"Então nos faça um favor

Você encontraria alguém mais para culpar?

Porque suas palavras são como balas e eu sou a mira da sua arma..."

Lies — McFly.

James Cooper

O primeiro dia de aula. Normalmente você sente aquele tédio absurdo e não quer nem levantar da cama cedo, afinal você ficou muito tempo sem ter que fazer isso. Aposto que você imagina os nerds acordando bem mais cedo ansiosos por aprender e reencontrar os professores que simplesmente os adoram. Bom, eu sou um nerd e não estou nada ansioso.

Meus pais haviam morrido dois anos atrás e foi quando eu fui morar com minha tia Kelly, foi até bom porque na minha antiga escola eu sofria bullying. Não que alguém realmente soubesse, mas deviam suspeitar já que eu era todo esquisito com meus cabelos de garota na altura no ombro e os óculos fundo de garrafa, ainda vivia com roupas escolhidas pela minha mãe, não eram, mas pareciam.

Saber que meus pais haviam sofrido um acidente e não resistiram... É um sentimento que não desejo para ninguém, não consigo nem escrever como aquele dia foi doloroso, estranho e perturbador. Eu era totalmente apegado aos dois, fazíamos tudo juntos como aquelas famílias clichês de séries. Eu não tinha amigos — nenhum mesmo — e isso que me aproximou tanto deles, digo, eles eram meus melhores amigos. Como todos meu parente mais próximo era minha tia eu tive que ir morar com ela em Londres, foi bem difícil mudar de pais; Agradeci aos Deuses por não ter que encarar minha antiga casa e relembrar cada momento bom que tinha vivido com meus pais e tiveram outras coisas pelo qual agradeci. Ganhei uma nova melhor amiga Michelle que na verdade é minha prima e minha tia comprou praticamente tudo novo para mim, repaginou meu visual (talvez eu tenha esquecido de dizer, mas Kelly é estilista) e no primeiro dia de aula na escola nova eu fui algo que nunca tinha sido. Desejado. Encontrei amigos, entrei para o time de basquete, tinha até uma namorada. Blair. Ela era completamente linda com seus cabelos ruivos e seu jeito de metida, mas ela era um amor de pessoa com quem a conhecia direito; Eu me sentia um bobo apaixonado perto dela, eu ainda sou completamente apaixonado por ela, mas terminamos já que eu me mudei. E não para um lugar novo, foi para minha antiga cidade.

Eu estou apavorado porque mesmo estando diferente eu iria reencontrar as pessoas do meu passado e ter que enfrentar meus pesadelos novamente. Eu sabia que eles não tinham me esquecido, a cidade era curiosa e cheia de fofoqueiros, não dava para não lembrar do garoto que perdeu os pais e se mandou, também sabia que Marina iria voltar a atormentar meus pensamentos e minha vida.

[...]

— Eu sei que você teve problemas aqui, James. — minha tia disse — Me desculpe por te fazer voltar para cá, mas esse emprego novo vai ser muito bom para mim. Digo, isso é Nova York! Tem tanta gente importante...

A cortei o mais rápido que pude. Samantha Campbell falava muito quando davam chance. Michelle lia um livro e acho que inconscientemente mexia nos cabelos ruivos recém tingidos e ignorava tudo que acontecia ao redor.

— Tudo bem, eu vou ficar bem, tia. Sério!

Ela relaxou e suspirou virando a esquina. Logo reconheci o prédio que me atormentava desde quando eu era pequeno, cutuquei a menina ao meu lado e senti o corpo dela estremecer, eu entendia bem esse sentimento de estar longe da sua zona de conforto. Sorri e segurei a mão dela tentando dar conforto para a garota que apertou ainda mais nossas mãos quase machucando meus dedos.

— Certo. Se comportem e lembre-se que tem que ir para a secretária, você sabe onde é né James? Claro que sabe... Boa sorte e eu amo vocês.

A castanha disse tudo tão rápido que mal pude raciocinar, ela apontou para o relógio e entendi que ela estava atrasada o que não era bom no primeiro dia de trabalho. Sai do carro o mais rápido que pude com Michelle observando tudo maravilhada; Tenho que admitir que tudo ali era mesmo lindo, a escola era enorme e tinha um jardim maravilhoso, quadra de tênis, futebol e basquete, tinha 2 piscinas olímpicas entre outras coisas — mais parecia um lugar de lazer do que uma escola.

Eu podia sentir os olhares em nós dois enquanto caminhávamos, as pessoas cochichavam e algumas apontavam descaradamente. Michelle pegou a minha mão e entrelaçou com a sua, eu apertei tentando demonstrar confiança e segurança, queria que ela se sentisse bem naquele ambiente novo.

Quando eu vi ela, me senti estremecer, minhas mãos suaram e minha boca secou, respirei fundo afastando as lembranças mas não foi rápido demais. Eu me lembrei.

"O dia estava quente e a minha pele ardia debaixo do moletom preto, mas não queria tirar. O refeitório estava cheio de alunos que conversavam alto, riam e tacavam comida nos amigos. Ela estava sentada duas mesas ao lado da minha, os cabelos loiros caíam pela costas lisinhas, os olhos azuis brilhavam cada vez que ela ria e o sorriso... Era simplesmente a coisa mais bonita que ele já tinha visto. De repente ela o fitou e ergueu a sobrancelha, o menino engoliu em seco e ajeitou os óculos olhando para baixo. Era apaixonado por ela desde que tinha cinco anos, eram melhores amigos e vizinhos, mas as diferenças tinham afastados os dois. Ela não deixava ele contar para ninguém, mas de vez em quando eles até conversavam pelas janelas de seus quartos.

Sentiu uma movimentação na mesa, ele estava sozinha então estranhou, levantou o olhar e se surpreendeu por ver ela ali. Ela estava bebendo suco, mas parou e sorriu, ele sorriu de volta nervoso. A garota foi se aproximando cada vez mais dele e quando percebeu as bocas deles estão perigosamente próximas.

Sabia que todos olhavam para os dois, mas ele só conseguia olhar para os olhos e a boca dela. Se aproximou mais e então ela gargalhou; Sentiu seu rosto ficar vermelho e seu coração bater mais forte.

— Achou mesmo que eu te beijaria? — ela riu ainda mas e agora o resto das pessoas a acompanhavam — Vai sonhando, nerd.

Ela tirou a tampa do suco e despejou na cabeça do menino que arregalou os olhos já cheios de lágrimas. O moreno saiu correndo e faltou todas as aulas daquele dia e nunca mais teve coragem de olhar para ela novamente, mas seu coração se apertava ao lembrar que não conseguia odiar nada nela por mais que quisesse."

Michelle me olhava, os olhos castanhos estavam confusos, minha mão já não estava mais prendida a sua.

E ela? Me encarava também.