Parando bruscamente no caminho em que seguia, Emílio fitou o nada, como se estivesse se concentrando.

– O que foi?

– Shh!- Emílio repreendeu a pergunta da Ninroh de Lobo.- Um cosmo hostil se apoderou do Santuário...está ocupando tudo, até mesmo a entrada de Cocytos...

– Mas o que isso significa?- André indagou, com olhar claro de preocupação. Ele também sentiu. O cosmo gentil e caloroso de Gaia havia sumido.

– Significa que Gaia passou o controle do Santuário para Éris!- Uma voz informou. Era Rian.

– Mas isso é impossível! Isso só aconteceria se Gaia...

– Se Gaia morresse! Exato!- Ele disse em voz pouco preocupada.

– Não...não pode ser verdade! É mentira! É mentira!- Emílio bradou, voraz. O pequeno Dragão era o Tenma mais fiel à Gaia. O mais próximo dela. O mais íntimo. O melhor amigo...

Seus joelhos não puderam mantê-lo de pé; não com o peso da tristeza e amargura que estavam sobre ele.

– É mentira!- Esbravejou de tal maneira que Cocytos ecoou com a voz do Tenma enraivacido.

– Pergunte a Gabriel de Cassiopéia, e terá sua conclusão!

– GABRIEL?!- Todos gritaram em uníssono. Porque raios, o Tenma mais honrado mataria a deusa?

– Gabriel...- Emílio murmurou pra si mesmo antes de disparar diretamente ao Santuário, sem sequer olhar pra trás.

Subindo as escadarias em pés firmes, e olhos que antes verdes pelo poder do dragão, tinham agora um brilho avermelhado de fúria, ódio e incredulidade. Aquele nó que havia se desatado dentro dele expôs sentimentos antes guardados com a proteção de cofre. Gaia possuía a idade deles, entre quatorze e quinze anos, era uma adolescente com uma vida inteira pela frente. Emílio nunca admitiria, mas agora era evidente: Gaia, era mais que uma simples amiga para ele.

– Sasha, eu irei vingá-la!- Sasha, o nome verdadeiro da deusa, cujo apenas Emílio sabia, tinha o som de uma arpa pra ele. Ele mataria Gabriel. Sem piedade!

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Quando o resto do grupo chegou, eles viram o Tenma de Dragão suspendendo Gabriel no ar. Os dois possuíam quase o mesmo tamanho, mas a raiva dera à Emílio, uma força desconheida

– Emílio!- Rafael chamou, porém foi ignorado.- Isso não o fará se sentir melhor!

– Fará sim!– Ele gritou em voz imponente.- Gaia era uma deusa! Irá para os Campos Elíseos! Ele irá diretamente para os Hectares Ardentes, lugar de assassinos como ele!

– E-Emílio...deixe-me...explicar!- Gabriel gritou quase sem fôlego e sentiu a mão do Dragão apertarem ainda mais o seu pescoço.

– S-Sasha...está viva!

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Soltando bruscamente o Tenma de Cassiopéia no chão, uma esperança brilhou nos olhos de Emílio.

– Me explique! Já!- Emílio teria pego o Tenma pelo pescoço outra vez, se não fosse pela intervenção de uma certa loba:

– Ele precisa de ar para falar, Emílio...- Alertou.-...continue Gabriel.

Olhando amedrontado para o pequeno Tenma de Dragão de quem tivera sempre caçoado pelo tamanho, que agora, quase o tinha matado, ele começou a dizer, em voz trêmula:

– Gaia tirou a própria vida...- Não teve tempo de continuar, Nicole o pegou pelo pescoço, erguendo bem mais alto de onde o Dragão o erguera:

– Eu te dou espaço para falar, e você diz blasfêmias?!

– Calma loba! Acho que sei do que se trata!- João Victor gritou, das escadas.- Ela mencionou algo sobe o Arayashiki?

Gabriel ergueu com dificuldade a mão fazendo sinal positivo:

– Largue-o. Ele não está blasfemando!

Curiosa à respeito da palavra de difícil pronúncia, Nicole apenas abriu a mão, deixando o Tenma de Cassiopéia se espatifar.

– Arayashiki, João? Tem certeza que Gaia faria algo assim?- Rafael indagou, duvidando.

– Mas que raios é Arayashiki?!- A Ninroh de Lobo bradou. Odiava ser a única a não saber das coisas, além disso, a quietude de sua mestra Flávia, indicava que ela também já sabia o que era. Emílio e André também.

– Arayashiki, é o oitavo sentido humano. Como sabe, temos o sexto, que é o nosso cosmo, o sétimo, que é o cosmo de um Deus, e o oitavo é despertado quando se cria coragem no último instante da vida, fazendo com que consigamos chegar vivos ao império de Hades.

– Gaia puxou a adaga das minhas mãos- Gabriel informou.- Ela despertou o Arayashiki, fazendo algo que eu nunca conseguiria!

Nicole ouvia intrigada toda aquela história. Se tivesse estudado mais nos treinos como Flávia lhe sugeria...mas não era o momento de se pensar nisso!

– Temos de ir ao Mundo dos Mortos!

– Mas isso não é tudo! Éris era pior inimigA de Gaia. Quem seria o pior inimigO?

– Hades...- Rafael respondeu. Desde os tempos mitológicos, Gaia e Hades eram duas presenças completamente mortais e adversárias. Com a união de Éris e ele, os Tenmas e Ninrohs estavam em sérios apuros.

– Gaia me deixou um recado- Gabriel desfez o silêncio sepulcral do ambiente.- Disse que com a poça de sangue, deveríamos gotejar nossas sapuris nele, apenas dessa maneira conseguiremos chegar à Hades sem precisar cometer suicídio.- Ele terminou apontando a roda de sangue sagrado de Gaia, cujo corpo se desfez em cosmo.

Cada um molhou seu dedo naquela substância tão vital, e com uma delicada gota, quase invísivel e insignificante, jogaram nas sapuris, que tomaram um brilho dourado e se energizaram, fora do corpo de seus donos.

– Esse potencial é...

– Divino.- Gabriel completou a fala de André. Quando vestiram as sapuris, vieram as surpresas: Elas completavam seus corpos, dando mais proteção, ainda que não tão grande, do que as sapuris antigas.

– Não podem perder tempo!- Uma voz grossa ecoou no Salão de Gaia.

A figura trajava uma sapuri, no mínimo, dos deuses. Sendo colorida e magnífica, brilhante como diamante lapidado:

– Quem é você?!- Emílio gritou.

– Eu sou Harento de Cachorro, um dos signos chineses!

– Você é um Tenma de Diamante?!- Até André estava boquiaberto com a cena.

– Sim. E vim lhes alertar!

– Sobre o quê?

– Sobre os Tenmas de Diamante que foram comprados por Hades, além dos espectros!

Continua...