Reflection. escrita por Chanel 2


Capítulo 2
Jogue cartas comigo.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! e obrigada a quem comentou e favoritou.



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Entrei na sala da Karina, ela estava escrevendo em um papel, talvez era um novo paciente fazendo inscrição, o impressionante do Muller é que sempre chegava dez pacientes novos a cada dia, mas só cinco entravam, por isso nunca falimos, pigarrei pra que ela me notasse, ela me olhou com aqueles olhos azuis e deu uma leve mexida no cabelo curto.

– Pode entrar Jade, o que foi? Parece que viu fantasma! – Ela exclamou.

– Tá tudo bem. – Eu menti.

– Hoje você não vai dar comida pro Ricardo Cobreloa. – Ela disse.

– Admito que estou dando glória Deus por essa notícia. – Tive vontade de rir, mas não era uma boa hora.

– Você não gosta dele? – Ela perguntou enquanto terminava de escrever no último papel.

– O Cara matou dois garotos e três mulheres, quer que eu abrace e beije-o? – Ironizei.

– Você trabalha a dois anos aqui, será que isso vai te atrapalhar? – Ela perguntou, foi uma pergunta tensa de responder.

– Não.

– Todos os doentes e assassinos assustam, eles não deviam estar presos aqui, e sim mortos, essa é a segunda chance deles, você não tem que demonstrar medo.

– Tudo bem. – Respondi.

– Está na hora de dar o almoço. – Ela disse, olhei pro relógio, sai da sala e dando um tchauzinho com a mão, reuni todo o almoço em um prato e um suco de laranja, coloquei na bandeja e levei o almoço até o paciente.

O Paciente comia feito louco, deixei a bandeja perto dele, e imediatamente fechei a sela, como não tinha nada pra fazer, resolvi dar uma olhada, eu trabalhava a dois anos naquele lugar, eu conhecia cada parte dele.

Os meus pés rastejavam no chão de mármore, desci pelas escadas de mármore, todo chão era de mármore, menos o começo do internato, entrei no elevador e apertei o botão da garagem, demorou uns vinte segundos até chegar lá, cheguei na garagem, de longe eu consegui ver o carro de Vicki, era vermelho, passei por ele e fui até a pracinha que ficava perto do internato, olhei de cima a baixo e era muito grande, claro, até por que colocar trezentas e trinta pessoas em um prédio não é fácil, principalmente loucos e assassinos, o edifício foi construindo em 1989, aquele lugar era histórico, eu admito que quando comecei a trabalhar lá me senti em um filme de terror, temos quarenta ar condicionados, e era um pouco sombrio, era escuro, era um lugar solitário, ando por aquelas escadas tantas vezes ao dia, mas sempre parece que tem um paciente atrás de mim, esperando pra me empurrar, e do lado da escada tinha a porta do SOS, a porta do SOS é feita de metal e o trinco é eletrônico, só quem pode abrir é as enfermeiras e coordenadoras, era um trinco feito de digital, se a digital não batesse, não poderia abrir, é bem complicado, eu adoraria ver o horror que é aquela sala, mas eram tantos gritos, tantos choros, tanta loucura, tanto alvoroço que pensando bem, ninguém queria entrar naquela sala.

O Relógio bateu as três da tarde, eu tinha que observar os pacientes enquanto eles lanchavam, me arrepiei dos pés a cabeça quando vi o Cobreloa sentado na cadeira e lanchando, sentei ao lado dele, percebi o cigarro que estava pendurado no canto de sua boca.

– Quer um? – Ele me perguntou, enquanto estirava o cigarro.

– Não, nunca! Eu não fumo. – Respondi rapidamente.

– Então, Jade, esse é seu nome? – Ele perguntou, balancei a cabeça positivamente. – Hum, quantos anos tens? – Ele perguntou.

– Vinte.

– Eu tenho vinte e quatro. – Ele respondeu, olhando pro meu rosto.

– Vem cá, por que você tá falando comigo? – Perguntei brutamente, franzindo as testas.

– Não sei responder. – Ele revirou os olhos. – Os guardas não são divertidos pra conversar, e todos aqui são idiotas, ou doentes. – Completou.

– Então você é um idiota e um doente. – Fui curta e grossa.

– Não coloque palavras na minha boca, você não sabe de nada, você está com medo de mim. — Ele respondeu, sua face ficou de bravo, me virei para trás.

– Quem garante que eu estou com medo de você? – Coloquei minha mão na cintura e enfrentei ele.

Ele perdeu a moral dele.

– Eu sei que você tirou a vida de três mulheres...

– Ah, e você acredita nessa história? – Ele me interrompeu.

– Claro, por qual razão você estaria nesse lugar infernal? – Perguntei, tentei não demonstrar medo, não queria que ele achasse que eu era fraca.

– Bem. – Ele disse enquanto tirava o cigarro da boca e mordia o lábio inferior. – Eu estive reparando muito em você desde que eu...

– O Que quer dizer “reparando muito em você”? – Questionei, eu ainda estava me fazendo de forte.

– Eu estive te observando, observando você.

– Por quê? – Questionei, com a mão na cintura.

– Bom, V-Você é linda. – Ele disse, com aquele sorriso que deixar qualquer uma louca.

Tentei continuar forte, mais aquilo tocou meu coração, eu tentei também não arregalar os olhos mais as bochechas já deviam estar vermelhas e coradas, Cobreloa notou e deu mais um sorriso, o sorriso dele era tão belo.

– Você é linda, mas não fala comigo, sempre fala com os outros pacientes, sempre é fechada comigo, no dia que foi me entregar o almoço gaguejava e corria feito louca, gostaria que você me conhecesse gostaria que você não tivesse medo de mim, e eu sei que você tem medo de mim, eu sei, não adianta negar. – Ele sussurrou.

Ela soltou uma grande nuvem de fumaça, quando tirou o cigarro da boca, era horrível aquele cheiro, eu me sentia respirando brutalmente por dentro, aquele cheiro horrível me afeta, odeio cheiro de cigarro, mas Cobra fazia aquela ação tão sexy. Eu ainda o odiava acima de tudo, eu não sabia por que, talvez seja como ele leva tudo com naturalidade, ele não tá nem ai em ser preso em um lugar de doentes mentais, e está pouco se importando pras pessoas que ele matou.

– Então, eu sou uma esquisita, antissocial e hostil perto de você, Ricardo Cobreloa? – Perguntei, eu estava impressionada comigo mesmo, eu estava sendo forte e não estava caindo na tentação dele.

– Cobra! me chame de Cobra, enfim, você fala com os outros pacientes e não fala comigo, eu sabia que não poderia ser pelo fato de não gostar de mim, e sim por que está com medo. – Ele afirmou.

– Sim, bem, agora eu sei quem você é, e ainda estou com medo, não mudou nada. – Respondi.

Eu não sei o que me fez agir dessa forma com Cobra, ah, esqueci, ele era um assassino vagabundo e sem vergonha, Cobra olhou pro lado dando uma gargalhada.

– Mmm, creio que está mal humorada também. – Ele afirmou, ele sempre afirma tudo.

Cobra mordeu novamente o lábio inferior olhando pra mim.

– Foi bom falar contigo, Jade, nos vemos por ai. – Ele piscou os olhos, e colocou o cigarro em meio aos dentes, ele empurrou o corpo pra longe e me deixou sozinha olhando pra parede, acordei pra vida e voltei ao trabalho, comecei a mexer no computador e cai no sono.

O Tempo quente de Rio de Janeiro me fez querer morar dentro de um congelador, entrei no prédio e andei pelas escadas de mármore, que fazia o hospital ficar mais elegante do que já era, olhei pela janelinha e as ruas estavam cheias de pessoas, indo pra praia, naquele calor infernal eu também adoraria ir pra praia, entrei no elevador e demorou trinta segundos pra chegar até no corredor onde minha sala ficava, quando coloquei o pé no corredor a mudança de clima foi diferente, aquele ar-condicionado era tão bom, olhei pro outro lado do corredor e vi Cobra, que estava com dois seguranças ao seu lado.

Ele lambeu os seus sedutores lábios.

– Olá Jade. – Disse. O Som da sua voz doce me surpreendeu.

– Oi. – Murmurei, e dei um sorriso forçado.

Pisquei os olhos duas vezes pra me livrar dos pensamentos, eu tinha um dia de trabalho inteiro pela frente, não vou deixar ela me distrair.

Apressadamente e em passos longos fui pra o escritório onde todos os funcionários ficavam antes de bater o meio dia pra todos irem realizar suas funções, encontrei Vicki sentada em uma mesa, ela olhou pra mim e deu um sorriso amigável.

– Oi Vicki. – Saudei-a.

– Oh Jade, estou tão contente que está aqui! Pode terminar os documentos dos três novos pacientes, trocar os lençóis, checar as selas, e ver os relatórios que chegaram hoje? – Ela perguntou em tom de mandamento.

– Oh sim, claro! – Respondi.

– Desculpe-me ter pego você de surpresa, a Karina está doente, três coordenadoras faltaram e um segurança se demitiu, está tudo uma loucura. – Ela me explicou, consegui notar que ela estava muito estressada.

– Não faz mal, vou fazer tudo. – Respondi novamente, dando um sorriso e borcejando.

– Obrigada. – Vicki soltou um suspiro de alívio.

Embarquei na minha longa missão, entrei na minha sala, e um dos seguranças me entregou os documentos dos três novos pacientes, comecei a terminar umas longas folhas que faltavam, terminei. Chequei tudo, dei uma leve confirmada no computador, confirmei a sela deles e a entrada também, terminei a primeira tarefa.

Depois era a hora de trocar os lençóis, odeio isso, mas tudo bem, sai da minha sala e cheguei até a sala pra eu trocar os lençóis.

– Senhorita Dandara, a Senhorita Victória me mandou aqui pra trocar os lençóis. – Cumprimentei Dandara.

– Oh, acho que tá na sala errada, ela deve ter mandado você trocar os lençóis da sela do SOS. – Ela me disse apontando pra sala ao lado.

Tentei não arregalar os meus olhos, a sala do SOS deve ser horrível, muito sofrimento, dei um tchau pra Dandara e me preparei pra entrar e abri a porta, tinha dois pacientes sendo chicoteados e os outros estavam acorrentados, tinha instrumentos de matar no balcão, troquei os lençóis do fundo quando três pacientes começaram a gritar, e dois a chorar, um foi levado até o lugar do chicoteamento, forrei os lençóis depressa e suspirei quando sai da sala.

Encontrei Vicki na minha frente.

– Não precisa mais fazer nada, outros funcionários me ajudaram, podemos almoçar. – Ela disse enquanto me puxava até o corredor pra ver o roteiro e pra os funcionários verem, com quem iam almoçar, eu vi o meu nome do lado de Cobra e no mesmo tempo que eu amei, eu odiei, eu e Vicki pegamos o elevador e fomos até o refeitório, sentei ao lado de Cobra.

– Oi. – Falei.

– Oi Jade, jogue cartas comigo. – Ele falou estirando um baralho perto da minha mão.

– O Que? – Perguntei franzindo as testas.

– Jogar cartas.

– Ok, vamos lá. – Suspirei...


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Notas finais do capítulo

Escrevi esse capitulo, gostei muito, e espero que vocês gostem também.



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