As Crônicas da Resistência escrita por Pec
O grande portão de ferro começou a se quebrar, suas dobradiças rangiam fortemente, do lado de fora ouvia-se o grito de fúria e entre o gélido salão o medo reinava. Um forte estrondo atingiu o portão, as paredes vibraram, a poeira se levantou, lascas de pedra saltavam dos rochedos a cada novo impacto, o som agudo dos cristais sendo trincados era como um grito infernal, o castelo não iria suportar tamanho tormento.
—Não consigo segurar o portão por muito tempo! - Gritou Belo aspirante forçando o grande portão contra sua abertura, com seus fortes braços e pernas fincadas no imenso piso de mármore, ele mantinha o portão fechado, suportando todos os impactos.
—Alguém pode me explicar... - Começou Dennys a berrar no meio de todos - Como todos os soldados, arqueiros e demônios da legião conseguiram nos encontrar?!
—Elvis! Seu imbecil! - Disse Gustavo encarando Elvis com raiva - Você disse que havia se certificado que a legião não conseguiria nos seguir.
—Eu me certifiquei, tenho certeza absoluta disso - Disse Elvis ao encarar o grande mapa posto sob uma mesa de pedra - Essa quantidade absurda de inimigos... Eles não vieram pela Rota das Tormentas, então como conseguiram nos encontrar se não nos seguiram?
—Temos um traidor! - Disse Marcos seriamente ao fincar sua adaga no desenho do castelo de cristal sobre o mapa - É a única resposta, Elvis jamais erraria em um cálculo dessa maneira catastrófica.
Nesse momento o salão silenciou-se, todos que ainda tinham forças assumiram posição de batalha, os olhares tornaram-se demônios, provocavam, ofendiam e ao mesmo tempo castigavam uns aos outros, repentinamente William apontou sua espada para Luisa e exclamou:
—Sua imunda! Você é a traidora! É a única que teria motivos para nos trair!
—Com quem pensa que está falando! - Gritou Luan ao se colocar entre William e Luísa e levantar sua espada em direção ao acusador - Você jamais vai machucá-la, NENHUM DE VOCÊS! Luísa não é uma traidora!
—Ele tem razão! - Disse Bigode antes de ligeiramente posicionar sua espada no pescoço de Martosael - O legionário é o verdadeiro traidor, nenhum de nós além dele conheceu e fez amizade com quase todos os que estão querendo nos matar!
—Seu tolo imundo! - Disse Martosael pausadamente - Eu trai a legião porque acredito na justiça que vocês estão querendo estabelecer... Todos os motivos que eu teria para ajudá-los morreram quando os deixei por vocês!
—Não esqueçam, meus amigos - Disse Thainá ao fitar sua esfera de cristal brilhante - Alguém envenenou vosso mestre e ferreiro, das pessoas que estavam com ele e ainda estão entre nós...
—ESTÁ ME ACUSANDO SUA ESQUISITA!? - Gritou Alex interrompendo Thainá e avançando em sua direção - Natan era meu amigo!
—Fica calmo idiota! - Gritaram Lucas e João ao segurar Alex - Você ainda está bêbado!
Longe do grande salão, em uma das torres do castelo, gélidas e tristes lágrimas escorriam no rosto de Estefany, debruçada em uma grande cama de cristal segurava a mão de Natan, tão fria quanto o inverno, ela olhava para seu rosto e sua alma fragmentava-se, seu espirito ficava a cada segundo mais enfraquecido.
—Ele... - Disse Pâmela de maneira entristecida ao entra no quarto - Ele ainda não acordou?
—Não... - Respondeu Estefany aos prantos, com seus olhos vermelhos, não conseguia parar de chorar, soluçava e gritava - Não sei, Pamy, se ele vai acordar ainda...
—Ele será vingado! - Disse Pâmela firmemente após colocar a mão sobre o ombro de Estefany e se retirar do quarto - Eu prometo!
—Espere! - Gritou Estefany ao olhar para o semblante de Pâmela parada no corredor - O que vai fazer?
—Vou terminar com isso - Respondeu Pâmela de costas para o quarto - Não temos mais para onde fugir!
Um tumulto se instalou no grande salão, muitos gritavam e acusavam uns aos outros, outros atiravam-se no chão sem esperança e abatidos, esperando o momento final.
—Isso está um inferno! - Disse Lima ao descansar suas costas em um grande pilar.
—Não, meu amigo - Sorriu Julio ao respondê-lo - No inferno tem cerveja, aqui não temos nem isso!
—Como consegue ficar tão tranquilo em um momento como esse? - Questionou Lima deixando sua espada no chão e sentando-se.
—Ah rapaz - Respondeu Julio sorrindo - A festa que tanto planejei está começando!
—Você o que? - Disse Lima assustado fitando-o seriamente.
—Veja! - Disse Julio apontado para Pâmela que caminhava em direção ao meio do grande salão - Não quer perder a introdução, não é?
—Seus idiotas! - Gritou Belo - Querem parar de discussão e pensar em um jeito de fugir!?
—Solte o portão Belo - Disse Pâmela ao fechar lentamente seus olhos.
—Enlouqueceu Pâmela! - Gritou Raphael - Se o Belo soltar os legionários vão invadir o castelo!
—Eu sei... - Disse Pâmela ao abrir seus olhos e encarar o feixo de luz solar que atravessava a janela da esperança - Isso termina hoje!
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