Jade terminava de desfazer as malas quando Sara bateu na porta.

– Jade! Sua mãe. - Sara estendeu as mãos, para que a bailarina pegasse o telefone.

– Não quero falar com ela. - Jade voltou a fazer o que estava fazendo.

– Ela é a sua mãe Jade.

– Mais eu não quero falar com ela! - Jade alterou um pouco o tom de voz e saiu dali.

Mariana andava pelas ruas da cidade, com a mala nas mãos. Não tinha dinheiro para ir para um hotel, e não tinha nenhum amigo que pudesse lhe acolher. Foi quando se lembrou do rapaz que conheceu na noite anterior.

A jovem não tinha escolha, decidiu ir atrás de Cobra. Caminhava lentamente com as lágrimas no rosto, quando finalmente chegou.

Passou alguns minutos observando o QG de longe.

– Está perdida moça? - Dona Dalva se aproximou com a cadeira de rodas.

– Não senhora, obrigada. - Mariana estava indo em direção a loja em passos lentos, tinha um pouco de medo.

– O que você está fazendo aqui? - Cobra arregalou os olhos quando viu a garota com uma mala na porta do QG.

– Oi. Eu fui despejada, e não tenho ninguém. - Mariana abaixou a cabeça. - Posso ficar aqui hoje?

Cobra ficou em silêncio, não conhecia aquela garota direito. Suspirou e disse.

– Entra aí.

– Obrigada. - Mariana deu um pequeno sorriso e deixou a mala no chão.

– Vem cá, o que aconteceu? - Cobra estava curioso

– Já fazia cinco meses que eu não pagava o aluguel do quarto que eu morava. Então me despejaram. - Mariana começou a chorar. - O meu trabalho só dar pra comer.

– Você... Pretende ficar aqui? - Pela expressão de Cobra, parecia que ele não gostava da ideia.

– Não, não. Eu vou embora. Vou ver se a minha patroa adianta o meu salário e eu procuro outro lugar pra ficar. Tchau. - Mariana pegou a mala e ia em direção a porta, mais Cobra a pegou pelo braço.

– Pode ficar!

– Sério?

– Sério. Olha aqui não tem espaço, mais é melhor do que a rua! - Cobra olhava em volta.

– Obrigada! - Mariana o abraçou. - Obrigada mesmo. Olha, eu juro que amanhã eu resolvo isso.

– Fica tranquila.

Jade se arrumava para o seu primeiro dia de aula em uma academia de dança, nada feliz. As lágrimas ameaçavam cair, mais ela não deixou. Sem perceber, arrancou alguns fios de cabelos.

Saiu do quarto, e na sala Sara a esperava.

– Está linda querida! Vamos? - Sara se levantou do sofá

– Vamos. - Jade estava visivelmente desanimada.

Jade estaria muito feliz se não estivesse sendo forçada a fazer aquilo, se estivesse com Cobra ali, tudo seria diferente. Os dois sonhavam em crescer juntos, ambos apoiavam um ao outro.

– Jade? Jade! - Sara estralou os dedos

– Oi. Desculpa, eu estava distraída.

– Por que não quis atender a Lucrécia hoje de manhã? Ela ficou muito triste.

– Você sabe muito bem! E se ela quisesse falar comigo mesmo, não me mandaria embora.

– Jade... Não fale assim! A Lucrécia te ama, ela só quer o melhor pra você.

Jade ficou em silêncio, quando finalmente chegaram no local. A jovem bailarina entrou no lugar, totalmente desconhecido. Mostrou o papel que tinha nas mãos para um aluno, perguntando onde ficava sua sala. Pelo menos as aulas de inglês serviram para alguma coisa.

Já era noite, Mariana trabalhava em uma casa, onde era babá da pequena Ester, além de cuidar da limpeza da casa. Ganhava apenas quatrocentos reais por mês.

Chegou no QG e viu Cobra.

– Você fica aqui direto é? - Mariana sentou - se em uma cadeira e encostou a cabeça na mesa, estava exausta.

– Não. Acabei de sair da academia ali na frente. - Cobra apontou para a fábrica onde ficava a Ribalta e a academia do Gael. - Eu luto muay thai.

– Olha, um lutador! - Mariana sorriu. - Deve ter muito garota afim de você.

– Na verdade não. Até ontem meu coração tinha dona. - Cobra abaixou a cabeça, voltou a lembrar de Jade.

– E o que houve? - Mariana ficou curiosa.

– Ela é bailarina, foi para os Estados Unidos. Preferiu seguir o sonho dela.

– E como é o nome dela?

– Jade. - Cobra deu um sorriso involuntariamente, e Mariana sorriu ao notar isso.

– Parece que você gosta dela.

– Sim. Mais eu vou aprender a não gostar mais!

– E... Ela é bonita?

– Ela é linda, o sorriso dela é o sorriso mais lindo que eu já vi! E dança muito bem. - Cobra sorriu novamente. - Mais eu quero esquecer isso. Ela, está bem longe.

– Ele ficou tristinho! - Mariana se aproximou do rapaz. - Vou fazer você ficar um pouquinho mais feliz.

Mariana e Cobra se beijaram.

Sara havia dito para Jade ligar para ir busca - la, mais ela preferiu se virar sozinha. Jade chegou em casa e Sara estava assistindo televisão.

– Ué? Como conseguiu chegar aqui? - Sara se levantou.

– Sempre dou um jeito. - Jade deu um pequeno sorriso.

– Como foi seu primeiro dia naquela academia de dança?

– Foi legal! Fui muito bem recebida, correu tudo muito bem. - Jade largou a bolsa e sentou no sofá.

– Viu? Você logo vai se acostumar minha querida. - Sara acariciava o rosto de Jade.

– Sim. Se acostumar pode até ser, mais nunca vou esquecer o que eu deixei pra trás. - Jade se levantou. - Vou para o quarto.

Jade trancou a porta e começou a chorar. Talvez se tornaria uma grande bailarina, mais ainda faltava algo para ela ser feliz.