Só mais um gole. A esta altura, não fará diferença nenhuma. Mais uma vez, estou no bar, sozinho e cansado de ser um perdedor. Meu problema? Tequila. Não, talvez ela seja minha única solução.

            Mas não adianta te contar a história pelo fim, não é mesmo? Vamos começar com, oi, meu nome é John Daily, sou um escritor de 36 anos. Quero deixar claro que eu nem sempre fui este perdedor que vos fala. Não, eu já fui grande, limpo, rico.

            Eu tinha apenas 25 anos quando lancei meu primeiro Best Seller, The Informer. Aquele era só o começo, e eu sabia disso. Lancei mais três livros de sucesso, estava sempre entre os dez primeiros escritores do país. Então eu a conheci. Louise Walk, ruiva, olhos verdes e um sorriso encantador.

            A conheci num bar chique da cidade, daqueles em que tudo é caro, mas continua sendo o mesmo álcool de sempre – mas com frufrus no copo. Álcool. Ela estava bebendo um Blackberry Tequila enquanto me devorava com os olhos. Logo, se aproximou.

- Boa noite – Voz suave, sedutora – Você não é o autor de The Informer?

- Eu mesmo, boneca.

- Sou uma grande fã sua – Sorriu – Posso lhe pagar alguma coisa? Um Sunsire, talvez?

- Tequila com suco de laranja? Não, meu bem, que tal um Sloé? Pelo menos tem gim.

- O que o senhor quiser. Garçom, por favor, outro Blackberry para mim e um Sloé para meu acompanhante.

            O garçom sorriu, aquele riso clássico que soa a dinheiro. Observei melhor minha acompanhante, vestido médio preto, cabelos soltos, pedras no pescoço. Parecia ser uma mulher de classe tentando matar o tédio com um pouco de álcool. Talvez o marido tenha saído para jogar golf e a deixou sozinha, talvez tenham brigado, talvez ele tenha morrido. Fiquei quase dois minutos imaginando as mais diversas histórias para justificar a marca que ela tinha no dedo. A marca de sol. O branco de um anel que estivera ali a pouco tempo.

- Ele me trocou por uma loira – Louise percebera minha curiosidade – Enquanto estávamos no Havaí.

- Sinto muito.

- Não sinta, eu estou melhor sem ele – Lançou-me um sorriso forçado enquanto o garçom deixava as bebidas sobre o balcão – Meu nome é Louise.

- John – Comecei a tomar minha dose de tequila com gim – Então, Louise, o que uma dama como você faz num lugar patético como este?

- O mesmo que você, eu suponho.

- Veio buscar inspiração para seu próximo livro?

- Não, vim buscar apenas um pouco de álcool sem compromisso.

- Entendo.

- John, você não gostaria de sair daqui?

- Uhn... – Pelo visto ela não procurava apenas o álcool sem compromisso – Espere eu acabar minha bebida, sim?

- Claro.

            É, tivemos um começo bem comum. Nem preciso dizer que fomos para a casa dela, bebemos algumas garrafas de Cuervo e nos esbaldamos em sexo, não é? Começamos a ter um caso, uma coisinha besta que ocupou seis anos da minha vida.  

            Seis anos sendo enganado, iludido por um falso amor. Eu deveria saber que Louise só queria meu dinheiro, é o que todas querem, mas eu bobo o suficiente para acreditar naqueles olhos verdes.