A Doçura Nunca Durou escrita por Enchantriz


Capítulo 4
Capitulo 03: Nascidos para Morrer




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Em meio ao enorme salão principal do templo, Syndra andava de um lado para o outro, inquieta sem entender os princípios e a natureza de sua magia.

– Estou com medo! – disse ela desesperada. – Eu não sei mais o que estou fazendo! – e em um piscar de olhos, um dos vasos de flores voou para o outro lado da parede. Ela olhou para as mãos tremulas. – Se eu tivesse aprendido a controlá-lo desde o inicio nada disso estaria acontecendo agora...

– Entenda, nós não podíamos deixar que alguém soubesse, eles não entenderiam. – respondeu seu pai. – Seu poder ainda esta em fase de transformação, espere só mais um pouco.

– Eu não quero ter que esperar! Eu quero o meu poder! – berrou fazendo a casa estremecer por um instante.

– Acalme-se. – pediu com a voz mansa. – Ficar transtornada só piora as coisas. – estendeu a mão para tocá-la.

– Não...! – recuou se afastando. – Não me toque, por favor. – pediu tristonha. – Eu não quero ter que te machucar...

A mãe se aproximou tocando no ombro do marido, o sorriso bondoso nos lábios vermelhos.

– Sabemos que você nunca seria capaz disso, minha menina. – afirmou a mulher. – É complicado e perigoso tentar dominar a magia como esta agora. Logo essa fase vai passar. Agüente firme.

– Eu não sei se consigo... – lamentou cabisbaixa.

– Mas eu sei, – a mulher levantou o rosto da criança. – eu sinto que você é uma garota forte. Vai dar tudo certo, acredite.

A noite caiu, e junto com a lua estava Zed a vagar pela floresta decidido a seguir seu caminho quando passou pelo local onde sempre se encontrava com Syndra. Preocupado com a garota, ele suspirou pesado e andou até o enorme templo onde morava, observando escondido atrás de uma arvore a janela de seu quarto.

– Espero que esteja bem. – murmurou ainda sentindo-se culpado pelo ocorrido. – Adeus, Syndra... foi bom conhecê-la. – sorriu antes de dar as costas, mas logo se virou novamente quando as luzes forte de varias tochas se aproximando lhe chamou a atenção. – O que eles estão fazendo aqui há essa hora?

Um grupo de camponeses armados entrarem no templo. Desconfiado, Zed caminhou cauteloso por entre as árvores até chegar em uma janela aberta, pulando silenciosamente para dentro da casa. Por um instante, se distraiu com a beleza do cômodo que estava, uma sala espaçosa cheia de almofadas vermelhas e sinos dos ventos, no entanto ao longe ouviu as vozes dos homens do incidente mais cedo. Ele passou pelo corredor escuro que dava visão para o hall de entrada, ficou atrás de uma pilastra observando os pais de Syndra conversarem calmamente, e só então, percebeu o quão parecida era a menina com a mãe e a maior parte dos poderes herdados do pai que ainda mantinha a postura de um mago excêntrico e poderoso.

– Senhor, você tem que nos escutar! – falou em tom alto um dos homens armados. – Sua filha esta fora de controle, ela é uma ameaça a todos nós! Estamos todos em perigo, inclusive o senhor!

– Foi apenas um mal entendido, Syndra não oferece perigo a ninguém. – disse a mãe parecendo preocupada.

– Nós vimos o poder dela, está longe de ser uma verdadeira iluminada!

– Minha filha esta sob meus cuidados, eu prometo que ela não lhes fará mal algum. – respondeu o pai.

Os homens começaram a reclamar enquanto o pai de Syndra desviou o olhar por um instante, olhando surpreso para Zed. Ele abriu a boca, sua voz não saiu, mas a mensagem foi clara: - "Proteja minha filha".

– O que...?! – sussurrou o menino inaudível, sem entender direito a mensagem.

– Como vai ser? – ouviram o aldeão irritado exigir. – A garota vem com a gente ou não?

– Syndra não vai sair desta casa. – o casal respondeu serio.

– Ah, vai sim.

De repente, a lamina do facão atravessou pelo peito do pai enquanto uma espada passou pelo pescoço da mãe que tentou fugir. Boquiaberto, Zed arregalou os olhos prendendo a respiração quando os corpos foram ao chão, engolindo em seco com a súbita violência.

– Mãe? Pai?

– Não... – murmurou ele para si mesmo ao ouvir a voz de Syndra.

A garota estava imóvel na escada com a roupa encoberta por alguns respingos do sangue de seus pais. O terror era claro em meio aqueles olhos claros que tentavam assimilar o que acontecia.

– Matem a garota! – ordenou o homem com o facão na mão.

– Corre!!! – gritou Zed despertando a ioniana do transe quando cruzou o salão. – Corre Syndra! – pegou sua mão e a puxou para subir as escadas, a levando para o corredor à direita antes de descerem uma pequena escada estreita, levando-os a uma sala com grandes estantes de livros ao lado de uma pequena porta de vidro onde dava visão para a outra parte da extensa floresta. – Rápido, por aqui! – ele a puxou novamente para a outra porta.

– Não! – ela se soltou da mão do garoto. – Eu não posso! Os meus pais...

– Seus pais estão mortos! Todos dessa casa estão mortos! – colocou a mão em seus ombros.

Os pequenos olhos encheram-se de lagrimas em meio ao silencio da verdade.

– Desculpe... – murmurou Zed vendo a garota o olhar chorando em silencio, as lágrimas escorrendo descontroladas por suas bochechas. – Nós temos que ir... Seja forte. Eu vou proteger você. Eu prometo. – estendeu novamente a mão para ela.

– Encontrei vocês! – disse o homem zangado com uma tocha na mão e a espada na outra. – Agora, me devolva a garota, moleque.

– Vai ter que me matar para isso. – disse serio se colocando em frente à menina.

– Como quiser, seu bastardo. – sorriu jogando a tocha na estante fazendo o fogo se alastrar rápido pelos livros.

– Vai! Corre! – ordenou Zed segundos antes de ouvir Syndra gritar ao ser capturada pela cintura pelo outro homem que tinha o facão, o qual posicionou a lamina em seu pescoço. – Syndra! – ele olhou para trás para alcançar a garota quando foi atingindo com o cabo da espada na cabeça, caindo rapidamente e levando um chute no rosto.

– Zed! – Syndra gritou ao ver o sangue escorrer pela testa do amigo quase inconsciente. – Zeeeddd!!!

O garoto piscou os olhos embaçados vendo sua amiga sendo levada em meio às lagrimas, estendendo-lhe a mão. Seu nome foi a ultima coisa que ouviu antes de perder a consciência naquela bagunça.

– Zed!!! – Syndra voltou a berrar enquanto batia-se contra o corpo musculoso do homem a carregando com um dos braços. – ...eu não agüento mais. – murmurou fechando os olhos com força antes de ser jogada para fora do templo, caindo em cima de uma poça de lama. Ela apertou os dedos em meio à terra molhada respirando fundo ao levantar a cabeça tristonha vendo a movimentação da vila a alguns metros à frente que fingiam não ver o que estava acontecendo.

– Vocês dois já perturbaram demais a paz desta vila! – avisou um dos homens ao chutar as costas da garota tentando se levantar, a fazendo cair novamente contra o chão com o coração apertado, a agonia subindo-lhe a garganta seca. – Seus pais ainda tinham esperanças de que você seria uma grande iluminada após conseguir controlar-se. Isso acabou no momento em que você foi envenenada pela desgraça daquele moleque. É uma pena... – ele se agachou ao lado da criança e a virou brutalmente para si segurando firme seus pulsos, olhando diretamente em seus olhos vazios e cansados. – Seu pai era um grande mago, aposto que tem vergonha de você por ter um poder tão sujo!

O silencio tomou conta do local, e sem piedade, o homem decidido levantou a mão segurando firmemente o facão que direcionou rapidamente para o coração de Syndra, parando a lamina afiada a centímetros do tecido branco de seu vestido.

– Mas o que...!? – o homem estranhou, forçando a mão que não se movia.

– ...eu odeio vocês seres humanos com essa religião espiritual ridícula! – ouviu a baixa voz seria da garota que em um piscar de olhos, suas iris prateadas como a lua foram encobertas por varias escritas mágicas em roxo rodeando sua pupila, liberando seu verdadeiro poder que logo espalhou por suas escleras antes de tomar toda a cor dos seus olhos. – Eu vou matar todos vocês...! – sua calma voz esbravejante ecoou quando fechou a mão na lamina do facão o fazendo evaporar em segundos.

– Seus poderes... – ele se afastou assustado. – Você não pode usá-los!

– Eu posso sim! – respondeu firme ao se levantar sentindo a raiva pulsar em suas veias.

O céu limpo de estrelas tornou-se obscuro com as nuvens cinza carregadas de raios violentos. O vento soprou forte rodeando a criança que tinha o corpo envolto por uma fraca nevoa roxa. Syndra virou-se para os homens, o cabelo voando bagunçado por seus olhos ameaçadores entre as lagrimas secas. Sem pensar duas vezes, ela estendeu as mãos abertas fazendo o chão estremecer e as pequenas pedras flutuarem enquanto sentia o poder fluir.

– Vamos sair daqui! – berrou um dos camponeses recuando.

– Rapido! Vamos logo!

E antes que pudessem escapar, as raízes escondidas no solo perfuraram a superfície enrolando-se nos pés dos fugitivos, os puxando brutalmente para perto da garota que manipulou os dedos para que os erguessem ao alto. As grossas raízes cresceram até seus pescoços dando algumas voltas, apertando cada vez mais contra a pele e o osso.

– Eu vou me vingar por tudo...! – murmurou fechando a mão cada vez mais, vendo os homens agonizarem em sua frente até o ultimo suspiro.

Sem misericórdia, ela fechou as mãos com força ouvindo os ossos de seus pescoços estralaram ao serem arrancados dos corpos. Tudo foi ao chão quando seus braços voltaram a pairar ao lado do corpo piscando os olhos prateados cansada, mas sem se importar com a bagunça de corpos e o cheiro enjoativo de sangue em sua volta.

– Eu odeio esse lugar. – disse de mau humor, caminhando desajeitada em direção a vila.

Ao longe já se avistava as pessoas a observando com medo e decepção pela falha ocorrida. Despreocupada, dava um passo de cada vez com os pés na terra, seu vestido branco sujo de lama grudava entre suas pernas. Syndra não fazia questão de olhar para os aldeões que se afastavam quando se aproximava, apenas olhava para frente com a cabeça erguida. Então, ela parou se agachando, colocando as mãos no chão que voltou a estremecer levantando grandes paredes de terra em volta de toda a vila.

– Vocês desejaram a minha morte, – iniciou. – felizmente foram burros demais e falharam. – disse normalmente ao se erguer. – Eu desejo a morte mais dolorosa de vocês, mas eu não falharei. – sua voz saiu firme com os olhos brilhando novamente em roxo. Ela remexeu a mão fazendo surgir um buraco negro em frente à única passagem da vila, depositou ali os corpos mortos, incluindo os de seu pai e sua mãe. – Que isso sirva de aviso, para o próximo que se opor a mim.

Syndra voltou a caminhar por entre os aldeões aterrorizados em silencio.

– O que vai fazer com a gente? – perguntou uma mulher a encarando enraivecida ao se colocar na sua frente.

A criança olhou por um instante para as mãos remexendo os dedos que novamente ficaram envoltos por uma clara nevoa roxa. Um sorriso malicioso brotou pela primeira vez em seus lábios levemente rosados naquele rosto angelical.

– Vocês irão me ensinar a usar meus poderes. – estendeu a mão em direção a mulher, criando uma esfera negra em volta de seu coração, o qual o trouxe para perto de sua mão. – É incrível como vocês vão ser úteis! Não acham? – segurou o órgão em mãos, o apertando com desgosto até estourar.

– Nãooo!!! Pare por favor! – algumas pessoas berraram agoniadas ao ouvir o barulho do corpo cair no chão.

– Seu monstro! – um homem jogou uma pedra em sua direção.

Aflitos com a imprudência, viram em silencio Syndra parar a pedra a centímetros de sua cabeça antes de lançá-la rapidamente de volta para o homem, atravessando sua testa. Os gritos amedrontados espalharam-se, todos corriam de um lado para o outro implorando por socorro em meio à gargalhada da pequena maga que se divertia com o desespero.

– Tanto poder! – levou as mãos ao céu girando o corpo com um largo sorriso quando sentiu os pés saírem do chão ao flutuar.


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