Silent Hill X: dear Henry escrita por S Nostromo


Capítulo 1
Bem-vindo a Silent Hill




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Desnorteado, sem rumo e um tanto temeroso. Jowie era como uma criança andando lentamente pelas ruas de Silent Hill, sendo engolido pela névoa. Os poucos carros nas ruas, abandonados, alguns locais com janelas e portas abertas. Era como se toda a civilização tivesse abandonado a cidade ao mesmo tempo, deixando tudo que restou a mercê da deterioração e do tempo.

Perguntou-se onde estaria seu irmão Henry Townshend. Foi visitá-lo, mas tudo que encontrou no aposento foi um bilhete em cima do balcão da cozinha:

“Henry não se encontra neste apartamento. Faz alguns dias. Estou indo atrás dele em Silent Hill onde acho que ele está. Onde acho, não, onde ele realmente está, já que disse para mim. Se ler este bilhete não se preocupe, voltaremos logo. Sindico Andrew, o pagamento deste mês, de Henry e meu, está com a senhora Fowley do apartamento 215.”

“Ass: Eileen Galvin.”

Henry era alguns anos mais velho que Jowie, mas tinham uma relação muito intima e intensa, que tornou-se mais forte quando seus pais morreram em um acidente de avião. Mesmo assim, os irmãos Townshend sempre estavam juntos, conversavam sobre a vida e seus trabalhos. Henry por ser o mais velho costumava dar conselhos a Jowie para que não caísse em armadilhas da vida. Costumavam dar um volta no parque e jogar conversa fora quando estavam deprimidos ou chateados com algo. Henry Townshend trabalhava para manter seu lar, enquanto Jowie Townshend, um adolescente, estudava e mantinha a casa organizada e limpa. Ambos gostavam do que faziam, gostavam das funções que empenhavam, gostavam da relação de amizade que tinham um com o outro. Henry gostava da atenção que ganhava de Jowie, que parecia vê-lo como um herói, uma inspiração para a vida. Já Jowie gostava da paciência de Henry, e sentia-se privilegiado e ter um irmão que o ajudava em tudo de bom agrado. Jowie sentia que Henry não seria tão paciente se fosse com outras pessoas, e isso o deixava feliz, pois sentia Henry seria somente dele, para sempre. Os anos foram se passando, e tanto Henry quanto Jowie passaram a ter sonhos e idealizações diferentes. De uma forma mutua e amigável decidiram viver separadamente, cada um seguindo seus objetivos. Mesmo assim, a amizade foi mantida. Tão íntimos quanto casca e árvore. Henry decidiu mudar-se para um novo apartamento, deixando como presente para Jowie a pequena casa onde moravam. Fizeram promessas e juraram que ia manter contato, que conversariam e contariam um para o outro que acontecesse durante o dia a dia. Henry, em um dos primeiros dias em seu apartamento, encontrou um buraco gigantesco na parede do banheiro. Descobriu então que este buraco o levava para uma espécie de mundo alternativo, onde sua cidade tornava-se macabra e abandonada, onde começou a vivenciar coisas que o deixavam a beira da insanidade, onde viu criaturas horrendas e disformes, onde viu vítimas das mais estranhas possíveis. Podia conectar-se com o mundo normal e alternativo através do estranho buraco no banheiro. A porta de saída do apartamento estava acorrentada, e de alguma forma, ninguém podia ouvir Henry. Era como se seu apartamento estivesse ligado ao mundo paralelo. Perdido e preso neste mundo alternativo, Henry encontrou uma vítima em especial: Eileen Galvin, sua vizinha. Estavam sozinhos, tinham apenas um ao outro. O mundo alternativo parecia conectar vários cenários de uma forma peculiar, incluindo recintos de uma cidade vizinha, a Silent Hill. Juntos, Eileen e Henry enfrentaram monstros e foram vítimas de um serial killer. No fim, escaparam do mundo alternativo, e Eileen fora inserida ao ciclo de vida e de amizade de Henry. Foi neste momento que a vida de Jowie começou a tornar-se amarga e desagradável. Não conseguia apreciar a presença de Eileen. Em sua mente, a moça não podia ter tanta proximidade de seu irmão somente porque sobreviveram juntos a um estranho mundo paralelo e macabro. Jowie acreditava que ele era muito mais importante que Eileen.

Jowie caminhava por Silent Hill, mas temia chamar por seu irmão e atrair algo que não gostaria de ver. Acreditou fielmente quando Henry contou tudo que ele e Eileen passaram. Sempre acreditou em Henry, e agora, tendo a oportunidade de talvez ver tudo que ser irmão viu, sentia certo medo. Jowie tinha a intenção de encontrar alguma praça na cidade abandonada. Deduziu que Henry poderia estar em tal lugar, pois estava sozinho, e era onde gostava de ficar quando estava sozinho. Virou uma rua qualquer, mas não enxergou muita coisa. Teve a impressão de ver um vulto andando do outro lado da rua. Decidiu seguir por outro lado, agora olhando para trás, pensando se o vulto era real ou ilusão. Pensou agora em Eileen, desejando que a moça não encontrasse seu irmão primeiro. Era esse o plano, encontrar Henry e simplesmente ir embora de Silent Hill. Eileen que voltasse sozinha. Com seus recém vinte anos, Jowie sabia que era infantil não gostar de Eileen, mas não podia evitar, desgostava da presença da moça.

Acabou encontrando um caminhão no meio da rua. Estava ligado. O motor roncava de uma forma estranha, parecia convidá-lo a abrir a porta e sentar no banco do motorista. Ficou de longe, parado na calçada, assistindo o veículo fazendo o ruído de motor. Teria alguém ali dentro? Seria alguém que foi procurar algo e o deixou ligado? Será que tinha ligado sozinho? Pensou. Acabou cedendo e foi até o caminhão. A porta estava aberta, mas não havia ninguém dentro. Não sabia dirigir, então não seria de ajuda alguma. Apanhou uma lanterna que encontrou no porta-luvas. Viu de relance alguém correndo no fim da rua, e um arrepio subiu na espinha. Saltou do caminhão e correu para o lado oposto.

– Henry?! – gritou, desistindo de manter o silêncio, e arriscando a atrair qualquer criatura que fosse.

Não viu ninguém, mas ouviu. Um som que vinha por trás. Ao olhar por cima do ombro, viu a rua se despedaçando como uma segunda pele, como cinzas. A rua abandonada e solitária ia ganhando uma feição manchada e escura, com buracos e barras de ferro cravadas no asfalto. As casas velhas agora ficavam cercadas por arame farpado e correntes. Desatou a correr, com Silent Hill despedaçando-se logo atrás de si. Avistou uma enorme casa de dois andares que parecia em boas condições, comparado ao resto da cidade. Subiu o pequeno jogo de escadas e abriu a porta dupla em um empurrão, mas era inevitável. Toda Silent Hill já havia sido tragada para o mundo macabro e medonho, incluindo a casa onde tentou se abrigar.

Jowie checou a porta atrás de si e viu que estava trancada. Seria impossível voltar para as ruas agora, então seguiu o único corredor. Cheirava a mofo e sangue, era escuro, e havia quadros na parede com formas estranhas. Acendeu a lanterna para se guiar. Passou por mais uma porta que o levou a uma sala de estar. Os sofás estavam enrolados por arame e cravados com estacas de madeira. Mirou a luz no lustre, quebrado, feio, e balançava lentamente. Ao iluminar a sua frente, viu um ser bizarro. O susto o fez derrubar a lanterna. Recolheu o objeto e mirou para o mesmo lugar. Não havia mais ninguém ali. Sentiu tanto medo que não conseguia sair do lugar, não conseguia respirar direito. Desejou como nunca que seu irmão estivesse com ele.


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