–O que infernos você está fazendo agora? – John perguntou com a voz levemente alterada.

–Tédio - apenas uma palavra, como se aquilo fosse mesmo uma resposta.

John suspirou de forma cansada. Procurou ignorar o moreno, mas as pernas compridas não paravam quietas em seu colo.

O tédio sempre fazia com que Sherlock mostrasse seu pior lado. O lado infantil e mimado. Não era nenhuma novidade as coisas que o tédio o fazia fazer. Os buracos e a pichação na parede da sala eram provas o suficiente.

John era quem mais sofria com suas crises. Era ele quem tinha que aguentar o som insuportável do violino enquanto Sherlock "compunha". Ele quem aturava os experimentos malucos na cozinha. Quem limpava a bagunça depois. Quem tinha que "distrai-lo" nessas horas – embora John pouco reclamasse sobre essa parte em específico.

Mas naquele domingo ensolarado, Sherlock parecia muito pouco disposto para fazer qualquer uma dessas coisas. Por isso deitara no sofá de maneira preguiçosa, postando suas pernas compridas sobre o colo do loiro que tentava ler um livro qualquer.

–Sinto falta da cocaína nessas horas – Sherlock disse de maneira irritada, recebendo um olhar repreensor dos azuis dos olhos de John. – Não me olhe assim, sentir falta não significa que eu usaria novamente.

–Eu não duvidaria – o loiro disse de forma amarga. – Não sei até onde chegaria pra acabar com o seu tédio.

Sherlock esperneou depois do comentário, levantando os pés na altura do rosto de John, por pouco não o chutando. Os pés frios bateram em suas coxas e acertaram o livro que tinha em mãos, fazendo com que ele voasse até o tapete da sala.

–O que deu em você?! – o loiro exclamou enquanto, por impulso, tentava segurar as pernas do moreno.

–Parece que você está andando muito com a Donovan – rosnou, mas seu tom continuava baixo. – O que vai dizer a seguir? Que eu mataria para sair do tédio?

Pouco depois, com o toque de John sobre si, Sherlock acalmou-se, permitindo que seus pés repousassem novamente sobre as coxas de John. Mas seus olhos claros continuavam a fitá-lo com hostilidade.

Olharam-se durante segundos. John entendera o que dissera e como havia sido idiota com o moreno. Não acreditava em nada daquilo, claro que não acreditava. Ele confiava cegamente em Sherlock. Sabia que por mais que a mente do mais alto se sentisse estagnada e sufocada em tédio ele nunca se voltaria para as drogas. Aquele pensamento chegava a ser ridículo, assim como os assassinatos.

–Olha, Sherlock...

–Estou entediado, John – o moreno o cortou. – Se vier com um discurso sobre o quanto você confia em mim, sou capaz de dormir aqui mesmo.

Sherlock sorriu como apenas ele conseguia e John se sentiu estremecer. E apesar de Sherlock conseguir ver o quanto o loiro confiava em si, ele continuava entediado e era trabalho de John tirá-lo daquela monotonia.