Cherry Bomb escrita por ApplePie


Capítulo 7
Fogueira à meia-noite


Notas iniciais do capítulo

Gente, peço mil desculpas pela demora. Esse ano tem sido muito corrido para mim.
Espero que gostem desse capítulo. Ele ficou praticamente igual ao da antiga versão, isso foi porque eu estava sem inspiração para criar novos acontecimentos a não ser novos diálogos.
Colar de beijos



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Liam

E mais uma vez eu estava em São Francisco andando com uma garota desacordada em meus braços no inverno.

Pelo menos parou de nevar, eu tentei me acalmar enquanto carregava Cherry como uma donzela.

Alexis. Alexis era seu nome.

Balancei minha cabeça quase desacreditando. Lembrei-me de seus olhos antes dela apagar. O quanto ela parecia realmente (e finalmente) confiante o bastante contar seu próprio nome.

Ignorei alguns olhares curiosos no meio da rua. Eu não precisava disso, como se já não fosse suficiente, minha mandíbula estava doendo como uma desgraça – tinha quase certeza que os hematomas estavam aparecendo.

Minha sorte foi que nenhum policial apareceu então eu não tive que me explicar para ninguém.

Alguma coisa precisava dar certo naquele dia.

Quando eu cheguei em casa, coloquei Alexis no sofá e fui dar uma olhada no meu rosto. Nada grave: eu só tinha uma área que estava começando a ficar roxa na minha mandíbula e um pequeno hematoma no meu queixo. Lavei meu rosto e decidi olhar Cherry.

Ao descer as escadas eu percebi que ela já estava acordada e esfregava o olho com vontade. Dei um sorriso de leve e me aproximei.

— Então... — comecei sem saber o que falar exatamente. — Alexis, ein?

Ela riu e assentiu.

— Meus pais gostavam de me chamar de Alex.

— E por que me contar isso só agora?

Ela engoliu seco.

— Porque eu acho que você deve saber que eu não deveria estar aqui.

***

Balancei a cabeça não entendendo mais nada.

— Como assim, Cherry?

Ela respirou fundo e começou a brincar com as mãos para tentar se acalmar.

— Meu passado é algo que eu não tenho coragem ainda de compartilhar com você, mas eu acho que você deve saber que eu significo problema.

— Você se refere àqueles caras, certo? Que estão atrás de você?

Ela assentiu.

— Por que, Cherry? Você fez algo de ruim?

— Posso dizer que eu nasci — eu a ouvi murmurando ao abaixar a cabeça.

Percebi que era um assunto delicado então deixei de lado. Eu agachei ao seu lado e levantei seu queixo para que ela conseguisse me fitar.

— Não se preocupe, Cherry, eu vou te ajudar a enfrentar qualquer problema.

— Eu deveria ir embora — ela murmurou.

— Você quer ir embora? — ela fez um “não” com a cabeça na hora e desviou seu olhar do meu mais uma vez.

Percebi que seus olhos encheram d’água, mas ela segurou o choro.

— Por que você está me ajudando? — ela disse num sussurro, mas foi suficiente para eu ouvir.

Nem eu tinha resposta exata para aquilo. Não é como se eu fosse uma fábrica de caridade, mas por alguma razão eu sabia que eu não ia deixar Alexis na mão. Não podia deixá-la na mão.

Porque eu te amo mais do que tudo, minha cereja — ouvi uma voz detrás do sofá falar.

Uma voz que eu conhecia muito bem. Cerrei meus punhos.

— Bryan!

***

— Desculpa, Liam — Bryan massageou seu pescoço como se estivesse sem graça, mas na verdade ele estava com dor porque eu fiz questão de jogar a almofada na sua nuca. — Eu não fazia ideia que eu ia encontrar você e a Cherry num momento tão... — ele pigarreou — tão íntimo.

Eu apenas continuei fuzilando ele com o olhar. Cherry corou.

— E... bem, você sabe que eu super acharia que vocês formariam um casal fofo, sabe? E...

— Bryan — eu disse soltando uma respiração brusca.

— Sim?

— Cale a boca.

— Beleza — ele assentiu e sentou no sofá.

— E não é que você nos pegou em algum momento íntimo ou algo do gênero — eu disse tentando parecer calmo, mas a verdade é que eu estava longe disso.

Espiei pela minha visão periférica procurando alguma expressão no rosto de Cherry, mas seu rosto estava inexpressivo.

Nunca amaldiçoei tanto o fato de algumas pessoas conseguirem esconder suas reações. Meus pensamentos foram bagunçados por Bryan (de novo).

— Hey, Liam, estou com fome.

— E daí?

— E daí que você é o cozinheiro. Le cooker. E eu sou o cliente chato que precisa de comida nesse instante.

— Então vai comprar.

— AH, por favor, Liam — ele gemeu como uma criancinha. — Eu quero comida.

— Foda-se.

—Mas...

—Não.

—Deixa eu terminar de fal...

—Não, Bryan, vai embora — eu disse encostando minha cabeça no meu sofá.

— Que tal pedirmos uma pizza? — Alex disse sorrindo. — Eu queria muito comer uma pizza de M&M’s, aí podemos pedir alguma salgada para você.

— Eu vejo um anjo — Bryan disse para ela colocando suas mãos no coração.

Revirei os olhos. Bastardo dramático.

Eu sorri para ela.

— Tudo bem — eu disse pegando o telefone da pizzaria.

— Tão submisso — eu ouvi Bryan murmurar.

Olhei para ele, fuzilando-o com meus olhos. Pela sua expressão claramente não era pra eu ter ouvido aquilo. Mas eu tinha ouvido sim.

— Bryan?

— Hm?

— Cala a boca.

***

A pizza chegou em vinte e cinco minutos e nós três devoramos como se não tivesse amanhã (aparentemente, eu e Cherry estávamos com uma larica maior que a de Bryan).

Depois disso, Bryan ainda ficou para assistirmos o filme Pânico 4.

Nem eu nem Cherry tocamos mais no assunto sobre ela. Achei melhor não fazer isso enquanto Bryan estivesse aqui.

Pouco tempo depois, a campainha tocou. Acabei levantando para abrir já que eu queria me divertir com a tortura de Bryan (considerando que ele se assusta fácil) e não queria atrapalhar o filme de Alexis.

Parado do outro lado da porta estava Riley.

Dizer que eu estava surpreso seria um enorme entendimento.

— Riley! Eu...

—AHHHHHHHHH!

Nós dois levamos um susto com um grito fino.

Riley sorriu como se ela tivesse chupado limão.

— Sua... amiga está aí? Espero que eu não esteja atrapalhando nada...

—Sim ela está aqui — eu disse — mas não foi ela que gritou. Esse grito foi do Bryan.

Riley arregalou os olhos com a minha afirmação. Por um momento eu não entendi porque ela estava surpresa com aquilo, mas não demorou muito para eu lembrar: ela quase não saía com meus amigos quando nós namorávamos, ela sempre queria distância e arrumava brigas quando eu ia ter A Noite dos Caras.

Pensando por um momento, até que foi bom ela ter tido aquele chilique quando Alexis chegou, assim foi mais fácil dizer adeus e foi bom ela não ter se relacionado com meus amigos direito, pois não terei que vê-la andando com os mesmos amigos que eu. Talvez seja um pensamento meio babaca, mas eu não pude deixar de me sentir aliviado.

— Precisa de alguma coisa? — eu perguntei quando ela não disse mais nada.

— Ah... — suas bochechas coraram. — Eu acabei me distraindo. É que na verdade eu vim te trazer isso — ela me entregou um pacote observando meu rosto atentamente com os seus olhos verdes.

Abri o pacote e reconheci imediatamente o álbum de fotos que nós tínhamos feito nas férias. Não tinha muitas imagens, quase nenhuma, ia ser um daqueles álbuns que você demora anos para completar.

Um álbum que eu provavelmente não iria completar nunca mais.

Eu sabia o que ela estava fazendo. Ela não só estava se arrependendo de ter brigado comigo como de ter terminado comigo. Era uma mensagem, um sinal para ver se eu iria voltar para ela. Acho que ela esperava que eu, ao ver todas aquelas fotos de nós juntos, iria pedir pra voltarmos, mas não.

— E eu queria saber se... — ela mordeu o lábio se impedindo de falar.

Eu suspirei. Não podia levar aquilo adiante.

— Me desculpa, Riley, você realmente é uma pessoa legal, mas eu e você... não vai rolar,  obrigado por me mandar o álbum, mas eu não vou ter muita utilidade para ele — sua cara caiu. — Eu quero seguir em frente Ril. Você me deixou e disse para eu seguir em frente. Eu já estou seguindo em frente, agora é você que me precisa deixar ir. Espero que logo você arrume um cara que realmente te merece porque esse cara não sou eu. E, se você por favor puder não me procurar com tanta frequência... eu acho que vai ser melhor pra nós dois.

E sem esperar uma resposta eu fechei a porta com a mão que eu não estava segurando o pacote.

Ela que quis terminar e agora ela não sabia o que ela queria. Suspirei mais uma vez. Parei de repente quando vi que o filme tinha sido pausado e havia dois pares de olhos me observando atentamente.

— Escutaram tudo? — eu perguntei não olhando para nenhum dos dois, apenas para o álbum.

— Sim — Cherry disse enquanto Bryan tentava negar.

— Nessas horas você deve mentir, Cherry — Bryan sussurrou.

— Não porque ele já sabe a verdade — ela deu de ombros. Eu soltei uma risada meio fraca.

Depois de um segundo de silêncio, Alexis voltou a falar.

— O que você vai fazer com isso?

— Não tenho a mínima ideia — eu olhei para ela. — Alguma ideia?

Ela deu um meio sorriso que pareceu que estava olhando para um demônio no corpo de um anjo.

***

— Pensei que só fizessem isso em filmes — Bryan disse enquanto observava a miniatura de fogueira que fizemos com álcool de lareira que eu tinha em casa.

Pegávamos foto por foto jogando no fogo até virar pó. E assim íamos repetindo o processo.

Cherry sorriu com o comentário de Bryan, mas não disse nada, apenas jogou outra foto no fogo.

— É um alívio quando as lembranças viram pó. Você se sente mais leve. Parece que seu passado não te prende mais.

— Tipo Mulan cortando o cabelo — expliquei à Bryan que pareceu entender melhor com o exemplo da Disney.

— Ideia bem diferente — Bryan continuou a comentar e olhou pela sua visão periférica para Cherry. — Você já fez isso antes?

O seu sorriso desapareceu aos poucos e ela assentiu em silêncio.

Parei de atirar fotos para observar Alexis. À luz do fogo, seu cabelo parecia mais selvagem e seus olhos mais brilhantes. Naquela hora desejei ter uma câmera para que eu conseguisse tirar fotos de todas essas imagens de Cherry. Eu acreditava que o que era bonito precisava ser registrado.

Pouco tempo depois, Bryan foi embora alegando que precisava acordar cedo no dia seguinte para fazer um trabalho da faculdade.

Sem falar nada, Alexis foi até seu banheiro escovar seus dentes e eu decidi me preparar também para dormir.

Em meia hora, eu já estava embalado na minha cama pronto para dormir. Tentei apagar da minha mente a cara de Riley, eu não ia me deixar perder horas de sono por causa dela.

Sem conseguir pegar no sono comecei a mexer no celular. Porém, as conversas e postagens apenas contribuíram para me deixar mais acordado ainda.

Liguei a TV no Netflix e fiquei assistindo Jessica Jones enquanto eu tentava pegar no sono. Meia hora depois, eu estava naquele limbo em que você está quase dormindo quando eu ouço uma batida leve na minha porta.

— Entre — eu meio que resmunguei enquanto ficava de olhos fechados.

— Liam? — ouvi Cherry sussurrar enquanto abria a porta lentamente. — Está acordado?

— Hmmmm — foi tudo o que eu consegui dizer.

— Eu queria saber se posso ficar com você essa noite. Eu sei que é estranho, mas eu estava tendo um pesadelo e...

— Feche a porta depois que você entrar — eu murmurei meio sonolento enquanto eu criava um espaço ao meu lado em minha cama. Era uma cama de casal então não teria problema algum.

Tudo que se escutava eram os passinhos de Cherry enquanto ela andava no meu piso de madeira.

Abri um dos olhos quando eu senti as cobertas se moverem. Cherry prendeu seu cabelo num rabo de cavalo baixo e seu cabelo estava meio embaraçado. Suas bochechas estavam levemente rosadas devido ao calor da roupa e das cobertas comparado ao frio do inverno.

Ela deitou-se ao meu lado e pude sentir que ela observava meu rosto.

— Por que você está me encarando?

— Porque você me acalma — ela respondeu sinceramente.

Se eu não tivesse tão sonolento, eu provavelmente teria pulado da cama quando ela disse isso. Mas, como eu estava quase dormindo, eu apenas dei um meio sorriso e abri meus olhos.

— Boa noite, Cherry.

Agora foi a vez de seus olhos se fecharem.

— Boa noite, Liam.


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Notas finais do capítulo

Não faço ideia de quando eu postarei o próximo. Mas vou tentar não demorar tanto dessa vez ♥
Comentem o que acharam!!!
Byebye