John sentiu a pele queimar por onde os olhos de Sherlock passavam. Fazia três dias que sentia-se observado com uma intensidade no mínimo assustadora. Não importava se estava lendo, cozinhando, andando pelo apartamento, ou apenas tomando chá. Aqueles olhos claros pareciam segui-lo por onde fosse.

Sherlock sempre fora um homem observador. Não era à toa, afinal, que fosse o único detetive consultor do mundo. Nada parecia escapar por aqueles olhos. Nem o mais efêmero detalhe lhe escapava, não se parecesse ter alguma importância aos seus olhos.

Naquele mesmo momento, enquanto John tentava se concentrar em um livro e beber seu chá de forma tranquila, Sherlock estava sentado no sofá. O moreno estava vestindo seu roupão azul e suas calças de dormir - mesmo que já passasse do meio-dia. -, o cabelo cacheado estava uma bagunça e seus olhos felinos fitavam John com uma descarada atenção, sem parecer se importar com o desconforto do loiro a sua frente.

–Você quer, por favor, parar de me olhar desse jeito? - pediu mantendo a calma. - Quer alguma coisa?

Não conseguiu, de fato, uma resposta de Sherlock. A não ser que um cerrar de olhos pudesse ser considerado como resposta para alguma coisa, o que John muito duvidava.

E mais dois dias se passaram com essa brincadeira, quando algo no mínimo inusitado aconteceu.

John chegou do trabalho completamente exalto. Não pensava em outra coisa senão em sua cama e um chuveiro com água quente. Mas quando abriu a porta do 221b não podia ficar mais surpreso.

Sherlock o esperava pacientemente no sofá, mesmo que uma inquietação fosse visível pelo leve tique em sua perna.

–Que bom que chegou, John - o moreno disse voltando os olhos para o loiro.

–Aconteceu alguma coisa? - perguntou. - Um caso?

Sherlock postou as mãos em frente aos lábios cheios e respirou fundo com uma expressão séria no rosto. John começava a se preocupar em meio aquele silencio e a seriedade do mais novo. Ficou com medo de ser algo grave. Moriarty?

–Bem - começou num suspirou, interrompendo os pensamentos do loiro. - Tentei durante dias achar alguma coisa apropriada, mas simplesmente não consigo me decidir. Não era como se você precisasse de alguma coisa para o cotidiano e não queria comprar algo para a casa. Imaginei comprar algo mais íntimo, mas isso também não facilitou minha busca, muito pelo contrário! O que quero dizer é que é o seu aniversário e eu não tive capacidade para comprar algo para você...

A frase foi tão desenfreada que John teve que redobrar a atenção para entendê-la. Sherlock sempre falou rápido, mas o nervosismo em sua voz complicava ainda mais as coisas. E ele parecia nervoso, o que John achou incrivelmente adorável.

Alguns segundo de silencio se seguiram, enquanto John se perdia nas palavras citadas e no misturar de cores que eram os olhos do moreno.

–Feliz aniversário, John.

Assim que assimilou a frase do moreno sentiu alivio e graça ao mesmo tempo, além da surpresa. Sherlock havia mesmo aberto um espaço em seu palácio mental para se preocupar com o seu aniversário? Parecia improvável. Mais improvável, porém, era Sherlock não ter descoberto nada para lhe dar de aniversário. O que estava acontecendo?

Mas ele se esqueceu daquilo rápido demais. A expressão de expectativa no rosto do mais alto o distraiu desses detalhes.

–Obrigado por se importar, mesmo - agradeceu com um sorriso sincero nos lábios finos. - Mas, Sherlock, meu aniversário é só daqui a uma semana.