Mário narrando

Puxa, que demais! Um acampamento. Eu acho estranho a gente ter que continuar estudando em um acampamento, sendo que lá nós deveríamos nos divertir, mas quer saber? Que se dane, é bom que pelo menos assim a gente pode arejar um pouco a cabeça, mas meu problema agora é: com quem eu vou? Já sei, com o Gabriel, só pode

–E aí mano?- perguntei.

–Fala aí cara.- ele me respondeu sorrindo.

–Bora pro acampamento?- perguntei esperando que ele dissesse sim.

–Cara, não posso ir com você, já combinei com ela.- ele me apontou o par dele, uma menina morena de olhos escuros que também era da nossa sala, acho que o nome dela era Luana, se não me engano. E ele sempre pareceu ter uma queda por ela porque quando começamos a andar juntos ele passava o recreio todo olhando pra ela e falando com a gente.

–Ah cara, vai fazer isso comigo?- fiquei decepcionado.

–Qual é cara? Pense pelo lado bom, a Marcelina ainda está lá, sozinha. Esse acampamento pode ser bom pra você se aproximar dela, por quê você não vai lá e pede para ser sua dupla antes que o Abelardo chegue e peça à ela?

Caramba, eu havia esquecido completamente da Marcelina naquela hora. Acho que a alegria com a novidade, pois eu nunca tinha acampado antes, me fez esquecer de tudo.

–Tem razão, vou lá. E boa sorte com a garota.- eu disse, me afastando dele.

–Obrigado, desejo o mesmo pra você e Marcelina.

Cheguei perto da Marcelina e procurei sair bastante natural, como se aquilo fosse algo normal de todos os dias.

–Oi Marcelina.- sorri pra ela.

–Oi Mário. Vai no acampamento?

–Acho que não. Estou sem par.

–Puxa, então acho que não vou também. A Maria Joaquina acabou de fazer par com o Daniel.

–Quer ser minha dupla?

–Sério?

–Claro que sim, por quê não?

–Ai obrigada Mário!!!- ela gritou e me abraçou, enquanto a abraçava, vi Gabriel nos olhando com um sorriso de satisfação no rosto, fiz um sinal de positivo com o polegar e ele retribuiu, depois voltou a se arrumar a mochila dele.

Depois que tudo aquilo acabou, saímos do colégio e fomos cada um para seu canto, Paulo, Marcelina e Maria Joaquina foram para suas casas e eu, Daniel, Matheus e Gabriel fomos rumo ás nossas. Fomos à pé mesmo.

–A única coisa que não gostei desse acampamento é que nós vamos continuar estudando, se fosse para aprender a fazer trilha ou fazer tudo que os escoteiros fazem, até que seria mais legal.- disse Gabriel.

–Também acho, mas o importante é que nossos amigos vão estar lá.- disse Matheus e eu não sei se ele estava se referindo ao Gabriel ou á nós dois, mas antes que eu pudesse perguntar, Daniel disse:

–Mas tem outra coisa que está me preocupando: será que o Jorge e o Abelardo também vão?

Gelei na hora. Me esqueci desse detalhe também.

–Acho que vão sim, mas não se preocupem. Ouvi dizer que nos acampamentos escolares ninguém pode cruzar o caminho de ninguém. Então, eles não vão tentar nada contra vocês.- disse Matheus.

–É, mas vocês também precisam aproveitar e mostrar tudo que aprenderam para elas.- completou Gabriel.

–Claro que sim, nós vamos fazer isso.- eu disse e entrei em casa. Nos despedimos com um aperto de mão e entrei em casa.

Depois do almoço, eu e Daniel subimos para arrumar as coisas pois o acampamento seria logo na manhã de segunda-feira, e era sexta, ou seja, se quiséssemos aproveitar os nossos últimos três dias aqui na cidade, tínhamos que fazer isso agora.

Arrumei um pouco de minhas coisas e descansei, arrumar tudo aquilo me cansava, aproveitei para tomar um banho rápido para relaxar e decidi mandar uma mensagem para Marcelina.

–Vai fazer algo hoje?- perguntei.

–Não, e você?

–Também não. Por isso quero te convidar para um passeio.

–Sério? Que bom. Onde vai ser?

–É surpresa. Mas me encontre na mesma praça de sempre que eu te levo lá. Pode ser?

–Claro, que horas?

–Pode ser daqui a uma hora?

–Claro, estarei lá.

–Ótimo. Então, até mais tarde.

–Até mais tarde.

Eu já tinha tudo planejado, quer dizer, não tinha nada planejado, mas não precisava disso, afinal, o lugar que eu ia levá-la não era preciso pagar para entrar, era ao ar livre. Então, troquei de roupas e esperei um pouco para ir até a praça. É hoje que eu começo a mostrar à Marcelina o quanto eu mudei e me arrependo de tudo de ruim que eu fiz, nada pode dar errado.

Marcelina narrando

Puxa, realmente essa escola caprichou em nos mandar para um acampamento enquanto é reformada. Para uma garota estudiosa que nem eu, é difícil passar um mês inteiro sem estudar. Mesmo que eu saísse de casa se não tivesse acampamento, não ia ser a mesma coisa que ficar em casa por causa de férias ou feriado, era entendiante ficar em casa sabendo que era época de aula, mesmo que a escola estivesse fechada. Mas, sinceramente, não acho que a escola precisava de reformas, pois ela estava linda e em perfeito estado. Pra quê reformar tudo? Bem, mas tirando tudo isso, eu gostei da ideia, chegando em casa Paulo e eu almoçamos juntos e fomos arrumar nossas malas.

Quando eu já tinha terminado de arrumar metade de tudo, recebo uma mensagem do Mário me convidando para um passeio! Isso mesmo, um passeio. Só que ele não queria me contar, era um passeio diferente que ele não queria me contar onde era. Mesmo assim eu aceitei ir, tomei um banho um pouco demorado, coloquei uma camisa branca com uma estrela prateada feita de purpurina, uma calça jeans azul-escura e meus sapatos pretos para combinar com a camisa. Pronto, depois de quase uma hora eu estava pronta, então fui em direção à pracinha, onde ele estava me esperando no banco. Chegando lá, ao me ver ele se levantou e veio em minha direção.

–Oi.- ele disse, me abraçando e eu retribuí, era tão bom sentir aqueles braços quentes em meu corpo novamente. Eu senti muita falta do abraço dele e fiquei meio confusa quando ele se soltou do abraço e vendou meus olhos.

–Olha, a gente vai se divertir, você vai adorar.- ele sussurrou no meu ouvido e eu relaxei.

Andamos pelo que pareceram alguns minutos até eu sentir meus pés ficarem cobertos de areia, ele havia me levado em uma praia? Mas a gente andou tão pouco. Não, não podia ser uma praia.

–Você me trouxe em uma praia sem roupa de banho?- perguntei brincando e ele sorriu.

–Sim, mas a gente não vai entrar na água, vamos para um lugar muito melhor que as areias da praia.- ele disse no meu ouvido porque o som do mar era mais alto que nossas vozes.

Depois de alguns minutos caminhando, senti minhas pernas ficarem moles de tanto andar, mas eu não ia desistir, alguma coisa me fazia querer continuar, eu queria pedir que ele parasse para que nós descansássemos um pouco, mas eu não consegui, minha voz não saía. Foi quando notei que meus pés pareciam estar pisando em degraus, a gente estava subindo uma escada, mas desde quando tem uma escada em praia?

–Chegamos. Deixa que eu te ajudo a tirar a venda.- ele disse assim que paramos de caminhar.

Foi então que pude ver o mar inteiro agitado lá embaixo e o sol no meio do céu azul, era uma vista tão linda. Ele tinha me levado no alto de um farol, um lugar que eu sempre quis visitar. Não era como ir ao Empire State, mas era muito legal.

–E então? Gostou?- ele me perguntou e eu não resisti em confessar.

–Não, eu adorei! Esse lugar é fantástico!

–Sabia que você ia adorar.

Puxa, realmente hoje o Mário me impressionou. Ele parecia estar assumindo uma nova personalidade, pelo menos parecia, por estar me levando em um lugar que eu sempre quis ir. Uma vez eu disse que queria ir em um farol e ele me prometeu que um dia me levaria, mas com toda aquela confusão, ele não pôde me levar. Era tão difícil de imaginar que depois de tudo que eu passei, ele estaria comigo no alto de um farol, dá vontade de não sair de lá nunca.

De repente, minhas mãos agiram sozinhas e foram parar direto na cintura dele, puxando-o para um abraço, ele retribuiu. Estava tão bom ali naquele lugar, abraçado com ele. Era um abraço de amigo, mas era um abraço bom. Tomara que ele continue assim no acampamento.