Capítulo 058

Sellene Rovkraz (Parte 3)

Era meio da tarde quando a equipe de Aghata chegou em Bereth. As três mulheres já haviam passado por três vilarejos em seu caminho e em nenhum deles encontraram notícias sobre gnolls na região. Ao menos puderam aproveitar a taverna de um deles para uma rápida refeição.

Os habitantes da cidade permaneciam escondidos e as ruas estavam completamente vazias. Isso até chegarem a principal rua da cidade, onde viram os corpos dilacerados de varias criaturas.

— Encontramos mais algumas pistas, Aghata – disse Anita, animada.

A mestra apenas aproximou-se dos corpos para tentar descobrir a causa da morte e verificar os cetros com cristais negros.

— Posso estar enganada, Aghata, mas acho que conheço muito bem o dono da aura que derrubou esses gnolls – afirmou Thays.

— Então diga-nos – pediu a mestra.

— Pela intensidade e forma como ficou no ambiente, acho que foi o Kayan. Não sou muito boa em analisar auras, mas a dele eu conheço muito bem.

— Estranho – Aghata voltou a falar. – As lacerações nos corpos são profundas e com sinais de gangrena. Só conheço um feitiço capaz de tal efeito: giudecca.

Só então Thays lembrou-se que nenhuma das duas sabia que Kayan era um mago negro. A garota confiava nas duas, mas talvez o Atreius ficasse irritado se ela revelasse um segredo sobre ele que era tão bem guardado – ou não tão bem, uma vez que cada vez mais pessoas sabiam a verdadeira esfera de Kayan.

— É como eu disse, talvez eu esteja enganada – disfarçou.

— De qualquer forma, vamos em frente e perguntar no castelo da cidade. Se alguém pode nos dar informações, essa pessoa é o regente do local.

— Acredito que um taverneiro seja melhor, mas podemos tentar sua opção primeiro, Aghata.

— Certo, Anita, se não descobrirmos nada lá podemos ira para a taverna.

A equipe ficou muito mais surpresa com os magos que avistaram assim que chegaram ao castelo. Spaak apenas observava o ambiente, de cima da muralha, enquanto seu sobretudo se esvoaçava com o vento. Sarah e Katherine esforçavam-se para analisar a aura do ambiente.

— Por aqui, eu acredito. A aura esta camuflada, mas ainda dá pra perceber o quanto é poderosa.

— Olá garotas, o que fazem em Bereth?

Spaak foi o primeiro a avistar o outro trio se aproximando e foi o primeiro a cumprimentá-las. Aghata desviou o olhar ao se aproximar. Thays fixou seu olhar em Sarah, que parecia quase alheia à aproximação das três. Ela estava ali, sem a companhia de Kayan, e parecia preocupada. Uma sensação muito ruim invadiu o corpo da garota e ela viu-se incapaz de falar qualquer coisa.

— Kat, você também está investigando o caso dos gnolls?

— Não exatamente. Mas o que trás a minha irmãzinha para esta cidade?

As duas irmãs se aproximaram para conversar. Aparentemente elas eram muito próximas uma da outra.

— Estamos tentando descobrir quem deu uns cetros estranhos capazes de conjurar magia negra para um bando de gnolls estranhamente espalhados pelo centro da planície de Daran.

— Este mistério já foi solucionado – disse Spaak enquanto saltava de cima da muralha. – E temos outro assunto muito mais importante para resolvermos.

— É o Kayan, não é? – indagou a Cyren, aflita.

— Sim, Thays – disse Sarah, com a voz ainda mais preocupada. – Uma maga negra chamada Sellene tomou esta cidade e trouxe os gnolls. Kayan e eu viemos até aqui para visitar as pessoas que ele conhece nesta cidade, mas por algum motivo esta tal Sellene resolveu levá-lo com ela.

— Ele está bem?

— Acho que sim. Quando saí para pedir a ajuda do Spaak, pude sentir que a aura dele se acalmou, como se estivesse inconsciente, mas não senti nenhuma alteração que indicasse que ele foi ferido.

Uma certa irritação tomou conta de Thays. Aparentemente, Sarah havia fugido da batalha. Ela só não fez comentário algum porque tinha certeza de que fora o próprio Kayan que a obrigara a fazer isto.

— Podemos conversar mais tarde. Vamos seguir este rastro de aura antes que ele suma completamente. Sellene já não está mais neste castelo. Ela pegou Kayan e se escondeu em algum outro lugar.

O grupo começou a seguir a Sttiken quando foi interrompido por Sarah.

— Mestra Katherine, espere um minuto. Eu acho que eles não foram por este caminho.

— Por que diz isso, Sarah?

— Tente sentir a aura nesta direção, por favor. É a aura de Kayan, tenho certeza.

A pedido da Harppon, Katherine aproximou-se da direção que ela indicava e concentrou-se na aura ali presente.

— Você tem razão, Sarah. Essa tal Sellene é muito esperta. Deixou um rastro proposital e ocultou sua aura antes de seguir para a direção que realmente queria ir. Nossa sorte é que Kayan deve ter executado algum feitiço poderoso e sua aura o acompanhou mesmo ele estando inconsciente.

— Então não vamos mais perder tempo. Vamos em frente.

Assim como Spaak sugeriu, os seis magos seguiram a direção que Sarah havia indicado.

* * *

— Zeffirs... era um Atreius – disse Kayan, incrédulo.

Sellene regozijava-se com a situação do rapaz. Apoiou os cotovelos no catre e elevou sua perna esquerda de maneira que as botas ficassem sobre a palha e o joelho flexionado. Parecia uma garota jovem tentando provocar um garoto.

— A mãe de Zeffirs era irmã mais velha de seu avô. Vocês dois tem um parentesco até que bem próximo.

Muitas coisas se passaram pela cabeça de Kayan. Então ele não era o primeiro e muito menos o único mago negro dos Atreius. Aquilo significava que seu pai e Zeffirs eram quase como primos, e haviam duelado até que ambos perecessem.

— Você sabia que muitos Atreius do passado foram magos negros? Nos últimos cem anos apenas você e Zeffirs nasceram com esse dom, enquanto todos os outros nasceram com a esfera da eletricidade.

— Eu não entendo... se Zeffirs era um Atreius, por que não estudou em Drugstrein?

— E quem te disse que ele não estudou lá? Nós dois éramos da mesma turma. Inclusive formamos uma equipe juntos e foi nesse ponto que nos tornamos amantes. Quando Zeffirs decidiu abandonar a ordem e seguir seus próprios objetivos eu fui a primeira a segui-lo e apoia-lo. Fui a primeira dentre a elite pessoal de Zeffirs.

Kayan sentiu-se tentado a perguntar mais sobre tudo aquilo, mas temia que a visão daquela mulher sobre os fatos não fosse totalmente verídica. Resolveu deixar para perguntar tudo para Sakuro quando tivesse a oportunidade.

— Como pode perceber, você e Zeffirs tem muito em comum. Acredito que, com esse potencial que você apresentou-me hoje, você se torne ainda mais poderoso que ele. Daqui a uns vinte anos você estará pronto para governar este mundo. E nós o governaremos juntos.

O Atreius não conseguia entender aquela obsessão que aquela mulher tinha por ele. Estava bem claro que ela não era muito normal. O mais sensato era não provoca-la, uma vez que ela podia não ser uma pessoa muito equilibrada, mas Kayan nem sempre era sensato.

— Está perdendo seu tempo. Não tenho o mesmo ideal de Zeffirs, nem nunca terei. Além disso, mesmo que eu tivesse isso em mente, daqui a vinte anos você pode estar velha demais para aproveitar uma Wesmeroth dominada por mim.

— Magos podem facilmente passar dos cem anos, Kayan. E você irá mudar de ideia depois de passar algum tempo comigo.

Após estas palavras, Sellene deixou o quarto, trancando a porta atrás de si. Assim que ela saiu, Kayan voltou a deitar-se na cama. Não restava muito para ele fazer além de esperar para ser resgatado.

* * *

Os seis cavalos já demonstravam sinais de cansaço enquanto avançavam lentamente pelo terreno um pouco acidentado. Eles percorreram muitos quilômetros antes de avistar aquele castelo antigo abandonado em meio às terras pedregosas ao norte de Alteroz.

— Acredito que seja aqui. Não existe outro local para onde ela possa ter ido aqui por perto – afirmou Katherine.

— Então vamos logo com isso.

Spaak desmontou e deixou que o cavalo pastasse a pouca relva que pudesse encontrar. As montarias de Drugstrein eram treinadas e não fugiriam daquele local exceto se algo os ameaçasse diretamente.

Passando entre duas torres e sobre a porta levadiça caída, Sarah foi a primeira a avançar, ansiosa. Thays, entretanto, tomou sua frente assim que eles se aproximaram do castelo.

— É melhor que você não seja a primeira a entrar. Digo isso para o caso dela estar nos aguardando ali dentro.

— Você também não é a mais indicada, Thays – disse Aghata. – Eu irei. Tenho poder o suficiente para me defender caso seja necessário.

— Nesse caso, penso que é melhor que eu vá na frente – sugeriu Spaak.

— Não – ela respondeu-lhe. – Você é o mais poderoso entre nós. E Katherine é nossa melhor maga branca. Ambos devem estar em condições de reagir imediatamente caso essa Sellene seja realmente tão poderosa quanto um granmestre.

Os outros dois concordaram, relutantemente. Aghata avançou e, protegendo-se com aura, utilizou um crisis katris para derrubar a porta principal do castelo. O salão não era muito espaçoso, mas poderia abrigar ao menos meia centena de pessoas caso mesas fossem ali dispostas. O ambiente estava na penumbra, pois o véu da noite mantinha-se sobre eles há poucas horas e apenas quatro tochas disposta em seus suportes iluminavam o ambiente. Sobre uma cadeira de madeira estava Sellene. A maga recostava-se confortavelmente, sua perna direita cruzada sobre a esquerda.

— Três mestres e três magos, incluindo a enxerida que estava com Kayan. Talvez eu devesse ter fugido e o levado comigo. Não. Pode dar trabalho matar todos vocês, mas se fosse de outra maneira vocês nunca me deixariam a sós e em paz com ele.

— Quem é você e o que quer com Kayan Atreius? – perguntou Katherine, autoritária.

— Sou Sellene Rovkraz. E apenas quero transformar Kayan no governante do novo mundo após uma nova Rebelião Negra.

Todos perceberam quando Katherine tornou-se pálida ao ouvir aquele nome. Não demorou muito para que Spaak indagasse o que todos já queriam perguntar.

— Você sabe quem ela é?

— Sellene Rovkraz foi uma das magas negras mais poderosas entre os seguidores de Zeffirs. Ela era até mais poderosa que Rantred Eisen.

— Que bom que se lembra de mim. Percebo que é uma mestre de elite, mas acredito que não possuía esse cargo quando invadimos seu precioso castelo de Drugstrein.

— Você deveria estar morta. Naquela batalha você conseguiu matar a granmestre Sannya Wigg e ferir gravemente Arthuro Magnum, mas Kattus te derrubou com um tangrea.

— Eu estava exausta depois de enfrentar aqueles dois e fui um alvo fácil para aquele assassino de parentes. Mas ele não conseguiu me matar com aquilo. E, como ninguém se preocupou em verificar os corpos, passei-me por morta após fugir do castelo. Infelizmente cheguei tarde demais para salvar meu amado Zeffirs. Mas saibam que não falharei com Kayan.

— Nós três iremos apenas nos defender e proteger a Thays, que lançará os feitiços ofensivos – disse Spaak, em um tom baixo demais para que a inimiga o compreendesse. – Na primeira oportunidade, Sarah e Anita devem sair do salão e entrar por outro caminho para procurarem por Kayan. Acho que talvez ele seja necessário para enfrentar esta mulher.

Sem qualquer aviso, o mestre das chamas conjurou um crisis katris extremamente poderoso. As chamas preencheram o salão, chamuscando as rochas e abrindo um grande buraco na parede atrás de Sellene. Quando apenas fumaça restou, porém, ela estava completamente intacta devido a proteção de uma barreira mágica.

O mestre sabia que aquilo não iria feri-la, mas a distração foi o suficiente para que as duas garotas saíssem do salão por onde haviam entrado.

Alguns segundos se passaram antes que Sellene percebesse a ausência das duas garotas. Quando isto lhe ocorreu ela levantou-se, furiosa, e avançou em direção de uma das paredes do salão, um crisis katris sendo conjurado ao mesmo tempo.

Aghata foi a primeira a reagir e, avançando dois passos, conjurou uma nova parede de rochas com um clayn. Sua parede recebeu o feitiço inimigo no lugar da estrutura do castelo, impedindo que a maga alcançasse outra parte da construção.

Um olhar assassino foi dirigido à Willis e uma rajada de chama negra surgiu da mão direita de Sellene, dirigindo-se diretamente contra a mestra da esfera do ar, que levantou sua barreira uma fração de segundo antes de ser atingida. A maga negra, por sua vez, forçou seu feitiço para penetrar as defesas da adversária e apenas não conseguiu porque Katherine uniu-se a ela para reforçar a barreira.

Spaak contra-atacou enquanto ambas apenas podiam se defender. A rajada de fogo foi intensa e de maneira concentrada, muito mais veloz e difícil de se defender, mas Sellene conseguiu conjurar um escudo de energia com sua mão livre sem nem abrir mão de sua ofensiva.

Quando Thays uniu-se ao mestre das chamas em mais uma investida, porém, ela viu-se obrigada a abandonar seu ataque em prol de uma defesa mais eficaz.

— Percebo que terei que eliminar todos vocês para impedir que meu Kayan seja roubado de mim. Que seja.

Assim que repeliu as chamas que a ameaçavam, uma tempestade de raios negros surgiu enquanto ela abria ambos os braços. Aquele não seria um feitiço fácil de se evitar, mesmo para três mestres habilidosos.

* * *

Guiada apenas pela intuição – uma vez que Kayan não imitia mais nenhuma aura –, Sarah e Anita deram a volta no castelo e destruíram a parede da parte de trás da construção. A primeira ideia das duas foi procurar por masmorras subterrâneas, uma vez que era o mais óbvio para se ocultar e aprisionar uma pessoa.

Era possível que ainda existissem gnolls ali, por isso Spaak havia dito para que ambas seguissem juntas e não apenas Sarah. Apesar dessa possibilidade existir, o castelo estava completamente vazio.

Caminharam por algum tempo enquanto procuravam, cientes de que cada segundo era precioso, uma vez que seus amigos enfrentavam um grande perigo naquela batalha de magia.

— Se ao menos pudéssemos sentir a aura dele – comentou Anita.

— Ela deve ter utilizado um inibidor em Kayan, caso contrário ele iria encontrar uma maneira de escapar.

— Faz sentido, mas não nos ajuda em nada.

Séria e determinada, Sarah não disse mais nada enquanto continuaram pelo caminho que percorriam. Assim que encontraram uma escadaria que descia, porém, a busca estava praticamente encerrada, uma vez que existia apenas uma despensa e dois quartos com portas de aço na parte de baixo do castelo. Cada uma das duas derrubou uma das portas sem nem hesitar e foi Anita quem encontrou Kayan quase na penumbra.

— Achei.

Kayan não aparentava surpresa em ver a garota enquanto sentava-se em seu catre. Ele já esperava ser resgatado cedo ou tarde, apenas não imagina que Anita estaria junto com essa equipe de resgate.

Sarah apressou-se em entrar no pequeno e lúgubre quarto. Assim que o fez correu para onde Kayan estava, sentando-se na palha e abraçando-o bem forte.

— Que bom que você está bem!

Não esperou que ele respondesse antes de selar seus lábios com um beijo intenso, que foi prontamente retribuído com um abraço apertado do rapaz.

— Certo, certo, depois vocês podem se abraçar e se beijar. Agora temos alguns amigos pra resgatar, deixem o sexo pra depois também, de preferência.

Anita aproximou-se, brincalhona. Sarah afastou-se um pouco de Kayan, um tanto quanto constrangida, o rapaz apenas sorriu em aprovação à sugestão.

— Você sabe remover este inibidor, Sarah?

— Acho que sim. Já fiz isso uma vez.

A garota tocou a coleira no pescoço de Kayan e utilizou sua aura para anular o encantamento que havia no objeto. Aquele era ainda mais difícil de remover do que o que prendia Joseph Smalter na vez em que eles auxiliaram a guilda Smalter contra a extinta guilda Garforden. Mas Sarah também estava mais experiente e conseguiu superar mais aquele desafio.

— Muito bem, você conseguiu – parabenizou-a o Atreius. – Quem veio além de vocês duas e de Spaak. Posso sentir auras poderosas duelando logo acima de nós.

— Aghata, Thays e a minha irmã estão lutando junto com o Spaak. E as coisas não parecem nada fáceis – foi Anita quem lhe respondeu.

— Então vamos ajuda-los. Essa maga negra é muito perigosa. Não pode ficar livre por Wesmeroth.

Kayan levantou-se e rumou para a saída, sendo acompanhado pelas duas garotas.

— Onde estão o resto de suas roupas, Kayan? – perguntou-lhe a Sttiken.

— Não faço ideia. Aquela maluca me deixou apenas com meus calções.

— Por que ela fez isso? – perguntou-lhe Sarah. – Ela ficou falando que você pertencia a ela e essas coisas. Ela... tentou te forçar a fazer algo?

Daquela vez foi Kayan quem enrubesceu com a pergunta.

— Nã... não tentou nada. Mas acho que ia tentar se tivesse mais tempo. Ela é meio louca, disse que pretende que eu fique no lugar de Zeffirs e como os dois foram amantes do passado...

— Zeffirs... o mago negro que liderou a Rebelião Negra contra Drugstrein e as outras ordens há uns quinze anos? Por que ela acha que você poderia ficar no lugar dele? – indagou Anita.

— Primeiro porque ela é louca. Segundo porque Zeffirs e eu temos mais coisas em comum do que vocês podem imaginar.

Deixou o resto por dizer e apenas caminhou em direção a superfície. Apesar de aparentar calma, Kayan estava bastante nervoso depois de tudo o que havia passado e havia um pouco de raiva nele também. Raiva que ele pretendia descontar em Sellene Rovkraz.

* * *

Os raios gerados pelo durhan tangrea não foram nada fáceis de evitar e defender. E a maga negra havia mantido o feitiço ativo por um longo tempo, de maneira que parecia que sua aura era de uma quantidade infinita.

As barreiras de energia eram conjuradas e defendiam as investidas de maneira satisfatória. Até mesmo Thays, que era a menos poderosa dentro os quatro, era capaz de amparar o feitiço adversário.

O grande problema era que Sellene conseguia conjurar uma quantidade incrivelmente alta de rajadas, fazendo com que elas serpenteassem por todo o ambiente. Algumas delas passavam pelos francos e serpenteavam atrás dos magos de Drugstrein, atacando-os pelas costas.

E foi em uma destas investidas que Thays acabou sendo atingida no braço esquerdo. A Cyren agarrou o braço enquanto gritava por causa da dor. Ela nunca havia sido atingida por um ataque tão devastador e acabou tendo que apoiar um joelho no chão para não cair de uma única vez.

Katherine agiu rápido e conjurou um ressin para curar Thays, mas ela mantinha-se dividida entre curá-la e manter uma barreira para se defender dos feitiços adversários.

— Spaak, o ressin não será suficiente. O durhan tangrea afetou todo o corpo de Thays. Apenas um ressinjar poderá evitar que perca a consciência em menos de um minuto.

Aquela informação não era nada boa. O Firyn conhecia aquele feitiço avançado de magia branca que era capaz de curar imediatamente, ao contrário do ressin que levava um tempo considerável, principalmente se tratando do efeito de um feitiço tão poderoso como aquele. O problema era que o ressinjar exigia muita energia e concentração por parte de seu conjurador, ou seja, Katherine teria que se dedicar exclusivamente a curar Thays.

— Não sei se apenas Aghata e eu poderemos defender todos nós contra este durhan tangrea. Se você for atingida, Katherine, será o fim para nós.

Uma decisão deveria ser tomada ali. Curar Thays e correr o risco de perder o conflito, ou deixa-la perder a consciência e torcer para que o caso não se agravasse.

Felizmente, aquela decisão ficou muito mais fácil quando Sarah e Anita apareceram para fortificar a barreira que os magos conjuravam.

— Mestra Katherine, concentre-se em curar a Thays, por favor – pediu Sarah. – Acho que logo será o momento de atacarmos ao invés de nos defendermos.

Não demorou muito para que todos entendessem o que a Harppon queria dizer. Em meio aos muitos raios de energia escura que atingiam as barreiras dos magos de Drugstrein, um outro muito maior e concentrado rasgou o chão de pedra na direção oposta.

Aquilo foi tão repentino que Sellene sequer teve tempo de se defender. O feitiço atingiu-a em cheio e fez com que seu corpo fosse arremessado contra uma das largas colunas do ambiente. Apesar da força do feitiço, sua aura havia protegido-a de maiores danos e todos sabiam que o combate continuaria.

— Muito bem, Sellene Rovkraz. Posso não ser tão poderoso quanto você, mas agora eu tenho meus amigos para me apoiar. Chegou a hora do acerto de contas.

Apesar daquelas palavras, Kayan mantinha-se calmo e concentrado. Uma aura negra podia ser vista transbordando de seu corpo enquanto ele preparava seu próximo feitiço.