Tentei me controlar, guardiões não podiam interagir muito tempo com humanos, claro com as crianças sim, mas mesmo assim por pouco tempo, na realidade nosso medo era nos apegarmos às pessoas e acabar vendo-as partir, sendo imortais não podíamos ir junto delas, assim nós permanecíamos e a dor da perda também.

Mas naquele dia não me segurei, burlei as regras que pipocavam em minha mente, e acabei sendo guiado pelo coração, assim que vi o táxi de Clara partir, o segui precisava saber onde encontrá-la, não fazia ideia do que faria quando descobrisse, mas antes de tudo eu necessitava saber.

O taxi parou em frente de uma grande casa, por sinal era muito bonita, logo pensei que a garota estaria muito feliz por morar em lugar daqueles, mas quando desceu do táxi pude notar que ela sentia tudo menos felicidade, havia ate medo em seus olhos, não só nos dela, mas também nos da irmã, o que será que havia naquela casa!

Entrei através de uma janela, e logo percebi que a casa era ainda mais bonita por dentro que por fora, mas a sensação de se estar lá dentro era estranha, como se o medo guiasse, não sei dizer o porquê, mas aquilo me era familiar.

Decidi buscar mais informações, quando uma voz me chamou a atenção, só podia ser de Clara, fui observar, ela estava abraçando sua irmã e seu sobrinho, reconfortando-os, o que será que os afetara tanto? Porem esta duvida foi esquecida, quando Clara começou a cantar, sua voz era bela e os sentimentos passados na canção eram tão intensos que me fizeram cair ao chão, quando novamente me pus a observar notei que o sobrinho e a irmã dormiam profundamente, enquanto Clara, ah meu pai, seguia na minha direção, ela não podia me ver, me escondi no primeiro quarto que vi, e fiquei aguardando na escuridão.

Péssimo esconderijo, o quarto que havia entrado era o de Clara, e justamente ela estava entrando nele, só tive tempo de me esconder no guarda roupa, fiquei lá esperando ate que ouvi o som de uma porta se fechando, ela havia entrado no banheiro, tentei sair, mas a porta e janelas estavam trancadas, não havia meios de encontrar a chave, e como eu não queria arrombar a porta decidi que o melhor era esperar.

Fiquei sentado em um canto, onde ficava escondido porem tinha uma visão ampla do quarto, logo que me arrumei, Clara saiu do banho, um cheiro doce cobriu o quarto, não sei o nome do perfume, mas já havia se tornado meu preferido, a garota usava um moletom azul que lhe cobria ate os joelhos, mais parecia um vestido, e para ser sincero estava lindo nela.

Não sei por quanto fiquei a admirando, ate que um rangido me trouxe a realidade, ela havia aberto a janela e estava indo em direção à cama, mal esperei ela apagar a luz e voei para fora, nunca mais faria aquilo de novo, havia arriscado demais entrando naquela casa, se outro guardião soubesse estava perdido, porém quando escutei um choro vindo do quarto desisti de obedecer minha cabeça, sentia a necessidade de proteger aquela garota, já havia quebrado tantas regras que tal mais algumas.