A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 84
Mandrakory - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Kayan e Thays decidem visitar os draconianos em Mandrakory. Muitas surpresas aguardam o casal na ilha dos dragões.



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Capítulo 083

Mandrakory (Parte 1)

A suave brisa vinda do oceano agitava os longos cabelos azulados de Thays enquanto ela fitava o horizonte. Era o sexto dia de viagem naquele navio dos elfos, mas a moça não se cansava de se impressionar com a imensidão de água com a qual era confrontada.

O casal de mestres de Drugstrein havia deixado Elfelian antes do que eles haviam planejado. Havia muito mais o que aprender sobre a cultura e a magia daquele povo ancestral, mas eles simplesmente não suportavam mais a indiferença com a qual eram tratados.

Eles sabiam que os elfos não os evitavam por estarem incomodados com sua presença, mas porque aquele comportamento fazia parte de sua cultura. Até mesmo entre eles próprios havia pouca proximidade, o que deixava bem claro qual era um dos motivos para que sua raça tivesse uma taxa de natalidade tão baixa.

Aquele navio saia do porto élfico e ia até Mandrakory quatro vezes por ano. Havia um comércio entre os elfos e draconianos que envolvia algumas especiarias por parte do povo dracônico e tecidos e diversas manufaturas por parte do povo élfico.

Thays virou-se para trás quando viu Kayan caminhando lentamente em sua direção. Sua expressão facial não era das melhores.

— Ainda enjoado? – indagou ela.

— Acho que estou começando a me acostumar.

Apesar das palavras, o rapaz aproximou-se rapidamente da borda do navio e se segurou firme enquanto fitava o mar abaixo dele.

Thays limitou-se a passar a mão suavemente sobre suas costas. Apesar disso, ele conseguiu se conter e não fez nenhum tipo de sujeira.

— Quem diria que o poderoso Kayan Atreius passaria mal ao viajar de navio.

Ele encarou-a com uma expressão de poucos amigos que fez com que a garota risse.

— Seu segredo estará seguro comigo. E duvido que algum desses elfos irá contar algo a alguém.

— Nunca mais eu quero pisar em uma embarcação novamente. Além de passar mal, ainda me sinto extremamente vulnerável. Se esse negócio de madeira afundar, não haverá nenhuma magia capaz de nos salvar.

— Acho que você está sendo dramático. Se afundar, aposto que poderíamos utilizar um visgoon para transformar a madeira que sobrar e depois irmos para terra firme com um feitiço warhi. Se nós dois alternarmos, tenho certeza que podemos conseguir.

— Fico feliz que você tenha pensado em tudo isso. Por isso é a minha garota.

A Cyren aproximou-se para um beijo, mas Kayan a impediu, o que fez com que ela lhe beijasse o rosto ao invés dos lábios.

— Desculpe-me por isso. Prometo lhe recompensar quando estivermos em terra firme, então não procure nenhum elfo para lhe satisfazer.

— Bobo. Sei que você tem passado mal a viajem toda e você sabe que eu nunca procuraria outra pessoa. Eu só me entrego para o meu Atreius. Mas vai ter que me recompensar mesmo, satisfazendo até meus desejos mais obscuros.

O rapaz riu do comentário da namorada. Apenas ela conseguia animá-lo naquela situação.

* * *

Mais quatro dias de viagem se passaram enquanto o navio élfico alcançava as águas geladas do extremo norte de Wesmeroth. O sol já começava a desaparecer no horizonte quando Thays chamou Kayan para que ele visse o farol que indicava a costa de Mandrakory no horizonte.

O mago negro não pensou duas vezes antes de conjurar um ryado que fez com que uma parte da água do mar já gelada se transformasse em gelo. Saltou para cima da plataforma e, com um warhi, fez com que ela se deslocasse em direção ao porto em grande velocidade. A Cyren cogitou a hipótese de segui-lo, mas também queria ver como seria chegar ao porto na perspectiva dos elfos e permaneceu na embarcação.

Kayan chegou as terras geladas de Mandrakory rapidamente e sentiu um grande alivio assim que pisou em terra firme, mesmo que a camada de neve chegasse até seus joelhos.

A escuridão apenas não era total por causa da iluminação do farol, uma torre de pedra com cerca de vinte metros e um grande cristal luminoso em seu topo. O restante do porto era muito mais modesto que o élfico, contendo apenas um longo píer de madeira e uma pequena casa de pedras.

O Atreius já estava ali há alguns minutos quando percebeu que era observado. Um par de olhos amarelados fitava-o. Ele aproximou-se da construção de pedras para perceber que a pessoa nas sombras tinha a pele quase tão negra quanto a noite. Apesar das grossas vestimentas de peles que ele utilizava, longos cabelos esbranquiçados podiam ser vistos. Presos na altura da nuca, eles chegavam até a cintura do elfo negro.

— Olá, sou Kayan Atreius. Vim junto com os elfos para visitar os draconianos.

Ainda desconfiado, o elfo negro desencostou-se da parede e aproximou-se do humano. Kayan já sabia que era um elfo negro quem tomava conta daquele local, então não sobressaltou-se com sua presença.

— Muito prazer. Sou Zil li Mordenion.

— Mordenion?

O elfo negro riu da surpresa de Kayan – ou fez o som mais próximo de uma risada que um elfo era capaz de emitir.

— Sim, sou um dos oito filhos de Mordenion li Mordenion, aquele que iniciou a rebelião dos elfos negros há milhares de anos.

— Pelo que me lembro, três dos filhos de Mordenion eram contra a rebelião de seu pai e desejavam manterem-se como uma raça única de elfos. Mas até onde sei, eles acabaram perecendo enquanto lutavam durante a guerra.

— Você está correto em partes. Quatro dos filhos de Mordenion pereceram, mas ainda existem três deles que lideram os elfos negros, além de mim. Todos os de minha raça que se mantiveram leais aos elfos até o final acabaram mortos pelos que se rebelaram. Este destino apenas não foi atribuído à mim porque escolhi o exílio assim que os dois irmãos que permaneceram ao meu lado perderam suas vidas.

— E você tem permanecido em Mandrakory desde então – concluiu Kayan.

— Exatamente. Sou eu quem sempre vem até este... porto, se podemos chamá-lo assim, a cada três luas.

— Eu não esperava por isso. Os elfos não são muito comunicativos.

— Você irá descobrir que não sou tão diferente de meus irmãos de pele clara. Apesar disso, aposto que você apreciará a companhia dos draconianos. O último humano que esteve aqui certamente saiu satisfeito. Ele também era um Atreius, a propósito.

— Sim, Kattus Atreius, meu pai.

Pouco expressivo como de costume, Zil não demonstrou qualquer alteração em sua expressão facial para demonstrar surpresa. Se ele já havia deduzido aquela informação ou não, Kayan apenas descobriria se lhe perguntasse, o que não fez.

O Atreius passou os minutos seguintes sobre a torre do farol, observando o que acontecia abaixo dele. Viu a embarcação élfica aportando e seus tripulantes descarregando sua carga e colocando-a sobre três carroças que eram puxadas por um tipo de búfalo peludo. Uma espécie que Kayan deduziu existir apenas naquela parte de Wesmeroth.

Thays trocou algumas palavras com o elfo negro, mas percebeu que ela havia sido ainda mais breve do que ele havia o feito. Quando ela se afastou do porto e deixou que Zil ajudasse os outros elfos a carregar o navio com os produtos provenientes dos draconianos, ele resolveu se revelar. Saltou da torre e deixou sua queda ser amparada por uma suave rajada de ar direcionada ao solo.

— Então é aí que você estava escondido?

— Fala como se não tivesse sentido minha aura desde o navio.

A moça, então, parou seu movimento e colocou ambos os braços para trás do corpo enquanto abria um largo sorriso, já esperando o que viria a seguir. Kayan aproximou-se rapidamente e envolveu-lhe a cintura com seu braço esquerdo enquanto beijava-a intensamente, sua mão direita acariciando-lhe as costas. Thays por sua vez, retribuiu-lhe o carinho abraçando-o com força.

— Vinho dos elfos – comentou ela enquanto conduzia seus dedos aos lábios após se separarem.

— Eu precisava tomar alguma coisa forte após passar mal por tantos dias. Quer um pouco.

— Agora não – respondeu ela, simplesmente. – O que achou de Zil?

— Antipático igual a maioria dos outros elfos.

Ela riu do comentário do namorado antes de acrescentar o seu próprio.

— Exatamente. Elfos negros e elfos, essencialmente os mesmos com exceção da cor da pele e afinidade com esferas diferentes da magia. Se pararmos para pensar, eles não são uma raça assim tão unida.

— É engraçado. Se pararmos para pensar, nenhuma raça da aliança é realmente unida. Os humanos se dividem em reinos que eventualmente guerreiam entre si. E até mesmo entre as ordens existem suas diferenças. Os anões fazem o mesmo com seus clãs, enquanto nos elfos existe essa grande cisão na raça que fez quase trinta por cento deles entrarem em guerra contra o restante.

— E com os povos bárbaros as coisas tornam-se ainda piores. Alguns deles como os gigantes e trolls sequer tem alguma organização. Acho que as únicas raças que são realmente unidas são os draconianos e os sraths.

O casal encontrou um local confortável para se esconderem do frio e continuaram conversando até que Zil li Mordenion chamou-os para seguirem viajem. O território era gelado e mais inóspito que o extremo norte além dos portões do exílio. A situação era tão severa que mesmo com vestimentas apropriadas os magos humanos e até mesmo o elfo tiveram que utilizar suas auras para se protegerem da baixa temperatura.

Apesar da hostilidade do ambiente, eles viram mais daqueles búfalos e até mesmo uma espécie de urso de pelagem branca que devia chegar a quase cinco metros de altura. Aparentemente alguma vida se sustentava ali, mas era bastante escassa.

Os animais seguiam devagar e o trajeto durou quase a noite toda. Eles sequer pararam para descansar, mas o trio já estava acostumado com o grande esforço e não aparentavam grande exaustão mesmo após todo aquele tempo de uso ininterrupto da aura.

O final do trajeto foi um grande paredão esbranquiçado que se estendia até onde os olhos podiam alcançar para os lados e subia em uma suave curvatura que possibilitava perceber que se tratava de uma cúpula.

Aquela estrutura assemelhava-se muito com a barreira que protegia a cidade dos elfos, pois também era mantida por pilares a cada centena de metros. A diferença era que aquela não era transparente e nem demonstrava ter um portão.

Zil aproximou-se do local e tocou a superfície. Sua aura reagiu ao toque e algumas inscrições rúnicas brilharam antes que um portal circular de uns três metros de diâmetro se abrisse.

— Apenas a aura dos draconianos autorizados e a minha própria são capazes de abrir um acesso para dentro dessas proteções – explicou ele. – Entrem, ela se fechara em menos de trinta segundos.

O que viram dentro da cúpula deixou-o muito mais impressionados do que qualquer coisa que eles haviam visto em toda a cidade élfica. Dentro daquelas proteções havia um maravilhoso paraíso tropical. Árvores, grama, pequenos animais e até mesmo aves voando de um lado para outro podiam ser vistos no novo ambiente. Não havia sol, mas parecia ser meio dia ali dentro, embora a temperatura se mantivesse agradável – talvez um pouco quente demais para o gosto dos magos humanos, que trataram de remover a maior parte do excesso de roupas assim que começaram a caminhar dentro daquele pedaço de paraíso incrustado na imensidão gelada.

— Aqui nós paramos para descansarmos e para uma pequena refeição. Se quiserem podem dormir um pouco.

O casal aceitou o alimento, mas não quiseram dormir, apesar de perceberem que estavam começando a sentirem-se um pouco cansados. Estavam muito curiosos para saber mais sobre como aquele ecossistema funcionava, mas aguardariam até poderem conversar com um draconiano na esperança de ter sua curiosidade saciada.

Enquanto o casal devorava o pão élfico recheado com algum tipo de carne defumada e empurrava tudo para baixo com bons goles de vinho, perceberam que algo maior que uma ave voava em sua direção.

Azul era a cor predominante e demorou mais de um minuto para perceberem que realmente era muito maior que uma ave e aproximava-se rapidamente.

Thays deixou seu sanduíche cair enquanto observava, impressionada, o primeiro dragão que tinha a oportunidade de ver. Mesmo Kayan, que já havia estado na presença de um antes, deixou seu lanche de lado para observá-la. Devia ter uns seis metros de comprimento e o dobro de envergadura de asas. Suas escamas azuladas brilhavam enquanto seu par de chifres destacava-se em sua cabeça, curvando-se sobre a mesma e voltando a se elevar de novo ao chegar próximo a nuca.

O casal levantou-se ao mesmo tempo em que o magnífico ser pousou a poucos metros de onde estavam. A forma do dragão começou a mudar para a aparência humanóide que era chamada de draconiano. Ela tornou-se pouca coisa mais alta que Thays e roupas surgiram magicamente enquanto ela se alterava. Eram calças largas e brancas e um colete marrom sem mangas que se abotoava na frente de seu torço. Sua pele tornou-se lisa, embora as escamas se mantivessem, além, é claro, dos dois chifres. Não possuía nariz, apenas narinas, o que lembrava ligeiramente os sraths, e suas pupilas elípticas eram azuis como suas escamas. Suas formas eram definitivamente femininas.

— Olá, eu sou Thaylla Ruoz. Realmente é um prazer receber humanos novamente em nossas terras depois de tantos anos.

— Olá, Thaylla Ruoz, eu sou o mestre Kayan Atreius, de Drugstrein, e agradeço pela saudação.

— E eu sou a mestre Thays Cyren, também de Drugstrein. É um prazer conhecê-la.

— Faz mais de duzentos anos que uma maga humana não aparece por aqui. Tinha quase me esquecido que nós, draconianos fêmeas, havíamos tomado esta forma com auxilio da magia apenas para nos assemelharmos mais com vocês – enquanto dizia aquilo, apalpava os próprios seios e olhava fixamente para os de Thays.

Aquilo deixou Kayan um pouco constrangido, mas também o fez notar que realmente não fazia sentido draconianos fêmeas terem seios, uma vez que eles nasciam de ovos e não eram mamíferos.

— Se seu nome é Thaylla Ruoz, quer dizer que já chegou a viver no continente.

Thays mudou de assunto na esperança de que a draconiano parasse de massagear os próprios seios e, para sua felicidade, obteve êxito.

— Sim, então vocês sabem que o título Ruoz é reservado apenas para os mais antigos – observou a draconiano. – Apesar disso, posso ser considerada uma jovem perante minha raça, uma vez que fui uma das últimas a nascer fora de Mandrakory.

Em meio ao diálogo, Kayan observou o que Zil fazia. Aparentemente, o elfo negro não queria interromper a conversa, mas também não desejava fazer parte da mesma. Apesar disso, não demonstrava qualquer pressa para sair dali e passou a fazer companhia ao búfalo, quase como se estivesse conversando com o mesmo.

— Entre os registros dos elfos constava algumas coisas sobre a sua raça – observou o Atreius. – Também dizia que o título Tallon era reservado ao regente dos draconianos.

— Exatamente. Atualmente pertence à Albenezir, na verdade, sempre pertenceu à ele, uma vez que é o mais velho e sábio entre nós.

— Ah! Quanta falta de cortesia a nossa. Estávamos comendo e nem te convidamos para participar.

— Eu agradeceria um pouco de vinho, mas não tenho fome. Além disso, essa pequena quantidade que vocês possuem não chega nem perto de saciar a fome de um dragão.

Ela riu após aquelas palavras, demonstrando seu bom humor. Eles tinham alimento para pelo menos cinco dias ali, mas reconheciam que aquela forma humanóide era apenas temporária e para suprir uma criatura tão grande quanto um dragão devia ser necessário um boi inteiro.

Kayan, então, pegou a ânfora de vinho que trazia consigo e ofereceu um copo à Thaylla, que entornou a bebida de uma única vez e estendeu o copo para ser reabastecido.

— Adoro vinho dos elfos. Nessas carroças tem uma boa quantidade dele. Fico feliz, já que o nosso já acabou.

Kayan e Thays entreolharam-se, imaginando que se todos os dragões gostassem tanto de vinho quanto Thaylla, todas as três carroças deveriam conter vinho para suprir aquele povo por três luas.

— Podem me perguntar o que quiser. Sei que estão curiosos – disse ela, um sorriso curvando-lhe os finos lábios.

— Esta cúpula. Ela é impressionante. Como foi feita?

Sem hesitar, o Atreius indagou logo o que mais lhe intrigava.

— Não conheço todo o procedimento mágico, uma vez que apenas os mais antigos participaram, mas levou pouco mais de um século para ser concluída. Primeiro os dragões da esfera de terra ergueram toda a cúpula. Em seguida, todos os dragões utilizaram sua magia para transformar o material em cristal de maneira que ele absorva a energia do sol e a reutilize deixando o nosso ambiente com um dia eterno e sempre com essa temperatura agradável.

A explicação foi breve e não chegou a realmente saciar a curiosidade do casal de magos. Percebendo a situação, Thaylla resolveu detalhar um pouco mais do funcionamento.

— Através de magia, também criamos grandes lagos. Seis deles, para ser mais exata. Eles alimentam e nutrem nossas plantas e saciam nossos animais, além de fazer com que a chuva caia a cada três dias durante exatamente quatro horas. Alias, é dessa maneira que percebemos o tempo passar aqui dentro. Existem alguns pontos onde há passagem para o mundo exterior e para abri-las basta utilizar sua aura. Claro que apenas a aura que Albenezir autorizar será reconhecida pela barreira.

Embora ainda curiosos em saber exatamente como aquele sistema incrível foi construído, Kayan fez mais uma pergunta.

— Qual é o tamanho disso aqui? Ele cobre toda a ilha de Mandrakory?

— Praticamente isso. Ela tem um formato circular e chega a quinhentos metros de altura no centro. Tem um diâmetro de aproximadamente duzentos quilômetros. Deu muito trabalho para ser construída. Se quiserem mais detalhes terão que perguntar à Albenezir. Ele adora os humanos e tenho certeza de que irá ensiná-los muita coisa se estiverem dispostos a aprender.

— Ouvi dizer que nem todo dragão consegue se tornar um draconiano, isso é verdade? – indagou-lhe Thays, curiosa.

— Você está certa. Apenas os dragões que vieram do continente possuem essa capacidade, uma vez que adquirimos essa capacidade através de um encantamento muito complexo. Além disso, nem todos os antigos tiveram poder mágico o suficiente para se transformar, então vocês encontrarão dragões com quatro ou cinco mil anos que não possuem tal capacidade. Vocês poderão conversar com eles se quiserem, uma vez que conseguimos falar mesmo em nossas formas de dragão. Atualmente somos em um total de cento e oito draconianos aqui em Mandrakory.

Enquanto conversavam, Kayan e Thays terminaram suas refeições. Assim que o fizeram, Thaylla voltou para sua forma de dragão, surpreendendo-os.

— Vamos!

Sua voz era um pouco mais grave, mas ainda reconhecível como a mesma voz que conversava com eles há pouco. Apesar disso, os magos humanos não entenderam direito a sugestão.

— O que estão esperando? Subam em minhas costas.

— Podemos mesmo? – questionou Thays, incerta.

— Claro! Mas não são todos os dragões que gostam de humanos em suas costas, então não peçam isso para meus irmãos de raça.

— Tudo bem para você, Zil?

Kayan virou-se para o elfo negro, que limitava-se a fitar o horizonte, praticamente alheio ao que acontecia ao seu redor.

— Não se preocupe comigo. Gosto de fazer este percurso sozinho.

Aquelas palavras quase fizeram parecer que incomodavam-no com sua presença. Talvez aquilo fosse verdade, uma vez que elfos eram criaturas que gostavam da solidão, mesmo quando estavam rodeados de sua própria raça.

Sem pensar mais, o casal subiu nas costas da draconiano. Ela, então, pediu para que se segurassem firme em suas escamas e assim o fizeram. A sensação que sentiram ao voar foi indescritível. Eles já haviam saltado de grandes alturas e sentido a emoção de uma queda livre, mas voar a própria vontade transmitia uma incrível sensação de liberdade.

Voaram alto, chegando bem próximo ao limite da cúpula, mas a magia ali contida fazia com que ela se parecesse com o céu verdadeiro. Lá de cima eles puderam ver um dos lagos que fora descrito por Thylla. Havia, também, pequenos bosques espalhados pela grande e plana campina, que tinha sua topografia limitada a pequenas elevações no terreno.

Puderam avistar plantações e pequenas casas. Pássaros passavam por eles eventualmente, conduzidos pela refrescante brisa. Também puderam ver um grande rebanho de ovelhas que eram pastoreados por três indivíduos. Eles não pareciam draconianos, pois eram corpulentos demais. Nenhum dos dois mestres conseguiu identificar o que eles eram e ficaram se perguntando se aquela seria alguma raça que não existia em Wesmeroth. Pensaram em perguntar à Thaylla, mas ela começou a girar no ar e isso fez com que os jovens se concentrassem em se segurarem em suas escamas.

O vôo durou algumas horas e o sono começou a fazer efeito nos dois magos. Eles não dormiam há muitas horas e a viagem pela neve antes de chegarem à cúpula havia exigido muito de suas auras. Apesar disso, eles estavam convictos de que se segurariam até poderem conversar com Albenezir, o regente dos draconianos.

Além das várias casas que eles viram espalhadas, a única construção ali presente era um grande castelo. Ele não tinha muralha e nem a maior parte das estruturas que um castelo humano costumava ter. Era constituído de uma grande torre e mais quatro menores anexadas à ela, todas quadradas, o que indicava vir de uma arquitetura muito antiga que sequer era utilizada nos dias atuais.

— Aqui estamos, nosso belo castelo. Albenezir está lá dentro, provavelmente no topo da torre principal. Podem entrar e conversar com ele. Irei espalhar a notícia de que temos humanos nos visitado.

Thaylla levantava vôo quase enquanto falava com os dois humanos, deixando o casal completamente sozinho. Sem saber ao certo como agir, decidiram seguir o conselho da draconiano.

Kayan segurou a mão de Thays e seguiu em frente. O castelo não era muito grande e seu salão principal sequer se comparava com o menor dos que Drugstrein possuía. Apesar disso, era ricamente decorado com objetos provenientes de todas as culturas. Havia pinturas dos humanos, estatuas e vasos dos elfos, belas e polidas armaduras dos anões, pratarias representando o deus sol dos sraths e alguns totens que só podiam ser dos taurinos e dos gnolls.

Calmante eles subiram as escadas que conduziam ao topo da torre. Apesar da estrutura bem cuidada, os draconianos pareciam não se importar muito com a poeira que se acumulava em seus candelabros de lâmpadas mágicas através dos anos.

Chegaram ao topo da torre que era constituída de uma sala bem ampla e iluminada. Havia prateleiras com livros e uma grande mesa redonda com várias cadeiras ao centro.

Kayan reconheceu Albenezir assim que colocou seus olhos sobre o mesmo. As escamas negras do tórax expostas devido ao colete azul que ficava aberto na parte frontal. A calça branca também era a mesma que ele utilizava durante a primeira vez que eles haviam se encontrado, o que indicava que as roupas eram objetos mágicos e não criadas pela magia de transformação. Ele sentava-se confortavelmente em sua cadeira.

Do lado oposto, com quase três metros de altura que mal cabiam sobre a cadeira, estava um ser corpulento cujo par de chifres se ostentavam sobre a cabeça. Suas mãos com quatro dedos repousavam sobre a mesa e seu único olho bom fitava os recém chegados com curiosidade enquanto o outro era irremediavelmente encoberto por uma grande cicatriz.

Tanto Kayan quanto Thays sobressaltaram-se no exato momento em que o viram. Seus olhares vagando do draconiano para o taurino enquanto suas auras se agitavam, preparam uma defensiva para o caso de serem atacados.

— General Turenhead, o que faz aqui? – indagou o mago negro, surpreso.


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Notas finais do capítulo

Parece que Kayan e Thays estão tendo a sorte de encontrar todos os vilões da história em suas viagens por Wesmeroth. Será que rola treta? E o que acharam de um pouco de história antiga do universo onde a fic se passa?

Continuando com nossas explicações sobre a magia, falaremos sobre a esfera do ar: jinn.

Jinn - Principal feitiço da esfera, é muito versátil e permite controlar o ar, criando poderosas ventanias. Em combate o principal uso é concentrar o vento e acelera-lo para formar uma lâmina invisível para cortar seu adversário.

Fur Jinn - Um uso muito especifico, acelera o ar em uma área, fazendo-o circular e criando um mini furação. Foi muito pouco utilizado durante a história, uma vez que não tem muita capacidade ofensiva.

Aim Flux - Feitiço passado de geração para geração para os mestres da família Willis, consiste-se em uma versão mais concentrada do fur jinn, criando um vórtice de vento muito concentrado que é capaz até mesmo de puxar coisas para dentro do mesmo. Pode ser muito destrutivo se conjurado próximo a construções e inimigos.

Ratusu - Feitiço especial criado por Radamanthys. Para executa-lo é necessário unir a esfera do ar e da eletricidade, mas sua base é o ar. Cria uma esfera de ar super concentrada e veloz para ser disparada pelos dedos. A esfera também possui uma quantidade absurda de energia estática que descarrega um poderoso raio elétrico enquanto atinge (e possivelmente perfura) seu alvo.



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