Dolce Amore escrita por Valk


Capítulo 33
Bella


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, boa tarde e boa noite, meu povo!
Estava com saudades de falar isso por aqui!
Gente, foi MUITO difícil voltar a escrever nessa história por vários motivos, mas principalmente porque eu não tenho mais o notebook onde eu escrevia anteriormente e, por isso, eu tive que reler a história algumas vezes pra anotar os diálogos importantes que rendem capítulo e a linha do tempo da história (data de aniversário, casamento, idade dos personagens…). O processo foi louco e o começo do resultado está aí!

Sem mais enrolação… Buona lettura!



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Bella

 Quando somos crianças, existe um sentimento que se faz presente em todas as nossas ações. Fé. Não como crença em um ser divino, mas no ato puro de acreditar nas pessoas. Acreditar que todas as pessoas querem fazer o bem, garantir a sua segurança, te ensinar a andar pelo caminho certo. Acreditar que existe sempre algo maior, melhor, mais bonito te esperando. Acreditar que o futuro só nos reserva surpresas positivas.

 Logo no início da minha infância, eu vi todas essas expectativas sendo frustradas. E logo pela pessoa que mais deveria prezar pelo meu crescimento saudável: meu pai. Incontáveis vezes eu tive medo de agir, porque até os erros mais inocentes eram sinais de punições. Tropeços não eram bem recebidos nem mesmo quando eu ainda estava aprendendo a andar. Eu cresci com a sensação sufocante de não ser boa o suficiente pra receber abraços, sorrisos ou um ‘parabéns’ que fosse. 

 O pior de tudo era que Phil havia dado o nome de “amor” para todos os gritos e agressões que ele lançava sobre mim e minha mãe. E até os 14 anos, eu não conseguia perceber a diferença entre relacionamento abusivo e família. Em ambos eu era subjugada, desacreditada e agredida. Logo, sem perceber, eu fui tomada por um trauma. Eu não conseguia confiar nas pessoas, eu não conseguia estabelecer laços afetivos, eu não sabia verbalizar o que eu sentia, o que eu queria. Eu tinha medo. 

 Depois que conheci Rachel Black, alguns sentimentos começaram a mudar. Eu sentia que um peso era tirado de mim todas as vezes em que ela me estendia a mão. E foram tantas vezes que nem sei mais se um dia poderei pagar todo o bem que ela me fez. Porém, mesmo tendo recebido esse sopro de bondade, havia um muro ao redor do meu coração.

— BELLA! - escutei alguém gritar atrás de mim. Era Leah com algumas peças de roupa nas mãos.

— O quê?

— Bella, você precisa colaborar aqui. - disse Leah me fazendo suspirar. Eu estava prestes a mudar radicalmente a minha vida. - Você vai levar todas essas roupas de verão?

— Não mesmo! - disse enquanto me levantava e começava a separar o que ainda colocaria na mala. Leah havia colocado todas as minhas roupas sobre a cama e estava me ajudando a dobrar peça por peça para decidir o que eu precisava levar e o que eu iria colocar para doação.

— Sabe de uma coisa? Você não me deu os detalhes do que aconteceu lá na Itália com seu príncipe. - cutucou Leah com um sorriso malicioso.

— Não é necessário. Logo o mundo todo vai saber pela televisão. - disse. Em alguns momentos eu nem mesmo acreditava que Edward havia feito tudo isso pra me encontrar.

Ah. Edward. Ele foi quem escalou a minha fortaleza. Ele dedicou tanta paciência e afeto, assumiu essa missão com tanta disposição sem nem saber o que poderia encontrar. Isso foi me tornando vulnerável dia após dia e, quando cansei de resistir, eu estava apaixonada. Sabe aquele muro que antes estava em meu coração? Já não existia mais. Eu estava completamente entregue ao amor. Não pronta, preparada e segura, mas livre para descobrir o que esse sentimento significava. 

Eu conheci Edward pela internet. O nosso primeiro contato foi completamente despretensioso, eu estava apenas em busca de uma informação e acabei ganhando um amigo. E depois de 1 ano, descobri que o universo havia me dado bem mais que isso. 

Quando Edward se declarou para mim no dia de São Valentim, a minha primeira reação foi chorar. De emoção, alívio, mas também de medo. Por mais apaixonada que eu estivesse por esse homem carinhoso, atencioso e romântico, eu ainda era Isabella Marie. Com o mesmo passado, os mesmos traumas, uma grande desconfiança sobre tudo, uma falta de fé maior que a cicatriz em meu rosto. Outra marca que não me deixava esquecer tudo que me faltou e tudo que me foi tirado. 

Apesar de ter correspondido a sua declaração de imediato, os pesadelos envolvendo Edward, Phil e eu começaram a ser frequentes. E em todos eles, eu assumia o papel da minha mãe e fugia assustada, em pânico, sem rumo, apenas dor. E não houve um só dia em que não acordei me martirizando por comparar o relacionamento de meus pais com o que Edward me oferecia. 

Fazer planos era outro tormento. Eu nunca quis mentir para Edward, não era minha intenção iludi-lo, mas nem sempre meu coração convencia a minha mente de que eu podia confiar nesse amor e em todas as promessas feitas. Essa batalha era travada todos os dias e de tanto pensar em desistir e deixar pra lá, eu quase perdi o meu anjo. 

~Flashback~

Phil está em Miami. 

Phil está em Miami. 

Phil está em Miami. 

Phil está em Miami. 

Phil está em Miami. 

Essa informação ecoava em minha mente há quase 1 mês.

Quando Harry e Rachel apareceram no meu apartamento acompanhados de Leah e Seth no meio da noite, eu sabia que não seria um bom momento pra mim. Eles haviam sido informados por um amigo da família, e detetive, que Phil havia encontrado minha antiga faculdade e apareceu por lá há alguns meses fazendo perguntas sobre mim.

Não dá pra explicar o meu choque ao saber que o cara que me espancava quando criança tinha me encontrado quase uma década depois da minha fuga. Ainda mais quando esse mesmo cara havia ficado preso por 3 anos do outro lado do país. Inacreditável a minha falta de sorte. 

Depois de receber essa notícia, eu precisei mudar toda a minha rotina. Harry e Rachel acharam melhor que eu saísse de Miami, mas ao mesmo tempo era perigoso ficar afastada deles, por isso me mudei para um apartamento em Fort Lauderdale. E para o meu emocional, essa foi a pior mudança que já fiz.

Acordar todos os dias em uma cidade diferente, sem ninguém amigável por perto e sem saber o que encontraria do lado de fora era uma sensação conhecida por mim desde os 14 anos, mas era algo que eu não desejava nem mesmo para Phil. O sentimento de abandono era tão forte que, todas as vezes em que eu acordava no meio da noite, eu chorava em pânico. Eu estava traumatizada com a ideia de viver fugindo, escondida, sozinha.

Phil continuou me procurando em todos os lugares que eu frequentava: padaria, restaurante e até mesmo na empresa em que eu trabalhava, a Clearwater Advertising. Ele estava chegando cada vez mais perto e, só depois de alguns dias, eu pude raciocinar que qualquer stalker atento às minhas redes sociais poderia ter as informações dos locais onde estive. O detetive contratado por Harry descobriu ainda que Phil estava usando outro nome e, inclusive, agindo novamente no ramo de jogos ilegais através da internet. Após essas descobertas, eu desativei todas as minhas redes sociais com exceção de uma. Pheed. A única em que eu me comunicava com meu anjo. 

Quando conheci Edward, confesso que eu senti uma pontada de esperança. Foi como receber uma revelação do universo de que eu não precisava seguir os mesmos passos aterrorizantes de minha mãe. Mas era tudo uma hipótese. Talvez, quem sabe, algum dia eu pudesse ter uma vida normal. Sair para o trabalho sem me preocupar se alguém estaria me seguindo ou não, conhecer pessoas novas sem precisar da ficha criminal delas. 

Comecei a trabalhar em home office por segurança. Eu aparecia na empresa apenas para entregar documentos e participar de reuniões. Na Clearwater Advertising ninguém suspeitava de nada, pois eu era tratada como funcionária de uma agência terceirizada. Até mentir minha função era necessário para não ficar em evidência. Mas tudo isso só retardou o caos. 

No final de abril, a empresa havia fechado contrato com uma grande multinacional e todos os funcionários estavam em festa. Harry dizia que, como uma de suas melhores publicitárias, eu precisava assumir a primeira campanha. Como Leah havia dormido na minha casa no dia anterior, eu tinha uma carona para a empresa e cheguei bem cedo para a primeira reunião de planejamento deste contrato.

Tudo se encaminhou na mais perfeita ordem. Tínhamos combinado que, como a estagiária de publicidade que achavam que eu era, seria melhor que a campanha tivesse a assinatura de Seth. Eu achei que seria melhor assim e Phil apareceu para provar que eu estava certa em me camuflar o máximo possível. 

Ao sair daquele prédio luxuoso, fiquei alguns minutos na espera de um táxi até que ele apareceu. Informei o endereço da minha casa e me acomodei para enfrentar os próximos 40 minutos de viagem. Assim que o motorista deu a partida e eu olhei para o meu lado direito, eu avistei o meu pesadelo. Phil estava encostado em uma das pilastras do prédio da Clearwater Advertising com um olhar atento que se juntou a um sorriso vitorioso quando ele olhou em minha direção. 

Tudo parecia estar em câmera lenta e logo senti uma freada. O táxi havia parado e quando desviei o olhar de Phil, percebi que estávamos parados no semáforo. Se não tivesse nenhum carro a frente, eu teria implorado para o motorista avançar o sinal, mas isso não era possível. Quando voltei o olhar para o local onde Phil estava, vi que ele caminhava na minha direção. Eu quis gritar, sair correndo, eu precisava sair de lá, mas a única coisa que consegui foi deixar os flashes de suas agressões tomarem a minha mente.

Eu lembrei de uma noite específica. A noite em que eu lutei pra não ser violentada pelo meu próprio pai. Eu pude ver com nitidez o olhar de cobiça que ele me lançou enquanto eu lavava a louça do jantar e o sorriso malicioso de quem sabia que poderia fazer o que quisesse, pois ninguém poderia me salvar. Eu estava sozinha como sempre e eu tinha que lutar com forças que eu não tinha pra conseguir sobreviver. E me manter o mais íntegra possível.

— Moça, você está bem? - fui despertada das minhas memórias sombrias pelo motorista do táxi que já havia arrancado o veículo e transitava pela Northwest 3rd Avenue. Eu percebi que estava tendo mais uma crise de ansiedade. Minhas mãos suavam frio, meu coração estava acelerado e parecia que não havia ar suficiente para eu respirar. Eu precisava parar em algum lugar, mas eu não sabia se estava sendo seguida ou não.

— Talvez eu precise mudar a rota, mas pode continuar por essa avenida. - disse enquanto olhava para trás. Eu reparei que havia um táxi bem atrás do meu e eu sentia que Phil estava dentro dele. Mesmo tremendo eu consegui pegar meu celular e ligar para a única pessoa que podia me ajudar nessa situação.

— Bella? Onde você está? - atendeu Harry preocupado. Eu havia acabado de sair de sua empresa e eu nunca ligava pra ele, apenas para Rachel ou Leah.

— Phil me achou. Eu tenho quase certeza que ele está me seguindo. Eu preciso de ajuda. - disse rapidamente e, mesmo tentando me controlar, uma onda de pânico ameaçava me afogar a qualquer momento.

— Bella, onde você está? Ele pode te ver?

— Eu estou em um táxi, seguindo pela Northwest Third Avenue. Phil estava na entrada da empresa e ele me viu entrar no táxi. Eu tenho quase certeza de que ele está no táxi atrás do meu.

— Bella, pede para o taxista fazer o retorno para o metrô. Esse é o ponto mais movimentado e mais próximo da empresa. Faça isso, fique calma e eu te ligo em 5 minutos. - Harry disse e desligou. Eu não fazia a menor ideia do que ele estava planejando, mas eu precisava confiar. 

Comuniquei o motorista da mudança de planos e confirmei as minhas desconfianças quando vi o táxi que estava atrás de mim continuar a seguir o meu trajeto. Íamos passar debaixo de um viaduto para realizar o retorno e era a oportunidade perfeita para despistar Phil.

— Eu tenho a impressão de que estamos sendo seguidos, o senhor poderia se distanciar desse táxi atrás de nós? - disse tentando aparentar tranquilidade, eu não precisava de um motorista em pânico agora.

— Eu já havia reparado isso, mas não quis apavorar a senhorita. Pode apertar os cintos. - disse e rapidamente acelerou o táxi e fez ultrapassagens sem qualquer pudor. O meu lado pessimista começou a me dizer que o meu destino era a morte seja pelas mãos de Phil ou pelo descuido do próprio motorista.

Em 5 minutos Harry me ligou novamente e disse que estava me esperando com mais dois seguranças ao lado da entrada do metrô. Tudo que eu precisava fazer era continuar na ligação e informar quando meu táxi estivesse naquela avenida. Quando senti o carro desacelerando, olhei para trás e não havia sinal do táxi de Phil, mas todo cuidado era pouco.

Assim que o carro parou em frente a cafeteria, entreguei rapidamente 50 dólares na mão do motorista e nem pude agradecer sua esperteza. Harry saiu me puxando para a escadaria do metrô.

— O que vamos fazer? - perguntei quase sem fôlego pela velocidade em que ele andava.

— Só mantenha a calma e confie em mim. - disse e assim que chegamos na área de bilheteria do metrô, Harry me puxou para uma segunda saída que dava para uma galeria do outro lado da avenida em que nos encontramos. Da galeria, saímos numa rua deserta e entramos num carro branco que eu particularmente nunca tinha visto na vida.

— Pronto, chefe. Podemos seguir para a cobertura? - perguntou o motorista de Harry.

— Sim, Todd. - respondeu Harry enquanto me abraçava. Naquele momento em que percebi que estava a salvo, não contive o choro. Isso precisava acabar. Eu não aguentava mais viver assim. 

(...)

~Flashback~


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Notas finais do capítulo

Gente, que barra a Bella enfrentou hein?!
Espero que tenham gostado dessa volta de "Dolce Amore" e saibam que o pedido de vocês é uma ordem: continuarei a história como eu havia planejado, nada de acelerar o romance!
MUITO OBRIGADA a todas vocês que continuaram na expectativa de um capítulo novo e não desistiram de mim. Vocês são guerreiras!
Fiquem com Deus!
Beijos,
Valk ;)