Foi com um reflexo que a mão de John se espalmou sobre o lado oposto da cama. Procurou, com os dedos trêmulos, um corpo de pele quente, mas nada achou além de lençóis frescos e o vazio.

Um desespero abrupto brotou em seu peito e de repente tudo pareceu escurecer. Sua testa estava úmida e seu estômago embrulhou de forma desagradável.

Onde ele estava?

Havia tido um pesadelo – a quanto tempo não tivera um? - Sherlock se jogara do telhado, havia o deixado mais uma vez, e ele caía e caía sem nunca chegar ao chão. John nunca o alcançava e apenas assistia ele cair. Olhos vidrados na cena como a um filme de suspense. Mas Sherlock voltara, certo?

John fitou o escuro do quarto e, como se a escuridão o fitasse de volta, ele duvidou se o moreno realmente voltara. Talvez houvesse sonhado com isso também. Talvez ainda estivesse sozinho e talvez sempre fosse estar.

Um medo característico abraçou seu peito de maneira sufocante e John teve que respirar fundo para não chorar como um garotinho. Estava sendo idiota?

Fechou os olhos e sentiu os toques do moreno em seu corpo. O hálito em seu rosto. O gosto em sua língua. A maciez contra a sua pele. Sentiu o moreno em si, tão real quanto deveria ser. Acalmou a respiração descompassada dentro do peito, mas o medo e a incerteza ainda estavam em sua cabeça.

Levantou da cama quente e arrastou os pés até o corredor. Estava com medo de continuar e tinha ainda mais medo de que o apartamento estivesse vazio.

–Ah, Sherlock – dissera com a voz embargada quando avistara a figura de cabelo cacheado em pé na cozinha bagunçada.

–Sim, John? – respondera o moreno sem parecer ao menos notar o tom angustiado na voz do loiro. – Estou no meio de um experimento importantíssimo. Por que você não está dormindo, ou coisa assim...

E todo o receio sumira de seu ser assim que envolvera Sherlock Holmes em seus braços, o abraçando como quando ele voltara. Voltara, de verdade. Era seu novamente e ele tinha certeza de que não era um sonho.

–Eu já disse que se você sumir de novo eu mato você, não disse? – o questionou.

–Disse, disse sim – Sherlock devolveu o abraço na mesma intensidade, encostando os lábios nos fios loiros. – Com o que sonhou dessa vez?

–Vi você caindo do St Bart’s de novo – sua voz era abafada pelo peito do detetive. – Quando acordei não sabia se o fato de ter voltado era verdade ou só mais um sonho.

–Que coisa mais idiota – ralhou, mas o aperto em volta do corpo de John aumentara. – É completamente ilógico que você tenha...

–Cale a boca, Sherlock – pediu. – Por favor.

A última coisa que precisava no momento era mais uma das observações brilhantes do detetive. Só o que queria era continuar daquela forma pra sempre, abraçado a ele como as coisas deveriam ser. Não precisava mais ter medo de nada.

–Eu não vou a lugar nenhum, John – o moreno sussurrara. – Nunca mais.