DC teve um sonho muito estranho naquela noite. Sonhou que que estava em sua sala de estar quando ouviu uma voz de menina dizendo:

– Escolhe.

DC não entendeu muito bem e ficou olhando pros lados pra ver quem tinha dito aquilo, quando a voz gritou mais alto:

– Eu sei que você está dividido, mas você precisa escolher entre as duas opções! ESCOLHE!

Do Contra ficou assutado e continuou a procurar a voz, mas ela continuava falando "Escolhe, escolhe, escolhe!' Ele ficava cada vez mais nervoso, já estava suando frio quando acordou quase num salto. "Que sonho mais estranho!", Do Contra pensou. Olhou pra baixo e, de novo, Dudu tinha acordado primeiro que ele. Pegou o celular na escrivaninha e viu que eram dez e meia da manhã. Coçou um pouco os olhos e decidiu descer e comer uma coisa.

– Ah, aí está o "Belo Adormecido"! Você não era de acordar tão tarde assim, em! – Nimbus disse, rindo.

– Pois é, ultimamente tenho estado afim de fazer "diferente" hehehe! O que tem pra comer? – DC perguntou.

– Bom, pra nós, pessoas normais, tem os pães deliciosos que só o seu Quinzão faz! Agora pra pessoas malucas como você tem pão de alho com recheio de acerola. – Nimbus disse, com cara de nojo.

– Oba! – Do Contra disse.

– Afe, que nojo! Você é mais estranho do que eu pensava DC! Valeu gente, vou na casa da Magali pegar umas coisas minhas lá, até mais tarde! – Dudu disse, levantando da mesa e indo embora.

– Esse Dudu... Aliás mano, eu queria falar com você! O Dudu me disse que você postou aquele texto incrível por causa dele. Muito legal da sua parte! – Nimbus disse, sorrindo.

– O que a gente não faz pelos irmãos né... – Do Contra disse, satisfeito.

– É assim que tem que ser. Bom, vou subir e fazer o trabalho de matemática pra amanhã, até mais tarde! – Nimbus disse, subindo as escadas pro seu quarto.

DC já ia subir para o seu quarto quando ouviu o seu celular apitar. Era um whatsapp da Mônica:

A reunião para o trabalho vai ser ás 14:00. Não esquece, em? Abçs

"Afe, já tinha até me esquecido disso!" DC pensou, bufando. Do Contra rezou pra que não rolasse outro estresse daquele com as meninas de novo, porque se não ele pensaria seriamente na possibilidade de mudar de bairro!

Subiu para o quarto e assistiu alguns episódios de Hora de Aventura (seu desenho favorito naquela época) e quando já era 13:30 ele decidiu ir se arrumar para ir ao encontro do trabalho. Tomou um banho rápido, colocou sua camiseta preta preferida e lá se foi.

A casa da Mônica era duas ruas atrás da dele, então ele chegou bem rapidinho. Quando chegou no portão, DC suspirou meio triste. Ele costumava ir ali quase todos os dias. Tocou a campainha e esperou uns minutinhos demorados. Estava quase voltando pra casa quando ouviu a porta abrir.

– Ah, você tá aí! Entra. – Mônica disse e Do Contra entrou meio sem graça. Os dois se sentaram no sofá quando a Dona Luísa, a mãe da Mônica chegou e abriu um sorriso ao ver DC.

– Boa tarde Do Contra, a quanto tempo em! Vê se aparece mais, viu? – Dona Luísa disse, fazendo Mônica e DC ficarem mais vermelhos que os antigos vestidos da Mônica.

– P-pode d-deixar, Dona Luísa! – DC disse, querendo sumir. A mãe abriu um sorriso e foi para a cozinha.

– E-então... a Samara tá demorando, né? – Mônica perguntou pra disfarçar o constrangimento.

– Bom... daqui a pouco ela aparece aí, né? Vamos esperar! – Do Contra respondeu.

Os dois ficaram ali, olhando pra direções opostas, sem saber o que falar. Do Contra até abriu a boca algumas vezes, mas fechou logo depois porque achava que o assunto não ia render. Ele analisou a sala toda. Estava do jeitinho que era quando ele esteve ali pela última vez, algumas semanas atrás. Ele estava olhando para a estante quando viu uma foto que quase o fez cair pra trás.

"Não é possível!" DC pensou. A foto era uma selfie dos dois, com a língua de fora. Eles tiraram aquela foto em uma festa na casa da Magali, quando ainda estavam namorando. Porém, o mais legal é que a foto estava no porta-retratos de cabeça para baixo, no melhor estilo "Do Contra". DC ficou bem chateado com aquilo e Mônica percebeu, dizendo.

– Gosto muito dessa foto, você não? – Ela disse, meio entristecida também.

– Claro... fotos de cabeça pra baixo são a minha cara, né não? – DC disse, sorrindo.

– HAHAHAH palhaço... tem razão, essas fotos são a sua cara, mesmo! – Mônica disse, e os dois ficaram quietos depois disso.

Uma série de lembranças veio a cabeça de DC. O primeiro beijo dos dois, nos Jogos Mortíferos, o dia em que ela decidiu ficar com ele ao invés do Cebola, as coisas hilárias que fizeram (é claro, tiveram que aturar muita implicância do Cebola, mas ele nem ligava!) Ele tentou afastar esses pensamentos da cabeça quando a campainha tocou.

– Olha ela aí, vou abrir! – Mônica disse, visivelmente aliviada.

– E aí povo, sentiram minha falta, né? – Samara disse, entrando na sala. A presença da menina sempre alegrava Do Contra.

– Estávamos morrendo aqui sem a sua presença, majestade! Boba, senta aqui logo! – Mônica disse, brincando.

– Sua zoeira não tem limites Mônica! Boa tarde DC! – Samara disse se sentando ao lado do garoto e dando uma abraço gigantesco nele.

– Boa! E então, no que vocês pensaram? Já sabem o que fazer nesse trabalho maluco? – DC disse, bocejando.

– A gente ia fazer um documentário, não é mesmo? – Mônica disse, olhando pra Samara.

– Issaê! Como eu estava dizendo naquele dia, a gente podia entrevistar a galera do bairro e pedir a opinião deles sobre as relações humanas e pá! Adultos, adolescentes, crianças, idosos... Geral mesmo! – Samara disse, animada.

– Ia ficar super legal! A gente podia fazer um DVD e colocar na sala pra turma toda ver, aí a gente colocava uma musiquinha no fundo! Ei, a gente podia até pedir pro Cê fazer, ele é fera com computadores! – Mônica disse. DC ficou um tiquinho incomodado com o apelido carinhoso "Cê".

– Nhé, ele nem é tão bom assim. E porque ele ajudaria a gente, ele tem mais o que fazer com o trabalho DELE, né! – DC disse.

– Ora, mas isso não é uma competição Do Contra! Ele pode muito bem... – Mônica disse

– Na verdade Mônica, isso é uma competição sim! O Licurgo falou que quem ganhasse iria ter o trabalho exposto para toda a escola e ganharia uma viagem. – Samara disse.

– QUE???? Aonde eu tava que não ouvi isso? – Mônica disse, abismada.

– Eu também não ouvi nada disso não!!! – DC disse, igualmente chocado.

– Ele não disse na sala, ele mandou um e-mail avisando, ué. – Samara disse.

– E-mail???? Se fosse um whatsapp, agora e-mail? Acho que eu nem tenho o e-mail da Magali, que dirá do professor Licurgo! – Mônica disse.

– Ele colocou um e-mail dele no facebook.., Afe, mais vocês são lerdos, em? – Samara disse.

– Tudo bem, tudo bem... mas essa viagem é pra onde? AI, TOMARA QUE SEJA PRA DISNEY!!! – Môncia disse, dando um grito.

– Que Disney o quê, coisa mais clichê! Tomara que seja pra Mongólia, Egito ou o Acre! – DC disse, surtando também.

– Piraram? Quem vai bancar isso? A viagem é pra Sococó da Ema! – Samara disse, fazendo Môncia e DC caírem do sofá.

– Ai não, de novo não! Não quero ter que topar com os filhos de Umbra de novo!!! – Mônica disse, surtada.

– Filhos de quem? – Samara disse, confusa.

– Hello! Vamos voltar para o trabalho, sim? – DC disse.

– Vamos. Bom, a gente podia fazer entrevistas descontraídas, pode ser na escola, na rua, no campinho. Enfim, aonde a gente encontrar a pessoa! – Samara disse.

– Fechou! Quem vai ser o primeiro? – DC perguntou.

– A gente podia fazer com as pessoas da nossa casa, primeiro, né? – Mônica perguntou.

– Fechou então... Mas alguma coisa? – Samara perguntou.

– Eu tenho uma dúvida! O Cebola é quem vai editar, mesmo? – DC perguntou.

– Lógico! Afinal, eu acho que ninguém vai querer ir pra Sococó da Ema, né? – Mônica disse.

– Então... terminamos por aqui! – Samara disse.

– Ei, porque vocês não ficam mais um pouco, minha mãe deve estar preparando alguma coisa pra lanchar! – Mônica disse, animada.

– Por mim tudo bem... Aliás, vou falar com a sua mãe, ela não deve me conhecer! – Samara disse, indo na cozinha e deixando os dois ali na sala.

– Poxa, nem vai dar. Eu... fiquei de ajudar o Nimbus com uma parada! – DC disse, inventando.

– Tudo bem... Até amanhã na escola, então... – Mônica disse isso e DC se virou pra ir embora, mas Mônica foi mais rápida: – Ei DC... a gente ainda tem que conversar, viu?

– T-temos sim... até amanhã, tchau! – DC foi embora apressado, deixando Mônica ali.

Voltou pra casa cheio de pensamentos. Na verdade, estava um pouco confuso. Ele ainda gostava da Mônica, mas, estranhamente, não como antes. Ele não havia DEIXADO de gostar dela, mas alguma coisa dizia que uma possível volta do relacionamento não daria certo, só não sabia dizer porque. Mas agora ele sabia que ela ainda gostava dele, se não teria tirado a foto maluca da estante. Ou não. Eram tantas lembranças.

– Mônica, Mônica, você mexe comigo e nem sabe...