Desapegado escrita por AyalaOM
Notas iniciais do capítulo
Limites.
“Você está sem sorte. E sem o motivo que tinha para importar-se.” ─ U2
Dois dias. Esse foi o meu limite final. Dois incríveis dias. Incríveis? Não, hm, não. E bem… não são exatamente dois, já que o segundo ainda está transcorrendo.
O despertador tocou me acordando para mais um dia. Bati nele com raiva. Não por acordar ou por ele tocar a mesma melodia irritante por anos, mas por causa dela.
Eu não liguei, ela não retornou. A loja continuava fechada e ontem eu fui muito patético ao esperar quinze minutos encarando os trabalhadores e a placa que obviamente indicava uma reforma.
─ O senhor precisa de ajuda? – Um homem de meia idade perguntou-me calmamente. Ele vestia um uniforme cinza com a logo de uma empresa de materiais de construção. – A dona disse que voltaria em breve. Lá pelas três da tarde.
─ Não. Hm… e sabe se vai abrir amanhã? Digo, se ela virá aqui amanhã?
─ Mesmo horário de hoje, moço.
─ Obrigado.
E depois disso eu ainda permaneci encarando o balcão que estava sendo desmontado como se isso pudesse fazer com que ela se materializasse ali, nesse exato momento.
Então me forcei a caminhar porque já estava constrangedor o suficiente e eu não poderia conviver com mais um funcionário dela me perguntando se sou retardado – claro, em outras palavras mais “educadas”.
Comer a comida de sempre, do restaurante de sempre nunca foi mais monótono. Eu não sentia o gosto do macarrão de primeira linha e nem do vinho, não comia direito, cogitando onde estaria ela.
São três lojas, certamente ela está em uma delas, mas eu não vou questionar Bruna sobre os endereços – que ela encontraria tão facilmente para mim – seria ainda mais constrangedor e pior, perturbador.
Isso, penso bufando ao levantar da cama, se ela realmente pesquisasse-os para mim e confirmasse. O que eu duvido que ela faria.
E novamente sem escapatória, porque eu certamente não ligarei novamente, entro no chuveiro sentindo o mal-humor moldar a minha feição.
Ligo o registro do chuveiro e deixo a água tentar lavar junto com o sono e o meu cabelo, um pouco do meu humor ruim, tentando melhorar a ponto de conseguir pensar coerentemente.
Saindo do banheiro com uma toalha na cintura eu sei que já decidi pelo contrário faz tempo.
Eu vou ligar. Penso ao secar-me não tão calmamente quanto pretendia. A adrenalina acelerando meus movimentos e meu coração. Não. Tento retrucar-me, mas não está adiantando. Eu vou. Tento decidir, afinal não é isso que eu deveria ter feito desde o início? Não posso. Tento pensar coerentemente e listar mentalmente todos os motivos com nome e sobrenome pelo qual eu não deveria estar fazendo isso. Mas a verdade é que eu… eu realmente queria ligar.
Mas se eu fizer isso, se eu tomar esse pequeno passo… eu estaria entregando a resposta no final? Por que estou me questionando tanto sobre isso? Novamente me sinto como se fosse uma garotinha amedrontada e eu certamente não sou a garotinha. Amedrontado talvez.
Encosto-me confortavelmente na cadeira do meu escritório, olhando o relatório sem realmente sequer lembrar do que ele dizia. Quando me tornei relapso dessa forma? Por que de novo isso? Eu não deveria me desapegar?
O telefone celular está ao lado da folha, quase me chamando para a ligação que eu deveria ter feito anos atrás. A mesma ligação que estou quase desistindo de fazer hoje.
E dessa vez eu duvido que a Bruna vá me ajudar com isso, bem… ela está… irritada desde que a deixei em escanteio. Afinal, qual o meu problema?
Deixando esses problemas de lado – um de cada vez, por favor – pego o telefone decidido a enfrentar isso de uma vez. Prioridades primeiro. E esta ligação parece uma prioridade, uma dessas que você não pode correr.
O número dela está salvo na minha agenda agora, retorno a ligação colocando o aparelho, em seguida, pressionado contra a minha orelha.
─ O número chamado está fora de área ou desligado.
Movo meus dentes apertados com raiva e tento mais uma vez.
─ É impossível completar a ligação. Tente novamente mais tarde.
Quase atiro o celular contra a parede. Forço-me a respirar fundo algumas vezes antes de tentar novamente.
─ Alô?
Ela atendeu.
Continua!
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Será que ele finalmente está admitindo o que realmente sente? Ou só está intrigado e curioso sobre esses novos sentimentos? Espero que tenham gostado!
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Beijinhos ^-^