Diamond

Meu cérebro ainda tentava processar todas as informações sobre tudo que estava acontecendo. Radius tinha razão, a história de Moony parecia uma das antigas lendas de lobos.

Quer dizer, o quão bizarro tudo isso é? Quais as probabilidades? Radius e Moony não apenas se conhecem – eles cresceram como irmãos. Enquanto eu perdi minha irmã, Radius ganhara uma. O destino possui um senso de humor estranho e sádico, eu diria. Mas de qualquer forma, era maravilhoso que isso realmente estava acontecendo. Era uma nova chance que todos teríamos de viver com Moony, da forma que nunca pudemos.

Nós três corríamos em silêncio. Eu me encontrava na frente, com Radius e Moon logo atrás de mim. A loba havia se tornado muito bonita – seus pelos tinham um tom cinzento com uma pitada de castanho. Era similar ao pelo de Mike, porém mais escuro. Seus olhos amarelos também eram lindos, mas não eram fortes e brilhantes como os de papai e Midnight.

Middy... Eu estava ansiosa com a reação de todos em relação a essa nova descoberta, mas a dela em especial. Tudo que eu queria era nossa simples amizade de volta. Não sei se a volta de Moony consertará as coisas, mas eu espero que ao menos as alivie.

Comecei a sentir o cheiro familiar de nossa alcateia. Estávamos nas margens do território, próximo ao lago-muito-pequeno.

― Chegamos. – anunciei.

― É tão esquisito como ainda consigo distinguir esse cheiro. – Moony divagou, mais para si mesma do que para nós.

Observei-a por alguns segundos. Ela estava nervosa, suas patas um pouco trêmulas. Aproximei-me e encostei nossas testas.

― Como se sente? – perguntei.

― Ansiosa. Nervosa. Eu não sei, isso tudo é tão confuso e inacreditável. – sua voz quebrava um pouco, ela estava prestes a chorar. – Eu nunca pensei que fosse acontecer, que iria rever minha antiga família, a qual convivi por tão pouco tempo.

― Vamos ficar aqui por um tempo, okay? Apenas em silêncio.

― Tudo bem. – a loba me encarou com seus olhos cheios de lágrimas e se sentou.

Radius foi até seu lado e a confortou, abraçando-a.

Franzi o cenho, até que me dei conta de que ele possuía um melhor relacionamento com ela do que eu. Eles cresceram juntos. Eles eram irmãos.

Ok, isso era realmente muito confuso.

Ficamos ali os três, num completo silêncio. Apenas o barulho da brisa ou o canto dos pássaros podia ser ouvido. Eu admito, era reconfortante.

― Acho que estou melhor. – a voz de Moon pôde ser ouvida.

Assenti. Não havíamos ficado ali por tanto tempo, embora parecesse que sim. Uivei para chamar a atenção de quem quer que estivesse no território, mas eu sabia que nenhum dos lobos tinham tarefas para hoje.

Enquanto uivava, tentei pensar que meses atrás estava vindo dar a notícia de que Radius estava vivo. Agora, mais uma surpresa. Ri em meus pensamentos. Ao passo em que meu uivo se tornava mais baixo, percebi que Radius e minha irmã também estavam uivando comigo. Sorri.

― Alguém deve aparecer logo. – comentei e os lobos concordaram em silêncio.

Poucos minutos depois, pude sentir com clareza os cheiros de minha mãe e meu pai. E lá estavam eles trotando em nossa direção.

― Oh, olá, querida! – mamãe cumprimentou ao nos ver, enquanto papai observava curioso a loba ao meu lado. Ele provavelmente sentia algo familiar vindo dela, claro que sentia.

― Oi, mãe. Oi, pai. – falei ao mesmo tempo em que Radius também os cumprimentou.

Moony parecia um pouco desconfortável. Será que estava se lembrando de quando era uma filhote? Era uma possibilidade. Senti pena dela e a toquei levemente com a cauda. Apesar de tudo, também me orgulhava. Ela era uma loba muito forte que conseguiu seguir em frente mesmo com o que havia lhe acontecido.

― Vejo que trouxeram uma amiga, não que isso seja um problema. – papai parecia tentar sondar o que estava acontecendo. Ele não parava de encarar Moony.

Respirei fundo.

― Ela não é simplesmente uma amiga.

Meus pais me olharam confusos. Virei meu olhar para Moony, que também parecia tomar coragem para lhes revelar a verdade.

― Quem é ela, então? – mamãe questionou, fitando sua filha com mais atenção.

A loba tomou um passo à frente para se aproximar deles. Nada daquilo estava sendo fácil, e parecia estar acontecendo num piscar de olhos.

― Bom... Imagino o quão chocante isso será para vocês. – minha irmã deu início ao seu... discurso? – Mas sou eu, Moony White Fang, a filha perdida de vocês.

Sua voz falhava e seu corpo tremia. Observei atentamente as reações dos meus pais. Seus olhares se suavizaram num instante. As orelhas foram retesadas. Ambos abriram levemente a boca, talvez tentando dizer algo, ou buscando entender o que estava se passando.

Era somente um palpite, pois foi como eu me senti. Mas eles foram pegos de surpresa, já eu, nem tanto assim. Eu busquei por Moon. Eles receberam a notícia sem nenhum procedente. Nunca esperariam por algo assim.

― Moon... Minha pequena Moon, é você? – mamãe se aproximava para abraçá-la, os olhos castanhos cheios de lágrimas. Admito que os meus estavam começando a ficar molhados também.

As duas se abraçaram fortemente, enquanto papai chegava perto, ainda muito surpreso com tudo. Não pude conter meu sorriso. Nossa família poderia ser, enfim, reconstruída.

― Como você pode estar viva, querida? – papai perguntou, esfregando seu focinho no dela. – Nós sentimos tanto sua falta... Já faz tanto tempo desde que você... se foi.

― Eu também senti a falta de vocês. – ela fungou. – Eu vou explicar tudo, mas queria que meus outros... irmãos estivessem aqui. – ela disse a palavra “irmãos” com um certo afeto, sorrindo de canto.

― Tudo bem. – o lobo negro sacudiu a cabeça e uivou, de forma a chamar o resto da família. Era um uivo calmo e grave, mas que demandava certa urgência. Um uivo típico do papai.

Ficamos os cinco sentados nos entreolhando. Mamãe e papai se negavam a sair de perto de Moony, acariciando-a e abraçando-a. Eu estava imensamente feliz, e ficaria mais somente depois de que nossos irmãos a vissem.

― Como você está? – Radius perguntou-a.

― Estou... aliviada.

Ele depositou uma lambida em sua testa, provocando feições intrigadas nos focinhos de meus pais. É claro, eles não sabiam nada do que havia acontecido com Moony, e lógico, nunca iriam pensar que ela e Radius tinham algum tipo de relacionamento fraterno.

Papai então uivou mais uma vez.

― Se acalme. – eu falei. – Eles vão pensar que é uma emergência.

― É uma emergência. – ele retrucou.

Encarei-o e dei de ombros. Ele estava certo, de alguma forma.

Então, Mike e Nix chegaram juntos onde estávamos. Soltaram um latido em forma de cumprimento. Lati de volta, sorrindo um pouco. Moony os observava com enorme curiosidade. Eles eram seus irmãos que ela não via há anos. Lobos com os quais ela dividiu tantas pequenas memórias... Mal conseguia imaginar o que deveria estar se passando em sua cabeça.

Midnight logo chegou também, com sua habitual carranca no focinho. Ela se sentou próximo à mamãe, e rapidamente notou a presença da loba estranha em nosso meio.

― Quem é essa? – a loba negra não hesitou em perguntar.

― Também queremos saber. – Mike deu de ombros.

Moony novamente tomou a liderança da situação. Ela soltou um longo suspiro e começou a falar.

― Vou esclarecer todas as dúvidas. Sou Moony, a irmã de vocês. Talvez não se lembrem bem de mim, mas vou contar tudo o que aconteceu. Como eu sumi, como estou viva e como estou aqui.

Ela explicou tudo, detalhe por detalhe. No fim, todos estavam chocados e muito emocionados. Era muita informação para ser absorvida em tão pouco tempo. Todos a abraçavam e a lambiam. O nervosismo dela havia finalmente ido embora. Era fácil perceber que ela estava se sentindo confortável entre nós. E isso era ótimo, pois é assim que deveria ser.

Ela faz parte de nossa família. Aile.

Após muita comoção e lágrimas, estávamos um pouco mais calmos, já na caverna. Era uma linda tarde e o sol logo iria se pôr. Todos conversaram com Moony, ou ao menos tentaram. Não seria possível tentar compensar uns dois anos em apenas algumas horas, mas teríamos muito tempo para fazer isso.

Eu estava deitada na entrada da toca, com Radius aconchegado ao meu lado, mordiscando minha orelha. Podia observar Moon e Midnight falando bastante, mas não me preocupei sobre o assunto. Elas sempre foram bem unidas. Então, Mid olhou para mim, e eu senti os pelos da minha nuca arrepiarem.

― Venha aqui. – ela chamou e eu me levantei. Podia sentir todos os lobos da família nos observando.

― O que foi? – perguntei, um tanto nervosa. Ficar perto de Midnight me deixava nervosa.

Moony se afastou um pouco de nós, e Middy continuava me fitando com seus brilhantes olhos amarelos.

― Eu... queria pedir seu perdão. – ela abaixou a cabeça.

O quê?

― Eu sempre fui muito rude com você. O que aconteceu com Moony não foi sua culpa, mas eu nunca quis aceitar. Acho que era mais fácil para mim culpar alguém do que apenas... entender. Venho pensando nisso há algum tempo, porém toda essa situação... Não pude esperar mais. Eu realmente não sei o que te dizer, só... me desculpe, irmã.

Acho que arregalei um pouco os meus olhos. Aquilo fora totalmente inesperado para mim. Suponho que todos estavam espantados também. Sorri e olhei para a loba negra, que mantinha sua cabeça abaixada. Sem pensar duas vezes, abracei-a. Havia esperado muito tempo por isso.

― É claro que eu te perdoo, Middy. Você tinha suas razões, mas tudo passou agora. Você é minha irmã e eu te amo. – senti a milésima lágrima do dia escorrer pela minha bochecha, enquanto ela me abraçava de volta, mesmo que um pouco confusa.

― É sério? – sua voz saía fraca.

― Sim, Midnight. – esfreguei nossos focinhos e pude senti-la corar de leve.

― Bom, eu também te amo.

Continuamos nos abraçando, e quando me dei conta, todos estavam uivando ao nosso redor. Olhei para Moony, que ainda estava um tanto perto, e ela apenas sorriu para mim. Ela acabou de voltar e as coisas já mudaram bastante.

Eu estava imensamente feliz. Nossa família finalmente estava na mais perfeita união, e era um sentimento que não sentia há tempos.