O clima estava bem pesado naquela manhã. Natsu se remexia na cama procurando o calor do corpo de sua maga estelar ao lado direito da cama. Tateava cada canto do colchão, mas a única coisa que acabou encontrando, foi a montanha de lençóis. O calor já havia desaparecido há algum tempo.

Acabou lembrando totalmente sem querer, a discussão que teve com Lucy. Levou as mãos no rosto, tampando os olhos, descrente de seu feito. Suspirou e com toda energia contida em seu corpo, decidiu levantar e encarar os fatos.

O ciúme era destruidor.

Andou pela casa procurando por ela, acabou por não achá-la. Happy estava ainda deitado adormecido na grande e fofa almofada ao lado da cama. Os olhos procuraram algo que desse pistas de onde Lucy poderia estar. A briga que tiveram havia sido tão devastadora, que revolvera que nunca mais — era uma promessa que havia feito a si mesmo — iria, pelo menos, não deixar qualquer suspeita de que estava com ciúme.

Ele pensava isso, exatamente porque nunca conseguiria não ter ciúme da loira. Era algo impossível para Natsu.

Ninguém pode tocá-la. Ninguém pode olhá-la da mesma forma que ele. Ninguém pode se afogar em seu olhar da mesma forma que ele. Ninguém.

Noite passada, o casal recente e bem escandaloso, digamos, trocaram farpas exatamente por tais motivos. Como o relacionamento amoroso não começara há tanto tempo, tanto Natsu quanto Lucy deveriam ao menos se entenderem. Afinal, eles continuavam amigos, porém, com a vantagem de proferir belas frases de "eu te amo" cada segundo do dia.

Era assim nos primeiros dias, só que Lucy não se conformava com a possessão de Natsu. Achava fofo, mas não! Em excesso nada é bom.

Em cada parte que o ruivo andava da casa, tinha um perfume inconfundível de Lucy impregnado nos móveis. Ele queria criar vergonha na cara e procurá-la de vez, pois Natsu não queria sentir somente o perfume dela, queria tê-la por perto e sentir seu perfume da fonte.

Qualquer coisa que ele fizesse, poderia sim mudar a vida deles. E se houver mudanças, que fosse pra melhor e não uma discussão boba por ciúmes.

Apanhou seu precioso cachecol — ali também permanecia o perfume de Lucy, de tanto que ela usava —, acordou Happy e o fez ir com ele ao centro de Magnólia. Ele faria uma surpresa para Lucy. Ela não ficaria nervosa com ele pelo resto da vida... ficaria?!

— É esse, Happy — ele disse, entusiasmado.

— Tem certeza, Natsu? Tem esse aqui também e...

— Sim, eu tenho — Natsu interrompeu, sorrindo ao ver que, por mais simples que fosse, Lucy iria amar a surpresa.

Naquela manhã em especial, ele deixou de ir na Fairy Tail, sabendo que Lucy — por mais que esteja nervosa e/ou magoada, não deixaria de marcar presença.

[...]

A tarde chegou, e com ela, o nervosismo. Dentro do apartamento de Lucy estavam Natsu e Happy na espreita, preparados para qualquer sinal de que Lucy tivera chegado. A maçaneta se mexeu, Natsu levantou-se da cadeira da escrivaninha e foi até ela. As esperanças eram poucas, mesmo assim, as expectativas eram maiores ainda.

Do bolso Natsu tirou uma caixinha contendo um laço cor-de-rosa por cima dela.

— Lucy... — ele começou meio sem jeito — Eu sei que você ainda tá brava comigo, eu sei que sou ciumento às vezes. Mas você sabe que eu te amo e não quero que nada aconteça com você.

Não foi necessário mais diálogos após a abertura da tal caixinha.

— Isso é um presente e um pedido de desculpas também e...

O abraço foi inevitável. Os olhares se cruzaram sem misericórdia, é como se conversassem por eles, era uma bela vista. O amor realmente era incrível.

Um colar em forma de chave dourada, provavelmente de ouro, fora colocado no pescoço da loira. Os detalhes da chave representava cada chave que Lucy possuía. Foi com certeza o melhor presente que ela já ganhou.

Apesar de Natsu estar quebrado, sem nenhum dinheiro disponível, valeu a pena ver aquele lindo sorriso estampado no rosto da maga estelar.

— Desculpe, Happy. Hoje você não vai querer dormir aqui, se é que me entende. — Lucy sorriu.

— Eh?

— Hoje será uma noite para validar as desculpas.

Lucy estava certa, afinal, a noite seria longa.

Muito longa.

Não me importa mais até quando voltar
É, eu não vou mais me importar
Qualquer coisa faz sua ideia mudar
Quem sabe a gente pode se entender
Daqui a pouco é tarde demais,
Mas isso é entre eu e você.