Cherry Bomb escrita por ApplePie


Capítulo 14
Velhos amigos - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Parte 2 desse capítulo. Alguns próximos capítulos terão poucas alterações.



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Liam

Por um breve momento, ninguém se moveu. Até que Cherry decidiu quebrar o silêncio de uma vez por todas.

— David! — ela exclamou novamente, mas dessa vez ela não parecia assustada, parecia até... Contente?

Balançando minha cabeça, eu tentei agir rápido, colocando meu corpo na frente de Cherry para que ela não se machucasse. Algo me dizia que confiar em um cara armado que bate de madrugada na sua porta não era o certo a se fazer.

Porém, parece que Cherry nem notou meu plano, pois ela simplesmente desviou de meus braços e pulou em cima de “David”.

— Oh, Milady, você não tem ideia do quão preocupado eu estava. Você sabe que a minha lealdade é mais forte que mil! Se vós apenas aceitais minha humilde proteção... — ele dizia enquanto retornava o abraço de Alexis.

O cara parecia que estava fazendo um juramento para a rainha da Inglaterra.

Eu deveria estar parecendo um verdadeiro otário parado na porta da minha casa observando um potencial Hitman e a garota com quem eu estava dividindo minha casase abraçarem como velhos amigos.

O cara pareceu perceber minha presença, pois enquanto abraçava minha amiga ele ergueu uma sobrancelha como se estivesse me medindo.

Que babaca!

Cruzei meus braços e tentei fazer uma cara de mau – o que eu tinha certeza que estava mais para uma careta.

Pigarreei, chamando a atenção de Cherry que se desvencilhou dos braços de seu amiguinho e virou-se para mim com um sorriso imenso.

Seu sorriso me fez quase esquecer que David era um trouxa.

Quase.

— David pode ficar só um pouco? — ela me pediu sussurrando.

Apenas assenti e olhei para ele seriamente.

— Sem armas aqui, parceiro.

Ele arqueou a sobrancelha. Cherry virou-se e olhou para nós dois.

— Desculpa, David — ela deu de ombros —, mas até eu prefiro que você tire isso.

Sorri triunfante para o homem que apenas bufou e colocou em cima da mesinha seu revólver.

Super normal. Ter um Hitman com problemas de ciúmes entrando na minha casa e deixando sua arma na minha mesinha.

Respirei fundo e fechei a porta.

***

Cherry insistiu para que eu fizesse chocolate quente. Como nossas torradas tinham virado cinzas, eu pensei “por que não?”, até porque Cherry e David só começaram a realmente conversar sobre assuntos importantes depois que terminamos nossas bebidas.

Alexis parecia muito em dúvida sobre o que perguntar. Ela olhava para o tal David e depois olhava para sua caneca vazia. Até que, enquanto David terminava seu candy cane, ela suspirou e começou as perguntas.

— Como você me achou? — foi a primeira coisa que Cherry perguntou ao homem.

Antes que o homem falasse alguma coisa, ele ficou me medindo com os olhos, como se perguntasse para Cherry se ele podia falar seus segredos na minha frente.

Alexis tomou um fôlego.

— Olha, David, Liam tem sido a melhor pessoa para mim — olhei para ela espantado que ela fosse ficar falando sobre mim na minha frente, no quesito de estar me elogiando, claro que eu não me senti nem um pouco incomodado e segurei o sorriso. — Ele me abrigou quando eu estava prestes a congelar e ele me deixou ficar em sua casa. Eu não queria que nenhum de vocês se envolvesse — ela disse agora olhando para mim —, mas eu acho que você tem o direito de saber de tudo antes que algo ruim aconteça.

— Bem, eu vou falar tudo até agora antes que você comece sua história, jovem senhorita — David disse bem mais relaxado, parecia que agora ele realmente sabia que podia confiar em mim.

É, porque um estudante de gastronomia, parecendo um zumbi ambulante por causa do sono, realmente poderia ser um sequestrador em potencial.

Quem sabe eu poderia estar raptando as pessoas para que elas experimentassem minha comida e ficassem sempre comigo?

Só que não.

— Assim que Sabrina descobriu que você tinha fugido, ela fez um completo escândalo — David explicou alternando seu olhar entre mim e Alexis. — Resumindo a história, ela contratou um detetive para tentar te encontrar. Seu nome é Wagner Ponchen. Dias atrás eles nos contatou, dizendo que havia encontrado você. E mandou uns capangas te encontrarem.

Lembrei logo dos caras que nos abordaram.

— Só fiquei sabendo, nós da casa só ficamos sabendo, depois que a tentativa deles foi frustrada. Aí eu entrei em ação para te procurar. Yolanda disse para eu me certificar de que você estava bem e te proteger da megera.

Olhei preocupado para a cara de Cherry. Milhares de emoções passaram por seu rosto.

Eu podia compreender bem porquê ela estava assim.

— Esse detetive descobriu que você trabalha no sebo, ele não teve a chance de te ver lá, ele descobriu apenas pelas pessoas à volta, por isso eu aconselho você a não voltar mais lá.

Alexis engoliu seco, mas assentiu levemente.

David parecia meio transtornado com tudo, Cherry logo percebeu isso.

— Está tudo bem, Davi — ela lançou um sorriso triste em sua direção. — Apenas deixe para lá.

Fiquei quieto apenas observando David. Ele me lembrava demais aqueles companheiros estranhos de animes que juram proteger a princesa e que acabam sendo mais engraçados do que qualquer outra coisa. Ele tinha bastante esse aspecto.

Segurei o riso.

— Meu irmão? —Cherry perguntou depois de um minuto de silêncio.

David, desconfortável, pigarreou.

— Ele... bem, eu não tive mais notícias dele. A última vez que eu soube de alguma coisa, ele tinha reuniões na Irlanda.

— Ele não sabe ainda que fugi?

— Não, senhorita.

Ela assentiu.

— E a casa?

— Sentindo sua falta e esperando que um dia você possa retornar para nós.

Olhei para Cherry. Ela olhou para a janela e virou-se para mim.

— Está na hora de eu lhe contar minha história.

***

O horário nem era mais importante. Eu tinha quase certeza que só iria trabalhar e, ao invés de ir para a faculdade, eu iria ficar dormindo em casa.

Esse era o meu nível de curiosidade com uma mistura de preocupação e interesse pela situação de Lexi.

David nos deixou a sós a pedido da Alexis, ele disse estar com fome e foi fazer alguma coisa para comer na minha cozinha. Eu, normalmente, iria até lá e o ajudaria, mas tinha alguma coisa mais importante em jogo, que precisava da minha atenção.

Cherry ficava alterando seu olhar para todos os lugares menos para mim, parecia que não era capaz de o fazer. Ela suspirou e, enquanto olhava a paisagem pela janela, começou a contar tudo.

— Eu sempre fui uma princesa para todos na minha casa. Meus pais tinham dinheiro, MUITO dinheiro – e ganharam mais ainda quando minha avó morreu deixando certo dinheiro para minha mãe – e meu irmão era um prodígio por isso nossa situação sempre foi muito confortável. Eu cresci sem conhecer meu avô – ele morreu devido a um câncer -, mas eu tive a oportunidade de ver a minha avó até ela morrer de pneumonia quando eu tinha sete anos. Meus avós por parte de pai... bem, eu parei de vê-los quando eu tinha cinco anos. Algo sobre eles não se darem bem com a minha mãe porque ela era bissexual e não gostava de ir em eventos caros. Enfim, minha vida era completa e feliz mesmo tendo apenas meu irmão e meus pais.

Ela sorriu como se estivesse vendo sua infância bem diante de seus olhos.

— Eu cresci estudando numa escola pública na Inglaterra, eu tinha amigos, poucos, mas eram meus amigos. Isso durou até a morte dos meus pais. Eles morreram num acidente de carro por conta de uma forte tempestade. Por conta disso, eu me aproximei demais do meu irmão. Nós fomos embora da Inglaterra, viemos para os Estados Unidos por conta da empresa que ele estava construindo, por isso você provavelmente não conseguiu dizer pelo meu sotaque que sou britânica, acabei acostumando muito com o som daqui. Enfim, meu irmão... ele sempre foi muito protetor comigo, por isso insistiu em deixar a herança toda para mim, disse que seu caminho já estava trilhado – afinal, pode ver pelo quanto ele já foi capaz de construir na sua vida – e então ficou cuidando de mim. Ainda lembro-me de dias que, mesmo ele chegando super cansado em casa, era capaz de sorrir para mim e conversar sobre meu dia. Eu mentia, mentia sobre minha felicidade e superação, esse era meu sacrifício para nós, afinal eu sabia que ele estava sacrificando muito por mim também.

Ela suspirou como se tivesse lembrando cada vez mais dos detalhes.

— Eu não conseguia fazer muitos amigos em Colorado, as crianças eram muito mimadas pro meu gosto, mas não tinha nada o que eu podia esperar de uma escola particular de alta classe, por isso aguentei calada. Um certo dia, meu irmão compreendeu que eu estava infeliz – parecia até mágica por ele ter percebido do nada, me impressionei em como ele me conhecia – e então fomos para Georgia, uma das sedes de sua empresa ficava por lá. Foi então que eu decidi pintar meu cabelo, eu escolhi vermelho porque sempre foi cor a favorita da minha mãe, ela amava tanto essa cor que meu pai me contava histórias que ela queria pintar as paredes do meu quarto de vermelho, ele demorou meses para explicar que era uma cor muito forte para um quarto de bebê e que não ia ficar muito legal — percebendo minha cara de curiosidade ela sorriu para mim e respondeu a minha dúvida silenciosa. — Meu cabelo era castanho escuro antes de eu pintar — eu sorri de volta. — Enfim, era cômodo morar em Georgia por conta de uma parente nossa que morava lá — sua voz ficou mais rígida. — Tudo estava indo bem, porém eu era menor de idade e meu irmão sempre tinha que viajar – sua empresa estava crescendo rapidamente e sua presença era sempre requisitada: Londres, Paris, Buenos Aires, Dublin... Para que nossa situação não fosse parar nas mãos de um conselheiro tutelar, meu irmão me deixou aos cuidados da irmã de minha mãe, Sabrina, que pouco tempo depois se mudou para a divisa de Califórnia e Nevada no norte. E foi aí que meu inferno realmente começou.


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