Brooke ofegava. Ela olhava fixamente para o homem sentado no insípido chão, estava eriço e nervoso, suas mãos planadas em seu rosto. Ele estava o escondendo, não por medo, mas sim por vergonha. Ele não acreditara no que fizera, não de novo. Não em sua nova fase de vida. Não era mais um lutador delinquente, e sim um homem de negócios.
A garota respirava com dificuldade, porém, ainda que estivesse assustada, ela se levantou da cama. Mais uma vez sua pele quente pisou no chão de cerâmica ríspida e fria. Ela pensou no que havia feito até chegar ali. Não podia sentir medo de Allen, não agora. Não depois de tudo que fizera. Brooke não o conhecia, mas soube desde já que Allen era um homem com problemas de controle. Tanto físico como sentimental.

Allen podia ver de relance entre os dedos o corpo do médico estirado no chão. Estava coberto de sangue e inchado. Bem que Allen gostaria de estar sentindo remorso ou algum tipo de culpa naquele momento, mas ele não estava. Alguma coisa lhe dizia que... Ele mereceu. Morgan mereceu. O ferimento em Allen estava parando de expelir o líquido insosso e de cheiro enferrujado. Porém, sua blusa estava coberta de sangue, e não era apenas o dele...

– Eu sinto muito. – Ele lamentou em murmúrios. Uma sombra aquietou-se ao seu lado. Lentamente ele tirou as mãos de seu rosto e viu a garota lá, ao seu lado, sentado ao chão. – Eu sinto muito pelo o que viu. – Ele repetiu, dessa vez, ele falou mais alto. Allen não havia planejado aquilo, tudo acontecera tão rápido. Em outra época, ele não ligaria, apenas fugiria. Mas agora ele não podia. Não podia simplesmente fugir de seus problemas.

– Não... Não sinta. – Brooke sussurrou. Sua voz ainda estava rouca e fraca, mas ela continuou firme forte em seu argumento. – Pode... Pode parecer estranho, mas eu entendo.

– Você... Você entende? – Allen perguntou confuso.

– A sensação angustiante que enche seu corpo, sim, eu sei. Os sentimentos a flor da pele, calafrios. Eu sei disso, Allen. – Allen apenas ouviu tudo calado. Nunca pensara que... Que isso aconteceria. Estava totalmente confuso. Naquela situação, a lucidez estava longe de seus pensamentos.

– Allen, tudo o que aconteceu aqui... – Brooke olhou ao redor. -... Não foi culpa sua. Eu sei disso. - Por que foi culpa minha. Brooke pensou.

– Você... Quem é você? – Ele perguntou.

– Eu sou a pessoa que pode te ajudar, mas você terá que me ajudar também.

– Uma troca de favores, claro. Então é isso que você quer? Uma troca?

Brooke afirmou.

– Eu preciso que me ensine a lutar. – Brooke repetiu. Lembrou-se de quando falou com ele sobre isso pela primeira vez. – E eu quero que me faça a melhor.

Allen respirou fundo. Em todos esses dias que passou aqui com a garota, havia apegado-se a ela. Seu jeito inocente e assustado. Allen sabia que a garota havia passado por muita coisa até chegar aonde chegou. Então... Porque não?

– Quando começaremos? – Ele perguntou.

Brooke sorriu. Seria daquele dia em diante que tudo começaria, e seria daquele dia em diante que tudo acabaria. Começaria uma nova vida. E acabaria com várias outras, mas precisamente a vida de
seus inimigos.
A vingança tinha um gosto tão doce quanto o mel.