Os dois não faziam ideia de quanto tempo havia se passado. Estavam imersos na conversa sem nem ao menos se lembrar de que uma festa de casamento estava acontecendo. Falaram de banalidades, um assunto bobo ligando a outro, até que estivessem falando sobre seus passados de uma forma que, aparentemente sem razão alguma, não doía mais.

— Você sente falta dele? - Oliver a perguntou, mergulhando pela milésima vez em seus olhos naquela noite. - Do seu pai, quero dizer.

—Todos os dias. E você?

— Meu pai não era uma pessoa fácil, mas sim, sinto.

— Quando você partiu para a guerra, foi para esquecê-lo?

— Em parte. Foram vários motivos. Eu tinha uma noiva, íamos nos casar, mas desisti na última hora, não sentia que aquilo era certo. Então a família dela fez fofocas sobre mim, e praticamente todas as pessoas que eu conhecia, até mesmo meus amigos mais próximos, tomaram as dores dela e se voltaram contra mim. Aí veio a morte do meu pai e tudo parecia estar desabando. Como se não bastasse eu ainda teria que assumir a presidência da empresa sendo que não tinha competência nenhuma para isso, eu era apenas um garoto. Tinha a impressão de que minha vida estava tomando um rumo totalmente diferente do que eu havia planejado, não conseguia mais acompanhar nada, minha cabeça estava sempre longe. Eu só precisava ficar longe de tudo isso, entende? Por isso eu fui.

— Sim, perfeitamente. — Conseguia ser uma história ainda pior que a sua, e ela sentiu uma espécie de reconhecimento próprio naquilo tudo, sentiu pena dele. Ainda assim, a parte de que ele tinha uma noiva não conseguia sair de sua cabeça. Não era uma ideia agradável. — Por que parece que te conheço há muito tempo?

— Não faço ideia, mas sinto o mesmo em relação a você.

Alguns segundos em silêncio se passaram, e os dois olharam para as flores acima, vendo o céu estrelado em brechas irregulares. Ele começou a embalar o balanço, lentamente acelerando, até que suas cabeças estivessem perigosamente perto dos galhos cada vez que ele subia.

— Duvido que tenha coragem de pular. — Ele disse, sem nenhum resquício da tristeza de minutos atrás em seu rosto. Agora trazia aquele sorriso travesso nos lábios novamente.

— Isso é um desafio Sr. Queen?

— Pode interpretar como um, Srta. Smoak. — Ele se referiu a ela pelo nome de solteira propositalmente.

— É Palmer. E você não deveria me desafiar. O que eu ganho se pular?

— Smoak combina mais. Mas enfim.... Hmm... É uma surpresa.

— E como posso saber se vale a pena? — Oliver observava os cachos loiros flutuarem com o vento ao redor de seu rosto, os lábios vermelhos contornando um sorriso lindo.

— Terá que confiar em mim. — Felicity estava perdida no brilho daquele olhar. Enquanto ele presumia que ela estava pensando, ela estava apenas tentando encontrar as palavras perdidas em sua mente. A decisão já estava tomada antes mesmo que ela se desse conta.

— Está bem. — Ela segurou mais firme na corda, analisando a altura e a distância melhor para pular sem que se machucasse.

— ESPERE!!! — Ele gritou quando ela quase pulou. — Vamos juntos. Não quero que estrague seu vestido com terra.

— Que meigo da sua parte. Porque quebrar um salto não seria problema, certo? — Ela ironizou, mas deixou que sua mão fosse envolvida pela dele, quente e segura, praticamente o dobro do tamanho da dela. Ele não respondeu, apenas sorriu.

— Agora!!! — Eles saltaram, Oliver caindo perfeitamente equilibrado. A mulher ao seu lado atingiu o chão como um saco de batatas, e se não fosse pela agilidade dele teria dado com o nariz na grama. As mãos dele envolviam sua cintura, e uma gargalhada irrompeu de sua garganta sem que ele pudesse se conter. — Eu sabia que não conseguiria sem mim! - Falou em meio ao riso.

— Pare de rir, seu bobo! O trato era pular, não cair em pé. — Apesar da voz irritada ela também sorria.

— Okay, okay, você está certa.

— Sempre estou. Agora o meu prêmio. — Ela exigiu, sustentando o olhar no dele. Os sorrisos se desfizeram lentamente. Agora ele estava perto de mais, uma mão em sua cintura, a outra se encaminhando para a lateral do seu rosto.

— Pois bem, seu prêmio. — Seus olhos estavam abertos, e faziam um caminho de ida e volta dos lábios para os olhos da mulher em sua frente. Quando ele estava perto o bastante os fechou, assim como ela, que não conseguia pensar direito, não com ele tão perto. Seu cheiro inebriava todos os seus sentidos, e ela sentia como se estivesse sendo levada por uma onda, sem controle algum.

Mas de repente ela se afastou, engolindo em seco.

— Acho melhor voltarmos, Ray deve estar me procurando. — Ela já estava de costas e se encaminhava de volta ao labirinto. Oliver suspirou de olhos fechados pensando na besteira que acabara de fazer. O que ele estava pensando? Ela era casada!

— Não vá! Por favor, me desculpe. Eu... Por um momento não pensei direito. Não vai se repetir. Por favor!!! — Correu atrás dela, segurando levemente seu braço.

— Isso é errado, você percebe? Em vários e diferentes níveis, é totalmente contra todas as regras morais Oliver! Eu sou casada! — Seu rosto estava vermelho.

— Eu sei! Apenas... Não pensei direito. Estou arrependido, de verdade.

— Isso nunca pode se repetir, está entendendo? — Ela falou batendo com o indicador no peito do homem.

— Entendi! Apenas se esqueça desse momento, está bem? Farei o mesmo. — Com isso os dois concordaram, sabendo que era uma enorme mentira. — Posso levá-la de volta à festa?

— Sim. — Felicity respirou fundo antes de aceitar.

Deram os braços novamente, e se dirigiram ao salão em um silêncio constrangedor.