–Professora você não acha que vai ser ruim eu sair beijando todo mundo?
–Não é todo mundo, querida, é só o menino que você já beijou no teste e o menino e talvez você vá beijar na peça se acontecer alguma coisa com o Leandro.
–Mas para quem nunca tinha beijado a senhora não acha que é muito?
–Nunca tinha beijado?- Por que sempre tem algum tipo de reação assim? Até a professora, daqui a pouco todo mundo vai saber, principalmente se continuar desse jeito.
–Professora mesmo sabendo que a senhora não vai contar pra ninguém ainda é bom pedir... não conta pra ninguém, por favor.
–Não vou contar pode ficar tranquila, na verdade nem vamos falar nesse assunto. Vá para o palco, comunicarei meu sobrinho, que é o substituto do Leandro.
–O.K., já sei que ele é seu sobrinho.
–Ele te falou? Mas nem para pra falar com as pessoas, não sai daquele celular.
–Ele falou poucas coisas...
–Vai indo, te encontro lá.
Estava indo na direção do palco quando me lembrei do Leandro que não estava ali. Comecei a procurar meu celular e não estava comigo. Deve ter deixado dentro da mochila, corri para pega-lo e lá estava a Sabrina tentando abrir a ''gaveta secreta''.
–Sabrina... você está tentando abrir a gaveta da Eloiza? Por que? Se tem cadeado não é para ninguém abrir. Na verdade se não é seu você não poderia nem mexer.
–Quem é você para decidir no que eu deve e no que eu não deve fazer?
–Eu posso até não ser ninguém importante, mas sei que isso não é certo, para de mexer ai por favor.
– Só paro se eu quiser.
–Deixa de ser arrogante, oque você quer ai dentro?
–Olha, desculpa você tem razão, se eu parar de mexer agora você não conta para ninguém?
–Eu não ia contar para ninguém mesmo, pode ficar tranquila.-Por que eu não ia contar para ninguém? Já resolvi não vão precisar saber.
Fui o para o palco e lá estava o sobrinho da professora (''Romeu dois'', sei lá chame como quiser) me esperando, não tinha nenhuma pessoa lá só a tia dele, nem a Eloiza estava lá.
–Cade a Eloiza?
–Ela foi embora, assim como todo mundo.-Respondeu o menino.
–Queridos, como o Leandro não está aqui preciso ver a cena do beijo de vocês dois.
–Mas tia, eu sou o substituto, não preciso fazer essa cena.
–Mas sobrinho,se o Leandro não puder fazer você terá que 'segurar a barra'.- Quando ela falou isso me deu vontade de rir pois ela fez meio que uns gestos com as mãos para cima e para baixo e balançando para lá e para cá.
–Mas não posso sair beijando uma menina que eu nem conheço.
–Por isso que vocês tem o resto do dia para se conhecerem.
–Como assim, professora?- Eu perguntei.
–Vão ficar aqui até as nove horas da noite, está bem?- Ela tirou a chave do bolso.- Preciso que vocês peguem uns papeis que deixei em cima da mesa em cima do palco.
–Eu pego.-Eu falei
–NÃO! Os dois vão lá buscar, cada um tem seu nome escrito no envelope. Vão, vão lá pegar.
Eu fui na frente, ele veio logo atrás de mim, um pouco desconfiado. Subimos no palco, só consegui ver o vulto da professora, quando me virei por completo ela já estava lá fora trancando a porta, o sobrinho dela já tinha pulado do palco e quase chegou a tempo de impedir que ela tranca-se a porta. Fiquei tão confusa, por que ela tinha feito aquilo?
–Sabia! Já devia te conhecer o suficiente para saber oque você ia fazer.- Ele falou isso batendo na porta.
–Leia o roteiro e vai dar tudo certo.-Gritou a professora.
Peguei o envelope com o nome dele, e fui levar, posicionei para pular, mas...
–Não pula! Você pode se machucar.
–Para com isso, não sou tão lerda assim para me machucar só pulando de um palco.
–Mas você pode quebrar seu salto...-Ai que ele olhou para mim de verdade.
–Primeiro eu não sei andar de salto, segundo deve doer e terceiro eu acho desnecessário, para mim é como se fosse um instrumento de tortura disfarçado de acessório para deixar as mulheres felizes mesmo que estejam sofrendo.
–Nossa...- Ele tava olhando de verdade para mim, tava dando medo.
–O-oque foi?
–Você não usa salto, usa all star. Não faz escova nem chapinha, seu cabelo é enrolado. Não tem uma par de presilhas, nem fitinhas nem nada, só prende com uma piranha transparente.-Nossa... isso nem eu tinha notado.-Não usa acessórios, tipo brinco nem nada só esse colar de cruzinha.
–É um crucifixo.
–Você é diferente.-Não sei se ele percebeu mas todo mundo é diferente. Ele estava me olhando ainda, não pensei duas vezes joguei o envelope nele antes que eu ficasse mais corada. Porcaria, nem olhei o nome.
–''Romeu dois''...
–Fala.
–Qual seu nome?
–Você estava com o envelope na sua mão. Se você não sabe eu é que não vou falar. Descubra sozinha.
– Tá então responde por que sua tia trancou a gente aqui dentro?
–Abre o envelope.
Abri o envelope lá tinha alguns tópicos de ''oque fazer''.
–Primeiro item.-Eu li em voz alta.-'Conversarem sobre coisas que tenhamos em comum tipo vídeo-game, filmes, músicas'. No seu está escrito oque?- Ele olhou assustado para mim, olhei para trás por impulso, não tinha nada.
–A m-mesma coisa.- Não senti firmeza no que ele disse.
–Vamos fazer isso mesmo?
–Acho que s-sim, se quisermos chegar ao ultimo item.-Olhei para o ultimo item que era fazer a cena do beijo. Fiquei apreensiva, nervosa, comecei a tremer e fiquei corada. Acho que ele percebeu.
–Então, que musicas você ouve?
–Rock e você?
–Rock também! Olha que legal já é uma coisa em comum. Filmes. Que filmes você assiste?
–Todos menos terror, não sou muito afim de filmes assim mas gosto principalmente de comedias românticas, suspense, ação e assisto muitos animes também mesmo não tendo nada a ver com filme.
–Você assiste anime? Cara, você é incrível! - Não pude segurar um sorriso.-Não achei nenhuma menina nessa escola inteira que curte anime. Eu adoro anime.
–E eu nunca achei um menino que gosta-se de anime, menina também não mas não é importante.
–Vídeo-Game?
– Só tenho um play2. Conheço poucos jogos.
–Mas você gosta?
–Claro que gosto de jogar!
Ficamos falando de animes, jogos, filmes, musica por um bom tempo, até que eu vejo oque a professora escreveu no quinto item.
–Olha aqui ta falando pra assistir um filme, no quinto item.
–Um filme? Ela é louca! Não tem como.
–Tem um aparelho na sala que a Eloiza costura.
Apostamos corrida para ver quem chega primeiro, ele só ganhou porque meu cadarço estava desamarrado.
–Só tem filme chato aqui.
–Verdade... esperai. Tenho um anime que eu ia emprestar para minha colega, mas ela faltou e ele ta aqui comigo.
–Qual que é?
–Naruto.
–Caramba que legal põe ai.
Coloquei para nós assistirmos.
–Qual seu personagem favorito, além do Naruto? - Ele perguntou.
–Gosto muito da Hinata e do Shikamaro e você?
–Gosto do Gaara e do Lee.
Estava tudo bem, cada um torcendo para seu personagem ganhar a luta (mesmo já sabendo quem vai ganhar), quando a luz acaba. Fica tudo escuro.
–''Romeu dois''? Você ta ai?
–Sim, eu to bem e você?
–Também estou bem. Que horas são?
–Oito horas já.
–Será que a professora esqueceu da gente?
–Acho que não, mas não queria parar de assistir agora.
–Eu também não queria...
–Eu estou com internet, você quer assistir Yu-Yu-Hakusho aqui comigo, no celular?
–Ok, pode ser, gosto de assistir esse anime também.
Ficamos assistindo até o celular dele descarregar.
–Acabou a diversão.-Ele olhou para mim.
–É, acabou mesmo a diversão.
–V-você quer ensaiar a ultima cena, nosso tempo esta acabando.
–E-está bem.-Isso vai ter que acontecer uma hora ou outra mesmo.
Fui pegar o roteiro na minha bolsa e lembrei do celular, mandei uma mensagem para o Leandro para ele vir ensaiar também. Voltei para lá onde estava o menino.
–''Romeu dois''!- Gritei o mais alto possível. Estava muito escuro e eu não conseguia ver nada. Liguei a luz do meu celular, mas não estava iluminando quase nada.-Vem cá pra gente ensaiar.
Ouvi uns passos perto de mim.
–Romeu?
Eu estiquei a mão e ele segurou ela.
–Estou aqui julieta.-Ele se juntou a mim e segurou minha cintura, pegou atrás da minha cabeça, me deu um beijinho na bochecha me abraçou, eu peguei meu celular e iluminei o lugar, lá estava o Leandro, não o ''Romeu dois''. Dei um passo para traz e ele avançou.
–Desculpa, você pediu para mim vir até aqui para ''ensaiar'', achei que você queria...
–P-pensei que fosse o Romeu dois.
–Não ele saiu correndo quando eu abri a porta, perguntei onde você estava ele nem respondeu. Esperai... Jeni, você estava trancada com aquele cara aqui deis de quando? Oque vocês estavam fazendo, ele te fez alguma coisa?
–Era só um ensaio. Ele não fez nada, fica tranquilo.
–Tranquilo? Você estava trancada, a não sei quanto tempo com um menino, no escuro, sozinhos. Quer que eu pense oque?
–Não sei, esperava que você não pensasse que sou assim, que eu faria uma coisa como dessas, estou decepcionada com você Leandro, em pensar que estávamos nos dando um pouco bem, ai você vem me comparar com as suas ''amiguinhas'', nada contra elas mas eu não sou assim.
–Eu sei, desculpa. Eu confio em você mas não confio nele.
–Ele é legal não precisa fazer drama.
Sentei em uma das cadeiras, o Leandro sentou na outra ponta.
–Vocês ainda estão ai? Pensei que já tinham ido embora.- Leandro olhou com raiva para ele.- Você tá bem amigo?
–Amigo não, eu nem te conheço.
–Tá legal. Você está com frio Jeni?
–Não, estou com frio não.-Estava tremendo mas não queria incomodar ele.
Ele tirou a blusa e colocou nos meus ombros.
–Não precisa, ai como você vai ficar?
–Tive uma ideia. -Ele pegou a blusa vestiu e me abraçou.-Está quentinha agora?
–S-sim.
–Dá para perceber, seu rosto está mais vermelhinho.
–Ela é assim mesmo.-Falou o Leandro.- Vamos embora?
–Sim, vamos.
Peguei minhas coisas, meu DVD do Naruto, meu celular e guardei meus livros. Acho que a professora nós esqueceu. Cheguei perto deles, o Romeu dois já veio me abraçando com o argumento que era 'é só para te esquentar'. Fomos até a saída o Leandro não parava de olhar para a gente.
–Deixa que eu levo ela. Eu moro pertinho da casa dela!
–Mora é? Você quer que eu vá com você Jeni, só para te esquentar?
–Não precisa eu esquento ela! -Leandro me puxou e já me abraçou com mais força.-Acho que eu esquento melhor. O que você acha, Jeni?
–Eu não acho nada.
Fui andando na frente. Parei olhei para traz e os dois estavam atrás de mim.
–Eu vou indo, por aqui mesmo.-Romeu dois acenou sem olhar para traz. Olhei para o Leandro e ele estava com os dentes cerrados de raiva eu acho.
–Então... como você chegou tão rápido aqui?-Eu perguntei para o Leandro.
–Eu estava na sala de filme, tava indo embora quando chegou sua mensagem ai eu fui correndo te ver.
–Leandro? Você tá bem?
–Sim, eu to ótimo.-Só que não, ele estava sorrindo com os dentes serrados e com algum tipo de tique nervoso no olho direito.
Chegamos no portão de casa, ele avançou para me dar um abraçou recuei, ele se virou e continuou andando.
–Leandro, espera!- Corri até ele e dei um beijo em sua bochecha ele me abraçou e eu retribui.
– Amanhã eu passo aqui para te buscar.
Entrei, todo mundo estava na sala me esperando, minha mãe, meu pai, minha irmã e meu primo.
–Onde você estava?
–Eu tava na escola, no teatro. A professora acabou de me trazer.- Meu primo me olhou desconfiado.
–Se ela te trouxe está bem então. Vai jantar.
Quando todos foram dormir meu primo veio falar comigo.
–Não foi a professora que te trouxe, foi um cara, eu vi você abraçando ele.