Lyanna apenas sorrira. “O amor é doce, querido Ned. Mas não pode mudar a natureza de um homem.”

Lyanna tentou imaginar-se beijando Robert Baratheon, quando o pai lhe disse que estavam noivos. Ela fechou os olhos, entreabriu os lábios e quase conseguiu materializar ele ali, na sua frente, seu corpo se inclinando em direção ao dela e suas mãos segurando sua cintura. Tentou pensar em como seria se ele lhe tocasse da forma que Brandon e os cavaleiros de seu pai tocavam outras mulheres.

E ela quase conseguiu. Quase. Ficou mais difícil ainda quando ela o conheceu pessoalmente. Sua natureza animada e a voz alta, uma grande indiscrição.

Ela sabia que jamais teria prazer ali.

Um tempo depois ela tentou imaginar-se beijando Rhaegar Targaryen, quando o mesmo a encontrou tentando esconder as armaduras do Cavaleiro da Árvore Que Ri. Ele tinha sorrido para ela, de uma forma que outras pessoas julgariam inapropriadas, mas o tom proibido quase fez Lyanna se perder.

Enquanto lágrimas escorriam pela sua face, quando o Principe tocou uma bela melodia, ela tentou pensar em suas mãos tocando seu corpo. Mas seus pensamentos foram distraídos por Benjen.

No final da noite, olhando para o escuro de sua tenda, Lyanna se perguntou se algum dia ela se contentaria com o beijo de alguma pessoa.

 [...]

Lyanna apenas sorrira...

Ela se contentou com o beijo de Cerenna, a filha de um dos cavaleiros de seu pai. Ambas falavam sobre como as coisas estavam mudando, desde que Robert havia sofrido um acidente de caça e falecido. O futuro era incerto agora.

Ambas eram apenas garotas tentando descobrir coisas improprias sobre o mundo. Então Cerenna se inclinou e a beijou rapidamente, rindo em seguida. Não havia sido nada além de uma brincadeira para a mesma, mas algo dentro de Lyanna havia se alterado juntamente com tudo ao seu redor.

Naquela noite, ela não conseguiu dormir. Sabia que havia algo de errado consigo, afinal que tipo de Senhora gostaria da sensação de beijar outra? Não era possível, nem nos cantos mais remotos ela havia ouvido falar de algo assim.

Lyanna ergueu a mão e tocou os próprios lábios devagar. Que os deuses lhe ajudassem.

 [...]

O amor é doce, querido Ned...

Ela havia sido convidada para ser dama de companhia na nova Rainha, Elia. Seu pai sorriu, dizendo que seria bom para acalmar seu comportamento tão selvagem e que era um bom lugar para arrumar um novo marido.

Lyanna não queria um novo marido. Ela queria fugir e descobrir quais coisas indecentes o mundo poderia lhe mostrar, quantos lábios rosados ela poderia beijar.

Mas se surpreendeu ao notar que a Rainha era muito mais do que ela esperava. Elia era uma criatura doce e corajosa, embora muitos pudessem dizer o contrário. Lyanna estava surpresa com quantas risadas a dornesa havia conseguido lhe arrancar. Talvez fosse seu sorriso que fazia a fazia querer sempre rir como uma criança cheia de travessuras.

A Stark escovava os longos cabelos castanhos da Rainha, tentando fazer uma trança decente. Ela nunca fora a melhor nisso, mas gostava de fazer essas pequenas coisas por Elia.

Ela observou o reflexo de ambas no espelho. Ela era tão linda... E como se tivesse lendo seus pensamentos, Elia sorriu e Lyanna abaixou a cabeça envergonhada.

Quando finalmente ficou sozinha em seus aposentos, tudo que ela conseguia pensar era o crime que estava cometendo por se apaixonar pela esposa do Rei.

 [...]

Mas não pode mudar a natureza de um homem. 

Elia havia pedido que lhe fizesse companhia naquela noite, já que o Rei não compartilharia seus aposentos. Boatos circulavam a Fortaleza, dizendo que o mesmo procurava por uma outra esposa, e a própria Lyanna não era cega, vendo a forma como ele olhava para ela.

Ela só queria entender que tipo de pessoa estúpida olharia para os lados tendo a Rainha como sua.

Lyanna tentou se livrar desses pensamentos quando deitou-se ao lado da dornesa. Ambas em estavam em silêncio havia bastante tempo, mas era algo reconfortante estar dessa forma com Elia.

— Eu não amo meu marido... – A Rainha deixou escapar subitamente, se virando para Lyanna e a encarando. – Todo mundo pensa que eu sou fraca e que me sinto mal por ele estar procurando outra esposa, mas a verdade é que eu me sinto aliviada.

— Eu não acho que você seja fraca. – Lyanna disse, segurando sua mão delicadamente. Ela possuía uma pele tão diferente da sua, morena enquanto Lyanna era tão branca quanto a neve.

— Eu sei que não acha. – Elia sorriu, de forma tão singular que o coração de Lya falhou uma batida.

Sempre disseram que a loba era imprudente demais, mas ela não concordava com isso até o momento em que se inclinou e depositou um beijo nos lábios da Rainha.

Quando se afastou, esperou um tapa, um grito, esperou que fosse expulsa do quarto e até mesmo do castelo. Mas tudo que Elia fez foi lhe puxar novamente para outro beijo.

 [...]

Lyanna apenas sorrira. “O amor é doce, querido Ned. Mas não pode mudar a natureza de um homem.”

Ela se lembrava de dizer isso ao seu irmão. Era uma afirmação que sempre se mostrará correta. Mas graças aos deuses, Elia não era um homem e Lyanna não hesitou em entregar seu coração.