Oceano escrita por Mateu Jordan


Capítulo 17
Pandemônio




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Depois de sair da casa de Alma, encontrei Lylha e Mar perto dali e segui nadando ao lado deles. Aqui de cima, a superfície parecia algo tão inalcançável quanto o céu, mas eu não me importava mais, eu não tinha mais medo.

Adorei passar um tempo com eles, pois sempre tínhamos algo de diferente para fazer.

Primeiro fomos ver os botos nadarem, e para a minha surpresa, eles pareciam mudar de cor quando os poucos raios de sol penetravam na água e fazia-a brilhar. Eram lindos. Depois Lylha me levou para ver as ninfas, que por coincidência eram as mesmas criaturas que ficaram me olhando antes do Ritual do Pôr-do-Sol, e de perto são lindas, quase transparentes quanto a água do mar, e por final, fomos ver a fonte de Poseidon e Tritão.

A fonte era gigantesca, com um grande homem barbuda e imponente olhando para o além cinco metros mais alto que nós, e um homem um pouco mais baixo, que era Tritão, ajoelhado a seus pés, demonstrando misericórdia e confiança. A fonte assim como a mansão de Tritão era feita de pedra branca brilhante, e em alguns pontos da escultura, bolhas saiam e banhavam o mar. Era magnífica.

E depois do passeio fui para a superfície afim de achar Riba sentado na areia. Mas não. O sol quase se pondo dava ao lugar um aspecto de solidão, mas mal sabiam quem a via, ela era habitada por centenas de sereianos, um mais interessante que o outro.

Segui pelo bosque sozinha.

*****

Quando o 7º dia amanhece, já estou de pé e pronta para sair. Hoje o dia parece mais bonito e menos quente. O sol toma uma folga enquanto a tempestade faz o que quiser com Los Angeles, mas ainda não chove. Ainda não.

Chego à praia e parece que ela está bem movimentada hoje. Vejo vários sereianos aéreos caindo do céu em direção a areia e pousam com uma leveza que só uma pena pode fazer, e vejo alguns aquáticos saindo da água como uma cobra sai do esconderijo. Todos parecem bem, e parecem quererem ver a chuva torrencial que vai cair. Procuro por Riba, mas quem encontro é Alma, e seus três amigos – Bob, Ivy e Stut. Fora da água, os três sereianos parecem ainda mais bonitos, e Stut não tem nenhuma cara de ladrão e delinquente, até porque ele não é um.

– Olha quem está vindo – Stut me lança um sorriso e me cumprimenta com um aperto de mão. Percebo que quando sorri, duas covinhas se formam nos dois lados de seu rosto, e seu cabelo castanho está caído sobre a testa. Ele é bem bonito aqui fora.

– Por que todos estão aqui fora? – Pergunto, depois de cumprimentar todo mundo. – Tem algum novo sereiano?

– Não – Alma fala – Sempre nos amontoamos aqui na praia quando uma chuva enorme está para cair, pois para os aéreos é perigoso ficar sob as nuvens quando uma tempestade dessa está se formando. Então como é difícil ficarmos todos os sereianos juntos, tentamos sair da água sempre que uma tempestade se aproxima, para fazer companhia aos aéreos.

– Que legal – Digo. E eu achei mesmo. Riba deve estar aqui em algum lugar. Ao longe vejo Coral com seus dois comparsas e tento sentir alguma afeição por ela, mas é quase impossível sentir. Desvio o olhar e vejo Lylha do outro lado, surgindo do mar.

– Depois vejo vocês! – Digo, e abano a mão para eles. Todos dizem um “tchau” sincronizado, e eu vou em direção a Lylha.

Chego perto dela, e vejo sua camiseta cavada sem manga. Seu cabelo curtinho e ruivo está todo molhado, e ela tenta enxugar enquanto caminha até mim.

– Bom dia! – Ela diz me abraçando. Em tão pouco tempo, criamos um laço de amizade que eu nunca tive com nenhuma outra menina da minha cidade. Seu sorriso é tão verdadeiro que quero agradecer a ela por existir e por ser um sereiano como eu. – Tudo bem?

– Está tudo ótimo! – Digo. Conversamos um pouco e depois sentamos na areia ainda seca e esperamos por Mar, que está conversando com alguns rapazes um pouco mais atrás. – Será que vai ser uma bem feia? – Pergunto olhando para o céu negro.

– Com toda essa graça que o céu está fazendo? – Ela diz, olhando para o céu, como eu – Deve ser uma das piores do ano. Mas não me importo de ficar aqui fora com os outros sereianos, é até bom para relaxar a mente.

Para mim é muito mais relaxante ficar dentro da água, mas como Lylha já está em Oceano, a dois anos, – Pelas contas que eu fiz da sua idade (19) – Ela deve cansar as vezes de ficar sempre nadando. Mas ser sereiano é a coisa mais magnífica que tem. Sempre explorar lugares novos pelo mar selvagem. Nadar em oceanos sem preocupações maiores. Ser livre.

Depois de alguns minutos, Mar chega, me cumprimenta e nós três começamos a conversar sobre várias coisas como música, esportes, e lazer. Mar e Lylha adoram procurar por tesouros desde quando chegaram aqui, e prometeram me levar uma vez para fazer isso. Eu acho que arranjei os melhores amigos.

Quando dá 17:30h, a chuva ainda não veio, e como se fosse impossível, o céu está ficando mais escuro, mas nenhuma gota caí do céu. Pego meu celular e procuro por alguma chamada de minha mãe – nada.

Olho para os lados, afim de procurar por Riba que não apareceu aqui nenhuma vez. Tentei procurar por ele, mas era difícil no meio de tantos sereianos aéreos que tinham as asas quase todas iguais. Então desisti. Ainda íamos ter tempo para conversar, então relaxei.

Disse tchau para Lylha e Mar e fui em direção ao bosque. Fiquei triste por não poder ficar mais tempo para fazer companhia aos outros sereianos, mas não vou preocupar minha mãe nenhuma vez mais.

*****

Quando cheguei em casa, todos pareciam cansados de ficar ali dentro e eu perguntei se eles não haviam saído hoje. Me disseram que não saíram por caso do tempo – o que era meio óbvio, mas perguntei por educação.

Fui dormir, mas quando entrei no quarto, Logan estava encolhido na cama e me disse que estava se sentindo mal e que já havia vomitado várias vezes. Minha mãe havia dado um remédio a ele, mas a dor e a náusea eram tão fortes que ele tinha que ficar encolhido deitado.

Fui dormir preocupada com ele, mas logo percebi que ele já havia dormido e descansei também. Amanhã eu iria falar com Riba e voltaria para ficar com meu irmão. Ele era minha família também, e precisava de mim.

*****
Quando o dia amanheceu eu mal vi a luz do sol e dormi mais um pouco. Acordei Às 10hrs e fui ver se meu irmão estava bem. Ele ainda dormia, o que era ótimo, dei um beijo nele e saí de casa.

Quando olhei para o céu, me assustei, ele estava tão feio que desviei o olhar, preocupada.

As nuvens eram tão escuras quanto a noite, e alguns postes de luz estavam acesos. Eu precisava ir ver como estavam os sereianos.

Corri em direção ao parque, e o vento fazia as árvores do bosque parecerem sombras sobrenaturais. Corri entre elas para tentar sair daquele pesadelo e por fim cheguei a praia.

Várias barracas estavam dispostas em toda a praia, mas muitos estavam de pé olhando para o céu, ou conversando.

Percebi que muitos estavam preocupados e encontrei Lylha e Mar bem perto de mim.

– Olá, Leo – Eles me cumprimentaram.

– Oi... – Olhei para o céu, como eles estavam fazendo, e daqui onde estávamos parecia muito pior. – Nossa, está muito feio.

– Nem me fale – Disse Lylha – Ontem à noite mal dormimos com medo dessa tempestade. Quando ela cair vai ser duro...

Antes dela terminar, olhei para o lado, e meus olhos se perderam um instante em Riba. Ele estava lá. Lindo. Meu. Olhei-o dos pés à cabeça e quis abraça-lo naquele instante. Disse para Lylha que voltaria logo e fui em direção a ele.

Chegando perto dele, abracei-o e ele me acolheu bem. Sorriu para mim, mas não fez nada, nem disse nada.

– Não encontrei você ontem – Disse a ele – Onde estava?

– Fechando os portões da mansão de Zéfiro – Ele disse, me olhando. Seu olhar ainda pesava-me como chumbo. E eu gostava – Desculpe se te preocupei...

– Está tudo bem agora... – Eu disse, mas não estava tudo bem, pois logo depois que eu falei isso, um trovão retumbou no céu, e por um instante clareou-o. Seu barulho pareceu assustar todo mundo, e logo depois veio o pior. A chuva.

Ventos chegavam até nós como navalha cortando papel. Era frio e cortante. Os pingos de chuva pareciam pesar quilos em nossos braços, e cada vez mais chovia mais forte.

Foi então que olhei para Riba e vi que ele me olhava. Todo mundo tentava entrar em uma barraca que estivesse na frente, mas ele não. Ele queria algo. E eu queria também.

Seria um momento perfeito para um beijo, se meu celular não estivesse tocando e vibrando no meu bolso esquerdo. Eu tentei não ligar, mas ele parecia vibrar e tocar mais alto, superando o barulho da tempestade.

Quando peguei o telefone e vi o nome Mãe, tive vontade de ignorar, pois aquele momento iria ser único, mas resolvi não deixa-la falando sozinha e atendi.

O pandemônio estava no auge aqui na praia e eu não conseguia ouvir nada. Trovões retumbavam no céu e a chuva caía tanto que a praia parecia um lago. Várias pessoas correndo, e por um momento pensei que o caos estava se formando e ficando sério, mas voltei a atenção ao celular.

Não conseguia ouvir minha mãe, por isso coloquei no viva voz do celular. Riba se aproximou de mim, e estávamos tão perto agora, tão perto...

Congelei ao ouvir a voz da minha mãe desesperada. Ela parecia estar muito nervosa.

– Leona? – Ela dizia – Leona? Você precisa voltar para o apartamento agora... seu irmão acabou de desmaiar... ele não acorda... precisamos ir para a casa... seu pai também não está bem... acabou as férias, vamos agora.

Por um momento eu queria rir e dizer que ela estava louca, ou poderia imaginar que tudo isso havia sido um sonho. Mas a chuva caia tanto em mim que eu não podia estar dormindo, e os olhos de Riba, ah, os olhos de Riba... eu olhei para ele e quase comecei a chorar. Eu não sabia o que fazer. Não sabia.

Eu poderia jogar o celular no mar e fingir que havia morrido, e minha mãe nunca iria me encontrar mais, assim poderia viver minha vida com Riba e em Oceano. Mas por outro lado, meu irmão estava desmaiado, será que desde quando eu deixei-o dormindo e vim correndo para Riba? Me sinto uma péssima irmã. Me sinto um nada.

– Me desculpe Riba... – Foi a única coisa que eu disse.

Depois disso virei-me e corri em direção ao bosque, mas consegui olhar para trás e ver Riba na mesma posição me olhando de boca aberta. Ele estava decepcionado.

Continuei correndo e dessa vez eu não olhei para trás. Senti a chuva fria me molhando, mas no meu rosto, a verdadeira tempestade de lágrimas quentes caía como se eu fosse um céu desmoronando.


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Notas finais do capítulo

[LEIAM DEPOIS QUE TERMINAREM O CAPÍTULO]

Pessoal, queria pedir para quem acompanha a fic, comentar o que está achando, se está gostando ou não, assim eu terei uma base do que devo melhorar, e do que devo continuar. Se vocês puderem comentar nos capítulos, ou em qualquer outro lugar, eu ficarei muito agradecido.

Obrigado pela atenção.



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