Já estavam ali por uma semana. Perto do galpão, encontraram uma casa, pequena, mas relativamente escondida pela vegetação que crescera ao redor. Apenas dois walkers que foram eliminados com facilidade.

Depois que Daryl havia voltado da caçada, com dois esquilos e alguns pêssegos, haviam feito uma reunião da qual Maggie e Tara haviam ficado de fora (Tara estava cuidando de Maggie). Haviam decidido ir até Virginia, em busca da família de Noah. Afinal, não havia outro lugar para ir, nem um lugar para ficar. Diante disso, resolveram esperar um pouco até que Carol e Maggie estivessem em melhores condições para a viagem.

Uma semana e Carol já não aguentava mais ficar parada, deitada, sentada, sendo servida o tempo todo. Resolvera acatar a ordem de Rick e permanecer quieta. Quanto mais cedo estivesse bem, mais cedo pegariam estrada novamente. Estava ciente que boa parte da razão de estarem ali era ela e queria contribuir com sua melhora, mas estava realmente cansada de não fazer nada. Não que Maggie estivesse bem. Na verdade, não estava nem um pouco bem… Mas aguentaria uma viagem de carro, apesar dos sinais claros de depressão. Àquela altura do campeonato, o melhor para todos era estar em movimento. Isso a tiraria da sensação de estagnação.

Estava sentada, consertando algumas roupas que encontraram na casa. A única coisa que lhe permitiam fazer. Lembrava-lhe do seu tempo na Pedreira em Atlanta, quando era designada apenas para serviços “domésticos” e não conseguia entender como havia passado tanto tempo satisfeita com aquilo. Agora, parecia que ia morrer de tédio. Já se sentia melhor, sem tantas dores. Falara com Rick sobre isso, mas ele achou melhor ficarem mais dois dias. Tinham conseguido um caminhão e um carro de passeio. Estavam buscando suprimentos e em dois dias novamente estariam na estrada.

Pela janela, percebeu que Daryl mais uma vez saia em direção ao galpão onde estiveram naquela primeira noite. Todos os dias, sua rotina se resumia a levantar (pois acreditava que ele mal dormia), ajudar em alguma coisa, então ele saía. Sempre voltava à tardinha com alguma coisa útil, mas passava o dia inteiro fora. Rick já não questionava mais. Carol fingia ignorá-lo visto que o único momento em que trocavam alguma palavra era quando ele chegava e ia diretamente perguntar como ela estava se sentindo.

Isso a estava irritando. Toda aquela baboseira de “recomeçar” e ele simplesmente regredia ao estágio em que vivia no início de tudo. Levantou-se rápido. Suas costelas protestaram, mas precisava ser ágil. Aquele comportamento inútil ia acabar hoje.

Andou rapidamente para a porta e antes de atravessá-la, esbarrou de frente com Tara. Um gemido escapou de seus lábios.

– Onde Você vai?

– Preciso falar com Daryl… - respondeu tentando se esquivar dela.

– Carol, você não pode sair assim.

– Eu tô bem. Eu juro… Só me deixe ir, sim?

– Promete que não vai fazer nada estúpido?

Carol suspirou.

– Prometo.

Apressou o passo e viu quando Daryl entrou no galpão, fechando a porta atrás de si. Mais alguns passos e empurrou a porta que, para sua surpresa, se abriu sem nenhuma dificuldade.

No canto do galpão, sobre um monte de feno velho, Daryl estava deitado e lhe lançou um olhar sem vida.

– O que você está fazendo aqui? - foi a pergunta que ele lhe fez.

– O que diabos você está fazendo?

– Nada.

– Nada? Como assim, nada?

– Apenas volte pra dentro. Me deixe sozinho.

Ela ficou encarado ele por um momento. Atônita.

– Levante. - disse entre dentes.

– Não quero.

– Levante.

Recebeu silêncio como resposta. Andou mais alguns passos para perto dele.

– Levante agora! Todos nós temos trabalhos para fazer.

O olhar que ele lançava em sua direção não tinha brilho. E isso assustou Carol.

– Você não é o Hershel.

– Não. Não sou o Hershel.

– Então cale a boca e me deixe. Eu faço meu trabalho. Tenho levado comida para todo mundo desde que chegamos aqui.

Raiva borbulhou dentro dela. Quis gritar, mas teve medo de atrair walkers, por isso chegou um pouco mais perto dele.

–Não é disso que eu estou falando. Você sabe que é mais que comida…

– Mais? - ele se sentou no feno - Mais? O tempo todo estivemos correndo, lutando, matando, perdendo pessoas… Eu só estou saco cheio disso tudo.

Então ela reconheceu. Apesar da irritação, não havia vitalidade na voz dele. Grandes bolsas escuras ao redor de seus olhos, a postura curvada… Visivelmente mais magro. Olhar úmido. Sinais claros de uma depressão à vista. A própria Carol já havia passado por isso antes. Quando vivia um inferno antes de todo esse inferno já tinha tomado remédios que sua vizinha contrabandeava sabe Deus de onde.

Todos estavam tão preocupados com Maggie, que não olhavam para mais ninguém ao redor. Mas Daryl estava ali, alimentando aquele monstro… Sozinho. Daryl que era forte como uma muralha, mas ninguém o conhecia tão bem quanto Carol. Ninguém sabia que embaixo daquela muralha, havia um alicerce frágil.

– Me deixe te ajudar.

– Você não pode fazer nada por mim.

– O inferno que não posso! E toda aquela merda sobre “recomeçar”?

– Esqueça. Não sei se eu consigo de novo. Tô cansado de não conseguir. - Ele havia se levantado agora - Eu sou um perdedor! As pessoas confiam em mim e eu não consigo proteger elas! Não consigo ajudar ninguém… Não consegui ajudar Sofia, Merle… Deixei a Beth ser levada…

– Você sabe que não é assim. Sabe o quanto Rick e todo mundo devem a você… Você me protegeu… Me ensinou. Me manteve perto.

Uma risada irônica e um dedo indicador apontado em sua direção foi o que recebeu.

– Não pareceu que eu importava tanto pra você… Você ia embora! Ia me deixar! Sem nem dizer adeus… Ia embora e me deixar… De novo!

– Você não entende… Eu estava perdida! Eu deixei Sofia se perder. Eu tomei a decisão de matar Karen e David… Eu fui expulsa e ouvi coisas horríveis do Rick, sabendo que merecia ouvir, mas doeu! Eu não estava lá quando Lizzy matou Mica - os olhos de Daryl se abriram, finalmente uma reação - Eu… Eu puxei o gatilho para impedir que Lizzy fizesse mal para Judith. - Ela enxugou as lágrimas - Foi difícil. Você queria saber o que aconteceu… Foi isso. Ainda está sendo difícil. - Um movimento mais brusco e a fratura em suas costelas deu sinal de vida, em forma de uma dor fina. Não conseguiu segurar a careta e o gemido - Droga!

Em dois passos, ele estava ao seu lado.

– Deixe eu ver..

– Eu tô bem! - afastou a mão dele com um safanão. Dary se encolheu um pouco.

Ele a encarou, magoado, e foi novamente até o feno. Sentou-se de qualquer jeito. A cabeça entre as mãos, seus cotovelos apoiados nos joelhos.

– Eu não sei o que tá acontecendo. Eu nunca me senti desse jeito.

Carol foi até ele, sentou-se devagar ao seu lado.

– Eu já. É uma merda. Não é fácil, mas é só não deixar que isso lhe mate. É possível recomeçar. Deixe eu te ajudar. - silêncio - Não me deixe sozinha… Porque, apesar de tudo, eu não consigo te deixar.

Quando ele se voltou para ela, seus olhos estavam molhados. Embora não houvessem lágrimas escorrendo.

– Fique comigo. Confie em mim.

Ela lhe sorriu e afirmou com a cabeça, aproximando-se dele para abraçá-lo, mas quando os braços fortes envolveram sua cintura, suas costelas doeram, e ela se afastou de supetão.

– Desculpe…

Ela sorriu e tomou o rosto dele entre suas mãos, trazendo-o para si. Beijou suavemente sua fronte sob os cabelos castanhos e encostou sua testa na dele. Ficaram alguns segundos assim, até que ela quebrou o silêncio.

– Apenas me deixe saber quando as coisas estiverem ruins, ok?

Ele afirmou com a cabeça e ela depositou um selinho em seus lábios, afastando-se rapidamente.

– Para selar o acordo. - e deu uma piscadinha, recebendo um sorriso pequeno dele. - Vamos, antes que Tara leve a culpa por eu ter saído…

Carol se levantou e estendeu a mão para ele, que, para seu alivio, a segurou. E juntos foram em direção à casa.

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