Só mais um gole. Que diferença faz? É assim que eu ganho a vida, conquistando os ricos com um pouco de tequila e ousadia.
Meus golpes duram, em média, um ano, dois no máximo, mas houve uma exceção. Um único homem conseguiu me conquistar de verdade. John Daily.
O conheci no Sheep’s, o bar mais caro da cidade. Sua aparência acabada me chamou a atenção. Olheiras, barba para fazer e All Star, ele fazia o meu tipo. Levei uns dez minutos tentando me lembrar de onde eu conhecia o moreno, então lembrei que estava com o livro dele na bolsa, The Informer, uma bosta de livro sanguinário.
Terminei meu Blackberry e me aproximei, exibindo meu melhor sorriso.
- Boa noite – Sentei ao seu lado, procurando puxar papo – Você não é o autor de The Informer?
- Eu mesmo, boneca – Ótimo, ele era um otário.
- Sou uma grande fã sua – Menti – Posso lhe pagar alguma coisa? Um Sunsire, talvez?
- Tequila com suco de laranja? Não, meu bem, que tal um Sloé? Pelo menos tem gim – Okay, fodão, beba o que quiser.
- O que o senhor quiser. Garçom, por favor, outro Blackberry para mim e um Sloé para meu acompanhante.
Dei ênfase para a última palavra. O garçom sorriu e sumiu por trás do balcão, se divertindo com o corte que eu levei. Arrumei o vestido para mostrar melhor o decote, mas o escritor inútil estava olhando para a minha mão, provavelmente analisando a marca de anel que eu tinha.
- Ele me trocou por uma loira – Informei, mentindo. Eu é que havia o trocado por um loiro – Enquanto estávamos no Havaí.
- Sinto muito.
- Não sinta, eu estou melhor sem ele – Acredite, meu bem, eu sempre fui melhor sozinha. Lancei-lhe um sorriso forçado enquanto o garçom deixava as bebidas sobre o balcão – Meu nome é Louise.
- John – Ele tomou dois longos goles da sua dose de tequila com gim – Então, Louise, o que uma dama como você faz num lugar patético como este?
- O mesmo que você, eu suponho.
- Veio buscar inspiração para seu próximo livro?
- Não, vim buscar apenas um pouco de álcool sem compromisso – Filho da puta.
- Entendo.
- John, você não gostaria de sair daqui? – Vamos lá, é o jogo de sempre.
- Uhn... Espere eu acabar minha bebida, sim?
- Claro.
Estava tudo saindo bem. Fomos para minha casa, bebemos oito garrafas de Cuervo e transamos a noite toda. Era sempre assim que tudo começava.
O problema é que eu acabei me entregando de verdade. Não sei se foi o álcool que subiu em minha cabeça ou o jeito ingênuo de John, algo ali me fazia querê-lo mais e mais. Duramos seis anos. Seis anos para eu perceber que eu estava fazendo algo contra a minha natureza.
Comecei a sair com o editor de John, um cara qualquer que volta e meia aparecia por perto.
Não tomei todo o dinheiro de John, ele ainda tinha muito a crescer. Odeio admitir, mas eu ainda penso nele toda a vez que tomo um gole de tequila. Oh, droga, John, eu não deveria ter te entregue meu coração.