Outra História Sobre Nós escrita por Frozen Heart


Capítulo 5
Cap. 4 - Mentiras e mais mentiras




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Antes eu queria tantas coisas, tantos planos. Hoje mal sei onde estou... Iniciei meu serviço hoje e tenho que admitir, estou surpresa por saber sobre algumas coisas. Nenhum deles foi gentil comigo, alguns até me mostravam seu desprazer em me ter ali. Tudo por causa do meu padrasto, ele era literalmente um idiota. Todos o conheciam, mas ninguém gostava dele, olha acho que já gosto desse povo. Minha sala ficava no final do corredor e eu não me importaria de andar até lá atraindo atenção de todos eles. Nenhum mostrou real interesse em me ajudar no que era pra fazer, tudo porque eu era parente dele. Por sorte tinha pegado alguns livros com a minha amiga Serena. Mesmo que eu estivesse afastada das minhas próprias amigas, eu não conseguia colocar na minha cabeça que minha irmã mais velha não me queria com elas. Vivíamos juntas desde a quarta série e não seria justo afastar-me delas.

"Encanto da Luz" esse virou o meu livro favorito, o primeiro que li desde que cheguei aqui. A autora Nora Roberts tinha uma magia tão grande em descrever a encantadora Genviève Grandeau, que eu queria ser a Gennie artista que vivia se culpando por algo que nunca foi sua culpa. Eu poderia ler o livro um milhão de vezes e nunca ficaria enjoada ou entediada. E era disso que eu trabalhava por quatro horas, apenas para lê alguns dos meus exemplares de literatura.

Os dias iam passando diante meus olhos, e a cada um deles, as pessoas daquele lugar me viam passando pra lá e pra cá na hora de chegar e na hora de ir embora. Eu permanecia em silêncio apenas lendo meus livros. Três semanas depois da minha entrada eu levei novamente o meu livro favorito. Eu o li com mais calma sobre o envolvimento de Grant e Gennie. Era tão surpreende saber que eu tinha deixado passar despercebido detalhes daquela paixão que eles sentiam um pelo outro e a maneira como a autora descreve a forma com que eles fizeram amor debaixo da tempestade, a chuva os envolvendo, envolvendo a fúria. Era tão intenso, tão apaixonado!

Desisti de ler porque alguém chegou e ficou lá parado na porta me observando. Eu já o tinha visto no lugar onde se faz xerox, mas eu simplesmente dizia Oi e Tchau sem chamar muito a atenção. Agora porque diabos ele estava aqui e me observando?

– Oi. - ele foi evasivo. - A Danny deixou isso lá na copiadora e disse pra entregar pra você.

– Obrigado! - indiquei a mesa e ele simplesmente colou lá dando um sorrisinho torto e indo embora.

Peguei os papéis e os li, estava falando do corte de verba para a construção da nova creche em algum setor periférico. Logo de cara eu entendi o que estavam fazendo, eles estavam achando que eu era igual a ele. Todo mundo errado sobre mim mais uma vez. Coloquei os papéis na gaveta da Danny e fechei, voltando apressadamente para o meu amado livro onde os únicos problemas era a ousadia de uma jovem artista que era apaixonada pela imensidão do oceano e do rústico Grant Campbell.

No outro dia fui chamada no recursos humanos para falar com o cara que, eu acho que ele me odiava, e ele me disse que eu faria outro curso fornecido pelo jovem aprendiz. Seria às segundas feiras e em relação ao ir trabalhar lá, era normal que eu fosse para o curso e só retornar às terças. Eu confirmei com a cabeça e ao sair da sala anotei tudo no celular. Chegando à minha sala a Danny me olhou e abriu um pequeno sorriso.

– Eu estava lá no recursos humanos. - ela ficou confusa, e depois ela entendeu.

– Sim. Eu sei. - e ela voltou a digitar no computador.

Foi quando me sentei à mesa que vi que alguém tinha mexido em algumas páginas do meu livro. Olhei pra os lados, não vi na alma anormal perto de mim. Continuei lendo.

– Porque vocês não gostam dele? - eu me vi perguntando para ela.

Ela levantou a cabeça loira e por um breve momento me encarou, bem eu acho que não deveria ter perguntado, mesmo assim continuei olhando para ela. Vi ela dar os ombros.

– É complicado! - agora eu queria saber.

– Ele não é meu pai como vocês acham, e, eu não me incomodo de ouvir a verdade. - a cara que ela fez foi cômica.

Danny passou as mãos no cabelo, mexeu em alguns papéis e voltou a olhar pra mim, eu sabia que ela diria coisas horríveis, mas com certeza isso era um passo de confiança. E tendo a confiança dela seria mais fácil a convivência.

– Bem, como dizer... - ela pensou. - Aqui ninguém gosta dele por que... Ele chega aqui e quer mandar em todo mundo, como se fosse ele quem paga nosso salário, e quando você chegou achamos que você estava aqui só pra sacanear com a nossa cara... Porque quando nos livramos dele é um alívio.

Folgado, porque eu não me surpreendia? Se ele tinha essa fama aqui então porque me trazer pra cá. Balancei a cabeça pra a Danny, nem em meus melhores sonhos ele era bom, porque então estávamos todos vivendo essa farsa.

– E ele, ele traí sua mãe com uma funcionária daqui. - essa me pegou de surpresa.

Eu fiquei em silêncio, eu sabia que ele a traía, mas eu nunca achei que ele fosse tão baixo ao transar com uma funcionária daqui. Eu me virei pro livro e não quis ouvir mais nada, e depois disso eu vi os olhares de pena direcionados pra mim, de todo mundo. Acho que deveria incomodada mais eu agora me sentia uma intrusa novamente. Quando deu 12h eu peguei minhas coisas e sai, não era minha obrigação contar para minha mãe sobre ele, só que algo dentro de mim se revirava.

Eu me perguntava diariamente, se ele tinha esse tipo de comportamento aqui pra quê trazer a filha bastarda pra cá? Era irracional.

Cheguei na rua, e decidi que iria chegar em casa me trancar no quarto e não abrir a boca nunca mais. A rua estava bastante movimentada, eu apenas queria sumir dali, caminhei para o ponto de ônibus. A menina que tinha ficado também lá no mesmo lugar estava no ponto.

– Oi. - eu precisava falar com alguém, estava desmoronando por dentro.

Ela me encarou, olhou pra trás e constatou que eu estava falando com ela. Eu senti hesitação da parte dela, como se não estivesse preparada pra conversar. Mas mesmo assim insisti.

– Tudo bem? - eu sempre fui uma pessoa que não tem medo do estranho e eu sentia que nada era pior do que viver em silêncio, eu também gostava de sempre prever como seria minhas amizades, sem mesmo antes de conversar com a pessoa e geralmente eu nunca errava.

– Tudo. - e foi só isso, ela se calou.

Não me contentei com isso, eu não conseguia explicar era pessoal, eu sempre converso com as pessoas de fora porque sempre foi mais fácil, falar com estranho do que com conhecidos.

– Então... Está gostando de trabalhar aqui. - tentei de novo.

Ela balançou a cabeça e começou a me olhar esquisito. Isso me fez ter um ataque de risos internos. Ela mal sabia que com olhares esquisitos eu lidava com muita frequência principalmente em casa.

– Você ficou sabendo sobre o curso semanal? - tentei de novo.

– O meu é na quinta. - ela afirmou sem interesse.

– Que pena! - reclamei. - O meu é na segunda, odeio segundas. Os dias simplesmente não poderiam começar na terça?

Ela sorriu minimamente, me virei para a rua e vi meu ônibus chegar, eu acenei para que parasse e ela continuou imóvel. Sorri pra ela.

– Nos vemos por aí. - ela concordou com a cabeça.

Por incrível que pareça o ônibus não estava lotado. Pelo contrário estava vazio demais. Tirei a mochila das costas e sentei. Senti meu celular vibrar no bolso, já o peguei desbloqueando e entrando direto nas mensagens.

Guto: Sinto muito ter te colocado em problemas com a sua irmã.

Fiquei chocada, eu jurava que estava sozinha quando Eleonor tentou me coagir. Lembro-me bem dela ter entrado no quarto e achado a garrafa de vodca dentro de uma gaveta e ter me pego guardando a caixa de cigarros. Eu fiquei apenas com cara de tacho esperando que ela me tirasse tudo.

Eu mandei uma mensagem de volta: Como você soube?

Silêncio. Porque ele sabia de tudo e ao mesmo tempo não me dizia nada? Era angustiante, que meus amigos me conheciam melhor do que eu mesma. Cheguei em casa trinta e cinco minutos depois de ficar dentro do ônibus. Ninguém estava em casa, aparentemente era o que parecia, peguei a comida de dentro da geladeira e esquentei joguei a minha mochila em cima da mesa e ri lembrando-me do quanto Eleonor odiava aquilo, lavei as mãos e peguei a comida de dentro do micro-ondas. Ao terminar meu almoço arrumei toda a minha bagunça e subi pro quarto.

– Você não há viu desde aquela vez?– a voz da minha mãe soou meio afobada.

– Não, sinto muito Luiza.– alguém disse preocupada. - Ela desapareceu.

Tudo ficou em silêncio, e eu permaneci tentada a continuar ouvindo, porque eu não conseguia simplesmente entra no meu quarto? Eu praticamente me arrastava para dentro do furacão que era minha família, eu era invisível para eles, por outro lado eu sabia seus segredos.

E ontem como foi?– a mesma voz de antes perguntou, e até eu do outro lado da porta senti o tom de malícia.

Ele foi maravilhoso, gentil, atencioso... Eu me sinto outra pessoa quando estamos juntos. - o que minha mãe estava falando? Ou melhor, de quem ela estava falando.

O Tyler sempre gostou de você. - meu queixo caiu.

Me afastei, atordoada, que bagunça era essa que eu estava presenciando. Porque diabos eu estava sempre no meio disso, no meio deles. Eu queria ser invisível ou desaparecer de verdade, nada estava bem comigo.

Entrei no meu quarto e sentei na cama ainda em choque. Se ela gostava de outro porque ainda continuava com o Paulo? Se ele estava com outra porque continuava com minha mãe. As perguntas ficaram intermináveis dentro da minha cabeça.

Me joguei pra trás chocando com a cama, minha mochila fez um estrondo ao cair no chão, e com certeza isso chamaria atenção, e foi como pensei. Em poucos segundos ela estava lá com a porta aberta me encarando totalmente, e a outra mulher que eu nunca tinha visto na vida começou a me olhar tão esquisito que eu achei que tivesse mais uma cabeça no meu pescoço.

– Quando você chegou? - o nervosismo com que ela pronunciou as palavras começou a me assustar.

– Sei lá, mais ou menos uma hora atrás. - revirei os olhos mostrando total tédio.

Ela passou as mãos no cabelo, e começou a me analisar, eu sabia o que ela tava fazendo, querendo saber o que eu tinha ouvido. E eu queria não ter ouvido nada. Desci da cama e peguei minha mochila do chão. Ela continuava me observando, enquanto pegava os livros de dentro da mochila e recolocava na prateleira, fingindo nem perceber a presença intimidadora dela e da outra.

– O que você ouviu Emily? - fiz cara de desinteresse.

– Meu Deus! - a outra mulher disse apenas, e saiu correndo. Será que ela tinha se esquecido de alguma coisa ou só queria ter me deixado com minha mãe sozinha.

Minha mãe hesitou, mas com certo desânimo pegou o livro que tava no chão e me entregou, como se fizéssemos isso todo o tempo. O que era o contrario já que ninguém gostava desse meu vício por livros.

– Eu cheguei e vim direto pra cá, aí eu deitei aqui é sem querer empurrei a mochila. - menti, mas eu não era à única ali. - Sinto muito por atrapalhar.

Como eu conseguia ser tão fria? Eu não sabia, mas provável que eu tenha herdado isso dela. Ela saiu do quarto como se não acreditasse em mim, mas ela não tinha outra opção. Voltei a deitar na cama e olhar fixamente para o teto deixando o tempo passar, minha cabeça estava explodindo. Pouco mais tarde senti algo dentro do meu estomago reclamar, levantei e desci pra pegar alguma coisa pra comer.

Eleonor foi a primeira que vi, depois vi as duas garotas e por último Joseph e a sua namorada.

– Emma! - Joseph correu até mim e me abraçou.

– Jo. - o abracei sentindo o conforto de alguém em dias. - Você não quis mais vir aqui.

– Eu venho todos os dias, mas você nunca está. - fiquei confusa. Como assim?

Me distanciei dele e vi minha mãe desaparecer e Eleonor sorri. Porque eles queriam me esconder dele? A única parte de família que eu ainda considerava parte da minha família.

– Você sabe que eu não sairia se você me dissesse quando vem. - eu vi ele se esquivar para eu ver sua namorada. - Ah. Oi Amanda.

– Oi Emily. - ela se fez de simpática.

Porque eu senti que eu não mais pertencia a meu irmão? Tudo estava desmoronando em cima da minha cabeça, eu não conseguia fazer parar. Começou a atingir meu coração, tudo dentro de mim se resumia em dor, porque tanta dor. Não consegui mais ficar lá e fingir fazer parte da família, eles estavam me destruindo. E tudo era minha culpa.

Despedi de Amanda e também do Jo, dizendo que não estava bem em parte era verdade porque eu queria vomitar tudo de dentro de mim. Entrei no quarto e fechei a porta, sentei no chão e comecei a chorar.

O motivo de tanto chorar, nem sabia qual deles eu estava chorando mais. Estava esgotada de estar sozinha, o tempo todo, aguentando tudo sobre mim, e nada fazia essa dor passar. Levantei e comecei a procurar por algo que faria minha dor passar, mas eu não encontrei, peguei meu celular.

Eu: Tem como você trazer alguma coisa pra me acalmar? Eu estou sufocada.

Não demorou muito Guto respondeu.

Guto: Claro.

E não demorou muito, ele entrou no meu quarto suado e com a camisa manchada de terra. Entregou a caixinha de cigarros e então desapareceu. Fechei a porta e tirei o cigarro e o isqueiro de dentro da caixinha. Quando dei a primeira tragada foi... eu não conseguia explicar era extraordinário. Repeti mais três vezes seguidas e senti a onda de prazer me envolver deixando a rejeição e a decepção fora de mim.

Não arrisquei que alguém me pegasse de novo com os meus "remédios tranquilizantes" abri a janela e deixei que o ar da noite se misturasse com o cheiro de cigarro. Deitei na cama com o celular nas mãos ouvindo uma música qualquer da minha playlist.


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