A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 85
Mandrakory - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Algo inesperado ocorre no castelo de Albenezir e Rantred Eisen planeja seus próximos movimentos.



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Capítulo 084

Mandrakory (Parte 2)

A expressão de surpresa era notável tanto nos rostos dos magos humanos quanto no de Turenhead. E foi o taurino quem a desfez primeiro.

— Quem diria que eu reencontraria o mais jovem dos Atreius tão ao norte. Devem ter levedo mais de uma volta da lua vindo de seus portos ao sul até aqui.

Apesar da naturalidade empregada por Turenhead ao se dirigir à ele, Kayan deixou a seriedade tomar o lugar da surpresa em suas expressões.

— Vai me dizer que ainda guarda rancor porque matei um de seus amigos na sua frente? – provocou ele. – Só não se esqueça de que você ajudou a matar o rei Gorgorous, que era meu amigo. Nem por isso guardo mágoas de você, visto que estávamos em guerra.

— Entendo que os humanos e os taurinos têm estado em guerra há muito tempo, mas aqui não é o local para acertarem as suas diferenças – disse Albenezir, demonstrando grande tranquilidade. – Turenhead é meu convidado assim como podem o ser considerados o jovem Kayan Atreius e a jovem...

— Thays Cyren – disse-lhe a moça assim que percebeu que era essa a intenção do draconiano.

— Venham, sentem-se a mesa, comam e bebam conosco. Aposto que perceberão que o general Turenhead não é apenas o bárbaro que vocês o consideram.

Thays não tinha nenhuma magoa real contra o taurino e Kayan não era realmente amigo de Guil, rapaz que perecera durante a última guerra contra os povos bárbaros. Consideraram que seria uma desfeita para o seu anfitrião recusar aquele convite e sentaram-se à mesa.

A fartura era evidente. Havia água e cerveja, pão, queijo, carne de ovelha e ovos cozidos. Os dois não estavam realmente com fome, mas o alimento parecia tão apetitoso que o casal não resistiu à ele.

— Estou tão curioso que não consigo me conter – disse Turenhead com sua voz grossa. – O que traz dois magos humanos até terras tão distantes?

— Viemos apenas conhecer os draconianos – respondeu Kayan, olhando para Albenezir. – Nossas duas raças não são exatamente aliadas, mas até onde sabemos os dragões sempre nos receberam muito bem em suas terras.

— De fato. Toda raça que vier nos visitar em paz será bem recebida em Mandrakory.

Foi então que Thays lembrou-se das criaturas que havia visto pastoreando as ovelhas.

— São taurinos... os pastores que vimos enquanto voávamos com Thaylla são taurinos – concluiu a Cyren, mais para si mesma e para Kayan que para os demais.

— Não – corrigiu-os Turenhead. – Aqueles não são taurinos de verdade.

— São tão taurinos quanto você, seus reis, shamans e guerrerios, general Turenhead.

A resposta de Albenezir fez com que ele bufasse em descontentamento. Apesar disso, percebendo a dúvida que permeava os mestres humanos, Turenhead prontificou-se a explicar-lhes sua opinião.

— Há muito tempo, mais de mil e duzentos anos, um general conduziu várias tribos através do oceano com o objetivo de dominar Mandrakory. Ele estava tão certo de sua vitória que trouxe consigo até mesmo algumas dezenas das fêmeas de Turen Duicon.

— Claramente saímos vitoriosos desta intensa batalha, mas não sem perder sete de nossos irmãos – complementou Albenezir.

— O general, os reis e quase todos os shamans pereceram naquela batalha. Os poucos guerreiros que sobraram acabaram se estabelecendo aqui e tornando-se cada vez mais pastores de ovelhas que verdadeiros taurinos.

— Isso é parcialmente verdade. Permitimos que eles ficassem aqui se conseguissem conviver pacificamente conosco. Pouco ou quase nada da cultura dos taurinos restou neles, que absorveram um pouco da nossa em cada geração. Esta geração de taurinos apenas sabe como é a sua raça fora dessa redoma protetora que os cerca devido aos livros e não tem nenhuma vontade de travar guerras sem sentido contra os humanos.

— Guerras sem sentido, você diz? – contestou Turenhead.

— Também acho bastante sem sentido. Turen Duicon é uma ilha fértil onde vocês têm uma grande cidade fortaleza e mantêm a maior parte de suas fêmeas. Além disso, vocês dominam as melhores partes das montanhas do norte de Wesmeroth com suas diversas tribos. E se pudessem ser mais pacíficos tenho certeza de que poderíamos ceder algumas terras do norte de nosso território.

Kayan podia compreender o porquê dos demais povos bárbaros tentarem tanto avançarem para as planícies, mas os taurinos se adaptavam tão bem às montanhas quanto os anões o faziam.

— Não tentarei explicar nossa cultura à você, Atreius, mas espero que entenda que somos um povo de guerreiros e a guerra esta em nosso sangue. Vocês não são assim tão diferentes de nós e vivem guerreando entre si. Até mesmo os tão cultos elfos se dividiram e se matam há milhares de anos.

— Parece que o general Turenhead têm um bom argumento – comentou Albenezir. – Nós também já fomos assim no passado e apenas agora que nossa raça está a beira da extinção pudemos encontrar a paz. Apesar disso, vocês três não têm motivos para lutar aqui, então espero que possam tolerar a companhia uns dos outros.

Por mais que não gostasse de admitir, ambos os magos concluíram que o taurino podia ser bem civilizado quando não estava queimando nada ou quebrando pescoços.

— Já que vamos partilhar da comida e conversar, quero perguntar duas coisas a você, general, e em troca poderá me perguntar algo sobre mim – apesar de não ter certeza, Kayan havia concluído a muito tempo que Turenhead era muito mais curioso que os demais de sua raça. – O que o trás a terra dos dragões e quem lhe fez essa cicatriz por um acaso foi um Atreius?

— Perspicaz, você, jovem mago. A cicatriz me foi atribuída por um homem que já não vive neste mundo. Pelo que fiquei sabendo ele ficou famoso através do nome Zeffirs, mas quando ele me enfrentou ainda atendia pelo nome de Kayus Atreius.

Aquela resposta surpreendeu a Cyren, mas não à Kayan, que já imaginava uma resposta como aquela. O mais importante era que agora ele conhecia algo que nem mesmo seu tio Radamanthys sabia: o nome original de Zeffirs, que era bem parecido com o seu próprio por sinal.

— Quanto a primeira pergunta, venho aqui todos os anos há pelo menos cinquenta primaveras. O restante de meu povo fica em nossos navios, pois suas atitudes violentas não são bem vistas pelos draconianos. Os próprios dragões descarregam e recarregam as mercadorias enquanto eu venho aqui para conversar um pouco com o regente Albenezir Ruiz Tallon.

— Nossas conversas são interessantes. Aprendi muito sobre todos os que são conhecidos por vocês como povos bárbaros.

— Comércio. Se não me engano vocês também praticavam comercio com os anões antes da última guerra que travamos há uns dois anos.

— Tivemos que atacar a cidade dos anões por pressão dos nossos aliados – justificou-se o taurino. – Mas isso acabaria acontecendo cedo ou tarde, uma vez que os anões são aliados de nossos maiores inimigos.

Para os humanos era impressionante como o general era capaz de agir de maneira tão diferente quando estava em frente a uma mesa do que agia em um campo de batalha.

— Minha vez de fazer as perguntas. Qual Atreius é o seu progenitor e como você conseguiu chegar aqui trazendo essa garotinha com você?

— Garotinha!

Aquelas palavras irritaram Thays, que levantou-se e chocou as palmas de suas mão contra a mesa com força, fazendo com que os pratos e canecas saltassem com o impacto.

— Eu sou uma mulher feita e uma mestre de Drugstrein caso não tenha percebido. E tenho a mesma idade que Kayan.

— Oh! Eu não sabia disso. Não consigo discernir muito bem a idade dos humanos e a sua estatura não ajuda muito.

Aquela confusão fez com que Albenezir risse. A última coisa que eles esperavam era que o dragão fosse tão bem humorado, mas ele parecia estar se divertindo muito com aquela situação.

— Se eu fosse você tomaria cuidado, general Turenhead. Se esses dois se juntarem, talvez sejam capazes de te derrubar. Os dois possuem uma aura muito mais forte que a maioria dos draconianos.

Aquela afirmação surpreendeu os dois magos. Eles já tinham o conhecimento de que os dragões podiam mensurar a qualidade de uma aura melhor do que qualquer outra raça, mas não sabiam que eles poderiam fazer isso mesmo com auras inativas.

— Está falando sério? Da última vez que lutei contra o Atreius ele não podia sequer tentar me ferir.

— Você se surpreenderia com o quanto evoluí, Turenhead. Se nos encontrarmos em um campo de batalha novamente pode ter certeza de que será um taurino morto.

As ameaças de Kayan fizeram com que a aura do general se agitasse levemente. Ele estava prestes a se levantar quando Albenezir ofereceu-lhe mais cerveja.

— Mais conversa, menos brigas.

Acalmado os ânimos, Kayan tratou de cumprir sua parte no acordo.

— Eu sou filho de Kattus Atreius, mas nunca cheguei a conhecê-lo. E viemos para cá junto com os elfos.

— Elfos... foi como imaginei. Acho que eles vêem para cá com muito mais frequência que nós – concluiu Turenhead. – Agora devo me retirar. Está ficando cada vez mais difícil resistir a vontade de lutar contra vocês dois.

Assim como disse, o general dos taurinos realmente se retirou do ambiente, deixando apenas os dois humanos e o draconiano.

— Interessante. Acredito que a maioria dos humanos não aceitaria ficar no mesmo ambiente que um inimigo como vocês aceitaram.

— Isso tudo foi um experimento para você, não é? – a maneira como Kayan tomou um gole de sua cerveja enquanto perguntava aquilo de maneira tão casual fez com que parecesse que ele e o draconiano fossem amigos de longa data.

— Espero que não tenham se ofendido com isso, mas minha intenção foi apenas conhecer um pouco mais sobre vocês e o general.

— Isso é engraçado – comentou Thays. – Vocês, dragões, são muito mais antigos que os elfos, mas se parecem muito mais conosco, humanos, do que eles.

— Espero que vocês possam passar um longo tempo aqui em Mandrakory. Descobrirão que somos uma raça muito mais simples que a maioria dos demais povos costuma imaginar.

— Realmente – observou Kayan –, Thaylla nos tratou como se já fossemos amigos e você nos recebeu muito bem mesmo sem esperar que viéssemos. Alias, se me permite a curiosidade, o que fazia no continente na ocasião em que nos encontramos pela primeira vez?

— Ah sim, se eu não tivesse aparecido naquela ocasião, acredito que não estaríamos tendo esta conversa. Aquela maga que estava com você naquele dia está bem?

Aquilo surpreendeu Kayan, que não esperava que ele se lembrasse de Sarah e muito menos a mencionasse naquela conversa. Por um momento ele ficou sem palavras e Thays resolveu que seria melhor se ela falasse.

— A maga a qual se refere chamava-se Sarah Harppon, mas nós a perdemos em uma batalha contra outros magos humanos.

— Sinto muito em ouvir isso. Ela possuía uma aura bem peculiar. Voltando ao assunto anterior, eu procurava por um draconiano chamado Liare Ruoz. Ele e eu somos os últimos dragões negros e por muito tempo discordamos sobre muitos assuntos. Naquela ocasião havíamos discutido sobre um assunto em especifico e ele voou para o continente. Temendo que ele pudesse fazer algo estúpido, o segui, mas não encontrei-o em local algum.

Kayan ficou satisfeito com o retorno do assunto anterior e decidiu prolongá-lo.

— Estou certo de que ele não esta no território humano, pois certamente teríamos tido noticias sobre isso. Exceto se ele mantivesse sua forma draconiana todo o tempo.

— Existe esta possibilidade. Eu mesmo evitei voar pelo seu território enquanto procurava por ele. De uma maneira ou de outra acabei desistindo de encontrá-lo após umas seis luas antes de retornar para cá. Agora me sigam.

Inesperadamente, Albenezir aproximou-se da janela da torre e saltou em direção ao chão. Quando caiu, ainda em pé, fez com que o solo rachasse e afundasse devido ao seu grande peso. Kayan e Thays aproximaram-se para ver sua trajetória. Após isso perceberam que ele estava consertando o estrado com a magia da esfera da terra.

O Atreius deu de ombros e imitou o draconiano. A queda era de quase vinte metros, mas a poderosa aura do mestre protegeu-o completamente do impacto. Como seu peso era muito menor que o de um dragão, apenas fez com que um pouco de grama fosse lançado para o alto. Thays pousou ao seu lado logo em seguida.

— Todos os humanos que vieram até aqui sempre tiveram um mesmo propósito – o draconiano começou a dizer enquanto caminhava tranquilamente. – Vocês não devem ser diferentes e desejam aprender um pouco mais sobre nós e nossa magia.

— Você esta certo. Fomos até os elfos com este propósito, mas eles pouco nos ensinaram – disse-lhe Kayan. – Compreenderemos caso queiram guardar o segredo sobre sua magia para vocês mesmos e ficaremos felizes apenas com sua hospitalidade.

— Não se preocupem com isso. Sempre tivemos prazer em ensinar e em aprender também. Apenas precisaremos encontrar os instrutores mais indicados para vocês. Como Cyren você deve ter a esfera hyado como sua esfera primordial.

— Na verdade não – respondeu-lhe Thays. – Minha esfera é o crisis.

— Uma Cyren especializada em feitiços de fogo... nunca havia ouvido falar disso – Albenezir realmente parecia surpreso. – Nesse caso eu mesmo irei ensiná-la. Dragões negros possuem a capacidade de manipular qualquer uma das sete esferas comuns, mas eu sempre me senti mais a vontade com o crisis e o clayn. Nos momentos em que eu não puder lhe dar minha atenção tenho certeza de que alguns dos dragões vermelhos poderá lhe ensinar uma coisa ou outra.

Enquanto conversavam, o trio caminhava pelo território dos draconianos. Não havia muitas construções para se ver, mas os magos notaram alguns armazéns e várias tendas de tamanho descomunal.

— Já você, sendo um Atreius deve ser da esfera tangrea.

— Adivinhe novamente, pois este não é minha esfera.

— Um mago negro! – deduziu Albenezir de acordo com a alternativa que lhe restava. – Nunca tivemos um mago negro aqui em Mandrakory.

— Então parece que estamos trazendo duas coisas novas de uma única vez – comentou Thays, divertindo-se. – Uma Cyren da esfera do fogo e um mago negro em Mandrakory.

— De fato. Estou curioso para saber o quanto vocês poderão progredir no tempo em que ficarem aqui. Venham comigo.

Acompanhando o draconiano, os dois mestres de Drugstrein caminharam durante mais de uma hora pela campina. Os pavilhões deram lugar a uma agradável vegetação com algumas árvores esparsas.

O trio, então, contornou uma elevação de terra e rochas para encontrar uma caverna parcialmente iluminada pela cúpula que transformava a ilha gelada em um paraíso tropical.

— Pode entrar – Albenezir sugeriu para Kayan.

Eles haviam conversado durante o percurso, mas o mago negro definitivamente não sabia o que esperar ao entrar dentro da caverna. Apesar disso, não surpreendeu-se com o que ocorreu na sequência.

Um vulto dourado se aproximou rapidamente em sua direção, avançando de maneira desenfreada. Parou a menos de meio metro de Kayan e abriu a boca que tinha tamanho suficiente para engolir metade do corpo do rapaz. Um som estridente e ameaçador surgiu, fazendo com que Thays tapasse os ouvidos com as mão na tentativa de diminuir o incomodo.

Assim que terminou, o dragão de escamas douradas fechou a boca e elevou sua cabeça, encarando o jovem Atreius de uma posição a mais de quatro metros do solo.

— Esse aqui também não se assustou – disse ele, mais para Albenezir que para Kayan.

— Parece que esta perdendo o jeito, jovem Killuba. Ou talvez seja uma característica herdada do pai.

— Eu sabia que não pretendia me atacar de verdade, Killuba. Além disso, caso realmente desejasse uma luta, tenho certeza de que eu seria capaz de derrubá-lo. Prazer em conhecê-lo. Sou Kayan Atreius. Será você quem me ensinará a maneira com que os dragões utilizam a esfera da destruição?

— Você tem uma aura muito forte, Kayan Atreius, e certamente seria capaz de superar meu filho, mas será que teria alguma chance contra mim?

A voz austera vinha de uma dragão fêmea ao menos duas vezes maior que Killuba. Ela havia pousado logo na entrada da caverna e encarou bem o Atreius pouco antes de abrir sua grande boca e soprar uma poderosa quantidade de chamas negras contra o jovem mago.

Apesar de surpreendido pelo ataque inesperado, Kayan conseguiu conjurar uma barreira de energia bem a tempo de se defender da baforada do dragão a sua frente. A força do fogo era tamanha que começou a empurrá-lo para dentro da caverna. Ela forçava seu escudo com perspicácia, tentando perfurá-lo com suas chamas negras. O Atreius, por sua vez, reforçava os pontos que eram pressionados de maneira com que seu aurus pinn não cedesse para a adversária.

Vendo a dificuldade e perigo ao qual o namorado estava sendo submetido, Thays cogitou avançar para ajudá-lo. Só não o fez porque Albenezir percebeu sua intenção e acalmou-a com uma mão em seu ombro e um sinal com a cabeça. Estranhamente resolveu confiar no dragão que acabara de conhecer.

Quando o ataque terminou, a dragão estava visivelmente sem fôlego.

— Parabéns, você é um dos poucos que conseguiram resistir contra um sopro de durhan crisis.

— Obrigado – respondeu Kayan, também ofegante.

— Será que Kayan é mais forte que você, Ballaya Ruoz? – indagou Albenezir, curioso.

— Kayan é muito forte sim, mas o que o fez resistir não foi poder bruto e, sim, um grande conhecimento sobre a esfera da destruição. Não sei se tenho muito a lhe ensinar, mas farei o possível para transmitir o máximo de conhecimento que eu puder enquanto você estiver aqui.

Enquanto dizia aquilo, Ballaya adotava sua forma draconiana. Diferentemente dos demais, suas vestimentas eram uma espécie de armadura de couro ricamente adornada. Seu filho circulou-a e deitou-se logo atrás dela.

— Prometo que irei me dedicar ao máximo para aprender tudo o que puder me ensinar, Ballaya Ruoz – respondeu-lhe Kayan em meio a uma reverência.

— Muito bem, muito bem. Tudo está acertado e vocês dois poderão ficar o tempo que quiserem aqui em Mandrakory. Antes, porém, acho que vocês deveriam me acompanhar.

Mais uma vez eles passaram a caminhar pelo centro da grande ilha que foi transformada na morada dos dragões. Daquela vez, Albenezir conduziu-os até uma pequena casa construída em meio a um bonito jardim.

— Aquela será a morada de vocês enquanto estiverem aqui. A construímos com a ajuda de um mago que nos visitou há centenas de anos no passado. Tenho certeza de que será muito confortável para sua estadia e vocês terão privacidade até mesmo para fazerem seus filhotes aqui se quiserem.

Aquele último comentário fez com que o casal risse da forma de falar do draconiano, que entregou-lhes um sorriso em resposta. Agradecendo a grande hospitalidade de Albenezir, ambos seguiram em direção à casa para dormirem um pouco. Assim que estivessem descansados, porém, pretendiam começar seu treinamento sem mais nenhuma atraso.

* * *

Apesar das árvores de madeira escura, a floresta era muito bem iluminada. Tanto que chegou a incomodar os olhos do mago negro quando ele a alcançou após deixar o subterrâneo.

— E então, como estamos progredindo?

Quem lhe indagava era um elfo de rosto muito familiar. Seus cabelos brancos estavam trançados enquanto uma longa franja cobria-lhe quase metade do rosto. Sua pele cor de ébano contrastava com o tom carmesim do luxuoso robe que os lideres daquela raça utilizavam.

— Kail li Mordenion, você é bem impaciente para um elfo de mais de três mil anos de idade.

Aquelas palavras quase debochadas irritaram o elfo negro, mas ele disfarçou sua irritação quase no mesmo instante.

— Lembre-se, Rantred Eisen, nossa aliança apenas se sustentará caso realmente consiga libertar meu pai de sua tumba.

— Sei que você é o mais ansioso dentre os oito generais de seu povo, mas pode acalmá-los em sua próxima reunião. Meu discípulo está quase conseguindo extrair as informações da anciã dos elfos que trouxemos para cá. Em breve poderemos quebrar os encantamentos que selam Mordenion li Mordenion sem feri-lo.

— Espero que sim, para o seu próprio bem.

O elfo seguiu seu próprio caminho pela floresta enquanto Rantred avançou em direção ao seu próximo destino. Não levou muito tempo para chegar a uma mansão construída em meio as árvores, com algumas delas incrustando-se na edificação.

Assim que entrou no grande salão, deparou-se com uma criatura que conhecia pouco, mas da qual a companhia lhe agradava. Ele parecia vestir-se com uma brilhante armadura de batalha, mas, ao invés de um elmo, três chifres despontavam-se de sua cabeça coberta de escamas negras e curvam-se em direção à sua nuca. Ele sentava-se em um grande sofá e apreciava uma taça de vinho.

— O que posso fazer para meu amigo Liare Ruoz, o draconiano mais bem humorado que conheço.

— Diz isso porque não conhece Albenezir. Aquele sim vive de bom humor. Não desejo nada de vocês além de companhia e atitudes inesperadas. Saí de Mandrakory porque estava entediado de um lugar onde nada acontecia e quando sou acolhido pelos elfos negros fico alguns anos em um lugar onde nada acontece. Por isso resolvi passar algum tempo com vocês, humanos, para ver se me divirto um pouco. Aquele Meliord é o velho mais engraçado que já conheci.

— Nesse caso acho que podemos tomar um pouco de vinho dos elfos enquanto jogamos cartas mais a noite.

— Parece interessante... ver vocês bêbados. A propósito, Sellene estava te procurando. Disse que te esperaria no quarto.

— Certo. Verificarei o que ela deseja.

Não foi uma grande surpresa para Rantred quando chegou ao maior dos quartos da mansão élfica e encontrou a Rovkraz deitada sobre a grande cama no centro do aposento. Também não foi surpresa alguma vê-la totalmente despida.

Observou-a enquanto removia sua cota de malha e as demais partes da armadura que costumava utilizar apenas pela aparência imponente que lhe davam. Apesar de ela ter doze anos a mais que Rantred ele devia admitir que a mulher conservava o corpo de uma mulher de não mais que trinta anos.

Quando terminaram, o Eisen saiu de cima da Rovkraz e deitou-se ao seu lado, ofegante. Ela, por sua vez, esperou sua respiração voltar ao normal antes de se levantar, ainda completamente nua, e servir-se de um cálice do vinho na ânfora em cima de uma mesa próxima a janela.

— Pensei que apenas desejasse o Atreius – debochou ele.

— Sim, é ele quem eu desejo agora que meu Zeffirs se foi. No entanto, ainda preciso saciar minhas necessidades enquanto não o tenho ao meu lado – respondia-lhe enquanto observava a floresta através da janela.

Não fora a primeira vez que ela o procurara para aquilo e também não seria a última. Rantred não tinha do que reclamar daquilo.

— E como esta indo o seu jovem discípulo, Dougan Kirrel?

— Progredindo lentamente. A elfa tem boas defesas, mas cedo ou tarde ele conseguirá dominá-la com seu spectrum morallis.

— E então teremos os elfos negros efetivamente ao nosso lado. Mas acredito que ainda não será suficiente – constatou ela enquanto girava o cálice em sua mão e sem desviar sua atenção do exterior

— Realmente não será o suficiente – respondeu-lhe Rantred enquanto colocava ambas as mãos sob a nuca e deitava-se confortavelmente. – e é exatamente por isso que mandei Lair Kolluvan fazer seu movimento.

A menção que Rantred fez ao nome do aliado incerto fez com que Sellene sorrisse. Ela sabia que em breve as coisas tornariam-se muito movimentadas em Wesmeroth.


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Notas finais do capítulo

A ação vai voltar para valer nos próximos capítulos, mas digam me o que acharam do reaparecimento do general dos taurinos? E gostaram de conhecer um pouco mais sobre Albenezir e os draconianos?

Continuando com as explicações das esferas, agora vem a esfera da água.

Warhi - praticamente o único feitiço da esfera é capaz de reunir a umidade do ar ou usar qualquer fonte de água já existente para moldar várias formas. Apesar de conseguir grande força em ondas gigantes ou jatos potentes, ela é mais utilizada para fazer frente a feitiços de fogo que de maneira eficiente em combate. Única exceção a isso é o então granmestre da ordem de Zeneth chamado Kibaou Durch que usa a esfera de maneira muito ofensiva.

Puris - não é um feitiço e sim um encantamento, mas muito utilizado para livrar líquidos e alimentos de venenos e toxinas. O grande problema é que também remove o sabor. Também pode curar pessoas envenenadas, mas não é útil em magos já que os mesmos podem neutralizar venenos com sua própria aura.

A esfera também estuda as poções, que não são muito uteis para os magos, mas muito utilizadas por nobres. Quem as confecciona geralmente são os magos mais fracos que servem a realeza e não fazem parte de ordens ou guildas. Uma exceção à regra é a poção da lua, que cada maga faz a sua e deve ser tomada uma vez por lua para evitar a gravidez indesejada.



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