tenham surgido, mas sim como.

– Encontramos um portal criado nos intermédios de Mirkwood enquanto travávamos uma batalha. - pronunciou-se Tauriel, distante, ao lado de Kíli. - Algo do gênero jamais fora visto, não nessa Era.

Mirkwood? - a jovem parecia não entender.

Gandalf pigarreou displicente, chamando a atenção da mesma.

– Um recurso - corrigiu ele. - que nos deu acesso direto para cá.

– Muito interessante, de fato.

– Há outros dos meus aqui? - a elfa ruiva não desistindo de seus questionamentos. - Elfos da floresta?

– Como já disse, sim. E não apenas elfos. Há anões também, e muitos humanos. Acredito que a miscigenação entre eles também é significativa. Seres místicos dos mais antigos templos do mundo. A única criatura inédita entre nós é aquela a qual chamam de hobbit. - seus lábios saboreando a palavra como se pudessem absorvê-la. - Tomarei isto como uma justificativa palpável.

– Para o que, exatamente? - Bálin atentava-se.

– O fato das fadas de Yamar terem se ausentado de meus cuidados, atraídas por tais revelações.

F-fadas de Yamar?– Bilbo repetiu desconcertado.

Yamar, dos que nada pode ser ocultado. Pertencem às fronteiras as quais os encontrei, são guardiãs desses trajetos. A fortaleza de Dragon Forest possui riquezas longamente cobiçadas. Tão cedo fui privada de minha visão, e a delas me foi cedida como um presente, o maior entre todos, a possibilidade de ver além do que simples olhos seriam capazes. - Ester aquietou-se, cabisbaixa. - Seja como for, não chegariam aqui apenas por necessidade própria, ou curiosidade alheia. - ressaltou. - Foi o destino, isso posso assegurar.

Um silêncio desconfortável pairou sobre a mesa, o ambiente barulhento parecendo ainda mais notório.

– Somos de um universo paralelo ao daqui. - declarou o futuro rei.

– Isso eu já percebi.

– E não viemos por conta própria! - advertiu Dwalin com repugnância.

– Tudo culpa do mago, era seu caminho e não o nosso! - Ori tentou aparentar braveza, mas apenas se revelou ainda mais perspicaz.

– Caminho? - Ester alterou-se num ímpeto. - Então ao menos um sabia o que havia de encontrar!

– Apenas seguimos, não aprovamos o intuito . - Thorin debatia com veemência.

– O senhor herdeiro de Erebor se contradiz. Se o seguiu, deveria ter-lhe inspirado um tanto de confiança.

– Não tinha ideia do que descobriria aqui, senhora. - Gandalf interrompeu. - Deve saber que para muitos este território não passa de uma sombra, há muito esquecida.

– Posso ocultar o que vejo, Istari, mas não o que sei. - um sorriso suave dançando-lhe os lábios pálidos. - Portanto, basta: me satisfaço completamente.

– Seria possível, quem sabe, apenas esclarecer um pouco mais deste infortúnio? - Bálin ajeitou-se na cadeira, os cotovelos na mesa diplomaticamente.

– Não chame de infortúnio, mestre anão aquilo de tenho como oportunidade. O desconhecido nem sempre é perigoso. Todavia, minha posição impede de ser mais específica, se carecem de orientação, sou a menos indicada para iluminá-los... - sua sinceridade pareceu convencer o mais sábio da companhia. - Não hão de se incomodar, em breve tudo estará resolvido.

O debate deu por fim diante do pequeno banquete apresentado a mesa, uma dádiva concedida poucas vezes durante o percurso. Confirmou-se a constatação da anfitriã ao examinar a quantidade de opções no cardápio: vegetais frescos, sementes, carnes branca e vermelha igualmente assadas. Modesto, sim, mas apreciável para todos os gostos; a estalagem recebia mais e mais visitantes, alguns um tanto bizarros. Bilbo preparou uma tigela repleta de tomates, que há muito deixara de provar.

Apesar da diversidade de estereótipos, havia uma interação harmoniosa e respeitável. O barulho das conversas era vez ou outra interrompido pelo tilintar de uma caneca estraçalhada no chão, induzindo risadas por toda a extensão do plano. A alegria pouco contida entre companheiros dos mais variados ofícios, inclusive as damas. Absolutamente insólito.

Thorin permitiu-se experimentar o momento, porém, sua mente o impedia de se desviar de seu objetivo primordial. O tempo estava urgindo, e cada segundo ali era perdido, um regresso incalculável. Entretanto, não negava um sutil sentimento de segurança, contraposto a toda experiência incessante desde que partira de Ered Luin, seguido por fiéis aliados, incluindo seus dois sobrinhos. Recorrendo a eles, sentiu-se responsável não apenas como futuro rei: as vidas que tinham-lhe sido dispostas, preciosas vidas dos filhos de Durin. Quantos não viraram as costas!, justamente aqueles que partilhavam sua linhagem. E, agora, ali estavam, numa terra longínqua em plena existência, recebendo favores de estranhos, um incentivo pouco ordinário.

O alimento acalmou suas convicções. Vagueando os olhos azuis pela mesa, onde entre uma golada e outra surgia a passagem de uma história, notou todos consumidos pela mesma sensação: estabilidade. Por hora, nenhuma ameaça saltaria porta adentro, buscando recompensa por sua cabeça. Ninguém para interromper seus anseios.

Dragon Forest... - balbuciou inaudível.

– As acomodações estão a postos! - Midgard passou entre dois guerreiros ébrios que brindavam sem sentido. - Vocês são muitos, mas, hum, bem, eu acho que dei um jeito.

– Não se preocupe, senhor da estalagem, de tamanha boa vontade! - acentuou Bálin. - Seremos eternamente gratos.

– Verdadeiramente gratos. - completou Kíli. - A propósito, o assado está esplêndido! Poderia até mesmo competir com o da minha mãe...

Ester riu, deixando a mesa.

– É bom desfrutar uma refeição com novos amigos. - disse. - Infelizmente chega minha hora e, com sua licença, devo me recolher. Espero encontrá-los no desjejum amanhã.

Os treze anões de Erebor ergueram-se diante dela num ato mútuo de reconhecimento, para surpresa velho, estranhando o comportamento dos estrangeiros. Apoiada no aperto do pai, a moça partiu do recinto, cumprimentada pelos frequentadores num desejo de boa noite.

Apenas um minuto de calmaria para que retornassem ao estado de júbilo, vozes alteradas e risos ainda mais presentes. Depois de um tempo, ao barulho misturou-se música: uma polca animada, tocada solitariamente por um violino. O chão tremia pelas batidas dos pés ao marcar o ritmo dançante.

Tauriel estava inquieta. Toda a declaração da jovem mulher lhe caíra como um reflexo desfigurado, abdicando de razão, mergulhando em uma memória que não podia sequer julgar real. Os elfos também contavam suas próprias lendas, exaltadas por sua natureza impecável ante a outros povos que habitavam a Terra-Média. Porém, aquele lugar de longe destoava de sua concepção.

– Está tudo bem? - a voz de Kíli interrompendo seus pensamentos.

– Não sei dizer.

– É confuso, admito. - o jovem anão sorriu de lado, arrancando de Tauriel uma expressão similar. - Não que eu tenha conhecido vários lugares, caminhado entre os mundos, mas me sinto aliviado.

A elfa instigou-o a continuar, os olhos verdes fixos no rosto do outro.

– Bem, desde que deixamos Rivendell não tivemos sossego. Fomos perseguidos por orcs durante todo o trajeto, estavam apenas aguardando uma chance para nos atacar e nos dizimar. - a mulher encarou-o surpresa. - Eu acho que nossa companhia deu sorte em estar aqui; pelo menos, ao que parece, podemos dispor de uma noite de paz.

Mesmo que muito jovem para sua raça, Kíli era um guerreiro de valor, e Tauriel pôde observá-lo na luta contra as aranhas gigantes. As mãos pequenas possuíam certa habilidade, o arco e flecha sendo a mais favorecida. Seu rosto coberto por uma camada fina de barba apresentava uma textura quase tão macia quanto a de um elfo, uma beleza excêntrica que lhe competia qualidade substancial. Admirou-o por um instante, deixando-o nitidamente encabulado...e satisfeito.

– Nunca vivi uma aventura. - completou pacífico.

A melodia continuava a ecoar, regozijando madrugada adiante.

– E a vida já não é uma aventura suficiente?


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Notas finais do capítulo

Só eu achei enfadonho? De qualquer maneira eu teria que explicar algumas passagens, e o diálogo teórico me pareceu a solução menos desgostosa.

"Yamar, dos que nada pode ser ocultado". No capítulo 3 - O portal, Galadriel faz uma pequena menção a este povo: A tudo eles veem, não há quem caminhe em suas sombras. Vou apresentá-los mais formalmente em breve, prometo.

Fadas são conhecidas por atestaram a realidade do "mundo invisível" onde supostamente vivem outros espíritos mágicos da natureza, supostamente vindos de planos paralelos de existência. Não poderia encaixar mais perfeitamente no contexto proposto.

Obrigada por me acompanharem, e até o próximo!